A Igreja de Jesus Cristo-Uma Perspectiva Histórico-Profética

A Igreja de Jesus Cristo-Uma Perspectiva Histórico-Profética
Tradução do livro "La Iglesia de Jesucristo, una perspectiva histórico-profética" de Arcadio Sierra Diaz

domingo, 9 de setembro de 2007

II- Esmirna ( 1ª Parte )

Capítulo II E S M I R N A(1a. parte)

SINOPSE DE ESMIRNA


Tempos da amargura da Igreja


Período dos mártires - Grandes provas para os santos - Os catecúmenos - Sinagogas de Satanás - Os judaizantes.


Heresias dos séculos II e III

Hereges e heresias: Marcion - Sabelianismo - Montanistas - Maniqueísmo.

As dez grandes perseguições

Debaixo do governo dos imperadores romanos: Nero - Domiciano - Trajano - Antonino Pío - Marco Aurélio - Sétimo Severus - Maximiano Traciano - Décio - Valeriano - Diocleciano - Grandes mártires: Pedro - Paulo - João - Clemente de Roma - Policarpo de Esmirna - Justino Mártir - Perpétua e Felicita - O diácono Lorenzo.

Os primeiros chamados pais da Igreja

Clemente de Alexandria - Orígenes - Gregório Taumaturgo - Escolas Teológicas: Alexandria - Antioquia - Ásia Menor - Cártago.

Os apologistas e polemistas

Apologistas: Aristídes - Epístola a Diogneto - Justino Mártir - Melitão - Apolinário de Hierápolis - Atenágoras - Milciades - Teófilo -Taciano - Minúcio Félix - Hermias - Polemistas: Irineu - Tertuliano.

Os vencedores de Esmirna

Segunda recompensa: Receberão a coroa da vida e não sofrerão o dano da segunda morte – O que é a segunda morte? A que se refere o sofrer o dano da segunda morte?

A CARTA À ESMIRNA.

“8 Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Estas coisas diz o primeiro e o último, que esteve morto e tornou a viver:9 Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rico) e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás.10 Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida.11 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte. " (Apocalipse 2:8-11).

Bebida amarga

A localidade de Esmirna estava situada na Ásia Menor, nas costas do mar Egeu, no golfo do mesmo nome. Foi uma antiga colônia dos jônios, e mais tarde fez parte da província romana da Ásia. Diz-se que debaixo da proteção de Roma foi, no Império bizantino (de Constantinopla), um dos centros de expansão do cristianismo. Hoje é uma cidade da Turquía, conhecida no idioma turco como Izmir, e é a capital da província homônima. É a segunda carta das sete de Apocalipse, e está dirigida a uma igreja que representa a condição e características da Igreja no período profético compreendido entre final do século primeiro até o ano 313 d. C.; é como dizer, entre o subperíodo subapostólico e morte do apóstolo João até a promulgação do Edito de Tolerância, o Edito de Milão, do imperador Constantino o Grande. A carta começa dizendo: "Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Estas coisas diz o primeiro e o último, que esteve morto e tornou a viver: (v.8).O termo Esmirna (Izmir) procede da mesma raiz grega de mirra, ou seja, myrrh, cujo significado é "amargura", o qual se relaciona com o sofrimento. A mirra é uma seiva preciosa que se obtém praticando incisões na casca da planta, e dessas feridas fluí a mirra em forma de lágrimas, que ao dessecar se tornam avermelhadas, translúcidas, frágeis e de fatura brilhante. Nos tempos antigos, a mirra, considerada um material precioso, foi usada em incensos, perfumes, ungüentos, medicinais, e se fazia oferenda dela no culto e nos sacrifícios. Entre os elementos que eram acrescentados ao óleo da santa unção, estava a mirra, que representa a obra do Senhor na cruz, ou seja, a morte; por isso a mirra servia para embalsamar aos mortos, como quiseram fazer as mulheres que visitaram a tumba do Senhor Jesus. Do anterior deduzimos o profundo significado da palavra Esmirna, significado que nos revela a condição da igreja nessa cidade e do segundo período histórico-profético da Igreja, a Igreja sofredora.A situação dos santos da igreja na cidade de Esmirna era estreita, pressionados em um foco de adoração ao César, qualquer que fosse o imperador de turno. Se diz que nessa cidade residiam muitos judeus que não perdiam oportunidade de incitar às autoridades e à gente comum à perseguição contra os cristãos. No começo os principais perseguidores eram os judeus aferrados a sua religião, pois lhes parecia que estavam sendo socavadas suas amadas e milenares instituições e tradições judaicas. O período de Esmirna se caracteriza porque durante esse lapso a Igreja foi objeto de dez grandes perseguições por parte dos imperadores romanos. É o período dos mártires da Igreja perseguida, é a Igreja em prova, não porque estava passando por uma queda espiritual, não; ao contrário, isso demonstra que se tratava de um período de muito amadurecimento espiritual, não eram uns meninos na fé, pois aos meninos não se pode ter a suficiente confiança para submete-los a semelhantes provas.Por amor, o Senhor concede aos maduros passar por provas, porque a Palavra de Deus diz que isso é necessário para a Igreja; E o Senhor os estava preparando para maiores provas que se aproximavam. É a Igreja em amargura. Já a Igreja de Cristo havia passado pelo período de gestação, da gloriosa plenitude da presença e o poder do Espírito Santo, dotando-a das ferramentas necessárias para um trabalho sobrenatural no meio de um mundo saturado pelos princípios satânicos, mas havendo começado a perder seu primeiro amor desde a época de Éfeso, e a beira de iniciar uma época de sangrentas perseguições, por isso a esta igreja, o Senhor se apresenta como o primeiro e o último, ou seja, o eterno, atributo só de Deus; primeiro porque ele deu origem a Seu propósito eterno, e último porque leva a consumação de tudo o que se há proposto; só Ele é eterno, e isso significa também que não teve princípio nem terá fim, e como Deus jamais muda, é imutável e portanto confiável, digno de toda confiança. A perseguida igreja em Esmirna necessita do respaldo do Senhor, fiel, poderoso, imutável, o Cordeiro que foi destinado e imolado desde antes da fundação do mundo como sacrifício por nossos pecados (cfr. 1 Pedro 1:20; Apocalipse 15:8). Isto significa que Cristo foi o primeiro mártir, mas vive porque ressuscitou, a morte não pode vencê-lo. Ele os alenta como se lhes dissesse: Não temas, pois o juízo e a morte a que vos submetem agora são passageiros; Mas Eu sou o juiz do último juízo, e sou a ressurreição e a vida. Isso da segurança à Igreja. Há ocasiões críticas no existir humano, mesmo na vida de muitos santos, em que paradoxicamente não é fácil sustentar-se na fidelidade de Deus, pois não importa que sejas um gigante na fé; tem cuidado!, podes falhar. Mas Ele está conosco; sempre está conosco. Ele quer animar e infundir confiança aos santos de Esmirna. Além das credenciais anteriores, também o Senhor se apresenta como o que esteve morto e viveu, onde o Senhor está se referindo a Sua morte por crucificação e gloriosa ressurreição ao terceiro dia. Ele pediu à Igreja que seja fiel até a morte porque Ele mesmo havia sofrido antes, Ele mesmo havia passado por essa amarga experiência. Isso é de grande ajuda, alento e consolo para a Igreja sofrida. Cristo levou na cruz o poder religioso, o judaísmo, associado com um político, o Império Romano; o Senhor não se mesclou com esse binômio, e foi crucificado em uma aparente derrota, de onde saiu vitorioso, pois o Senhor foi glorificado por Sua morte, e ao ressuscitar, Seu poder superou ao que havia tido nos dias de Sua humanidade. O Senhor foi o primeiro vencedor.Diz o apóstolo Paulo que se o Senhor Jesus Cristo não houvesse ressuscitado, seríamos, os cristãos, as pessoas mais dignas de compaixão de todos os homens, pois vã seria nossa fé (cfr. 1 Coríntios 15:17,19); de maneira que o Senhor está vivo, e o mesmo poder que ressuscitou ao Senhor Jesus, eventualmente nos ressuscitará. Devemos permanecer firmes na grande vitória de Cristo sobre a morte e sobre Satanás. A grande onda de psicologia e apologia da prosperidade que tem invadido ao cristianismo, tem a cobrir com uma grande cortina da fumaça do sofrimento na Igreja; por Sua bondade e Sua sabedoria, o Senhor não sempre nos livra da angústia e a tribulação; mas se não se sofre não se pode triunfar. Que se entende por triunfar? Cuidado! Não confundas as bênçãos materiais de Deuteronômio 28, prometidas para um povo terreno como Israel, com as bênçãos de tipo espiritual exclusivas da Igreja, Corpo de Cristo, escondida com Ele em lugares celestiais. Nossa posição com relação ao Senhor é diferente à de Israel. Para Israel são as promessas de tipo terreno, para a Igreja tomar a cruz a cada dia e seguir ao Senhor em um mundo em que somos peregrinos. Se a Igreja se interessa por triunfar nas coisas materiais e nas ambições de poder que com freqüência se escondem nos assuntos da política e demais enredos deste mundo, imediatamente se desvia do verdadeiro propósito do Senhor. O Senhor tem determinado para a Igreja uma classe especial de trabalho e posição ante o mundo, que necessariamente implica no sofrimento, porque a Igreja de Cristo é também um exército em constante luta, e essa é a razão pela qual o Senhor nos diz que nós temos que nos fortalecer Nele, e no poder de Sua força. Por quê? " 12 porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. " (Ef. 6:12). Constantemente o sofrimento deve estar na agenda do crente, assim como o Senhor Jesus Cristo esteve sempre consciente dessa situação, e de saber que Sua encarnação se devia a que veio a morrer vicariamente por nós, com toda essa bagagem de sofrimento que suportou. Se o Senhor estima que devemos sofrer, é porque nos convém sofrer. Que a seu tempo, Ele determine livrar-nos do sofrimento, que isso Ele decida conforme a sua infinita sabedoria, misericórdia e soberania. Sejamos sóbrios e não nos deixemos hipnotizar ou embriagar pela miragem do triunfo secular. Nosso verdadeiro triunfo está com o Senhor em Seu reino. Se o Senhor permite a tribulação em Sua Igreja, é porque a Igreja necessita. O cristão vencedor regozija em meio às tribulações e apesar delas (cfr. Fp. 2:17; 2 Co. 7:13; 12:10). Mesmo que pareça um paradoxo, por um lado nada pode continuar a redenção do Senhor, mas por outro é necessário que a Igreja cumpra o que falta de Seus sofrimentos, tanto a nível individual como coletivo. Diz o apóstolo Paulo: " Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja " (Col. 1:24). Levemos em conta que a obra da redenção na cruz foi consumada uma vez por todas (Hb. 9:28; 10:12,14); mas uma coisa é a obra da redenção, que está completa, e outra é a aplicação da redenção através da história, pois o mesmo Cristo que nos redimiu na cruz, é o mesmo que agora vive no crente (Gl. 2:20), completando assim em nossa carne, completando o que falta do que Ele realizou em Sua própria carne na cruz, porque nós somos agora Seu corpo, a Igreja. Nós fomos também crucificados.

Ricos na pobreza

"Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rico) e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás." (v.9).Louvamos ao Senhor porque Ele conhece as obras da Igreja. No segundo período profético da Igreja, a pesar dos conflitos internos, os crentes de antes da época de Constantino continuavam formando comunidades que não haviam desviado dos princípios do Novo Testamento, e em meio desse ambiente hostil à Palavra de Deus, a Igreja do Senhor se distinguia por sua qualidade de vida frente ao mundo pagão. A modo de exemplo, comentamos que nessa época não se havia introduzido o batismo das crianças, pois as famílias cristãs esperavam que seus filhos reconhecessem por si mesmos e recebessem voluntariamente ao Senhor (mesmo que alguns cristãos tenham visto em certos versículos bíblicos que se referem ao batismo, a possibilidade de que hajam sido batizados algumas crianças, como no caso de Atos 16 em relação com as famílias do carcereiro de Filipos e de Lídia de Tiatira). Não obstante devemos recordar no texto de Atos 8, a resposta de Felipe à pergunta do eunuco sobre quais eram os requisitos para o batismo, e a resposta foi, a fé. Se deve ter consciência de que o batismo não é condição necessária para a salvação, e sim um ato público de testemunho e obediência, e era realizado por imersão. Mesmo que no começo não tivesse sido assim, chegou o tempo em que os convertidos passavam por um período de aprendizagem ou preparação para o batismo; eram os catecúmenos. Em muitos casos os catecúmenos eram batizados em seguida. Não obstante, que a Igreja continuava no deslize iniciado na segunda metade do período de Éfeso, nos atrevemos a afirmar que mesmo nessa época o amor era o vínculo mais forte de união.Nas igrejas locais costumavam destinar as ofertas a um fundo comum principalmente para a ajuda dos santos pobres, com a participação e direção dos anciãos da igreja. Os que recebiam uma ajuda sistemática eram osmatricularii, pois estavam inscritos na matrícula, ou seja, que havia uma lista ou cânon das viúvas, órfãos, anciãos sem recursos, os que haviam perdido seus bens por causa de uma desgraça (um naufrágio, por exemplo), os que nos tempos da perseguição haviam caído na miséria, e demais necessitados. Por exemplo, é digno de menção que na comunidade cristã de Roma levavam um registro dos irmãos que haviam sido enviados a trabalhos forçados nas minas da ilha mediterrânea de Cerdenha, para mandar-lhes ajuda. A Igreja não se cuidava de entesourar nem de incrementar seu patrimônio; não havia o interesse de construir luxuosos e grandiosos templos para as reuniões, e o dinheiro não era desviado a cobrir gastos que não foram estritamente necessários, aparte de atender aos santos pobres. A Igreja de Jesus Cristo carece de tesouros terrenos, como testemunhou o diácono Lorenzo quando, ante o tribunal pagão, se lhe impôs a que entregasse os tesouros da igreja, ele contestou que os tesouros da comunidade cristã são os santos pobres. De onde provinham estes recursos? A oferta é um ato de adoração e honra ao Senhor, e deve ser voluntária. Diz Tertuliano que "cada um dá uma vez ao mês ou quando quer, se é que quer alguma vez, e se pode, pois a nada se lhe obriga". A Respeito disto, é digno de mencionar também que Justino Mártir na descrição das reuniões dominicais da igreja para a Ceia do Senhor, e que a meados do século segundo começaram a chamar de eucaristia, de uma palavra grega que significa o dar graças. Diz que as contribuições feitas pelos irmãos abastados, eram depositadas em mãos do oficial presidente da reunião, o qual se encarregava de usar esses fundos para socorrer às viúvas, aos órfãos, aos enfermos, aos prisioneiros, aos estranhos que visitavam aos cristãos e a outros que atravessavam por alguma necessidade. No período de Esmirna, a Igreja é alentada. É uma das duas, com Filadélfia, que não recebe reprovações do Senhor, e a anima e aprova essas obras no sofrimento. O Senhor sabe qual é a origem desse sofrimento; Ele conhece a tribulação devida à amarga perseguição de que é objeto Sua amada, e que por trás dos bastidores é Satanás quem na verdade está interessado em destruir à Igreja de Jesus Cristo, mas o querubim caído se vale de seus instrumentos humanos para realizar sua obra destrutiva, e nesses duzentos anos do período de Esmirna usou todo o poderio imperial para efetuar seus maléficos desejos. O Senhor permite a tribulação em Sua Igreja, entre outras coisas, para capacitar-la para que participe e desfrute das riquezas da vida do Senhor.Eventualmente a história registra a ação dos imperadores romanos. Que motivos aparentes moviam aos Césares a perseguir aos cristãos e pretenderem extermina-los? Que mal faziam os santos ao Império e a sociedade? Eram os crentes uns delinqüentes? Os cristãos faziam o bem; conformavam um grupo obediente à lei, mas eram odiados e perseguidos de morte devido a que não compartilhavam a idolatria e a adoração aos deuses alheios; em conseqüência eram considerados uns alienados, pessoas anti-sociais, desafetuados ou aborrecedores dos demais seres humanos; eram considerados também uns ateus porque não criam nos deuses pagãos, e tudo isso ia alimentando um antagonismo excitante. Também consideram os historiadores que a negativa de muitos cristãos a exercer cargo de magistrados, portar armas e render culto ao imperador, os fizeram oficialmente suspeitos. Nos primeiros séculos, nos tempos da República, se rendia culto a Roma, mas com o estabelecimento do império, os imperadores, com o título de Augustos, foram considerados "divinos", pois lhes chamavam præsens divinus (divindade encarnada), e reclamaram culto à sua pessoa, talvez seguindo o costume herdado desde os tempos de Alexandre Magno. Similar ao que ocorre hoje em torno das religiões idolátricas e supersticiosas, com essa efervescência na fabricação de toda sorte de objetos religiosos, esse grande comércio com missas fúnebres, responsos, crucifixos, imagens, escapulários, estampas, medalhas, sufrágios, veladoras e milhares de coisas mais, nesse tempo haviam cristalizado fortes interesses financeiros na indústria religiosa pagã; sacerdotes e laicos relacionados com os templos dos ídolos, os fabricantes de imagens, escultores, arquitetos de templos, artesões de réplicas de templos, como o caso dos ourives de Éfeso; todos eles viam afetados seus abundantes negócios pelo avanço da Igreja, e incitavam e promoviam a perseguição contra os santos. O Senhor também disse à Igreja em Esmirna que conhece sua pobreza. Alguns exegetas consideram que se trata de uma pobreza econômica, o qual em parte pode ser verdade; e consideramos que estar atribulado e perseguido em meio de escassez já é em si uma grande calamidade. Mas se analisarmos mais detalhadamente o contexto e aprofundarmos o significado, obteremos novas luzes sobre este trecho tão importante da caminhada da Igreja no período de Esmirna. Quando o Senhor disse que conhece sua pobreza, a continuação, e em contraste, lhe adiciona as palavras "mas tú és rico"; é o mesmo que dizer, que há uma riqueza no Senhor que gera essa pobreza de espírito. É tudo ao contrário do que Ele disse à igreja em Laodicéia: " pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu. " (Ap. 3:17). Diz-se que esta riqueza de que se orgulha a igreja em Laodicéia não é necessariamente de tipo material, mesmo que também haja parte disso; nota-se que por si mesma essa expressão conota soberba, e o Senhor expõe sua verdadeira condição espiritual. O verdadeiro vencedor é pobre em espírito e rico em Deus. Assim mesmo ocorre no caso de Esmirna. A pobreza desta sofrida igreja pode ter seus aspectos de necessidades materiais, e de fato os tem se levarmos em conta que por causa das perseguições eram despedidos de seus trabalhos, seus bens confiscados e sofriam perdas por diferentes motivos; mas a tribulação, a pobreza, a blasfêmia, o cárcere e a morte, são os ingredientes da amargura de Esmirna. Não há base escrituraria para afirmar que a pobreza seja algo bom, nem que garanta a espiritualidade da pessoa; como tampouco a Bíblia faz apologia à riqueza. Há ricos santos e humildes, assim como há pobres altivos. O Senhor tem outros interesses e outros propósitos. Diz em Mateus 5:3: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.”. Nem sempre a riqueza material gera soberba, pois de fato há crentes endinheirados que são humildes de coração, mas a carência de pobreza espiritual se traduz com freqüência em altivez; a pobreza espiritual é característica fundamental do cristão normal. É notório que há um aspecto em que o cristianismo denominacional se assemelha muito ao mundo e é que em muitos setores do protestantismo se defende com regularidade a prosperidade e ao êxito material e se despreza a humildade. Uma das nefastas conseqüências desta orientação é a marcada tendência a dividir-se em congregações com distinção de classes, posição social, situação econômica e até profissionais. O Senhor apóia que haja igrejas de ricos e igrejas de pobres? Não é vergonhoso diante do Senhor que haja igrejas de brancos e igrejas de negros? Está conforme o Senhor com todas essas discriminações, exclusivismos, divisões, altivez e esnobismos que costumam dar-se em Seus filhos, pelos quais derramou todo o Seu sangue o Ser mais humilde que haja pisado nesta terra? Ser pobre no espírito é não confiar no que tens, nem no que sabes, nem no que és, senão que toda sua confiança está posta no Senhor. Nisto se diferencia o homem natural e o cristão. Uma pessoa que tem ao Senhor Jesus Cristo como seu único suporte, seu único tesouro e sua única riqueza, é verdadeiramente rica. A respeito cabe perguntar, o que dizem os apologistas da chamada teologia da prosperidade?

Sinagogas de Satanás

Também o Senhor se manifesta à igreja em Esmirna que está atento à blasfêmia dos que se dizem ser judeus e não o são, e sim que se converteram em Sinagoga de Satanás. É inegável que desde seu nascimento a Igreja do Senhor foi objeto dos ataques por parte dos judeus, assim como havia sido o Senhor em seu ministério terreno. Observamos que as primeiras perseguições se originaram por conta dos judeus. Mais tarde o apóstolo Paulo em seus percorridos pregava primeiro nas sinagogas dos judeus; alguns criam, mas os que se opunham blasfemavam e fomentavam a perseguição, e mesmo muitos dos que criam também importunaram com a pretensão da judaização na Igreja. Mas o assunto vai mais além; tudo isso encerra a simbologia de algo mais profundo, pois à luz da Palavra, o termo judeu é genérico para todos os crentes, os que tenham “11 E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve ( Abraão ) quando ainda incircunciso; para vir a ser o pai de todos os que crêem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse imputada a justiça, 12 e pai da circuncisão, isto é, daqueles que não são apenas circuncisos, mas também andam nas pisadas da fé que teve Abraão, nosso pai, antes de ser circuncidado. " (Ro. 4:11-12). Também esclarece Paulo quando diz: " 28 Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne.29 Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus. " (Ro. 2:28,29). “7 nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. 8 Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa.” (Ro. 9:7, 8). Então um verdadeiro crente em Cristo tipologicamente é um verdadeiro judeu, e também nessa modalidade de judeu pode haver falsos judeus (cfr. João 8:39-47). Pode aparentar ser judeu. Isto nos deixa a séria inquietude de que também existem congregações que se dizem cristãs sem ser, e sim sinagogas de Satanás, onde não se prega o evangelho total. E se não se faz a vontade do Senhor, a vontade de quem se faz? Quem se opõe à vontade do Senhor, se faz um com Satanás. E onde não se honra ao Senhor, e sim que se lhe persegue, perseguindo aos filhos de Deus. Nas sinagogas dos judeus se havia chegado a esse lamentável estado. Há muitos que, como os judeus, presumem de sua legítima origem histórica e da Antigüidade de sua respectiva organização religiosa, e seguem sem ver o mal que praticam, aborrecendo inclusive aos que não militam em sua religião, desprezando aos que não compartilham de suas idéias, desconhecendo o Corpo do Senhor, mas o Senhor descobre sua verdadeira situação. A sinagoga utilizou a política e o poder imperial para perseguir ao Senhor e logo à Igreja. Na história, correntes oficiais da religião, como o catolicismo e o protestantismo, tem utilizado o poder político para perseguir a Igreja e opor-se à economia de Deus. Somente Deus sabe quando uma congregação e mesmo uma instituição eclesiástica se converte em sinagoga de Satanás.Há evidência na Palavra, por exemplo nas cartas de Paulo aos Gálatas, Romanos e Colossenses, dessa parte judaizante da Igreja, que tem persistido até hoje, com seus ensinamentos baseadas em parte na lei mosaica e parte na graça que veio por meio de Jesus Cristo; e o que é pior, com carga de leis, normas e estatutos adicionados de outras fontes não bíblicas. A esse tipo de ensinamento é dado um exagerado valor e se é institucionalizado, invalidando de passo o verdadeiro propósito do Senhor. Muitos eclesiásticos hoje, mesmo que não sejam judeus, insistem em preservar as práticas do judaísmo, tais como uma casta sacerdotal, rituais de sacrifício, templos materiais, mas na verdade tudo isso são tipos que tem achado cumprimento e que tem sido substituído por Cristo, porque não foram senão a maquete do verdadeiro edifício. A todas essas coisas Paulo chama rudimentos do mundo. Por exemplo, há quem enfatiza o guardar determinado dia, e insistem nesta famosa forma de judaizar, Mas Paulo diz que nada te julgue pelo que comas ou deixes de comer, nem pelo dia que hajas de guardar, pois tudo é sombra do que há de vir (cfr. Colossenses 2:8,16-17). Crês que as cartas do apóstolo Paulo fazem parte da Palavra de Deus? Se judaíza assim mesmo com o fomento das castas sacerdotais e o clericalismo; é como se propagar um evangelho diferente, coisa que há de se evitar. Busquemos ao Senhor Jesus Cristo; Nele estamos completos.

Hereges e heresias

O Senhor conhece a blasfêmia dos que se dizem judeus e não o são, senão sinagoga de Satanás; o qual nos indica que há quem pretenda ser o que não são com o fim de obter cortesia, preeminência e prerrogativas especiais, o qual encerra blasfêmia. Isso foi o que fez Lúcifer no céu. Então o conteúdo do termo “blasfêmia” é amplo. (Inclui escarnecer e injuriar o nome de Deus, a idolatria, e o que traz como conseqüência o descartar a fé e a boa consciência, que podem resultar em cair em heresias). No período de Esmirna, séculos II e III, surgiram os ataques satânicos. Uns com novas heresias, outros como continuação das iniciadas no período anterior. Os erros cristológicos têm surgido desde o mesmo começo da história da Igreja. Vemos essas três grandes frentes de ataques de Satanás nos três primeiros séculos: Os judaizantes, as heresias e as perseguições imperiais. É sumamente importante levar em conta que naquela Alexandria do antigo Egito se respirava uma rara atmosfera religioso filosófica saturada do gnosticismo dos egípcios, judaísmo, dualismo dos persas, zoroastrismo, politeísmo e filosofias gregas, à maneira de um grande ensopado onde se cozinharam muitas heresias que enfileiraram seus venenos contra a Igreja. O processo de mesclar o cristianismo com judaísmo e filosofias gregas e orientais deu como resultado a perversa mistura de heresias que têm desviado milhões de pessoas da verdade de Deus. Não podemos esquecer que no período da Igreja perseguida se desenvolveu a doutrina, principalmente para fazer frente ao surgimento das heresias, e foi composto o famoso "Credo dos Apóstolos", e isso deu lugar a um curioso feito. Enquanto isso no período apostólico a fé e entrega era autêntica, de coração, e nele se vivia mais a vida no Espírito, em troca no de Esmirna se foi generalizando gradualmente uma fé mais mental, de intelecto, pelo rigor e ênfase no sistema de doutrinas; recitar o credo chegou a ser em determinado momento como uma prova de pertencer à Igreja, sem que com ele se negue a existência de verdadeiros santos enriquecidos pelo Espírito Santo. Neste período profético, com maior ênfase em fins do século segundo, se diz que em parte como uma reação aos movimentos considerados como heréticos (gnosticismo, marcionismo e montanismo), foi se desenvolvendo na Igreja uma organização visível e a formulação intelectual de crenças. Começaram a dar forma ao sistema clerical e um sistema administrativo que se concentrava ao redor dos bispos. E havia passado o tempo em que em uma igreja local houvesse vários bispos ou presbíteros, senão que havia um só bispo em determinada cidade, para determinada área, de acordo com o número de cristãos. As palavras bispo e presbítero haviam deixado de ser intercambiáveis. Entre as heresias mais representativas do período de Esmirna podemos mencionar:

Marcion

Rico e proeminente herege do século II. O nome mais famoso entre os primeiros dirigentes gnósticos. Cristológicamente era docetista. Filho do bispo de Sinope, porto no Ponto, na costa sul do Mar Negro, e proprietário de barcos. Supõe-se que ao ser filho de um bispo, haja sido criado no marco dos ensinamentos cristãos. Havendo ingressado à igreja em Roma, fez ali uma generosa dádiva; mas mais tarde começou a ensinar os erros que lhe deram tanta fama, e depois de haver sido separado da comunhão da igreja ao redor do ano 144, fundou seu próprio movimento eclesiástico rival ao cristianismo ortodoxo, com uma influência em muitas partes do Império Romano de quase uns dois séculos. Não se conhece muito acerca da personalidade de Marcion senão através dos escritos e testemunhos de Irineu, Hipólito e Tertuliano, que foram seus opositores e o combateram e puseram as bases para uma explicação sistemática da fé cristã e sua diferença com um sistema filosófico. Levemos muito em conta que o Evangelho é revelação, e não filosofia. Entre as características dignas de menção do gnosticismo de Marcion temos a obrigatoriedade da continência e o voto de virgindade (celibato), a rejeição do Antigo Testamento e sua redução das Escrituras ao Evangelho de Lucas e às epístolas de São Paulo, mas não sem antes expurgar delas o que ele considerava acréscimos. Se opunha ao Deus "terrível" do Antigo Testamento, o Deus "bom" do Novo Testamento, Deus de amor que se havia mantido escondido até que se revelou em Cristo.É curiosa a concepção marcionista acerca de Deus. Marcion relaciona as palavras do Senhor Jesus no sentido de que uma árvore boa não pode produzir maus frutos, para ensinar que este mundo cheio de sofrimentos e maldade, não pode ser obra senão de um ser malvado e não de um Deus bom; e a esse Deus criador dos judeus, que se comprazia com os sacrifícios sangrentos, o designava com a palavra platônica Demiurgo. Os marcionistas recusavam a salvação pela graça, através da fé obtida na justificação por Cristo, senão por una espécie de ciência ou conhecimento (gnoses) superior, privilégio de uns poucos iniciados. De acordo com estas confusas opiniões, Cristo não tinha nenhuma relação com o Demiurgo, e portanto não nasceu como os homens, criaturas do Demiurgo, e, por conseguinte, à maneira dos fantasmas, só parecia que tivera corpo. Para Marcion, Cristo não veio a liberar aos homens da escravidão satânica, e sim do governo do maligno, tirano e legalista Demiurgo.Heresias como a de Marcion, quem mutilava a Bíblia, levaram os grandes homens de Deus a se interessarem por distinguir entre os autênticos e os falsos escritos inspirados, e na fixação definitiva do cânon. É a época também em que começaram a aparecer os credos ou confissões de fé, espécie de corta síntese de doutrinas essenciais da fé cristã, dirigidas em especial para os catecúmenos e candidatos ao batismo.

Sabelianismo

Este movimento, chamado também monarquianismo modalista e patripassianismo porque ensinava que o Pai sofreu a paixão, deriva seu nome de Sabélio, seu exponente mais famoso, e negava a distinção de pessoas na Trindade. O primeiro defensor desta linha de pensamento herético ao princípio do terceiro século, Noeto em Esmirna, ensinava que o Pai nasceu na pessoa de Jesus Cristo, para difundir o erro de que o Pai veio a ser assim o Filho, e que o Pai morreu e ressuscitou dentre os mortos. Logo foi difundido e levado a Roma por Sabélio, quem com Praxeas ensinava que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são uma mesma pessoa e três modos ou aspectos de Deus, e usando um sofisma o comparava com o sol, que é brilhante, quente e redondo.Esta linha de pensamento teológico, que hoje em dia se conhece como o unitarismo, reconhece só a Jesus Cristo na Trindade. Calixto, bispo de Roma, mesmo que excomungou a Sabélio, lhe deu um respaldo a esta heresia com algumas controvertidas modificações. Marcelo de Ancira tinha tendências sabelianistas e foi aprovado pelo papa de Roma. O papa Zeferino, sucessor de Calixto, também tinha a mesma linha. Mas este erro foi combatido por Tertuliano em seu livro Contra Praxeas, e por Hipólito, presbítero e mestre da igreja em Roma, assim como escritor e teólogo distinto.

Montano e os montanistas

Há evidências que na segunda metade do século segundo floresceu em Frígia, Ásia Menor, um despertamento espiritual que tomou seu nome de Montano, oriundo dessa terra. Os montanistas insistiram no chamado a uma vida de jejum e oração, consagrada, austera e estrita devido à crença profunda da iminente vinda do Senhor, e que a Nova Jerusalém desceria pronta do céu e se estabeleceria na Frígia. Ainda que seus ensinamentos foram em seu tempo condenados pela Igreja, há a opinião de que não se deve classificar este movimento como seita herege, e sim como puritanos que observavam o deslize da Igreja e proclamavam voltar à altura espiritual que lhe impusou o Senhor Jesus, e à simplicidade dos cristãos primitivos. Montano em seu batismo falou em línguas e profetizou ser o escolhido pelo Paracleto como o profeta de Deus para preparar esse segundo advento do Senhor Jesus. Com Freqüência Montano dizia estar abaixo da influência do Espírito Santo, de tal maneira que podia ser o instrumento para receber novas revelações à Igreja. Havia, além disso, duas mulheres profetizas, Priscila e Maximila, discípulas dele, e uma das profecias da primeira foi tomada como uma lamentação do Espírito Santo pelo fato de que a Igreja o estava repudiando, tanto nesse tempo como em muitos outros períodos.O movimento montanista se extendeu amplamente e persistiu até meados do século quinto, e um fato de não pouca importância é a propaganda para esse movimento, foi o ingresso a suas fileiras de um homem das qualidades de Tertuliano, o teólogo mais importante de seu tempo, o qual havia servido amplamente á Igreja defendendo o cristianismo do mundo pagão e refutando heresias em seu interior. Poderíamos sintetizar três aspectos que os montanistas reafirmavam e que segundo eles, a Igreja ia abandonando:1. O Espírito de Deus como fonte de poder na Igreja. O contínuo ministério sobrenatural do Espírito Santo. O sacerdócio de todos os crentes, e não somente do clero. Necessidade que a obra da Igreja fosse realizada no poder do Espírito. Forte protesto contra o crescente clericalismo. Se considera negativo do movimento o buscar as formas mais sensacionais de profecia, êxtase, sonhos e predições do futuro, mesmo que se diz que eles não aprovavam as revelações que fossem contrárias às Escrituras.2. Combatiam o relaxamento de vida espiritual e a indisciplina na Igreja. Se considera negativo do montanismo o fato de não distinguir entre a verdadeira santidade e o ascetismo, práticas estas que consideravam como obrigatórias, assim como o jejum. Tertuliano escreveu um tratado para provar que não era lícito fugir em tempos de perseguição. 3. Reafirmavam a verdade da iminente vinda do Senhor. Eles se consideravam não separados do resto da Igreja, senão um grupo dos "espirituais". Diz-se que as mártires Perpétua e Felicia eram montanistas, e tampouco há evidências concretas de que Tertuliano haja sido excluído da comunhão da Igreja. Se considera negativo que houveram desprestigiado com suas extravagâncias essas mesmas verdades que enfatizavam. Se considera assim mesmo negativo o agregar novas revelações às que já havia dado o Senhor.Na época moderna, John Wesley aprovou a maior parte dos ensinamentos montanistas; assim mesmo Harnack, o eminente e controvertido erudito patrístico moderno, também as tem aceitado.

O maniqueísmo

Manes ou Maniqueo (216-276), seu fundador, foi um aristocrata persa educado na Babilônia, onde teve a idéia de perfeccionar os ensinamentos do parsismo de Zoroastro e mesclar com as do cristianismo e o judaísmo. Dando como resultado o que ele chamou os dois princípios divinos ou reinos, o do bem e do mal, um de luz e outro de trevas, que lutam no mundo, e que tem igual origem e similares poderes. Não é nosso propósito expor aqui suas fantásticas doutrinas, mas podemos esboçar que as mesmas estavam associadas com o dualismo persa; também negavam à Jesus, e em troca tinham um "espírito do sol" ao que chamavam o "Cristo celestial". Manes chegou à convicção de ser comissionado por uma visão divina para ser profeta; e se diz que encabeçava suas cartas com "Manes, Apóstolo de Jesus Cristo", e declarava ser ele mesmo o Paracleto prometido pelo Senhor Jesus, o bem que o Paracleto falava através dele. Os maniqueístas formavam sociedades similares às igrejas cristãs, cultivavam o celibato; como as doutrinas de tipo esotérico, proibiam comer carne; também eram severos no ascetismo. Agustinho de Hipona, um dos mais importantes teólogos da Igreja, era maniqueísta antes de sua conversão, mas o maniqueísmo não satisfez suas perguntas e a busca espiritual que em sua oportunidade o inquietava.

As dez perseguições

" Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida." (v.10).Assim como o Senhor Jesus foi o Apóstolo, o enviado pelo Pai, indiscutivelmente assim mesmo foi o primeiro mártir pela causa do Pai. Desde o começo desta carta, o Senhor anima à igreja em Esmirna apresentando-se como o que esteve morto e viveu, o que padeceu e sofreu, mas saiu triunfante. Agora lhes diz que não temam, porque a vitória de Cristo é a mesma vitória da Igreja. Satanás não pode acabar com a Igreja usando a blasfêmia; agora vai mais longe e acende uma tribulação que começa com o cárcere dos santos. São os seguidores e imitadores de quem foi crucificado porque foi considerado uma ameaça a ordem estabelecido. Costumamos ver as pessoas, os governantes, mas a Bíblia uma e outra vez declara que por trás de todas as pessoas que perseguem à Igreja de Cristo, está o ventríloquo maior movendo seus bonecos; é o diabo mesmo com uma poderosa organização de hostes malignas arrastando ao mundo em sua corrente de maldade.É necessário que sejamos provados. Mas as provas, por mais amargas que sejam, tem uma razão e também um limite. Dez dias significa que a tribulação seria por um tempo; também isso se refere a dez grandes perseguições ordenadas por certos imperadores romanos durante os três primeiros séculos da Igreja, as quais tem sido consideradas mesmo pela história secular como cruéis e sangrentas. A Igreja sofreu um largo século de perseguições que ia aumentado gradualmente, até começos do século quarto. Aí vemos a religião satânica aliada com o poder político demoníaco tratando de exterminar a Igreja de Jesus Cristo. Mas o Senhor a fortaleceu e ao invés de ser exterminada, sempre saia fortalecida e vitoriosa. O Senhor sabia que muitos iam sofrer o martírio e lhes convida a serem fiéis até a morte, prometendo-lhes a coroa da vida, o qual não se refere à salvação eterna, mas sim a um galardão dispensacional no milênio. A essas amargas perseguições as trataremos de sintetizar usando uma ordem cronológica e coerente.

1. Nero

Cláudio César, imperador romano entre os anos 54-68 D. C. Associada com o nome do imperador Nero, teve lugar a mais famosa das primeiras perseguições contra a Igreja de Jesus Cristo. Tomou como pretexto um incêndio que destruiu parte de Roma no ano 64 D. C., para culpar aos cristãos, ao quais foram acusados de ódio à raça humana, iniciando com este pretexto a primeira, breve porém cruel perseguição contra a Igreja. Diz-se que o povo murmurava atribuindo o incêndio a Nero, quem buscava favorecer sua projetada reforma urbanística, então ele viu uma saída acusando aos cristãos de tal incêndio. Durante esta perseguição foi martirizado o apóstolo Paulo por mandato de Nero. Há uma tradição que diz que o apóstolo Pedro também foi vítima de Nero, e que morreu em Roma; mas, lembremos, não há passagem bíblica que dizem que o apóstolo houvesse estado nesta cidade. Tão feroz e sangrenta resultava a perseguição desatada por Roma, que João para referir-se a esta cidade e suas instituições político religiosas, cuidava de nomeá-la com o misterioso apelido de Babilônia, a cidade “embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus;” (Ap. 17:6), depois voltaremos a ver isto em detalhe.

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