A Igreja de Jesus Cristo-Uma Perspectiva Histórico-Profética

A Igreja de Jesus Cristo-Uma Perspectiva Histórico-Profética
Tradução do livro "La Iglesia de Jesucristo, una perspectiva histórico-profética" de Arcadio Sierra Diaz

sábado, 22 de setembro de 2007

III- Pérgamo ( 2ª Parte )

Capítulo III
P É R G A M O
(2a. parte)


Constantino o Grande

Ao tentar perfilar a personalidade e as intenções do personagem histórico conhecido como Constantino o Grande, desejamos fazê-lo passando por muitos lugares comuns, cuidando-nos de afirmar o que só Deus e Constantino mesmo podem dar fé como verdadeiro ou falso. Levamos em conta que todos os feitos de um político ambicioso demonstram que seja o governante ideal, e um traço típico de Constantino foi o de ganhar o favor de seus súditos (incluídos os cristãos) mostrando clemência e sabedoria em seus editos e outros atos governamentais. Mas a história narra o lado oposto da moeda, quando se afirma que os vinhedos que geravam os recursos da cidade alagavam por falta de drenagem, enquanto isso o imperador dilapidava os fundos públicos em luxos e a construção de um palácio suntuoso em Tréveris; o ganhar a simpatia dos Gálios explorando suas mais baixas paixões brindando-lhes no circo espetáculos cruéis onde morriam tantos bárbaros cativos, que alguém comenta que até as bestas se entediavam da matança. Realmente se converteu Constantino ao Senhor Jesus Cristo? Isto se a questionado muito, mas podemos tirar algumas conclusões apontando as seguintes razões. Era uma época em que se acreditava que o batismo apagava os pecados cometidos, pelo qual Constantino determinou que não o batizassem senão em seu leito de morte, ele considerava a si mesmo "o bispo dos bispos". Os bispos que lhe rodeavam, nem mesmo Osio de Córdoba, que era seu conselheiro em matérias eclesiásticas, jamais protestara pelo feito de que Constantino, mesmo depois de sua "conversão", continuara participando de ritos pagãos proibidos para qualquer cristão. Aí vemos em plena atuação os que retêm a doutrina de Balaão. Cabe ao respeito notar que existem organizações eclesiásticas atuais que chamam de apostólico a Constantino. Levemos em conta que Constantino nunca renunciou de seu título de Pontifex Máximus (sacerdote do alto) da religião pagã babilônica, nem sua devoção pelo Sol Invicto. Atrevemos-nos a assegurar que se Constantino o Grande cria verdadeiramente no poder de Jesus Cristo, não deve ter entendido e seguido a fé, essa fé que haviam seguido os que haviam sido fiéis ao Senhor até ofertarem suas vidas antes que negar-la. Agiu não de boa fé, sua intenção era mais política que espiritual, o certo era que se queria ganhar a proteção do Deus dos cristãos. Protegendo-o e construindo-lhe templos, e, uma vez que serviu aos outros deuses, trasladou imagens a Constantinopla, sem descuidar o culto pagão para não acarretar em uma oposição irresistível da ala pagã do Império, e de seus deuses. Mas as coisas iam andando lentamente. No começo de seu reinado o Império era oficialmente pagão, e ele, mesmo imperador continuara com o sustento das Virgens Vestais em Roma, entretanto, Constantino doou ao clero cristão o palácio de Letrán, em Roma, que pertencia à família de sua esposa. Em um político hábil e ambicioso como Constantino não é difícil entender que ele pode ter visto no Deus dos cristãos um novo deus, mas dotado de poderes fora do comum. Para ninguém era segredo que a Igreja havia saído vitoriosa depois de dois séculos e meio de cruel perseguição, de tal maneira que a força do cristianismo já era respeitável nos tempos de Constantino. Ao promulgar o Edito de Tolerância, não estaria Constantino buscando o favor desse Deus dos cristãos e o apoio político dos seguidores de Jesus? Seja qual foi sua intenção, o certo é que Constantino, como Balaque, contaminou e perverteu a Igreja, até chegar a convertê-la na "grande prostituta".Ao que os cristãos desde os primórdios da Igreja se reuniam no primeiro dia da semana para partir o pão e celebrar a ressurreição do Senhor, também este dia era dedicado ao culto pagão do Sol Invicto em todo o território do Império. Constantino, no ano 324, mediante um edito imperial ordenou que todos os soldados adorassem neste dia ao Deus supremo; e aqui temos a razão pela qual os pagãos não se opuseram a tal edito. Explicitamente manifesto que a conversão de Constantino não se ajusta aos parâmetros bíblicos, como tão pouco se ajusta que seja da parte de Deus a visão da cruz nas vésperas do dia da batalha da Ponte Múlvia. Não há concordância entre os ensinos da Palavra de Deus e o feito de que supostamente Deus haja ordenado a este governante de um império pagão, enredado em suas intrigas políticas e derramamento de sangue e simultaneamente sumo pontífice da religião satânica, que elaborou um emblema em forma de cruz para que com esse emblema vencesse. Essa classe de visão está muito longe de ter sequer alguma similaridade com a que aconteceu no caminho de Damasco a Saulo de Tarso. É difícil crer que o mesmo Deus que envia a Paulo a pregar o evangelho e edificar a Igreja em meio a muitas provas e sofrimentos, se preste a enviar a Constantino, o mesmo que jamais renunciou a seu título de sumo pontífice pagão, a edificar um sistema apóstata com seu centro em Roma.O bom humor religioso de Constantino se pode medir nas moedas cunhadas em seu governo; no anverso aparecia uma cruz e no reverso representações dos deuses pagãos como Marte ou Apolo, mostras das quais podem ser vistas nos museus modernos. Aí temos uma das estratégias sincretistas das muitas que usou para mesclar e casar a Igreja de Jesus Cristo com o paganismo. Muitos historiadores registram em suas crônicas que antes que começasse o século quinto o paganismo havia caído de seu elevado lugar; e alguns dizem com alvoroço; mas nós cremos mais na Palavra de Deus, a qual diz que foi a Igreja que caiu das alturas celestiais para ver a morar na terra, onde Satanás tem seu trono.Muitos imperadores antecessores de Constantino tentaram realizar uma grande restauração do velho Império Romano, reafirmando para ele a antiga religião pagã. Essas eram as mesmas intenções de Constantino, mas com a diferença de que ele se propôs a construir sobre a base do cristianismo, não sem que houvesse sérios oponentes a estas aspirações entre a classe política e aristocrática de Roma. Este foi um dos motivos pelos quais determinou construir uma "nova Roma", uma nova capital imperial, pomposa e forte, que se chamaria Constantinopla, "a cidade de Constantino"; que outrora era Bizâncio, de «Byzantium», nome prévio à época cristã de Constantinopla, situada no ponto de contato entre Europa e Ásia, a capital da parte oriental do Império, recentemente conquistada por seu cunhado Licínio (Lúcio).
A pequena cidade de Bizâncio foi ampliada e adornada com espaçosos e luxuosos palácios e estátuas dos antigos deuses pagãos trazidos de todos os lugares do vasto império. Assim como com a construção da grande basílica de Santa Irene, e foi mudado seu nome pelo de Constantinopla (hoje Istambul), capital que foi a perna oriental deste quarto império mundial e conservou seu poder e herança política e cultural por mil anos depois que sucumbiu Roma abaixo da invasão dos bárbaros. Constantino trasladou a capital do Império de Roma a Constantinopla em 11 de maio do ano 330; então o império iniciou uma etapa de orientação; o caráter romano se foi perdendo paulatinamente, helenizando-se em seu novo meio bizantino. Constantinopla foi tomada pelos turcos no ano 1453, um pouco antes do descobrimento da América; e o grande templo de Santa Sofía foi convertido em uma mesquita muçulmana até o dia de hoje.
*(1) Referência à estatua do sonho de Nabucodonosor em Daniel 2:33,40

Constantino abriu as portas do Império ao cristianismo, mas foi Teodósio (378-395) quem fez do cristianismo a religião do Estado, obrigando aos cidadãos a serem membros da igreja, oficializando assim a união da igreja e o mundo pagão, mudando a natureza da mesma e dando origem a mil terríveis anos de abominações do cesaropapismo. E estas "conversões" em massa e por decreto imperial, aconteceria simultaneamente a "regeneração" bíblica? Chegou o momento histórico em que se substituiu a pregação do evangelho pela algema do poder civil. (Ler os decretos de Teodósio no apêndice do presente capítulo).

Consolidação dos nicolaítas

"E também tens aos que retém a doutrina dos nicolaítas, a que eu aborreço" (v.15).Durante o período de Éfeso houve somente o que a Palavra de Deus chama obras dos nicolaítas, quando iniciaram a prática da hierarquia na igreja; aliás, nada se havia ensinado a respeito, nem muito menos institucionalizado, decretado nem dogmatizado. Mas já no século quarto, em pleno auge do período de Pérgamo, essas obras progrediram e se converteram em ensinamentos, e de ensinamento à dogma é só um passo, de maneira que hoje na igreja degradada, tanto no setor do catolicismo como no protestantismo institucionalizado, o nicolaísmo é ensinado e praticado. Então primeiro surgem membros individuais ao estilo Diótrefes, que se esforçam por obter domínio sobre os demais, logo há necessidade de inventar uma teoria que justifique este domínio; a teoria se converteu em ensinamento e o ensinamento se consolidou em dogma, o qual, por último, a Igreja aceitou sem prévio exame, revisão nem crítica, sem julgar à luz da Palavra de Deus, destruindo assim a função dos crentes, mutilando ou anulando o Corpo do Senhor como expressão de Cristo, que é o Cabeça.Por volta do ano 324, o cristianismo foi reconhecido como a religião oficial do Império Romano. De acordo com o espírito da época, por um lado a legislação oficial ia se encaminhando à obrigatoriedade da conversão dos cidadãos do Império, incluída a ameaça, e por outra parte surgiram motivos e interesses pessoais que levaram às pessoas a converterem-se em massa; razão pela qual o cristianismo se encheu de um povo ignorante das verdades cristãs, de maneira que isso também coadjuvou para a formação de um clero seleto que tivera a seu cargo os ministérios espirituais, surgindo assim definitivamente a imperiosa necessidade de dividir a Igreja entre clérigos e laicos; se consolidou uma hierarquia que sustentava o monopólio do conhecimento e o ensinamento, além do poder e o governo eclesiástico.
O cristianismo, ao se consolidar como religião estatal, se toma como pretexto a necessidade de criar estruturas mais complexas a fim de poder manter tanto a disciplina como regular a pureza doutrinal. Os presbíteros substituídos por uma hierarquia de bispos e começou a emergir uma estrutura diocesana. Os dirigentes eclesiásticos, imitando a forma de governo imperial, adotaram um governo de superior hierarquia, em preferência àquele exercido em um plano de igualdade, como os praticados na igreja em seus primeiros anos. a Igreja cristã ia modelando sua própria organização sobre a base do sistema governamental do Império Romano, abandonando assim os princípios escriturais. Constantino consolidou no Império uma organização político-administrativa hierarquizada, agrupando as províncias em dioceses, que como antes se dizia, provém tal nome do imperador Diocleciano, governadas pelos vicarii (vigários). Mais tarde, quando já desenvolvido, o sistema católico romano imitou essa mesma forma de organização política. Consolidou-se a configuração de uma hierarquia eclesiástica seguindo as diretrizes da mesma divisão administrativa imperial. Instituíram-se metropolitanos nas províncias e bispos nas cidades. O Senhor quer que a Igreja seja edificada normalmente com Seu poder, sem que goze de alguma cota de poder do estado. O Senhor ordenou obediência aos homens que na comunidade representassem a autoridade, mas se negou a inventar métodos políticos para si mesmo e para Seus propósitos, incluindo a Igreja, e, além disso, nunca advogou por qualquer método de rebelião, senão que a Palavra de Deus condena esta atitude, em qualquer de suas manifestações.O estado e a Igreja de Jesus Cristo jamais deviam unir-se na história, pois são duas coisas com origens, índole e fins diferentes. Uma não tem nada haver com a outra; mas na história maleficamente se confundiu à Igreja de Jesus Cristo com a religião babilônica, a qual sempre foi a religião do Estado. Essa herança matrimonial continuou até nossos dias, com influências e imitações mais pra lá do sistema central, o qual se identifica com o que a Bíblia chama a grande prostituta; sistema que, dizendo representar os interesses do Senhor, tem sido infiel. Esse sistema religioso chegou a ser uma só coisa com o estado. A Igreja de Jesus Cristo está longe de necessitar da aprovação oficial para desenvolver-se e cumprir sua finalidade nesta terra. Essa condição não a encontramos na Bíblia. A Igreja de Jesus Cristo longe está de necessitar que os reis e poderosos deste mundo a defendam. Pelo contrário; por eles, seguindo uma trilha por trás dos bastidores do príncipe deste mundo, havia de ser perseguida. A Palavra de Deus dá testemunho destas asseverações." 16 Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas.
17 E acautelai-vos dos homens; porque vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas; 18 por minha causa sereis levados à presença de governadores e de reis, para lhes servir de testemunho, a eles e aos gentios.. " (Mt. 10:16-18)." Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o seu Ungido; " (At. 4:26).Desse matrimônio da Igreja com o mundo, com o Estado e com a religião babilônica sobrevieram grandes males. Por exemplo, na esfera do poder surgiu algo curioso. A raiz da divisão do Império Romano no Oriente e Ocidente, houve a ocasião das capitais imperiais: Roma Constantinopla. Isso originou, a par que os políticos, divergências e ambições de poder entre a hierarquia clerical de ambas capitais, com o subseqüente cisma entre ambas vertentes do cristianismo oficial; o que se conhece historicamente como Cisma do Oriente. O que aconteceu depois? Que nas províncias do bloqueio oriental, as ortodoxas, com o tempo o Estado dominou de tal maneira a essa parte do cristianismo, que este foi debilitado em grande prostituta. Foi diferente no ocidente, sucedeu gradualmente o reverso da moeda, pois o clero foi usurpando o poder ao Estado, e aquilo deixou de ser cristianismo para converter-se em uma hierarquia mais bem corrupta, que chegou a dominar às nações da Europa, como uma verdadeira e astuta maquinaria política. Tanto o Senhor como o apóstolo Paulo pela inspiração do Espírito Santo, o profetizaram."42 Mas Jesus, chamando-os para junto de si, disse-lhes: Sabeis que os que são considerados governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. 43 Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; 44 e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos. 45 Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos." (Mc. 10:42-45)."30 E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles." (At. 20:30).Durante as épocas de Éfeso e Esmirna, Cristo era o legítimo e único Kyrie da Igreja, e por não nega-lo, sofreram os santos até o martírio; mas entrando o período de Pérgamo as coisas foram mudando; a Igreja começa a abrir as portas a um kyrios diferente do Senhor, casando-se com o mundo e começou a surgir o antigo kyrios o dominus imperial, um monarca absoluto que, como já o temos dito, exercia soberanamente um poder que no Império o atribuíam a de origem divino. A partir de Constantino, ao imperador se atribuía o direito de intervenção nos assuntos da Igreja, não só por própria iniciativa, senão também por solicitação e com o consentimento da hierarquia eclesiástica.
A doutrina de Balaão continua operando com sua nefasta seqüela, tanto que chegou a desenvolver uma "teologia oficial", e alguns da casta clerical, deslumbrados pelos favores de Constantino, chegaram a difundir que Constantino havia sido eleito por Deus para que sua obra fosse a culminação da história da Igreja, e entre os quais se dizem estar o historiador Eusébio de Cesárea. Essas intervenções imperiais nos assuntos da Igreja as vezes eram de tipo disciplinador, como expulsar clérigos, depor e desterrar bispos, e incluir papas, quando esta instituição surgiu historicamente; as vezes eram de tipo jurisdicional, e é assim como o imperador incluso castiga delitos religiosos como sacrilégio. Mas o imperador chegou mais longe, intervém nos assuntos doutrinários, e convoca concílios, os orienta, legaliza suas decisões e até publica encíclicas, de modo que a Igreja ia se fundindo até cair também em baixo das garras de um tirano mundano. Com exceção de Juliano o Apóstata (morreu em 363), todos os imperadores que sucederam no poder a Constantino eram ativos em conter os velhos cultos pagãos e em alentar a propagação do cristianismo e favorecê-lo. Por exemplo, Teodósio I (governou entre 379 a 395) impulsou a demolição de templos pagãos, aboliu os sacrifícios e as visitas a santuários pagãos, e foi mais longe, ordenando que a os apóstatas do cristianismo se privasse do direito de herança, tanto de receber como de transmitir por testamento. Há outro significado da palavra Pérgamo, e é fechadura alta. Note que historicamente os bispos obtiveram direitos, privilégios, autoridade; cercados de riquezas, os irmãos tinham que pedir audiências para vê-los. Por que? Porque começaram a viver entre altas fechaduras de seus luxuosos palácios, pelo ensinamento dos nicolaítas. Constantino havia igualado os direitos da igreja e o paganismo, e desde então os reis e poderosos da terra começaram a presidir os concílios da igreja, e a confirmar todas as decisões que se tomaram.

A Igreja chamada a cortar com o mundo


" 16 Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca. " (v.16).Na armadura de um soldado romano, a espada era um arma defensiva. "17 Tomai .... espada do Espírito, que é a palavra de Deus; " (Ef. 6:17). Esta espada é a mesma que aparece no verso 12, a Palavra de Deus, e que o Senhor vai usar para desfazer a união desigual e toda relação de Sua Igreja com o mundo. Como pode a Palavra de Deus ser usada para cortar nossa relação com o mundo? Primeiro o Senhor nos chama a que nos arrependamos, que cortemos por nós mesmos esses vínculos com o mundo em todos os aspectos. Mas se não nos arrependemos, a mesma Palavra de Deus se encarregará de julgar-nos, a qual tudo discerne, diferenciando o bom do mal, e é cortante como espada de dois fios. Como com a mistura do mundo com a Igreja, a natureza desta mudou radicalmente, é necessário que Deus use a espada de Sua boca para efetuar essa profunda divisão. O Senhor intervém na história para cortar de Sua Igreja legítima um ente novo, nascido da instituição política da confissão cristã. A partir de Constantino tem rondado na Igreja do Senhor esse obscuro fantasma de que a Igreja de Jesus Cristo necessita que o poder secular exerça sobre ela alguma relação de tutela e proteção. Tem sido difícil para os eclesiásticos entender que a Igreja do Senhor, em quanto Igreja, Corpo de Cristo, não necessita ter nexos com o Estado, nem políticos, nem econômicos, nem religiosos, nem jurídicos, nem militares, nem culturais, nem sociais, se com ele está em perigo comprometer sua fidelidade ao Senhor, mas à Igreja se lhe deu por trocar a doutrina evangélica.Por testemunho cristão, já que as Escrituras nos ordenam (Mt. 22:21; Ro. 13:1-7; Mt. 17:27) Tem que guardar um respeito e submissão às autoridades no âmbito pessoal, mas guardando sempre uma moderada e prudente separação entre a Igreja e o Estado. A Igreja deve aportar o necessário para a ordem, a justiça e a paz social, porque é sal e luz na terra, mas sem comprometer sua fidelidade ao Senhor da Igreja. Como esses laços entre a igreja degradada e os nicolaítas com sua seqüela de mundanismo e maldade tem permanecido no sistema da Igreja Católica Romana em toda a história através de Tiatira, bebendo o mel do poder temporal, chegará o eventual momento em que o Senhor julgará esse sistema e aniquilará com sua Palavra, como está previsto na Bíblia.

O ascetismo

Alguém se perguntará: Se a Igreja se uniu aos poderes do mundo e se o luxo e a ostentação fazem furor nos "altares" da cristandade, não houve quem reagisse? O feito de que Constantino houvesse dado essa virada na política do Império com relação ao cristianismo, que vinha de padecer quase trezentos anos de cruel perseguição, foi visto por muitos eminentes personagens da Igreja, como Eusébio de Cesárea, como o cumprimento dos desígnios de Deus. Mas outros viam mais além da simples aparência. Viam como a porta estreita e o caminho apertado se encaixavam tanto, que muitos se apressaram a mesclar-se intimamente na política, as posições e o prestígio deste século. Viam que cada dia o cristianismo se mesclava mais e mais com o paganismo. Uns poucos viram como a doutrina dos nicolaítas começou a penetrar e impregnar todas as assembléias da Igreja. E não foi estanho que os ricos e poderosos que se apoderam das nações, também encontraram ocasião de dominar a vida da Igreja do Senhor a fim de que se confundisse as coisas do César e as de Deus, pois a Igreja havia vindo instalar sua morada nesta terra, onde o diabo tem seu trono. O partido clerical se esqueceu que a Igreja é peregrina nesta terra, e que Seu divino fundador não só jamais teve uma luxuosa mansão nesta terra, senão nem sequer uma pedra onde pudesse reclinar Sua cabeça, pois o Pai o estava esperando nos lugares celestiais. Alguns consideraram que o feito de que o imperador se declarasse cristão, e que se deram essas fáceis conversões em massa, não significava uma benção, mas sim uma grande apostasia, pois começou a formar-se o catolicismo paganizado, a disciplina da Igreja decaiu e ia se abrindo mais a brecha entre o ideal cristianismo e devido a tudo isto, muitos que não queriam abandonar a comunhão da Igreja, tiveram uma espécie de rebelião individual contra a organização e novo giro que a classe clerical havia dado à Igreja, e preferiram ir a outro extremo, retirar-se ao deserto para levar uma vida ascética, vivendo em cavernas e lugares solitários, dedicados a oração e a contemplação. Mas ambos extremos são perniciosos.A Palavra de Deus não aprova para os filhos de Deus o matrimônio com o mundo, sua profunda ingerência na política nem busca de posições elevadas, por um lado, nem o monasticismo, tanto em sua modalidade solitária, como os ermitãos, ou coletivamente enclaustrados nos monastérios, por outro lado. Na Igreja primitiva não havia monjas nem monges; na experiência pré-cristã, estas práticas eram pagãs. Alguns também defendem a posição dos monges conduzidos pela influência do gnosticismo, o marcionismo e em particular do maniqueísmo, se havia propagado a idéia dualista de corpo e espírito, pensando que o corpo se opunha à vida plena do espírito, pela difundida crença filosófica de que a matéria em si é mal, e tinha que dobrá-la, submetê-la (por meios carnais, ). Esse é um erro fundamental que se aparta do ensinamento bíblico. Nessa classe de vida se infiltrou algo do legalismo, ou seja, o ponto de vista de que a salvação de alguma maneira pode ser conquistada e merecida mediante obras, em oposição à graça. O Senhor Jesus viveu uma vida santa, mas de nenhuma maneira ascética, e tampouco recomendou o ascetismo, ao contrário, ordenou ir pelo mundo a pregar o evangelho e fazer discípulos e não fugir do mundo. Ao principio muitos bispos olharam mal o monacato, mas depois de estendido, a finais do século quinto, chegou a ser a característica do cristianismo, chegando a seu ápice durante a idade média. Merece também mencionar que no movimento monástico teve influências, de uma parte pelo lado de Orígenes, Pânfilo e Eusébio de Cesaréia no sentido de deixar-se levar pelo ideal platônico de vida, e mesmo por certos princípios estóicos; e por outro lado pelas palavras do apóstolo Paulo, de que quem não se casava podia ter mais liberdade para servir ao Senhor. Levemos em conta também que se pelo lado dos nicolaítas se realizava uma mescla com o paganismo e seus rituais, no outro extremo, os monges puderam imitar o exemplo das religiões pagãs, pois estas tinham virgens sagradas, eunucos, celibato entre os sacerdotes e pessoas apartadas para o serviço de seus deuses. Se os que andavam de braços dados a Constantino se enchiam de orgulho de classe, não menos surgiu entre os que levavam sua vida monástica, pois entre eles se deu outra forma de orgulho, pensando que seu nível espiritual estava por cima dos bispos, e por serem eles e não os dirigentes eclesiásticos quem deviam decidir sobre questões da doutrina cristã. É curiosa a terminologia com que se lhes há designado. Eremitas ou ermitãos, por quanto preferiram viver em ermitas, santuários ou capelas situadas em lugares solitários. Monges, que vem da palavra grega monachós, que significa "solitário". Anacoretas, que quer dizer, "retirado" ou "fugitivo". Cenobitas, palavra derivada de dois términos gregos, que significam "vida comum", como uma modalidade coletiva, diferente ao anacoretismo. Diz-se que foram milhares os que tomaram esta decisão de retirarem-se a essa vida monástica, como espécie de contagio em massa; Paulo o ermitão (não o apóstolo) e Antônio são os mais sobressalentes, e que os põe como os iniciadores desta classe de vida, talvez pelo feito de que respectivamente, Jerônimo e Atanásio escreveram suas vidas. Ali se registra que Paulo fugiu da perseguição ao deserto em meados do século terceiro. Em quanto a Antônio, tomou sua decisão ao redor do ano 320, pois lhe impactaram as palavras do Senhor Jesus acerca do jovem rico em Mateus 19:21, pelo qual dispôs de suas propriedades e repartiu seus bens entre os pobres, e se retirou ao deserto do Egito. Outros de grande renome são Simeão do Pilar e Palemão o estilita, chamados assim por sua curiosa maneira de viver em colunas que terminavam em uma base. Curiosamente, de Simeão se diz que viveu sobre seu pilar ao leste de Antioquía trinta e seis anos e que gotejava vermes, piolhos e sebo. Houveram pessoas cujo ingresso a um monastério não estava associado com a conversão à fé, senão, a uma preocupação pela salvação. Quando o monastério estatutariamente implica uma vida de renuncia ao mundo, de mortificar a vontade, de austeridade na comida e vestimenta mortificante, vigílias noturnas depois de um duro trabalho diurno, jejum, castigo da carne, e outros procedimentos, isso vai dar em um legalismo e a prática de exagerados rudimentos do mundo, que não produzem a paz com Deus, nem menos vai substituir o sacrifício de Cristo. Na época que se inicia com Constantino, os ministros cristãos começaram a chamar-se "sacerdotes", mesmo para a época de Constantino, o título de sacerdote tomou um aspecto mais pagão, pois antes de Constantino, na Tradição Apostólica, Hipólito de Roma chama sacerdote a João, e a Didaké, do século I, chama sumos sacerdotes aos profetas da Igreja, mas no sentido neotestamentário que usam Pedro, Paulo e João. O sacerdócio paganizado contribuiu para a formação do nicolaísmo, tirando o sacerdócio ao povo."4 Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa,5 também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo.. Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; " (1 Pe. 2:4-5,9)." 16 para que eu seja ministro de Cristo Jesus entre os gentios, no sagrado encargo de anunciar o evangelho de Deus, de modo que a oferta deles seja aceitável, uma vez santificada pelo Espírito Santo.” (Ro. 15:16). “e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra.” (Apo. 1:6; 5:10).Mesmo ao contrário da sua vontade e pela insistência e petição de algum bispo, alguns destes ermitãos chegaram a ser ordenados sacerdotes e bispos e ocupar cargos eclesiásticos. Se diz que Pacómio, antigo soldado do exército imperial, que nascera em uma pequena aldeia ao sul do Egito em 286, foi quem teve grande proeminência no surgimento do monaquismo comunal ou cenobítico, mais tarde Basílio de Cesaréia, um dos três Capadócios, Martín de Tours e Jerônimo. Um dos mais sobressalentes organizadores do ascetismo foi Benito de Núrcia, autor da famosa regra de São Benito, uma das mais influentes da organização do ascetismo.

Os Pais da Igreja

Pelas informações recebidas da época, houve nesse tempo muita atividade teológica, e não menos correntes de idéias controversas; é a época do desenvolvimento e aprofundamento da Cristologia, e fazem suas aparições novas escolas teológicas em Constantinopla, Roma, Antioquía e Córdoba. Pérgamo é um período de grandes figuras protagônicas no suceder de uma grande virada da Igreja, entre os quais se destacaram eminentes teólogos, filósofos, historiadores, apologistas e polemistas, alguns dos quais deixaram registros escritos desses importantes acontecimentos. Antes de registrar um ligeiro perfil de alguns dos chamados pais da Igreja, é interessante notar que o platonismo exerceu grande influência no cristianismo, principalmente por meio de pensadores cristãos como o judeu helenista Fílon, Justino Mártir, Clemente de Alexandria, Agostinho e os escritos que levam o nome de Dionísio o Areopagita.

Eusébio de Cesaréia (260-340). Sábio erudito e historiador da Igreja, nascido provavelmente na Palestina, onde chegou a ser bispo de Cesaréia e onde foi discípulo de Pânfilo, natural de Berito (hoje Beirute), na ocasião em que este estudava, organizava e completava a biblioteca que Orígenes havia deixado ali em possessão da igreja. Desde esta sede, Eusébio saía por diversas cidades buscando documentação acerca das origens do cristianismo. Inicialmente, e mesmo em meio das perseguições em tempos do imperador Maximino Daza, Eusébio escreveu junto com Pânfilo várias obras, entre elas Crônica, cinco livros de uma Apologia de Orígenes. Morto seu mestre, revisou e ampliou sua obra mais importante, a História Eclesiástica. Obra de suma importância para o estudo dos primeiros tempos da vida da Igreja, pois ele se encarregou de compilar, organizar e publicar quase todo o que a posteridade logrou saber de muitos dos cristãos dos primeiros séculos da Igreja. E foi terminada quando o imperador Constantino acabava de firmar o Edito de tolerância no ano 313, que outorgava a paz aos cristãos. Eusébio em sua oportunidade escapou da perseguição e se livrou do martírio, e foi testemunha presencial daquelas amargas horas da Igreja, e por razões que temos analisado acima no presente capítulo, como muitos outros em seus tempos, viu em Constantino um instrumento escolhido por Deus para levar a cabo seus propósitos, e, segundo afirmam vários analistas da história, por causa da fascinação da pompa imperial, se dedicou a servir os interesses do império por cima dos de Jesus Cristo. Eusébio se viu envolto nas controvérsias arianas, ao que se manteve no Concílio de Nicéia dentro da linha ortodoxa, aliás, deixou muito a desejar, pois não apoiou plenamente a Atanásio de Alexandria, já que seus interesses eram outros. Diz-se que era amigo pessoal de Constantino, de quem escreveu sua obra “Vida de Constantino”. No pensamento e modo de ver as coisas, Eusébio, mesmo sem aperceber-se, discordava muitas vezes da sã teologia cristã. Por exemplo, foi um dos que não percebeu do perigo que era que a Igreja perseguida passara a ser a Igreja dos poderosos. Os que segundo as palavras do Senhor no evangelho tem muita dificuldade para herdarem o reino dos céus, a Igreja que preferiu morar na terra antes que ser peregrina, e a ver a riqueza e a pompa como uma benção de Deus. Também escreveu uma obra útil para os estudos bíblicos, sua Onomástico, enumerando e identificando os principais lugares geográficos da Palestina.
Atanásio de Alexandria (300-373). Um dos quatro grandes dos chamados pais da Igreja, de orientação grega. Nasceu provavelmente em alguma pequena aldeia ribeirinha do Nilo e morreu em Alexandria; pertencente a uma família de classe humilde, talvez da raça copta. Este gigante da Igreja era de pele escura e muito curto de estatura, a tal ponto que seus inimigos às vezes zombavam dele o chamando de anão. Desde sua infância demonstrou profundo interesse pela igreja, e chegou a desfrutar da favorável atenção de Alexandro, o bispo de sua cidade natal, onde muito jovem chegou a ser diácono. O centro de sua fé o constituía a presença de Deus na história, e por isso se constituiu no mais temível opositor do arianismo, antes e depois do Concílio de Nicéia, tendo em conta que para Atanásio a controvérsia ariana ia mais longe de serem simples sutilezas filosóficas; tinha a luz suficiente para saber que essa heresia socavava o centro da fé cristã. Depois do Concílio de Nicéia, morreu Alexandro e Atanásio foi eleito bispo de Alexandria, e esse havia sido o desejo de seu antecessor. Mas Eusébio de Nicomédia e demais dirigentes arianos, persuadiram ao imperador contra Atanásio acusando-lo de irregularidades eclesiásticas e até de homicídio, pelo qual Atanásio sofreu uma vida de lutas e de repetidos exílios. Seus últimos sete anos passou sossegadamente em Alexandria, onde morou em 373. Finalmente suas idéias triunfaram por toda a Igreja, ficando consignadas no Credo de Atanásio, ao que este não houvera sido escrito por ele. Entre as obras escritas por este eminente varão de Deus relacionamos: * A Vida de Santo Ântonio. Atanásio costumava visitar aos monges do deserto, e em especial a Paulo o ermitão e a Antônio, de quem aprendeu uma grande austeridade e rígida disciplina.* Contra os gentios. O mesmo que a seguinte, escrita antes da controvérsia ariana.* Acerca da encarnação do Verbo. Escrita abaixo da profunda convicção da centralidade da encarnação de Cristo na fé da Igreja e mesmo da história humana, e sem a influência das especulações filosóficas de Clemente de Alexandria ou de Orígenes.
Os Capadócios. Este título foi dado a três grandes teólogos cristãos do século IV, que pertenciam as igrejas da província de Capadócia, ao norte de Cicília, na Ásia Menor, os quais tiveram uma influência decisiva por haver se aprofundado no assunto da Trindade e haver contribuído grandemente à derrota do arianismo. São eles Basílio Magno o de Cesaréia, seu irmão Gregório de Nissa, famoso por suas obras acerca da contemplação mística, e Gregório de Nazianzo ou Nazianzeno, célebre orador, poeta e compositor de hinos. Os três tiveram forte influência do pensamento de Orígenes.
Basílio o Grande (329-379). Membro de uma família profundamente religiosa de Cesaréia. Recebeu educação universitária em Cesaréia, Constantinopla, Antioquía e Atenas, cidade esta onde se fez amigo de Gregório, conhecido mais tarde como Gregório Nazianzeno. Uma vez regresso em sua terra natal esteve a frente da catedral de retórica da Universidade de Cesaréia, mas foi repreendido por sua própria irmã Macrina, devido a que estava muito envaidecido, que não citara tanto os autores pagão, senão que buscara viver de acordo com os ensinamentos dos autores cristãos. A influência de sua piedosa irmã e a morte de Lucrécio, outro irmão que havia vivendo uma vida de contemplação, o levou a renunciar a sua catedral e demais honras e pompas do mundo, para dedicar-se a aprender com sua irmã os segredos da vida monacal. Em 357 foi batizado e ordenado leitor na igreja. Viajou pelo Egito, Palestina a fim de aprender dos monges a vida contemplativa, e em seu regresso fundou com Gregório de Nazianzo uma comunidade de monges em Ibora, não longe de seu lar, escreveu regras e princípios para a comunidade, que foram base para as de outras comunidades. Em 364, a petição de Eusébio de Cesaréia foi ordenado presbítero, e se dedicou a escrever livros. Depois da morte de Eusébio, em 370, Basílio foi nomeado bispo de Cesaréia. Nesse tempo Valente, um ariano, chegou a ocupar o trono imperial, e foi a visitar a Cesaréia, talvez com o propósito de fortalecer o bando ariano e debilitar o niceno, e Basílio enfrentou o imperador sem deixar-se submeter com promessas nem ameaças. Com Gregório Nazianzo e Gregório de Nissa, Basílio contribuiu poderosamente acerca da doutrina da Trindade e a terminar a disputa relacionada com a terminologia sobre o Espírito Santo. Morreu aos cinqüenta anos, pouco antes do Concílio de Constantinopla, no ano 381, confirmara a doutrina nicena.
Gregório de Nissa (330-395). Irmão menor de Basílio e ao contrário de seu irmão, era de um temperamento agradável e tranqüilo. Preferia a vida apartada e retirada do mundo ruído. Sua educação, ainda que boa, não foi tão esmerada como a de seu irmão. Contraiu matrimonio com a formosa jovem Teosébia, com quem foi feliz. Parece que mais tarde enviuvou e entrou em um monastério fundado por seu irmão, e no ano 371, devido a certas medidas tomadas pelo imperador Valente para limitar o poder de Basílio, ao dividir a província de Capadócia, este nomeou novos bispos para várias pequenas povoações, e uma delas foi Nissa, onde chamou a seu irmão Gregório para que ocupasse o bispado. Foi grande defensor da fé nicena sobre a Trindade. Seus escritos compreendem obras místicas, apologéticas, sobre a controvérsia trinitaria. Escreveu um tratado Acerca da virgindade. Sua principal obra apologética foi o Termo-catequeticus, o qual se trata de um manual teológico cujos temas principais são a cristologia e a escatologia. Teve certa influência origenista, pois sustentava a concepção antibíblica de Orígenes sobre o inferno no sentido de que é uma espécie de purgatório, e que ao final dos tempos todos os seres, tanto homens como demônios serão salvos, incluído Satanás mesmo. Recorde-se que esta ordem de idéias tem sido divulgado por certos escritores que seguem a linha do italiano Papini. É possível que Gregório haja aceitado esta idéia ao haver interpretado erroneamente as palavras de Paulo que Cristo será tudo em todos. Ao final de seus dias voltou a retirar-se de toda atenção do mundo, a tal ponto que se ignora o lugar de sua morte.
Gregório de Nazianzo ou Nazianzeno (330-389). Um dos três grandes Capadócios; companheiro de estudos e amigo de Basílio. Filho de Gregório, o bispo de Nazianzo, e Nona. Iniciou seus estudos em Cesaréia, e pelo ano 350 estudou na Universidade de Atenas, onde permaneceu uns catorze anos. Igual a Basílio, Gregório também se ocupou em ensinar retórica, antes de se dedicar a levar uma vida monacal em companhia de Basílio. Foi um hábil orador, e isso lhe trouxe como conseqüência haver sido ordenado presbítero à força, antes que Basílio o nomeasse bispo na pequena aldeia de Sasima, no tempo quando o imperador Valente adiantou ações contra Basílio. Nos tempos do imperador Teodósio, de origem espanhola, Gregório chegou a ser, contra a sua vontade, patriarca de Constantinopla, cargo ao qual renunciou para regressar a sua terra natal às tarefas pastorais e compor hinos. Morreu em seu retiro, aos 60 anos de idade. Estando como Patriarca chegou a presidir o Concílio de Constantinopla em 381. Entre suas obras mais destacadas como escritor se contam cinco discursos teológicos contra os arianos que se conhecem como "Cinco discursos teológicos acerca da Trindade", que são considerados a chave na exposição da doutrina trinitária. O livro Philocalia, que é una seleção das obras de Orígenes, compiladas juntamente com Basílio, e têm sido conservadas também umas 242 cartas e poemas.
Ambrósio de Milão (340-397). Natural de Tréveris, filho de um prefeito do pretório das Gálias, educado num ambiente estóico, de acordo com as normas daqueles tempos, chegou a ser um oficial civil e prefeito do Norte da Itália. Para surpresa sua, o povo insistiu que fosse bispo de Milão, na época em que era governador da cidade, quando mesmo nem sequer havia sido batizado, sendo tão somente um catecúmeno ( aspirante a cristão). Havia morrido Auxêncio, o bispo imposto pelos arianos, e a eleição de um novo amenizava para que não houvesse um tumulto, quando ele apareceu para apaziguar o ânimo do povo. Foram dramáticos seus esforços para persuadir a multidão de que ele era indigno desse cargo, e viu a necessidade de empreender um curso de leitura teológica a fim de encher o vazio que não necessariamente buscava. Depois de ser batizado, em apenas uma semana chegou a ser sucessivamente leitor, acólito( sacristão), subdiácono, diácono, presbítero e bispo; isso ocorreu em primeiro de dezembro do ano 373.chegando a ser um dos mais famosos bispos, pregador e administrador. No ano 394, a raiz da sangrenta represália do imperador Teodósio contra Tessalônica, na qual mandou matar umas sete mil pessoas reunidas no circo, celebrando precisamente o perdão imperial, valentemente Ambrósio repreendeu ao imperador por sua crueldade contra os vencidos, impondo-lhes uma penitência; mas depois foi tratado com muita estimação por Teodósio. Foi zeloso da autonomia da Igreja nos assuntos espirituais, mas estava de acordo que a Igreja tinha predomínio sobre o poder civil. Dizia-se que "o imperador está na Igreja, mas não por cima dela".Segundo as controvérsias dessa época e contrastando com João Crisóstomo, o qual sustentava que o homem valendo-se de seu próprio arbítrio pode voltar-se a Deus, e que ao fazê-lo, Deus apóia a vontade do homem, Ambrósio em contrapartida ia um pouco mais longe, pois cria que a graça de Deus era a encarregada de iniciar a obra de salvação, e que quando o homem é objeto da graça de Deus, o homem coopera por sua própria vontade. Foi autor de muitos livros e hinos cristãos litúrgicos. É de suma importância sua influência na conversão do jovem intelectual Agostinho, quem no curso de uma peregrinação escutava os sermões de Ambrósio, com quem a si mesmo se fez batizar, o que chegara a ser o famoso bispo de Hipona e o mais brilhante dos "gigantes" de sua época. Ambrósio morreu em 4 de abril de 397.

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