A Igreja de Jesus Cristo-Uma Perspectiva Histórico-Profética

A Igreja de Jesus Cristo-Uma Perspectiva Histórico-Profética
Tradução do livro "La Iglesia de Jesucristo, una perspectiva histórico-profética" de Arcadio Sierra Diaz

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

IV - Tiatira ( 2ª Parte )

Capítulo IV
T I A T I R A
(2a. parte)


As fraudes píos e a feudalização do papado
Depois que Carlos Martel conteve a invasão muçulmana à Europa em 732 na batalha de Poitiers, ao sul da França, em 750 o papa Zacarias legitimou o golpe de estado que levou a Pepino o Breve, filho de Carlos Martel, ao trono da França. Este monarca, a pedido do papa Estevão II, arrebatou aos lombardos da Itália um conjunto de terras compreendidas no Exarcado e a Pentápolis, que entregou ao papado (756), recebendo a sua vez do papa o título de Patrício dos romanos, título que refletia uma missão protetora sobre Roma. Esta foi a origem dos chamados Estados Pontifícios, recebendo assim o romano pontífice plenamente o poder temporal de mãos de outro mandatário do mundo. Mas o curioso é que tudo isso ocorre ao tempo em que foi posto em circulação um falso documento relacionado com uma suposta Donação de Constantino o Grande (se pode ler este falso documento no apêndice do presente capítulo) de uma parte de seu Império; que pretende a donação? Que "a cidade de Roma e todas as províncias, distritos e cidades da Itália" foram donados por Constantino ao papa Silvestre I (314-335), e a seus sucessores. Trata-se de uma dessas famosas "fraudes píos", escrito no século VIII, aparentando, claro, que havia sido escrito no século IV, na vida do imperador Constantino, por meio do qual se pretende demonstrar que Constantino, nos começos do século IV, por meio desse documento, havia dado ao bispo de Roma, nesse momento Silvestre I, autoridade suprema sobre todas as províncias imperiais da Europa, ainda por cima dos imperadores. Que motivo aparente houve para essa donação? Uma suposta cura milagrosa da lepra, que imaginariamente sofrera Constantino, "milagre" ocorrido quando Silvestre lhe administrava o batismo. Nesse documento espúrio parece que Constantino confere ao papado o palácio de Letrán em Roma, a tiara e todas as vestimentas e insígnias imperiais. A razão apresentada é que Constantino transladou a capital imperial de Roma à Constantinopla. Isso justificava os chamados Estados Pontifícios. É imperativo ter em conta que durante o reinado de Constantino o Grande não existia o papado romano. Durante séculos este documento serviu aos interesses do papado romano para justificar também suas pretensões e o direito de ingerência nos assuntos das igrejas cristãs e soberanos europeus, e para fortalecer a autoridade do papado em uma época quando esse sistema estava em perigo de desabar pela proliferação de "igrejas" tribais, reais e feudais. Eis ai um espúrio documento circunstancialmente saindo do punho de um imperador que jamais se despojou de sua dignidade de sumo pontífice babilônico, e no qual vemos um vivo retrato da prostituta vestida de púrpura montada encima da besta, que nos descreve o capítulo 17 de Apocalipse. Quando se escreveu este anacrônico documento encaminhado a Constantino, era uma época obscura na qual abundava a ignorância e as pessoas eram facilmente enganadas, e, além disso, carecia de meios para provar as falsificações, de tal maneira que só no Renascimento e na aurora da Reforma, quando Eugênio IV ocupava o cargo de papa, houve clareza de que estes documentos careciam de fundamento, e se provou que eram uma falsificação. O espúrio destes documentos foi demonstrado, entre outros estudiosos, pelo engenho dos eruditos da época, Nicolau de Cusa em 1433 e Laurêncio Valla em 1440. Valla, secretário papal e cônego da Basílica de São João de Letrán em Roma, foi um humanista dotado de suficiente astúcia crítica para revelar o caráter espúrio destes documentos, como também se deleitava em manifestar que o chamado credo dos apóstolos não havia sido relatado pelos doze apóstolos, como se havia difundido. Também alentou o estudo do hebraico e do grego a fim de que se conhecera a Escritura em seus idiomas originais e com ele se propôs debilitar a confiança na Vulgata como versão autorizada por Roma, devido a seus erros implícitos.Outro "fraude pío" de maior influência ainda foi uma série de documentos que se conhecem como os Falsos Decretais de Isidoro, publicadas ao redor do ano 830, professando haver sido compiladas por um tal Isidoro Mercador (Isidoro, bispo de Sevilla, Espanha (560 - 636), é considerado o personagem mais influente durante os reinados dos reis visigodos Liuva II, Witerico, Gundemaro, Sisebuto, Recaredo II, Suintila e Sisenando. As falsas Decretais de Isidoro foram atribuídas deliberadamente a Isidoro, como colecionadas por ele, a sabendas que eram documentos espúrios, a fim de dar-lhes credibilidade devido ao prestígio e genuína autoridade de que gozou Isidoro na Espanha e fora dela. Sobre as Pseudo-Isidorianas se fundamentou a edificação da monarquia papal, edificação que seguiu em pé aumentada, mesmo depois que os homens descobriram que tudo havia sido uma espantosa fraude) e ser decisões adotadas pelos concílios e primitivos bispos de Roma desde os apóstolos (por exemplo, a Anacleto, bispo de Roma em 103-112, se lhe atribui três das falsas decretais), reclamando a suprema autoridade do papa sobre a igreja universal, consolidar a disciplina eclesiástica e a independência da igreja do Estado, entre outras coisas. Os escritos falsos foram habilmente combinados com outros autênticos, como cartas conciliares, cartas papais e outros, mas nada sabia distinguir entre o verdadeiro e o falso. Em uma época cheia de atraso, ignorância e superstição, quando não se fazia exame crítico de documento algum, estes escritos foram, aceitos como genuínos, e foram usados para afirmar as pretensões papais por centos de anos. Julgue o leitor o espúrio destas pseudo-isidorianas, se põe aos primeiros bispos de Roma a citar a Jerônimo, o autor da versão bíblica a Vulgata Latina, muito antes de que este nascera. Essas Decretais fizeram da supremacia romana uma monarquia sacerdotal absoluta, a tal ponto que o papa Nicolau I (858-867) chegou a afirmar que esses escritos espúrios eram iguais às Escrituras em autoridade, e em nome de uma grande mentira, os papas romanos se constituíram em donos e senhores de todos os homens. No século XVI, as Decretais passaram pela peneira da crítica erudita, tanto pelo lado protestante como pelo dos católicos, até que por fim o papa Pío VI reconheceu a fraude em 1789; mas já o mal havia sido semeado e suas funestas conseqüências ainda persistem e persistirão até que a grande prostituta receba seu justo juízo e seja destruída pela besta nos dias finais desta era, conforme o tem disposto o Senhor em Sua Palavra. Registra-se assim mesmo que o papa Leão III é expulso ou foge de Roma a causa de um levantamento, mas se sabe por uma carta do ano 799 de Albino Alcuíno, eclesiástico inglês e conselheiro de Carlos magno (742-814), que este restabelece ao pontífice, quem a sua vez, o 23 de dezembro do ano 800, coroa como imperador dos romanos e com o nome de Carlos Augusto a este filho de Pepino o Breve, "reconstituindo" assim o Santo Império Romano do Ocidente, através de uma ficção de aclamação por parte do povo de Roma. Carlos magno, em sua condição de "protetor da igreja, designado por Deus", e influenciado pelo agostinismo político, tem ingerência nos assuntos eclesiásticos, como presidir sínodos, intervenção em questões teológicas e doutrinais, em assuntos econômicos e administrativos, nomeação de bispos e abades aos que transforma em funcionários imperiais, e lhe da inclusive conselhos espirituais ao papa.Em 962, Otão I, foi coroado pelo papa João XII como imperador do Santo Império Romano Germânico, instituição que havia de persistir até 1806. Levemos em conta que este imperador era descendente de Carlos magno por parte de sua mãe. Os dois, o imperador e o papa, firmaram um acordo, o Privilegium Ottonis, por meio do qual Otão concedeu ao papa a jurisdição temporal sobre umas três quartas partes da Itália, e por sua parte os romanos se comprometeram a não consagrar como papa a nenhum que não jurasse fidelidade ao imperador. Uma das razões desta instituição imperial era que na teoria o cristianismo havia de ter duas cabeças terrenas, ambas "divinamente comissionadas", a uma civil, o imperador, e a outra espiritual, o papa romano.Mas na prática o ideal de reunir o cristianismo em uma só unidade debaixo o duplo domínio do santo império romano germânico e o papado, jamais pode realizar-se; ao contrário, cada monarca europeu aspirava controlar aquela porção eclesiástica que estava dentro de seus domínios, e se ressentia de qualquer interferência do papado, e isto se analisa como uma preparação previa à posterior e conjuntural formação das "igrejas nacionais" a raiz da Reforma. Sobre este assunto voltaremos no capítulo relacionado com Sardes. Todo o anterior deu como resultado a feudalização do pontificado, e se estabeleceu uma espécie de concordata entre o papado e o imperador romano-germânico, no que ao final de contas era difícil determinar quem mandava em quem em um mar de confusões a respeito às relações entre o poder secular e o poder religioso. Bispos recebendo terras dos senhores feudais, caindo na tríplice condição de eclesiásticos-vassalos-pseudo senhores feudais. Conseqüências: Simonia, ou obtenção das dignidades eclesiásticas a troca de dinheiro, e nicolaísmo, ou desfrute de ditos cargos por pessoas sem vocação, como produto das investiduras laicas. Ao ir declinando o poder dos monarcas carlovíngios depois de acontecida a morte de Carlos magno, foi aumentando o do papado romano, e os bispos abades chegaram a ser senhores feudais, e em muito pouco se distinguiam de seus vizinhos laicos de não ser em seus títulos e funções eclesiásticas. espírito desta situação se há perpetuado como uma herança até os tempos contemporâneos.

O cesaropapismo no zênite
Não podemos deixar de registrar a errada interpretação que a teologia medieval deu à obra magistral de Agostinho, a Cidade de Deus. Agostinho enfatiza o enfoque apologético da teologia da história, mas os teólogos da igreja apóstata a interpretam como uma prova da superioridade da autoridade espiritual sobre a autoridade secular, o qual dava um grande respaldo às pretensões papais. Paulatinamente e sem fundamento e respaldo escriturário foi se esboçando e divulgando nessa pacata e ignorante sociedade medieval a idéia de que o papado romano e toda sua montagem temporal dava cumprimento ao profético reino de Deus na terra, mutilando a profecia, claro está, de muitos elementos fundamentais, como o que o verdadeiro Rei é o Senhor Jesus Cristo e não o papa, que o tempo desse reinado se da no marco de Sua segunda vinda, que a capital desse reino não é Roma senão Jerusalém, que nesse tempo não haverá cárceres, nem exército terrenos, nem inquisição, nem violência, nem fome, época em que os homens construirão suas casas e poderão viver nelas, tempo no qual eventualmente os leões e as feras pastarão com o gado, e as crianças brincarão com as serpentes. Ao respeito diz A. Gibert: "Vemos pelas epístolas do Novo Testamento que os primeiros cristãos esperavam constantemente ao Senhor Jesus. Na era das perseguições esta esperança dava força e ânimos às almas. Mas derrepente a Igreja se estabeleceu no mundo e a visão do regresso pessoal de Cristo foi perdida de vista. Se falava do juízo vindouro, isso sim, do gozo dos eleitos, do "fim do mundo", mas todo ele de forma muito vaga, mesclada com muitas superstições e fábulas. Alguns "Pais da Igreja" se ocuparam dos escritos proféticos e sua interpretação, como Clemente e Irineu, no segundo século; mais tarde, Eusébio, Jerônimo e, sobre tudo, Agostinho; mas eles interpretavam como já cumpridos os juízos de Apocalipse, os quais relacionavam com os tempos do Império Romano. (Para eles o Anticristo era dito Império, perseguidor dos fiéis.) Mas uma vez chegado o triunfo da Roma papal consideraram a esta como a Nova Jerusalém e a relacionaram com todas as promessas das profecias. Somente alguns espíritos seletos no curso da Idade Média chegaram a ser conduzidos à idéia de um reino futuro de Cristo sobre a terra. Outros, ante os escândalos de Roma, interpretaram que o Papa era o Anticristo. Os reformadores retiveram a mesma idéia e não investigaram apenas nos detalhes da Revelação. Entretanto, em alguns teólogos, tanto católicos como protestantes, se despertou a convicção de que os acontecimentos relatados simbolicamente no Apocalipse, são dirigidos ao fim da era cristã e o que a segue, e que conduziam a um reino milenar que há de ser estabelecido depois dos juízos divinos, mediante a conversão do mundo". (A. Gibert, em o Prefácio do Estudo sobre o Livro de Apocalipse, de J. N. Darby, op. cit., pág. 11).Mas apesar de todas estas clarezas bíblicas, essas outras enganosas idéias foram infundidas em uma sociedade que não conhecia a Bíblia nem as verdades de Deus, e o cesaropapismo seguiu adiante e teve seu período culminante durante uns cento e cinqüenta anos entre 1073 e 1216, época que se destaca porque o papado romano gozou de um poder quase absoluto, não somente sobre o sistema católico romano, senão sobre as nações da Europa, cujo topo foi alcançado durante o governo de Gregório VII (1023-1085), mais conhecido por Hildebrando, seu nome de família. Parece haver pertencido a uma família aristocrática, pois a mãe fazia parte de uma família de banqueiros; nascido em um povo da Toscana, na Itália; filho de um carpinteiro. Estudou no monastério de Clugni, praticando ali um ascetismo rigoroso. Dali foi chamado por Leão IX (1049-1054) para que lhe servisse de conselheiro, e o fez superior do monastério de São Paulo Extramuros, em Roma, o qual se encontrava moralmente muito degradado. Hildebrando era um homem muito enérgico, de caráter soberbo e veemente. Leão IX não tomava nenhuma determinação de importância sem consultar com Hildebrando, quem se constituiu no poder atrás o trono durante uns vinte anos, e era quem elegia aos papas sucessivos à morte do reinante, pelo qual chegaram a chamar-lhe "fazedor de papas", antes de empregar a tríplice coroa como sucessor de Alexandre II em 1073, até sua morte em 1085. Liberou o sistema católico romano da dominação do Estado, e lhe pôs fim à nomeação dos papas e os bispos e pelos reis e imperadores. Nessa época muitos soberanos, em troca de fidelidade feudal, ofereciam aos clérigos um cajado e anel episcopal. Muitos prelados e clérigos o odiavam porque se propôs reformar o corrompido clero e acabar com a simonia, ou seja, a compra e arrendamento de postos nesse sistema religioso. Também pôs em vigor o celibato clerical, anteriormente aprovado, contrariando a Palavra de Deus que diz expressamente que o bispo tenha sua esposa e seus filhos (cfr. 1 Timóteo 3:1-4; Tito 1:6).Existe um documento de Hildebrando titulado Dictatus Papæ ("No século XI, com Gregório VII, deu lugar a uma volta decisiva dentro da própria estrutura do poder. Em seu Dictatus Papæ (ano 1075), o papa se levantou contra a prepotência do poder secular que havia degenerado em simonia, nicolaísmo e toda classe de sacrilégios, e inaugurou a ideologia do poder absoluto do papado... O papa concebe a si mesmo, misticamente, como o único reflexo do poder divino na ordem da criação. Ele é seu vigário e suplente. Neste sentido há de se entender as proposições formuladas no Dictatus Papæ... O Summus Pontifex assumia, pois, a herança do Império Romano e se instituía como poder absoluto, unindo em sua pessoa o sacerdotium e o regnum. Era a ditadura do papa". José Grau. Catolicismo Romano: Orígenes e Desenvolvimento. EEE, 1990, pág. 1051) no qual define a posição papal mediante vinte e sete afirmações, como:- A igreja romana foi fundada por Deus.- Só o pontífice romano merece o título de "universal".- Somente ele pode depor ou reinstalar aos bispos.- Só ele pode usar a insígnia imperial.- Ele é o único homem a cujos pés devem beijar os príncipes.- Ele pode depor aos imperadores.- Ele pode transladar aos bispos de uma sede a outra.- Pode dividir bispados ricos e unificar os pobres.- Tem a autoridade de ordenar clérigos de qualquer igreja, e quem seja por ele ordenado não pode receber um grau maior da parte de outro bispo.- Nenhum sínodo pode ser chamado geral sem sua autorização.- Uma sentença por ele expedida não pode ser anulada por nada senão por ele mesmo.- O papa romano não pode ser julgado por nada.- A ele devem ser apresentados para sua resolução os casos importantes de todas as igrejas.- A igreja católica nunca errou, nem errará jamais por toda a eternidade.- Aquele que não esta em paz com a igreja romana não será tido por católico.- O pontífice romano pode liberar os súditos da fidelidade à um monarca iniquo, ou ao qual estejam sujeitos a lealdade a homens malvados. (GREGÓRIO VII: Registrum, PATROLOGÍA LATINA, CXLVIII).Como podemos observar, um dos propósitos de Hildebrando foi submeter todos os governos ao papado romano. Alguns governantes europeus como o imperador alemão Henrique IV, ambicionavam dominar a toda Europa, o qual também traficava com os cargos eclesiásticos. Este imperador se desgostou com o pontífice Hildebrando e tratou de depor ao papa mediante um sínodo de bispos alemães que convocou. A reação de Hildebrando foi a de excomungar a Henrique IV, advertindo a seus súditos que não estavam obrigados a guardar lealdade a seu excomungado soberano.A história registra que Hildebrando pôs ao imperador em uma situação de impotência, e em janeiro de 1077, o imperador teve que humilhar-se ao papa ante a porta do castelo em Canosa, onde havia esperado afora durante três dias, descalço, com frio e, segundo ele relato histórico, lhe serviu de estribo para que Hildebrando montasse a seu cavalo. Ele supersticioso e ignorante povo dessa época cria cegamente no "poder das chaves", e a generalizada opinião era que o papa podia mandar às almas ao inferno se ele assim o desejasse; e estas coisas ajudaram a Hildebrando a que, sem necessidade de exércitos pudesse impor seu poder sobre todas as nações da Europa, incluindo os imperadores. O reinado de Hildebrando sentou as bases para que exercessem poder autocrático sucessores deles do cunho de Inocêncio III (1198-1216), quem em opinião de alguns é o verdadeiro representante da maior altura do poder terreno do pontificado romano e sua influência política na Europa Ocidental. O verdadeiro nome deste aristocrático personagem é Lotário de Conti di Segni. Ao ser coroado papa disse: "O sucessor de são Pedro ocupa uma posição intermediária entre Deus e o homem. É inferior a Deus mas superior ao homem. É o juiz de todos, mas não é julgado de nada". Também uma carta oficial sua diz que ao papa "lhe havia sido encomendada não somente toda a igreja, senão todo o mundo, com o direito de dispor finalmente da coroa imperial e de todas as demais coroas", e assim o sustentou durante seu reinado. Inocêncio III era consciente de que aos governantes seculares Deus lhes confiava certas missões, mas que Deus havia ordenado tanto o poder pontifical como o real (secular), e dizia que assim como Deus havia criado o sol e a lua, e da maneira como esta recebe sua luz daquele, assim o poder do príncipe deriva sua dignidade e esplendor do poder papal, e assim a mesma Roma obrigou aos oficiais civis a que reconhecessem a ele como soberano antes que ao imperador, e chegou a substituir aos juizes imperiais pelos que ele nomeou. Para essa época, a quase totalidade dos povos da Europa ocidental havia sido ganhada à fé cristã mas só como uma aceitação objetiva e nominal, pois a grande maioria não tinha senão um vago conceito da "religião" que haviam abraçado, e longe estavam de conhecer "a soberana vocação de Deus em Cristo Jesus", incluindo ainda, com contadas exceções, ao clero, bispos e aos papas.

Alguns paradoxos do papado romano
Ao decair o Império Romano, o papado foi assumindo muitas das funções antes exercidas e executadas pelo Estado. Da Igreja se foi formando uma organização institucionalizada infestada de contradições com relação ao evangelho, sua fonte escrita natural. Chegou um momento em que a Igreja começou a institucionalizar como herdeira das instituições próprias do Império Romano. Entre outras instituições, a Igreja herdou do Império o direito, a centralização burocrática, a organização política em dioceses e paróquias, o titulativo, os cargos (toda a andaimaria da hierarquia, entre os cargos, o primeiro é o de papa, sucessor do César); tudo isso estranho ao modelo neotestamentário deixado pelo Senhor para Sua Igreja. A Palavra de Deus não admite que as duas cidades, a terrena e a celestial, se mesclem e se confundam, e isso foi o que sucedeu em Tiatira, ainda que esta condição se deu em menor escala em outros períodos proféticos, pois se entende que em muitas igrejas houveram também alguma doses de elementos da cidade terrena mesclados com a cidade de Deus. Devido a essa mescla se têm dado muitas contradições nessa instituição, das quais relacionamos algumas. O papa romano pretende deslocar ao Espírito Santo dizendo que é o vigário de Cristo na terra, e ostenta o título de Vicarius Filii Dei (vigário do Filho de Deus), mas a Bíblia diz que o verdadeiro Vigário de Cristo agora na Igreja é o Espírito Santo:" 16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco,. 26 mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito. 7 Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. 13 quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir.14 Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.15 Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar." (João 14:16,26; 16:7,13-15).A figura do papa como suposto vigário de Cristo é herança babilônica, pois, a diferença do faraó egípcio, o rei mesopotâmico não foi divinizado senão excepcionalmente; na Babilônia o verdadeiro soberano era o deus da cidade, do qual o rei era considerado seu vigário ou regente.Os romanos pontífices foram considerados na época de seu maior esplendor como os sucessores dos césares, e o papado como o exponente e protetor da Românitas (civilização greco-romana), edificadores de um império cujo centro era Roma, mas à vez apregoando a pretendida sucessão apostólica do primado e de um fictício trono que Pedro jamais teve nem ostentou. Verdadeira conseqüência? O cristianismo foi substituindo a unidade no amor pela visível unidade de sua estrutura, e entrou a mesclar o poder político do império terreno com o poder da cruz e da ressurreição do Senhor Jesus, pelo qual a expressão deste último poder se foi debilitando nesse matrimônio. Desde Gregório I o Grande, os romanos pontífices começaram a chamarem-se servus servorum Dei (servo dos servos de Deus), como uma interpretação trazida dos cabelos das palavras do Senhor no evangelho quando se referiu aos que desejavam ser os maiores entre os discípulos, dizendo que para alcançá-lo deviam ser servos de todos. Se nos ocorre uma expressão saturada de hipocrisia na boca dos que ocupam o trono papal, pois o romano pontífice vive em um super luxuoso palácio, rodeado de imensas riquezas e serventes, em contraste com o Senhor Jesus, que veio não para ser servido mas para servir, e não teve sequer uma pedra para recostar Sua cabeça.O papado romano é paradoxo, por quanto é um sistema que navega no controvertido e proceloso mar do mundo, a imoralidade, a intriga, fornicação, derramamento de sangue, simonia, enquanto isso proclama ser o representante de Jesus Cristo na terra. O papado romano em seu afã ecumenista, pretende ser o epítome da unidade, constituindo-se, os que pregam e praticam, em uma verdadeira antinomia com os ensinamentos de quem diz representar, mas através da história suas pomposas vaidades, presunções e atuações, o tem constituído em proeminente obstáculo para a unidade dos diferentes sistemas religiosos cristãos, que algumas correntes proclamam. Os papas de Roma dizem ser os mentores da paz, mas por suas ambições de poder a história registra que têm tido poderosos exércitos para subjugar, enfrentar e fazer a guerra às potências européias, para imitar aos reis da terra em uma época em que o mais importante e benéfico era fazer a guerra. As Palavras do Senhor Jesus são: " Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. " (Mt. 22:21). Além disso, disse: " Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. " (João 14:27). As cruzadas representaram um esforço por construir o reino de Deus na terra mediante os mesmos métodos daquele mundo que a Palavra de Deus declara estar em inimizade com o evangelho, e que constitui por si mesmo a antítese do ideal cristão respeito à guerra. Curiosamente, desde a primeira cruzada, empreendida pelo papa Urbano II em 1096 para ir em auxílio do imperador bizantino contra os muçulmanos e resgatar os lugares santos na Palestina, foi prometida a "indulgência plenária" a todos os que tomaram parte nela, e vida eterna a todos os que perdessem a vida na empresa. Diz-se que foram indiscutíveis protagonistas para a ação da civilização dos bárbaros, mas criaram, promoveram e alentaram a triste célebre Inquisição, página negra que começa e empobrece a história da humanidade. Condenaram a tortura, mas mediante a "santa" Inquisição, aprovaram a tortura e a morte contra seus inimigos, chama-se hereges, protestantes, judeus ou feiticeiros e todos os que recusaram as falsas doutrinas do catolicismo romano.

A coroa pontifícia
A coroa papal é um símbolo do poder e de força terrena, usado para recuperar triunfalmente os saqueios das hordas bárbaras e os embates cobiçosos de imperadores europeus do “nível” de Napoleão Bonaparte, e para impor a vontade cesaropapista sobre as nações sobre mil obscuros anos. O papa romano diz ser o vigário de Cristo, mas ostenta uma coroa de três pisos, a tiara, de ouro fino adornada com cerca de umas 200 pedras preciosas, que tem um valor de milhões de dólares, em contraste com o Senhor Jesus, que durante sua vida terrena não teve outra coroa que a de espinhos. O verdadeiro ouro da Igreja é a vida que Deus nos da pela obra de Seu Filho, é Sua presença em nós, e as pedras preciosas são as formas como Deus por Seu Espírito se forja em nós, Sua obra de purificação e aperfeiçoamento no homem, até que cheguemos " à medida da estatura da plenitude de Cristo " (cfr. Efésios 4:13b).A tiara papal tem uma história curiosa. Nicolau I (858-867), o primeiro pontífice que soube tirar proveito às espúrias Decretais Isidorianas, foi o papa que instaurou o costume da coroação dos sumos pontífices romanos, ainda que ao princípio se limitara a uma simples coroa chamada "tiara". Hildebrando adotou uma coroa com a inscrição "Corona Regni de Manu Dei". Bonifácio acrescentou uma segunda coroa com as palavras "Diadema imperii de manu Dei"; e João XXII com sua corte em Avinhão, acrescentou uma terceira coroa, aperfeiçoando assim o símbolo. Três coroas: o poder espiritual, o poder temporal e o poder eclesiástico. Esses três poderes papais com que relacionam a tríplice coroa da tiara papal, para alguns correspondem a sua tríplice pretensão teocrática, isto é, que se diz ser senhor e amo da igreja, senhor do mundo e senhor do além túmulo; recordem que se adotam o direito de vender indulgências para que a gente se salve das chamas do purgatório; além de que proclamam que fora da Igreja Católica Romana não há salvação.Em tempos de Bonifácio VIII (Bento Gaetani), papa romano desde 1294 até 1303, sucessor do octogenário Celestino V, se fez notória a decadência do papado, e, entretanto, este personagem irascível, arrogante, sem tato e amador da magnificência, fez grandes e jamais promulgadas reclamações em favor da autoridade papal, mas com freqüência saia derrotado nesses esforços por impor sua vontade. Bonifácio VIII se pôs a coroa no dia em que fez sua atrevida e falaz declaração: "A igreja tem um corpo e uma cabeça, Cristo e o vigário de Cristo, Pedro e o sucessor de Pedro: em seu poder há duas espadas, uma espiritual e uma temporal; ambas as classes de poder estão nas mãos do romano pontífice". A história assim mesmo registra que este personagem praticou a bruxaria. Mas o mais infame é que professando ser ateu, em um gesto blasfemo apelidou ao Senhor Jesus de mentiroso e hipócrita, quando também disse ter parte com ele (Bonifácio) que era um homicida e um pervertido sexual.

O clero

É bíblico que todos os crentes no Senhor Jesus, os filhos de Deus, são sacerdotes para Deus, mas progressivamente e desde antes de mesclar-se a Igreja com o Estado, esta vinha agrupando em torno do clero guiado e orientado pelos bispos, e constituído preferencialmente por eles. Depois que a começos do século II começara a diferenciar o clero dos laicos, com o tempo se desenvolveu um tipo de sacerdócio copiado conscientemente, o mesmo que atos litúrgicos, vestimentas e outras coisas, do sacerdócio judaico dos tempos pré-cristãos e a influência do sacerdócio pagão, com a diferença de que ofereciam sacrifícios incruentos no altar que também haviam copiado, e se foi perdendo a expressão do sacerdócio de todos os crentes. Mudaram a ordem estabelecida por Deus, dividindo os crentes em duas classes: uma de laicos e outra dotada de vestiduras sacerdotais, mitra e até coroa e vestiduras reais. Ainda antes de que fora decretada a tolerância para o cristianismo por parte do Estado, e submergida ainda a Igreja na negra época das perseguições, não poucos bispos começaram a se interessar por seu prestígio pessoal, as vezes imersos em intrigas e pompas do tipo dos dignitários imperiais, o mesmo poder antagônico que crucificou a Jesus.Se foi introduzindo em muitas partes do Império que nesses imponentes edifícios ou templos erigidos depois de Constantino, houvera um santuário que contivera o altar, o trono do bispo e os assentos do clero, tudo separado por uma divisória para que os laicos não pudessem entrar até lá. Os homens, deixando de lado o estabelecido por Deus de que em cada igreja local se estabelecessem bispos (palavra sinônima de pastor, ancião e presbítero), preferiram que o cargo de bispo fosse o de um ministro de uma grande cidade, que tinha um trono (cátedra) para sentar-se, e um magnífico templo (catedral), desde o qual exercia autoridade sobre as igrejas de uma região. O desenvolvimento hierárquico do clero sem dúvida recebeu a influência da organização militar que distinguiu ao Império Romano. Vindo contra os princípios bíblicos, com o tempo, os bispos das cidades maiores, ou metrópoles, começaram a exercer autoridade sobre os bispos de seus distritos ou províncias e se chamaram arcebispos, metropolitanos. Isto oficialmente foi aprovado no concílio de Antioquía no ano 341. Também se erigiram os patriarcas como os de Jerusalém, Antioquía, Constantinopla, Alexandria e Roma. Por outro lado, o colégio de cardeais também é copiado das instituições do Império Romano. Em Roma aos magistrados sacerdotais chamavam pontífices, ou seja, o que tinha uma ponte entre os homens e os deuses mediante ritos. A palavra pontífice vem das palavras latinas pons, ponte, e facio, facere, fazer; logo seu significado literal é "construtor de pontes". Igual aos pontífices do paganismo, os pontífices (cardeais) da Roma pagã formavam um Colégio presidido pelo Pontifex Maximus, cargo que na ocasião ostentava o imperador de turno. A palavra cardeal procede do latim cardinalis, fundamental; também dizem que do latim cardo, que significa bisagra, quicio ou gozne, e que presumidamente indica a importância axial dos cardeais no apóstata sistema católico romano. Então os cardeais são uma continuação dos sacerdotes pagãos da bisagra da Babilônia através de Roma, sacerdotes que serviam em Roma ao deus Jano, o deus pagão das portas e as bisagras, e que por alguma razão se relaciona com o nome de janeiro (em inglês, january), mês que abre o ano. Ainda que o título de cardeal se remontava a mais de mil anos, só em 1150 se constituiu o Sacro Colégio Cardinalício. Nada disto tem que ver com a Bíblia. Levemos em conta que em Babilônia havia um Concílio de Pontífices.Como seu nome o indica, a cor dos cardeais é o roxo, e o papa Inocêncio IV (1243-1254) aprovou por decreto que o roxo fosse a cor cardinalícia porque mediante esse símbolo, como chefes desse sistema religioso, os cardeais devem mostrar-se dispostos a derramar seu sangue por sua fé. Mas no fundo isso obedece a que são considerados príncipes desse sistema religioso, e o roxo é a cor das vestimentas dos príncipes das nações do mundo. Além disso, longe de ser pelo assunto do sangue, me inclino a crer que é pelo pecado. " 18 Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã. " (Is. 1:18). Em Apocalipse 17, a Bíblia associa e simboliza o sistema cristão apóstata com uma mulher prostituta vestida de púrpura e escarlata, embriagada do sangue dos mártires de Jesus. Se degenerou tanto a moral no catolicismo romano, que na Idade Media, os cargos eclesiásticos, com freqüência eram vendidos ou adjudicados como prebendas ou dotes, e que muitas vezes as pessoas beneficiárias não exerciam pessoalmente, senão que a sua vez os arrendavam a substitutos por uma renda fixa. Com freqüência se dava o caso de que crianças de doze anos já eram bispos, cardeais e até papas. (Aniceto, bispo de Roma ( 175), ordenou aos presbíteros abaixo do seu mandato que se tosquiassem a cabeça em forma de coroa, tomando o costume do sacrifício de Isis, a deusa egípcia. Maurício da Châtre. A História dos Papas e dos Reis. CLIE 1993, tomo I, pág. 113).Abaixo da autoridade episcopal estavam os sacerdotes e foram multiplicadas as paróquias, frente às quais havia pelo menos um sacerdote residente que administrava os sacramentos e tinha o cargo de cura animarum, ou seja, o cuidado das almas em sua paróquia, de onde vem a palavra cura. No começo as oferendas dos fiéis eram voluntárias, mas nas paróquias se terminou por estabelecer tarifas para os diferentes serviços prestados pela cura (missas, batismos, casamentos, funerais e outros). Ainda em nossos tempos persiste o velho conflito entre o Estado e a organização eclesiástica e é que o clero segue constituindo uma classe especial, tem suas próprias cortes de justiça e em muitos países argúi que os governantes seculares não o demande ante tribunais civis, nem lhes cobre impostos.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

IV - Tiatira ( 1ª Parte )

Capítulo IV
T I A T I R A
(1a. parte)

SINOPSE DE TIATIRA

Fundamentos da grande prostituta
a torre alta babilônica e o catolicismo romano - Jezabel, um tipo da grande prostituta neotestamentaria - Exponentes dos vencedores de Tiatira: Madame Guyón, Fénelon, João Tauler, Luis de Molina - O fermento da mulher dominante - A idolátrica Babilônia a grande.

Consolidação do catolicismo romano
O cesaropapismo - As fraudes píos e a feudalização do papado e do alto clero romano - Hildebrando e o zênite do papado - Paradoxos do papado romano - A inquisição - O Índice - Os Jesuítas.

Grandes figuras do escolasticismo medieval
Anselmo - Pedro Abelardo - Hugo de San Víctor - Pedro Lombardo - Boaventura - Alberto Magno - Tomás de Aquino - João Duns Escoto - Guillerme de Occam.

Comercio de almas de homens da grande prostituta
As indulgências e os castigos temporais no "purgatório" - A tesouraria da igreja - O juízo da grande prostituta - As profundezas de Satanás.

Os pré-reformadores
Francisco de Assis - Pedro de Bruys - Henrique de Lausana - Arnaldo de Brescia - Os Valdenses - João Wicliffe - João Huss - Jerônimo Savonarola.

Os vencedores de Tiatira
Quarta recompensa: O Senhor lhes dará autoridade sobre as nações durante o reino milenar e governarão com Cristo. Tem alguma relação com os vencedores que estão tipificados no filho varão de Apocalipse 12.

A CARTA À TIATIRA.
"18 Ao anjo da igreja em Tiatira escreve: Estas coisas diz o Filho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo e os pés semelhantes ao bronze polido:19 Conheço as tuas obras, o teu amor, a tua fé, o teu serviço, a tua perseverança e as tuas últimas obras, mais numerosas do que as primeiras. 20 Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos. 21 Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se da sua prostituição. 22 Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita. 23 Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obras. 24 Digo, todavia, a vós outros, os demais de Tiatira, a tantos quantos não têm essa doutrina e que não conheceram, como eles dizem, as coisas profundas de Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós; 25 tão-somente conservai o que tendes, até que eu venha. 26 Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade sobre as nações, 27 e com cetro de ferro as regerá e as reduzirá a pedaços como se fossem objetos de barro;
28 assim como também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã.
29 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” (Ap. 2:18-29).

Torre alta
A quarta das cartas de Apocalipse é enviada à igreja na localidade de Tiatira, a qual relacionamos com o período profético que se inicia no alvorecer da Idade Média, cujo ponto de partida se associa com a queda de Roma no ano 476; mas de acordo com o contexto da carta, este período continuará existindo simultaneamente com os últimos três, até o tempo do retorno do Senhor, e prefigura à Igreja Católica Romana. Nos períodos anteriores, aos de Esmirna e Pérgamo, não existia o sistema católico romano. A Igreja de Jesus Cristo era católica no sentido de universal, mas esse catolicismo da Igreja não tinha nenhuma relação com o romano. A cidade de Tiatira foi fundada por Seleuco I Nicátor (355-280), um dos quatro generais e sucessores de Alexandre Magno, os que posteriormente e à morte do macedônio dividiram o grande império grego. Nesse mesmo lugar atualmente está localizada a cidade turca de Akhisar. Tiatira era uma cidade localizada também na Ásia Menor, conhecida e famosa por ser um centro de numerosos grêmios de artesãos, com a particularidade de que cada grêmio tinha seus deuses protetores, aos quais lhes celebravam festas em determinadas datas, mediante libações ou comidas de rituais, e de acordo com os costumes pagãs, os ofertantes consumiam a carne oferecida em sacrifício a esses deuses. A palavra Tiatira em grego significa torre alta, torre fortificada, o que nos diz que depois que a Igreja se casou com o mundo e o poder político do Estado, foi exaltada a uma elevada posição, e o mundo começou a vê-la como uma torre alta, e como tal começou a ser reverenciada e acatada pelo inconstante mundo. O Império Romano se "cristianizou" e todo esse acervo religioso pagão mundial que havia herdado o Império desde suas origens na Babilônia, passando pelo Egito, Assíria e Grécia, se mesclou em Roma com a terminologia cristã, e a simbiose do paganismo com o cristianismo e com o judaísmo começou definitivamente a conceber o sistema católico-romano-papista, o que gerou sérios problemas. Também a palavra Tiatira em grego significa sacrifício aromático ou sacrifício continuo. Também significa atividade no oferecimento de vítimas, pois como é de comum conhecimento, o apóstata sistema católico se caracteriza por seus contínuos sacrifícios representados nas missas, com altar e casta sacerdotal, pois chegaram a ignorar que o sacrifício de Cristo na cruz foi suficiente para nos salvar (Hb. 10:12)." Ao anjo da igreja em Tiatira escreve: Estas coisas diz o Filho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo e os pés semelhantes ao bronze polido: " (v.18).Aqui o Senhor se apresenta como o filho de Deus como um protesto pela heresia apóstata, pois o sistema católico romano enfatiza o fato de que Cristo é filho de Maria; e por outro lado esse sistema eleva a Maria tão exageradamente, que dá a imprensão que dão maior importância a adoração à uma criatura como ela, que ao Senhor, Salvador dela (cfr. Lucas 1:47) e nosso; como em uma velada intenção de eclipsar um pouco a glória devida ao Senhor. No Magníficat, Maria o expressa profeticamente de seus próprios lábios ao dizer: "Minha alma engrandece ao Senhor;e meu espírito se alegra em Deus meu Salvador". Também o sistema católico romano diz que a Igreja está edificada sobre Pedro, um simples humano, descartando assim à verdadeira Cabeça, a Cristo, o Filho do Deus vivente, revelado pelo Pai a toda pessoa destinada para salvação. Assim mesmo o Senhor se apresenta como o que tem olhos como chama de fogo, e pés semelhantes ao bronze polido, pois o Senhor tem o poder da visibilidade de penetrar até as coisas mais ocultas, e de fato conhece e distingue todas as coisas, por muito remotas que pareçam estar no tempo, no espaço, ou no profundo dos pensamentos e segredos e intenções do coração. Em Pérgamo se apresenta como o que tem a espada afiada de dois gumes, isto é para dividir uma virtual e desafortunada união de Sua Igreja com o mundo, mas em Tiatira usa os olhos como chama de fogo para julgar e queimar as conseqüências dessa união. Seus pés de bronze polido falam de que o Senhor é o juiz, e tudo o que vai olhando e condenando com seus olhos, com seus pés se presta para executar juízo e pisotear. Recorde-se que temos de comparecer ante o tribunal de Cristo, a quem " foi constituído por Deus Juiz de vivos e de mortos. " (cfr. Romanos 14:10; Atos 10:42b). O Senhor tem todo o poder, autoridade e soberania sobre todas as criaturas para executar o que Ele quer, Quando Ele quiser, e esta igreja apóstata necessita ser julgada por Seus olhos esquadrinhadores e Seus pés que esmagam.

Obras na apostasia
" Conheço as tuas obras, o teu amor, a tua fé, o teu serviço, a tua perseverança e as tuas últimas obras, mais numerosas do que as primeiras. " (v.19).
O apóstata sistema católico romano se distingue também porque leva à prática muitas obras e serviços de caráter social, principalmente nos últimos tempos. E de fato há gente abnegada que têm dado por amor a suprir as necessidades dos demais. Para muitos pode parecer incrível, mas neste corrupto sistema religioso têm havido sempre, mesmo hoje, um pequeno remanescente que também foi escolhido desde antes da fundação do mundo para ser salvo, e que se tem encarregado de executar muitas obras boas porque realmente tem conhecido a Deus, e além da Palavra de Deus, a mesma história têm dado fé disto. Em Tiatira podemos discernir um nível espiritual. Ainda que seja um sistema eclesiástico condenado e aborrecido pelo Senhor, entretanto, dentro de tal sistema há filhos de Deus ali mesclados e os haverá até o tempo da vinda do Senhor, e por isso há uma incitação do Senhor para os irmãos que estão dentro do sistema católico romano, e mesmo dentro dos sistemas religiosos evangélicos denominacionais dele derivados, até o ponto que Deus os compara com Babilônia. O Senhor lhes disse: "Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos;" (Ap. 18:4). A esses santos Deus os ama e deseja salva-los das conseqüências que sobrevenham pelo fermento da maldade do sistema babilônico. A multidão dos adeptos ao sistema católico romano são ignorantes acerca da Palabra de Deus e mesmo do sistema religioso no qual militam; ignoram por completo o caminho de salvação; não sabem quem é Jesus Cristo, e estão imersos em um mar de confusões, e os líderes desse sistema o sabem perfeitamente. O dia em que qualquer de seus seguidores começarem a opinar conforme as Escrituras, o apelidam de desviado mental, o perseguem, e o maldizem muitas vezes até a morte. Na Idade Média, por exemplo, era tanto o desconhecimento da Palavra de Deus e a fé em Jesus Cristo, que a vida religiosa dos paroquianos se caracterizava em sujeitar-se aos cânones do romanismo, os quais enfatizavam como pecaminoso os impulsos sensuais naturais. Dai que vieram no monasticismo, humanamente e sem levar em conta a Deus, o estado de perfeição e de santificação ideal. Mas ali existe um remanescente de boa fé, fiel ao Senhor. Nesse pequeno remanescente deu fruto o amor, a fé, o serviço, a paciência, em pessoas como Joana de la Mothe Guyón, mais conhecida como Madame Guyon (1648-1717), mística francesa que iniciou na França o movimento pietista, e a causa de sua fé foi objeto de perseguição e prisão em sua mesma pátria (foi encarcerada na Bastilha pelo rei Luis XIV), e se caracterizou por sua copiosa calma e resignação. Apesar de que a apelidaram de herege, e que o papa censurou a Fénelom por sua causa, esta filha de Deus não chegou a se separar do catolicismo romano. Em quanto Francisco de Salignac Fénelon (1675-1715), foi um eclesiástico jesuíta francês educado na Universidade de Cahors; havendo sido tutor do neto de Luis XIV, perdeu o favor do rei como conseqüência de sua relação com os pietistas seguidores de Madame Guyon. A vida santa e o testemunho de Madame Guyon tiveram profunda influência sobre Fénelon. Apesar do anterior não abandonou o sistema católico romano, e, pelo contrário, na controvérsia jansenista, esteve em favor do papa defendendo sua bula Unigenitus através de cartas e sermões. Outro digno de menção é João Tauler ou Taulero (1290-1361), domenico alemão profundamente influenciado por seu mestre João Eckhart. Mesmo que não se destacou como grande erudito, gozou de popularidade por sua linguagem simples e sincera, o que despertava muito entusiasmo entre os ouvintes. Afirmava que os cristãos devem exercer seu próprio sacerdócio uma vez que Jesus Cristo mora no coração do crente. Há uma anedota que diz que Tauler exerceu tal influência sobre Lutero, que este lhe escreveu a seu amigo Spalatino, dizendo: "Se queres aprender na língua alemã a sólida teologia dos tempos primitivos, lê os sermões de João Tauler. Não havia lido em latim nem em nenhum outro idioma, a teologia mais judiciosa nem mais de acordo com o Evangelho". Irmãos como estes três exemplos tem havido muitos de boa fé no sistema católico romano, e há. Nomes como Luis de Molina (1535-1600), cuja teologia, conhecida como molinismo, lutava com o problema de como conciliar a graça e o inalterável decreto da predestinação com o livre arbítrio; teologia à qual aderiam muitos dos jesuítas, entre eles Roberto Belarmino (1542-1621), mais tarde cardeal, sobrinho de um papa. Miguel de Molinos (1628-1696), teólogo espanhol, de família da nobreza. Residenciado em Roma se fez amigo do papa Inocêncio XI quem chegou a condenar sua obra "Guia Espiritual" por seus princípios quietistas, doutrina chamada também molinosismo, por meio da qual aconselhava a suspensão de toda atividade humana e o abandono em Deus; promovendo assim a aniquilação da própria vontade.

Mulher dominante
"Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos. " (v.20).A palavra Tiatira também significa mulher dominante. Se começa a delimitar um contraste entre a Esposa do Cordeiro que aparece em Apocalipse 19 e a prostituta, a que lhe foi infiel, de Apocalipse 17 e 18. O Senhor menciona aqui a uma mulher chamada Jezabel, que se diz profetisa, mas seu labor se reduz a ensinar e seduzir aos santos a fornicar e a comer coisas sacrificadas aos ídolos, e o pior é que é tolerada pelos cristãos. De que se trata? Na igreja da localidade de Tiatira pode ter havido uma mulher que ela mesma se fazia aparecer como profetiza, de grande influência chamada Jezabel, que tanto por seu nome como por suas atividades coincidira com a Jezabel protótipo do Antigo Testamento e prefigurara a si mesmo com a igreja apóstata. O nome de Jezabel significa desonesta, perjura. Com ela se cristaliza a maridagem idolatria-Estado. Mas concretizando-nos em nossa analise, em primeiro lugar vemos que os ensinamentos de Jezabel são muito parecidos (e como uma continuação) aos de Balaão, mas sua influência têm sido mais grave, devido a que Balaão somente podia aconselhar, enquanto que Jezabel também tinha poder para ordenar, por sua autoridade de rainha. É curioso que em Tiatira estava o famoso "Peribolé" (recinto), residência da sibila oriental Sambata, o qual pode ter sua simbologia com a Jezabel e os cultos e banquetes idolátricos, que comprometiam e contaminavam a muitos crentes. O Antigo Testamento registra em suas páginas a vida e obra de uma mulher chamada Jezabel, filha de Et-baal, rei de Sidom, com a qual se uniu em matrimônio Acabe, rei de Israel, ao invés de haver tomado por mulher a uma hebréia; por esta ação, Acabe, deixou de adorar a Jeová por servir a Baal e adora-lo 3. Mas Acabe foi mais longe " 32 Levantou um altar a Baal, na casa de Baal que edificara em Samaria.33 Também Acabe fez um poste-ídolo, de maneira que cometeu mais abominações para irritar ao SENHOR, Deus de Israel, do que todos os reis de Israel que foram antes dele. " (1 Re. 16:32,33). O pecado de Acabe foi mais grave que o de Jeroboão, ao estimular ao povo a adorar a um deus estranho. Jezabel, como rainha que era, incitava a Acabe (cfr. 1 Reis 21:25), e tinha oportunidades e estava revestida de direitos para influenciar no governo do povo de Deus, de acordo com sua soberana e perversa vontade. Jezabel, mulher de natureza autoritária, instruía ao povo na prática de obras abomináveis e a comer do sacrificado aos ídolos, sem que nada a ousasse resistir. Julgue o leitor a situação da igreja de Tiatira, ante uma mulher culta, influente, rica, de ilustre linhagem, sagaz, a igreja se encheu de temor de repreender a um membro tão ilustre, e quando ela se rodeou de incondicionais, a coisa se fez mais difícil ainda, e houve o pecado da permissão. Isto o relaciona com a profecia do Senhor acerca desta mulher na parábola do fermento. " Disse-lhes outra parábola: O reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e escondeu em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado." (Mt. 13:33).Com maior ênfase no sistema católico romano, esta parábola reflete a corrupção interior da atual e desfigurada aparência do reino dos céus na terra, durante a ausência do Rei, porque Cristo é a oferta de farinha pura, mas ao contrário o fermento representa as doutrinas falsas, a hipocrisia, os que dizem professar a autêntica fé e procedem impiamente, os que ensinam falsamente o cristianismo; também representa a malícia e o pecado (cfr. Mateus 16:6,11.12; 1 Coríntios 5:6-8; Gálatas 5:8,9). A Igreja, como a manifestação prática do reino dos céus hoje, tem a flor de farinha sem fermento, que é Cristo, mas essa mulher, que é o sistema católico romano e os sistemas religiosos nacionalistas que dele se derivam e mesmo os posteriores movimentos denominacionais, escondeu o fermento, em modo oculto, na farinha, introduzindo na Igreja práticas pagãs, heresias e perversidades, mesclando abominações com coisas procedentes de Deus, de tal modo que os puros ensinamentos bíblicos acerca de Cristo foram levedados, resultando uma aparência do reino dos céus. Jezabel combinava astutamente o uso carismático (profético) com a idolatria e a fornicação, uma perigosa e explosiva mescla de dons e impiedades. A Igreja Católica Romana, como Jezabel, se autodenomina profetiza, com pretensões de haver recebido de Deus a autoridade de falar pelo Senhor, com o resultado de que se adotou o direito de falar por si mesma, de ter o monopólio do ensinamento e interpretação da Palavra de Deus, o qual tem feito que as pessoas não se interessem por ler a Bíblia e se contentem com escutar seus filosóficos - heréticos ensinamentos humanos e, de passo, deixar de alimentar-se com o apropriado conhecimento de Cristo. Vemos então que a união matrimonial de Acabe com uma idólatra gentia deu como resultado que se fomentara oficialmente o imoral culto a Baal, deus do raio, da tempestade, da chuva e da fertilidade no Panteon cananeu e fenício. Por quê? Porque sua mulher era uma adoradora fanática desse ídolo satânico e ele queria agradá-la. Isto levou a Israel a uma aguda crise nacional, confusão, perseguição e sincretismo religioso; o povo de Deus comendo o sacrificado aos demônios; que em seu momento muitos israelitas puderam haver visto normal e até lógico, mas que na perspectiva profética bíblica não era senão um repúdio a Yahveh. Ali a fornicação significa confusão. Chegou o momento crucial em que quem mandava em Israel era uma mulher estrangeira, que, além disso, era idólatra, prostituta e feiticeira (cfr. 2 Reis 9:22), que pretendeu apagar do povo escolhido a adoração a Deus, seduzindo aos que deixaram os mandamentos de Yahveh e se esqueceram até do mesmo nome do Altíssimo, até o ponto que, quando o profeta Elias enfrentou os quatrocentos profetas de Baal, valentemente disse a todo o povo: "Então, Elias se chegou a todo o povo e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu." (1 Re. 18:21). Mas havia tanto temor e confusão no povo, que a Bíblia diz que não responderam nenhuma palabra. Jezabel matava aos profetas de Deus. Mas Deus respondeu poderosamente e através de Elias demonstrou que precisamente na esfera onde criam que Baal era mais poderoso (o raio, a chuva), ali fracassaram estrondosamente seus seguidores. Jezabel teve o poder de dominar a seu esposo, assim como a igreja apóstata tem tratado de dominar aos reis e ao mundo inteiro mediante a política e os concordatos favoráveis; É como dizer, que todo o que Cristo rejeitou quando foi tentado no deserto, foi aceito pela igreja prostituta. Nas cartas de Apocalipse, o diabo é mencionado em um avanço sutil para destruir a Igreja. Em Esmirna, Satanás operava desde a sinagoga; em Pérgamo desde seu trono no templo de Zeus, e em Tiatira, já havia estabelecido sua sede de operações dentro da mesma Igreja. Tenha-se em conta que a mulher de Mateus l3:33, Apocalipse 2:20 e Apocalipse 17 é a mesma. Esse é o ponto principal da carta à igreja em Tiatira.

Babilônia a grande
" Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se da sua prostituição." (v.21).A Jezabel neotestamentária era muito orgulhosa para arrepender-se, não obstante que o Senhor lhe deu tempo para que se arrependa, rejeitando assim o único caminho possível para salvar a ela e a todos os seus seguidores. A Igreja de Jesus Cristo é tipificada por uma mulher, a Esposa do Cordeiro, a Nova Jerusalém (Ef. 5:22-32; Ap. 19:7-9; 21:9,19), mas há outra mulher dominante que têm sido infiel ao Senhor, que a Palavra de Deus chama "um mistério: BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E DAS ABOMINAÇÕES DA TERRA." (Ap. 17:5). Essa mulher quando se casou com o mundo deixou de ser Jerusalém para converter-se em Babilônia, o sistema católico romano; mas houve tanta habilidade e engenho satânicos para mesclar o paganismo babilônico com o cristianismo, que a Bíblia chama a esse novo sistema um mistério, e é a mesma Jezabel do tempo da graça, porque se têm encarregado de introduzir no povo de Deus muita confusão, indiferença, ignorância, sincretismo, culto idolátrico e práticas imorais. Essa mulher se chama profetisa e tem adotado o direito de ser a única que tem a autoridade de ensinar e interpretar as Escrituras, com o resultado de que impõe suas próprias espúrias e destorcidas doutrinas, invalidando e contradizendo as Escrituras Sagradas. Ela se encarrega de ensinar e não deixar que Deus fale (cfr. João 5:39; 16:13). Somente ela pretende ter a razão e a verdade. Não vai se arrepender, e se sabe que será destruída sem que haja se arrependido, como sucedeu a Jezabel. Na Idade Média houve um largo tempo em que a Bíblia foi um livro proibido pelo cesaropapado, e só podia ser adquirido e interpretado por uma augusta elite do Vaticano, afim de acomodar as coisas aos interesses do sistema da prostituta. Em sua obra a Cidade de Deus, Agostinho expressa dramaticamente a clara distinção traçada entre a cidade do mundo e a cidade de Deus, pontos de vista em sua oportunidade apreciados pelos cristãos fiéis ao Senhor e Seus propósitos.Para fins do século quinto, o sistema católico romano e o Império estavam tão intimamente associados, compenetrados entre si, que o selo que o Império havia impresso nesse sistema religioso já era indelével, e quando o Império Romano do Ocidente se desagregou, o catolicismo romano reteve muitos de seus traços, estrutura e organização externa e em muitos sentidos perpetuando as características da Roma pré-cristã até hoje. Mais que com um governo estatal e simples sistema político e suas vinculações econômicas, o cristianismo desertor e infiel se mesclou em suas raízes com o sistema religioso babilônico, formando-se à larga o cesaropapismo com o sumo pontífice à cabeça, como continuação de uma das pernas de ferro do último dos quatro grandes impérios mundiais revelados por Deus ao rei Nabucodonosor na Babilônia (cfr. Daniel 2:33,40).Essa férrea união gerou sérios compromissos com o príncipe deste mundo. Como quais? Um deles foi a continuação do paganismo babilônico, a contemporização e o fomento da idolatria e a adoração à rainha do céu, a deusa-mãe, e sua corte. Existia a rainha do céu desde os tempos babilônicos? Sim, se chamava Istar, e todas as culturas desde muitos séculos antes de Cristo adoravam à divina mãe, a mãe e a seu filho, representada com um menino nos braços. Por exemplo, No Egito a chamavam Isis, entre os cananeus Astarote e Astarte, na Alemanha Hertha, na Ásia Cibele, em Éfeso Diana, em Roma Vênus ou Fortuna, na Grécia Afrodite ou Ceres, etc... O que fez o sistema católico romano? Introduziu a adoração à rainha do céu e outros deuses estranhos com uma pequena modificação, mudando-lhe o nome. À rainha do céu chamou inicialmente Maria, e aos demais deuses, ídolos ou estátuas, lhes chamaram "santos". Por exemplo, a estátua do deus Júpiter em Roma, cuja figura é de cor obscura, foi retocada e colocada na catedral de São Pedro em Roma (com uma mitra dourada sobre sua cabeça, cuja figura (uma cabeça de peixe) é diferente à usada por Arão e os sacerdotes hebreus), em qualidade de ídolo do apóstolo Pedro. Não há evidência bíblica que acredite que Jesus Cristo e os apóstolos usaram este ornamento, que pelo desenho que atualmente usam os papas, cardeais e bispos, corresponde a uma prenda pagã do deus peixe babilônico, conhecido por Ormuz ou Dagom. Assim como a cidade de Tiatira era conhecida e famosa porque nela cada grêmio tinha seus deuses protetores, aos quais lhes celebravam festas em determinadas datas, mediante libações ou comidas de rituais, assim também no período profético de Tiatira, do cristianismo apóstata, se perpetuaram esses rituais pagãos a "santos" patronos dos grêmios; por exemplo, São José, patrono dos obreiros, São Cristóvão, patrono dos motoristas, São Rafael, patrono dos médicos, etc... Temos o exemplo de Éfeso, cidade na qual parte da adoração tributada a Diana foi transferida à virgem Maria, cidade onde ao que parece viveu e morreu Maria, por haver sido encomendada ao apóstolo João. O sincretismo universal que têm caracterizado ao paganismo com seu politeísmo, aparentemente se foi apagando e dando passo ao monoteísmo judeu e cristão; mas esse é apenas uma mera aparência. Assim as massas chamadas "cristãs" no Ocidente, jamais deixaram o politeísmo. Apesar da substituição de uma religião por outra, o sincretismo é o mesmo; as nações adoram os mesmos deuses antigos, disfarçados de divindades com nomes "cristãos".Tolerar que prevaleçam estes ensinamentos têm trazido fracassos e graves conseqüências aos cristãos de Tiatira, e o pior é que haverá crentes na condição de Tiatira que serão achados assim na grande tribulação. A idolatria gera confusão e tragédia, cegueira espiritual e muitos males. Desde os tempos antigos, Deus proibiu por abominável a adoração à rainha do céu e a todo o exército do céu, e admoesta a seu povo por meio de seus profetas. Por exemplo, Jeremias lhes disse: "18 Os filhos apanham a lenha, os pais acendem o fogo, e as mulheres amassam a farinha, para se fazerem bolos à Rainha dos Céus; e oferecem libações a outros deuses, para me provocarem à ira.
19 Acaso, é a mim que eles provocam à ira, diz o SENHOR, e não, antes, a si mesmos, para a sua própria vergonha? " (Jr. 7:18-19). O povo hebreu por sua idolatria provocou a ira de Deus, e Jerusalém, símbolo do templo de Deus, foi destruída; os judeus foram levados durante setenta anos cativos à Babilônia, por contraste ao covil de demônios. Foi assim como a verdade revelada por Deus aos judeus paulatinamente se mesclou na Babilônia com a religião pagã que se havia originado em Babel; houve assim uma associação entre algumas crenças dos hebreus, certas tradições herméticas *(1) egípcias (recorde-se que os hebreus viveram 400 anos no Egito) e as teurgias caldéias, dando origem à chamada Cabala, escola de pensamento judeu que se prestou ao misticismo e à especulação teológica e filosófica, e mais tarde, com a mescla das correntes filosóficas gregas, surge o gnosticismo e vários ramos de ocultismo e esoterismo sincretista, alimentados por religiões de tipo oriental. Assim mesmo se diz que a Igreja em parte têm estado em cativeiro na Babilônia, na cidade terrena.
*(1) De hermetismo. Hermes Trimegisto era o deus greco-egipcio condutor das almas dos mortos; no Egito o tinham pelo inventor de todas as ciências, cujos segredos guardava encerrados em livros misteriosos.
O princípio desse cativeiro teve ocasião no período de Pérgamo, e o sistema babilônico se disfarçou de cristianismo em Roma. Do povo hebreu em cativeiro, Deus chamou a um pequeno remanescente para que voltassem à Terra Santa para reconstruir a cidade de Jerusalém e ao templo nos tempos de Zorobabel, Neemias, Esdras, Zacarias. Depois de mil anos de cativeiro na Roma cesaropapista, o Senhor também começou a chamar a outro pequeno remanescente a fim de recuperar todas as coisas que se haviam perdido e continuar a construção do templo de Deus, como o veremos nos próximos capítulos.

Raízes do cesaropapismo
Não existe registro documental e normativo algum em que conste que o Senhor dera instruções a fim de que, para que se perpetuasse Seus ensinamentos, quando Ele ascendesse ao Pai e viesse o outro Consolador, o Espírito Santo, se instituísse uma organização visível que viesse a continuar através dos séculos, ao estilo e com as características das que séculos mais tarde surgiram, em especial nas capitais do Império Romano, tanto do Ocidente, Roma, como do Oriente, Constantinopla; e suas posteriores filhas e herdeiras; organizações, muitas delas, iniciadas por homens que amavam a obra do Senhor, mas que eventual e paulatinamente foram hierarquizadas por homens ébrios de poder e riquezas terrenas, mais carentes das riquezas dos céus; em contraste com nosso amado Senhor, quem evitava a todo custo toda ostentação de Seus poderes, a fim de não chamar a atenção sobre Si mesmo, e que quando decidiu eleger a Seus mais íntimos amigos, evitou escolher entre os grandes do Sinédrio, senão que o fez entre os homens das humildes sendas da vida no advir da peregrinação por esta terra, ou dos mais modestos estratos sociais, como se lhe chamaria hoje.Quem formulou pela primeira vez de maneira rigorosa a doutrina do primado romano foi o bispo romano Damaso (366-384), baseado em uma interpretação errônea das palavras do Senhor, Tu és Pedro, de Mateus 16:18. É preciso fazer ênfase às palavras do Senhor em resposta a Pedro no capítulo 16 do evangelho segundo Mateus. De acordo com o contexto, o Senhor se interessou por saber o que seus discípulos diziam acerca de quem era Ele. No verso 16, a uma pergunta do Senhor a respeito, Pedro lhe responde: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo", frase esta que pode ver-se escrita em gigantescos caracteres em latim ao redor da cúpula da basílica de São Pedro no Vaticano, com o argumento de que Pedro foi a primeira cabeça da Igreja, e em conseqüência, seus pretendidos sucessores, os papas romanos, deveriam continuar sua autoridade. É peremptório esclarecer que a frase afirmativa de Pedro é uma revelação que lhe faz o mesmo Pai celestial acerca da personalidade e identidade do Senhor Jesus Cristo, pois o mesmo Senhor Jesus o confirma quando lhe diz: "Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus." (v.17).Mas na continuação aparece uma declaração do Senhor que têm dado pé a certas especulações por parte do papado romano. O Senhor segue dizendo a Pedro nos versos 18 e 19: " 18 Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.19 Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus.". É néscio e sem fundamento bíblico dizer que Jesus fundou sua Igreja sobre Pedro, ou sobre algum outro homem. Para que uma pessoa, qualquer, douta ou ignorante, conheça quem é o Senhor Jesus Cristo, o único meio possível é por revelação de Deus o Pai. Da declaração da pessoa a respeito de Cristo, depende que seja ou não um filho de Deus, integrante da Igreja do Senhor. Essa confissão é a rocha. Eu sou para ti o Cristo, o Salvador, então tu és uma pedra da casa de Deus, a Igreja. Deus edifica Sua Igreja com todas essas pedras vivas, os que têm crido e confessado que Jesus é o Cristo, o Salvador, sendo a principal pedra de ângulo Jesus Cristo mesmo, não um homem. Graças ao Senhor, que prevendo tudo o que viria, o Espírito Santo inspirou ao apóstolo Pedro para que assinalasse que Cristo é a pedra angular de Seu templo, a Igreja, quando diz em 1 Pedro 2:4-8:" 4 Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, 5 também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. 6 Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado. 7 Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para os descrentes, A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular 8 e: Pedra de tropeço e rocha de ofensa. São estes os que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que também foram postos.".Em Mateus, o Senhor usa as palavras Pedro e pedra (em grego Petros e petra). Pedro (petra, πετρα), como o resto de crentes, por sua declaração é constituído uma pedra viva na edificação espiritual; mas o que têm declarado, que o Senhor Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivente, é a pedra angular, a rocha (petros, πετροζ), sobre a qual está fundamentada a Igreja. A Igreja se constrói sobre a pessoa do Senhor Jesus Cristo, com os que, a igual a Pedro, confessam ao Senhor. Paulo também o ratifica em Efésios 2:20-22, assim: "20 edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; 21 no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, 22 no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito.".Não chegamos a analisar o verso 19 de Mateus 16, mas o significado exegético do mesmo não dá fundamento, nem sequer o insinua, para afirmar que havia na história uma série de sucessores aos quais o apóstolo Pedro tivesse autoridade para transmitir o poder das chaves. Esse encargo foi de tipo pessoal e intransmissível e Pedro o exerceu para abrir o caminho da salvação e do Reino, primeiro aos judeus em Jerusalém no dia de Pentecostes (Atos 2), e logo aos gentios em Cesaréia na casa do centurião Cornélio (Atos 10), e essas portas ainda não se têm fechado, como o confirma Paulo anos mais tarde (ao redor de 61 D. C.) aos efésios: "...18 porque, por ele( Cristo ), ambos( judeus e Gentios ) temos acesso ao Pai em um Espírito." (Ef. 2:18).Na mesma noite em que foi preso, o Senhor Jesus orou ao Pai, dizendo: "20 Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; 21 a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste." (João 17:20-21). Estas discentes palavras nos dão a entender que o Senhor quer em sua Igreja um companheirismo estreito, e contínuo através do tempo e a distância, sem especificar que estrutura visível teria a Igreja. As características estruturais pelas que o Espírito Santo orientou à Igreja do Senhor, são as que se encontram nas páginas do livro dos Atos dos Apóstolos, as epístolas dos apóstolos Paulo, Pedro e João, Hebreus e o livro do Apocalipse, tudo no marco da igualdade, do amor e a comunhão do Espírito Santo. A raiz da morte do Senhor, Sua gloriosa ressurreição, ascensão e a vinda do Espírito Santo, se cristalizou um companheirismo e igualdade entre Seus discípulos, e isso se chamou Igreja, a Igreja de Jesus Cristo, a qual é Seu corpo e Ele é o Cabeça. A Palavra descarta que um homem seja a cabeça da Igreja. "20 o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais,, 22 E pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja,23 a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas. 27 para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito." (Ef. 1:20,22,23; 5:27).Sobre a passagem bíblica que registram as palavras do Senhor: "E Eu também te digo, que tu és Pedro, e sobre esta rocha edificarei minha igreja", há outra interpretação que diz: "Se Cristo quisesse dizer que Sua Igreja ia estar fundada sobre Pedro, por que não disse: ‘sobre ti edificarei minha igreja’? tal como diretamente o fez quando chamou a cada um dos apóstolos, ‘vem, segue-me’. Caso se houvesse referido a Pedro, certamente haveria dito: Pedro, edificarei minha igreja sobre ti, da mesma maneira que lhe disse: ‘A ti darei as chaves’. Não, não era sobre a cabeça de Pedro, senão sobre a confissão que acabava de fazer sobre onde ia fundar a Igreja. Não sobre o instável Pedro (que o negou três vezes antes de que cantara o galo; também era judaizante, que recebeu repreensão do Senhor quando lhe disse: Aparta-te de mim, Satanás; e irascível, por haver cortado a orelha do servo do sumo sacerdote), senão sobre aquela poderosa verdade que o Pai lhe havia revelado". (Jaime Beltrán Zuccardi. Carta ao Sacerdote Alfonso Llano Escobar. 1997). Na mesma carta aos Efésios, Paulo nos diz que a Igreja é formada tanto por judeus como por gentios, todos membros da família de Deus, servos de Jesus Cristo, sem distinção de raças, nacionalidade, fundo cultural, sexo, liberdade, servidão, sem barreiras ocasionadas por línguas ou distinção política. Desde o princípio do século IV, o melhor, através de um lento desenvolvimento histórico cujas raízes encontramos antes dessa data, mas que tomou maior força com a aparição de Constantino no concerto histórico do Império, se veio operando um desenvolvimento doutrinal paralelo com um processo institucional gerando um sistema eclesiástico centralizado em torno ao bispo de Roma, com grande influência no Ocidente e cada dia mais livre da tutela imperial. A primazia de honra do bispo de Roma e seu título e poder temporal pontifício, não veio necessariamente do evangelho senão da organização eclesiástica que havia sido copiada das instituições político religiosas do Império Romano. A legislação pontifícia se inicia com os decretos do bispo de Roma Sirício (384-399), reclamando jurisdição universal, pois no século IV o bispo tomou o caráter de papa, mas não foi reconhecido; mas com Damaso o papado dá uma virada importante, pois ele assumiu o antigo título romano de Pontifex Maximus, alto sacerdote oficial dos mistérios babilônicos, reconhecido tanto por pagãos e cristãos como o cabeça, herdado até o dia de hoje por todos os papas, título do qual se havia despojado o imperador Graciano no ano 375, quando com motivo de sua conversão ao Senhor Jesus Cristo, teve discernimento de que esse título era de origem satânica. Quando o papa romano recebeu o título babilônico de Sumo Pontífice, recebeu a liderança sobre todo o paganismo. O papa Inocêncio I (401-417) propôs uma política de centralização jurisdicional do primado, mas não foi senão até o ano 445, em tempos de Leão I o Grande (440-46l), em que o imperador Valentiniano III estabeleceu a supremacia de Roma, por razão de que este bispo ocupava "o primado de São Pedro", sobre a parte ocidental da Igreja mediante o edito Certum est, sem que lhe fora reconhecida mesmo sua autoridade pelas igrejas. Algo similar ocorreu com Bonifácio III, que foi declarado bispo universal pelo imperador Focas, de Constantinopla, abaixo a aplicação de editos de governantes terrenos sem levar em conta a vontade de Deus. Notemos que é reconhecida essa supremacia mediante um documento legislativo secular, do imperador, mas não bíblico.A instituição romano-papista para sustentar seus pretendidos direitos de supremacia e da sucessão apostólica desse sistema, cita que no último quarto do século segundo Irineu de Lyon supostamente afirmava em um tratado que os apóstolos haviam nomeado seus sucessores nas diferentes igrejas; mas o curioso deste documento considerado espúrio mesmo por comentaristas católicos romanos, é que Irineu, poderia haver dado a lista de todos esses bispos sucessores em todas as igrejas, ou pelo menos nas principais cidades, só se limita a dar a linha de sucessão da igreja de Roma, a qual, aduzem eles mas não as Escrituras, havia sido fundada por Pedro e Paulo, os quais a sua vez nomearam a Lino; este a sua vez foi seguido por outros em linha intacta até o duodécimo na sucessão, época em que o suposto livro de Irineu estava sendo escrito.Este suposto livro de Irineu é um documento falso como tantos outros que essa instituição (a Igreja Católica Romana) se inventou ao largo dos séculos. Cipriano, o famoso bispo de Cártago, quem viveu entre os anos 200 ao 258, referindo-se a certo tipo organizativo, dizia que "a igreja esta no bispo e o bispo na igreja", dando muita importância ao bispado, mas sustentava que todos os bispos eram iguais. Considerava que todo bispo possuía todos os poderes comuns a todos os bispos; que nenhum bispo tinha autoridade administrativa sobre os demais, que nenhum bispo devia exaltar-se como bispo dos bispos, e estimava ao bispo de Roma só como um entre seus iguais. Isto a todas luzes representava um conflito com as pretensões do bispo de Roma, e devido a isso se tem conhecimento que suas obras foram deturpadas, de maneira especial no relacionado com o do primado de Pedro.Agora bem, não há registro bíblico, nem patrístico confiável que sustente que Pedro haja sido o fundador e o bispo da Igreja de Roma. Há que diferenciar entre o ministério de apóstolo e o de ancião ou bispo. Biblicamente o campo de trabalho do apóstolo é a obra regional, e o do bispo é a igreja local. Os apóstolos jamais ficavam como bispos de alguma igreja; em troca, os anciãos eram designados entre os irmãos de sua mesma igreja local. Enquanto a Paulo, no contexto da carta aos Romanos, e particularmente nos versos 10-13 do capítulo 1 e 20-23 do capítulo 15, vemos que quando o apóstolo escreveu esta carta ao redor do ano 57 D. C. nunca havia estado em Roma, como, pois, pode ser um dos co-fundadores da igreja nessa localidade?As contínuas divisões eclesiásticas do Oriente, sobre tudo nos tempos dos concílios de Éfeso (431) e Calcedônia (451), a corrupção imperial e as ameaças das invasões dos bárbaros, entre outras coisas, lhes eram favoráveis ao bispo de Roma em suas pretensões para conseguir a supremacia dentro do cristianismo. Invadida a cidade pelos vândalos, e sem a presença e autoridade imperial no Ocidente, Leão I o Grande, teve a idéia de converter o trono do império em sede do reino universal da Igreja, dando início à teocracia católica romana, como verdadeira continuação do Império. Uma solução “genial”; o Império não se extinguiria, senão que mudava de forma e continuava o papa como o sucessor dos Césares; e não foi menos importante que, no curso deste processo, por trás do respaldo de Valentiniano III, paulatinamente os imperadores orientais foram reconhecendo essa primazia papal ao bispo de Roma, a fim de ir ganhando um aliado; então, das ruínas do império romano ocidental, surge assim a Roma papal. E o curioso é que quatrocentos anos antes, o Senhor Jesus, verdadeira Cabeça da Igreja, havia dito a Pôncio Pilatos, o representante desse mesmo império romano: "Meu reino não é deste mundo" (cfr. João 18:36).A construção da Babilônia a grande, a grande prostituta, continua inexoravelmente e no ano 494 o papa Gelásio declarou que o mundo era governado pelo imperador, mas que este devia submeter-se aos prelados em assuntos divinos, e que Roma havia sido posta em superioridade sobre as demais igrejas, pela presença e martírio de Paulo e o suposto martírio de Pedro ali, toda vez que não há registro bíblico de que este apóstolo houvesse estado em Roma. O imperador Justiniano I (527-565), entre outras coisas, é muito famoso porque durante seu governo copiou muitas leis e promulgou seu famoso Código de leis imperiais chamado «Corpus Juris Civilis» (Corpo de lei civil), por meio do qual também confirmou e aumentou os privilégios do clero, e designa ao bispo de Roma como chefe supremo das igrejas. Este documento, por exemplo, no prefácio do artigo nono diz: "Não só se designa a Roma a origem das leis, senão que além disso não há nada que duvide que nela reside a cima do mais alto pontificado".Assim mesmo no artigo 131 do Código de Justiniano diz: "Daí que, de acordo com as resoluções destes concílios, ordenamos que o Muito Santo Papa da antiga Roma ocupe a primeira classe entre todos os Pontífices, e que o Muito Bendito Arcebispo de Constantinopla ou Nova Roma, ocupe o segundo Lugar depois da Santa Sede Apostólica da antiga Roma, a qual tomará a precedência sobre todas as demais".Vemos então a grandes traços como esse processo institucional do cesaropapismo foi fincando poderosas raízes, foi ramificando, posicionando e tomando vantagem sobre outras instituições, e é assim como aparecem os bispos feudais, com as insígnias e as atribuições dos senhores feudais da Idade Média, chegando a ser mais príncipes que pastores, começando pelo mesmo pontífice, pretendido sucessor de um trono que o apóstolo Pedro nunca teve, e que conforme ao consignado em Atos, detestava o boato, a bajulação, cortesia, etc..., como se narra na seguinte passagem bíblica: " 25 Aconteceu que, indo Pedro a entrar, lhe saiu Cornélio ao encontro e, prostrando-se-lhe aos pés, o adorou.26 Mas Pedro o levantou, dizendo: Ergue-te, que eu também sou homem. " (At. 10:25,26).Conforme a Jezabel do Antigo Testamento, na Igreja Ortodoxa Oriental, chegaram a governar na igreja apóstata imperatrizes, as que por certo foram as mais influentes implantadoras da adoração à imagens, e em Roma, os eclesiásticos eram os ricos, os corrompidos cortesãos, os sábios, os mecenas. O pontífice não se conformou com ser "bispo universal" e cabeça do que eles afirmavam ser a igreja de Jesus Cristo, senão que entra em uma etapa em que afirma ser governador sobre as nações, por cima dos reis e imperadores. Há de se levar muito em conta que esses personagens não necessariamente se convertiam a Cristo de maneira individual, por convicções pessoais e por revelação do Pai, senão por princípios e razões culturais, e como conseqüência seu nome era escrito somente no registro civil. É uma época em que Satanás se oculta atrás de um disfarce, mesclando sutilmente o paganismo babilônico com o cristianismo, usando homens que " se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. " (Mt. 7:15).Com Gregório I, o Grande (590-604), um dos administradores mais capazes do papado romano, se inicia o período de crescimento do poder papal, quem se preocupou pela conversão dos pagãos das nações na Europa, e trazer à fé ortodoxa aos arianos das tribos bárbaras dos godos e visigodos. Era filho de Gordiano, rico senador romano, e Silvia, também da família patrícia e descendente direta do papa Félix IV, a qual foi mais tarde canonizada. Gregório colocou as bases para o poder temporal ou político que o papado romano exerceria na Europa ocidental nas seguintes nove centúrias, e fez os preparativos para fazer do pontificado o virtual governante na província que rodeava Roma, em uma época em que começava o expansionismo da ingerência do papado em política; além disso, Gregório Magno desenvolveu e impulsionou certas doutrinas, como a adoração às imagens e a transubstanciação. A respeito das imagens, é bom conhecer a sutileza empregada por Gregório Magno para introduzir e avalizar este costume reprovado pelas Escrituras. Diz uma parte de uma carta enviada por Gregório a Ciríaco, abad do monastério de São André, nas Gálias: «Em nome de Jesus Cristo, querido irmão nosso, louvamos o zelo que haveis mostrado rompendo as imagens, e aplaudimos que hajais arrojado do templo os ídolos fabricados pelas mãos dos homens, toda vez que usurpam a adoração devida unicamente à Divindade. Isto não obstante, vosso ardor os têm lançado longe; vós, com algumas mutações, devíeis transformar os ídolos em imagens de nossos mártires, e conserva-las em nossos templos. Porque é de se saber que é permitido colocar quadros nas igrejas a fim de que as pessoas simples conheçam os divinos mistérios de uma religião, que não pode estudar nos livros» (Maurício de Chatre. História dos Papas e os Reis. Tomo I, pág. 397. CLIE, 1993). De maneira, pois, que encheu os templos de quadros e ornamentos preciosos, e trouxe o brilho e a pompa nas cerimônias religiosas, chegando inclusive a transigir com as crenças das nações idólatras, introduzindo seus ritos e seus dogmas nos costumes do cristianismo. A respeito dos antigos templos pagãos, vemos uma pequena parte de uma carta dirigida por Gregório a Agostinho, apóstolo da Inglaterra: «Guarda-os muito de destruir estes edifícios; basta romper os ídolos que contém, e purificar seu interior com água benta. Podereis em seguida levantar altares cristãos, e colocar as relíquias debaixo das santas abóbadas. Recorda, também, que é preciso desterrar ao demônio dos monumentos de seu culto, mas sem que se destrua estes últimos; ao conservar-lhes sereis úteis à causa de Deus, pois os pagãos, cujos pés mancham com freqüência os ladrilhos destes templos, chegarão a converter-se, ainda que não seja mais que para orar nos lugares onde estavam costumados a dirigir súplicas aos deuses; e os que tem o costume de imolar vítimas ao inferno, abandonarão seus ímpios sacrifícios pelo esplendor de vossas cerimônias» (Ibid. pág.401). Se interessou pela música litúrgica, compilando-a, fazendo decisivas modificações e ditando o que havia sido escrito em tempos passados, música conhecida até a atualidade como canto gregoriano.Gregório o Grande divulgou a doutrina do purgatório, que havia tomado de Agostinho, ensinando que o purgatório é um estado, um fogo, no qual os cristãos são purgados de seus pecados levianos antes do juízo final.*(2) De acordo com o enfoque doutrinal sobre o batismo em sua época, ensinava que os homens têm que arrependerem-se de pecados cometidos depois do batismo. Assim mesmo ensinava que a contrição dos homens por seus pecados condicionava o perdão de Deus, e que as obras de penitência aliviam e limpam o peso da culpa, livrando da disciplina do purgatório. Introduzido o valor das missas como ajuda pelas almas que estiverem no purgatório. Também ensinou que as missas e a ajuda dos mártires e santos em qualidade de advogados servem para aliviar a disciplina prescrita para os cristãos vivos que se arrependem de seus pecados pós-batismais, invalidando a Palavra de Deus que textualmente diz: " Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, " (1 Tm. 2:5). Estes ensinamentos torcidos do catolicismo romano constituíram as bases para o posterior comércio de indulgências.
*(2) Diz Chàtre a seguinte pérola, na obra citada, pág. 400: «Descobrimento do novo mundo Purgatório. Alimentado pela leitura dos autores latinos, (Gregório) havia aprendido de Virgílio "que as almas humanas se achavam encerradas na prisão obscura do corpo, onde adquiriam uma mancha carnal, conservando um resto de sua corrupção, mesmo depois de emancipar-se de sua existência mundana". O poeta havia dito: "Para purificar-se as faz sofrer vários suplícios: a umas estão suspendidas no éter, e são brinquedos das tempestades; as outras expiam seus crimes no abismo das águas; a chama devora as mais culpáveis, e nenhuma se acha isento de castigo. Existem algumas almas situadas nos Campos Elíseos, onde aguardam que os anos as purifiquem das manchas de sua existência terrestre, e lhes devolvam sua primitiva pureza, essência suprema, emanação divina. Depois de haver cruzado muitos séculos em tão ignorada estância, as almas a deixam, e Deus as chama às margens do Lethe ( um dos cinco rios do Hades na mitilogia grega)". O Purgatório foi conquistado pelo Papa: tem sido a grande América. Em seus diálogos e em seus salmos da penitência, Gregório se expressa nestes termos: "Quando se têm emancipado de sua prisão terrestre, as almas culpáveis são condenadas a suplícios cuja duração é infinita; as que no mundo só tem cometido algumas faltas ligeiras, alcançam a vida eterna depois de haver-se regenerado em chamas purificadoras..." Outro descobrimento fez o sábio Papa: a transubstanciação do paganismo no cristianismo».