A Igreja de Jesus Cristo-Uma Perspectiva Histórico-Profética

A Igreja de Jesus Cristo-Uma Perspectiva Histórico-Profética
Tradução do livro "La Iglesia de Jesucristo, una perspectiva histórico-profética" de Arcadio Sierra Diaz

sábado, 22 de setembro de 2007

Edito de tolerância

APÊNDICE DO CAPÍTULO III - PÉRGAMO
EDITOS IMPERIAISRESPEITO DA SORTE DA IGREJA
EDITO DE MILÃO (EDITO DE TOLERÂNCIA)
(A maneira de carta ao governador da Nicomédia, ano 313)


"Eu, Constantino Augusto, e eu também, Lúcio Augusto, reunidos felizmente em Milão para tratar de todos os problemas que afetam a segurança e o bem estar público, temos crido que nosso dever é tratar junto com os restantes assuntos que, vejamos mereciam nossa primeira atenção para o bem da maioria, tratar, repetimos, daqueles que nos enraíza o respeito da divindade, a fim de conceder tanto aos cristãos como a todos os demais, a escolha de seguir livremente a religião que cada qual queira, de tal modo que toda classe de divindade que habite a morada celeste nos seja propícia a nós e a todos os que estão abaixo de nossa autoridade. Assim pois, temos tomado esta saudável e retíssima determinação de que nada lhe seja negada à facultatividade de seguir livremente a religião que têm escolhido para seu espírito, seja a cristã ou qualquer outra que creia mais conveniente, a fim de que a suprema divindade, a cuja religião rendemos esta livre homenagem, nos preste seus acostumados favores e benevolência. Pelo qual é conveniente que tua excelência saiba que temos decidido anular completamente as disposições que te têm sido enviadas anteriormente a respeito ao nome dos cristãos, já que nos pareciam hostis e pouco próprias de nossa clemência, e permitir de agora em diante a todos os que queiram observar a religião cristã, fazê-lo livremente sem que isto lhes imponha nenhuma classe de inquietude e moléstia.Assim pois, temos crido que é nosso dever dar a conhecer claramente estas decisões a tua solicitude para que saibas que temos outorgado aos cristãos plena e livre facultatividade de praticar sua religião. E ao mesmo tempo que lhes temos concedido isto, tua excelência entenderá que também aos outros cidadãos lhes há sido concedida a facultatividade de observar livre e abertamente a religião que hajam escolhido, como é próprio da paz de nossa época. Nos têm impulsionado a manifestar assim o desejo de não aparecer como responsáveis de minguar, em nada, nenhuma classe de culto nem de religião. E, além disso, pelo que se refere aos cristãos, temos decidido que lhes sejam devolvidos os locais onde antes costumavam se reunir e acerca do qual te foram, anteriormente enviadas instruções concretas, já sejam propriedade de nosso fisco ou hajam sido comprados por particulares, e que os cristãos não tenham que pagar por eles nenhum dinheiro de nenhuma classe de indenização. Os que receberam estes locais como doação devem devolvê-los também imediatamente aos cristãos e, se os que têm comprado ou os que receberam como doação reclamam alguma indenização de nossa benevolência, que se dirijam ao vigário para que em nome de nossa clemência decida acerca dele.Todos estes locais devem ser entregados por intermédio teus e imediatamente sem nenhuma classe de demora à comunidade cristã. E como consta que os cristãos possuam não somente os locais onde se reuniam habitualmente, senão também outros pertencentes a sua comunidade, e não possessão de simples particulares, ordenamos que como fica dito acima, sem nenhuma classe de equívoco nem de oposição, lhes sejam devolvidos a sua comunidade e a suas igrejas, mantendo-se vigente também para estes casos o exposto mais acima, de que os que fizerem esta restituição gratuitamente possam esperar uma indenização de nossa benevolência.Em todo o dito anteriormente deverás prestar o apoio mais eficaz à comunidade dos cristãos, para que nossas ordens sejam cumpridas o mais rápido possível e para que também nisto nossa clemência vele pela tranqüilidade pública. Deste modo, como já temos dito antes, o favor divino que em tantas e tão importantes ocasiões nos têm estado presente, continuará a nosso lado constantemente, para êxito de nossas empresas e para prosperidade do bem público. E para que o contido de nossa generosa lei possa chegar ao conhecimento de todos, convenha que tu a promulgues e a exponha por todas as partes para que todos a conheçam e nada possa ignorar as decisões de nossa benevolência." A esta carta, que foi exposta para conhecimento de todos, acrescentou de palavras vivas recomendações para restabelecer em seu estado primitivo os lugares de reunião. E deste modo desde a ruína da Igreja a seu restabelecimento transcorreram dez anos e ao redor de quatro meses.LACTANCIO: De mortibus persecutorum (c. 318-321)

EDITO DE TESSALÔNICA
(Teodósio, ano 380)

Queremos que todas as gentes que estão subordinadas a nossa clemência sigam a religião que o divino apóstolo Pedro pregou aos romanos e que, perpetuada até nossos dias, é o mais fiel testemunho das pregações do apóstolo, religião que seguem também o papa Damáso e Pedro, bispo de Alexandria, varão de notável santidade, de tal modo que segundo os ensinamentos dos apóstolos e as contidas no Evangelho, cremos na Trindade do Pai, Filho e Espírito Santo, um só Deus e três pessoas com um mesmo poder e majestade. Ordenamos que de acordo com esta lei todas as gentes abracem o nome de cristãos e católicos, declarando que os dementes e insensatos que sustentam a heresia e cujas reuniões não recebem o nome de igrejas, têm de ser castigados primeiro pela justiça divina e depois pela pena que leva inerente o não cumprimento de nosso mandato, mandato que provém da vontade de Deus. CODEX THEODOSIANUS, XVI, 1-2. Edição Th. Momsen. Berlín, 1905

DECRETOS DE TEODÓSIO
(Imperador entre 379-395)


Que nada dedique a menor atenção aos maniqueístas nem aos donatistas, que segundo nossas notícias não cedem em sua loucura. Que haja um só culto católico e um só caminho de salvação e que se adore somente a sagrada Trindade uma e indivisível. E se alguém se atreve a se mesclar com estes grupos proibidos e ilícitos e não respeitar as ordens das inumeráveis e anteriores disposições, e da lei que faz pouco promulgou nossa benevolência, e se reunir com estes grupos rebeldes, não há duvida que têm de ser rapidamente extraídos os dolorosos aguilhões que promovem esta rebelião. CODEX THEODOSIANUS, XVI, 5 (ano 405)
Ordenamos que o edito que nossa clemência dirigiu às províncias africanas acerca da unidade, seja proclamado por todas as restantes para que todos saibam que se há de manter a única e verdadeira fé católica do Deus onipotente no que a reta fé popular crê.CODEX THEODOSIANUS, XVI, 11 (ano 405)
Ordenamos que os donatistas e hereges, aos que nossa paciência têm tolerado até agora, sejam castigados severamente pelas autoridades competentes até o ponto de que as leis os reconheçam pessoas sem facultatividade de declarar ante aos tribunais nem negociar transações nem contratos de nenhuma classe, senão que, como a pessoas marcadas com uma eterna desonra, se lhes afastará da sociedade das pessoas decentes e da comunidade de cidadãos. Ordenamos que os lugares em que esta terrível superstição se há mantido até agora, voltem ao seio da venerável Igreja católica e que seus bispos, presbíteros e toda classe de clérigos e ministros sejam privados de todas suas prerrogativas e sejam conduzidos exilados cada um a uma ilha ou província distinta. E se algum destes fugir para escapar deste castigo e alguém o ocultar, saiba a pessoa que o oculta que seu patrimônio passará ao fisco e que ele sofrerá o castigo imposto àqueles. Vamos impor também multas e perda de patrimônios a homens, mulheres, pessoas particulares e dignidades, a cada qual a multa que lhe pertencer segundo sua categoria. Todo que pertença a ordem procônsular, ou seja, substituto do prefeito do pretório ou pertença à dignidade de centurião da primeira corte, se não se converter à religião católica se verá obrigado a pagar 200 libras de prata que passarão a engrossar os fundos de nosso fisco. E para que não se pense que só com isto uma pessoa pode ver-se livre de toda acusação, ordenamos que pague esta mesma multa todas as vezes que se demonstre e confesse haver voltado a ter tratos e simpatizar com tal comunidade religiosa. E se uma mesma pessoa chegar a ser acusada cinco vezes e as multas não forem suficientes para afastá-la do erro, então se apresentará ante o nosso tribunal para ser julgada com maior rigor; se lhe confiscará a totalidade de seus bens e se verá privada de seu estado jurídico. Nestas mesmas condições fazemos incorrer em responsabilidade aos restantes magistrados, a saber: se um senador, que não esteja protegido externamente por alguma prerrogativa especial de dignidade, é achado na seita dos donatistas, pagará como multa 100 libras de prata, os sacerdotes de províncias se verão obrigados a pagar esta mesma soma, os dez primeiros decuriões*(1) de um município abonarão cinqüenta libras de prata e os restantes dos decuriões dez libras de prata. Estas serão as multas para todos aqueles que preferiram continuar no erro. Os arrendatários de imóveis do Estado, se tolerarem nelas o uso e manejo de coisas ou cerimônias sagradas, se verão obrigados a pagar de multa a quantidade que vêm pagando pelo aluguel do imóvel. Também os enfiteutas*(2) estarão submetidos ao cumprimento desta lei religiosa. Se os arrendatários de pessoas particulares permitirem reuniões nos imóveis ou tolerarem a profanação de cerimônias religiosas, se informará a seus donos destes feitos através dos juizes e os donos poderão, no máximo interesse, se querem ver-se livres do castigo desta ordem em que se emendem, e em caso contrário, se perseveraram no erro, os despedirão e porão na frente de seus Imóveis, administradores que velem pelos sagrados preceitos. E se não se preocupam disto serão multados também na quantidade que vêm recebendo como arrendamento dos Imóveis, de tal modo que o que podia engrossar suas ganâncias passará a aumentar os fundos do sagrado erário público. Os servidores de juizes vacilantes na fé, se forem achados neste erro pagarão de multa trinta libras de prata e se, multados por cinco vezes, não quiseram apartar-se deste erro, depois de serem açoitados serão feitos escravos e mandados ao exílio. Aos escravos e colonos um severo castigo os afastará de tais atos de audácia. Mas se depois de castigados com açoites persistirem em seu propósito, terão que pagar como multa a terceira parte de seu pecúlio. E todo o que se possa reunir das multas desta classe de homens e destes lugares, passará em seguida a engrossar os fundos para a distribuição de donativos com destino religioso.
CODEX THEODOSIANUS, XV, 5,5 (ano 425)
*(1) Os decuriões aqui eram os que governavam nas colônias ou municípios romanos, a modo dos senadores de Roma.
*(2) Enfiteutas eram as pessoas a quem se lhes cediam mediante contrato o domínio útil de um terreno, rústico ou urbano, mediante o pagamento de um cânon.

III- Pérgamo ( 3ª Parte )

Capítulo III
P É R G A M O
(3a parte)

Jerônimo Sofrônio, Eusébio (340-420). Nascido em Estridon, perto de Aquiléia (noroeste da Itália), de pais cristãos, dos chamados pais latinos, considera-se que foi o mais erudito. Estudou em Roma literatura (grego e latim), retórica e oratória, mas preferiu a vida monástica, próximo ao ascetismo, vivendo, entre outros lugares, por muitos anos em um monastério que estabeleceu em Belém, no entanto, não foi um homem humilde, pois se distinguiu por ser intolerante com seus críticos. Por muito que se esforçava, o temperamento de Jerônimo não estava formado para a vida de ermitão. Quando era jovem, com Rufino de Aquiléia, aos domingos costumava traduzir as inscrições cristãs nas catacumbas. Viajou às Gálias relacionando-se com os monges de Tréveris; Quando voltou permaneceu um tempo com um grupo de ascéticos e aprendeu hebreu, se aperfeiçoou no grego, para logo ir a Antioquía, onde foi ordenado presbítero, e Constantinopla na época do concílio ecumênico do ano 381, onde parece ter estudado com Gregório Nazianzo e Gregório de Nissa. De volta a Roma chegou a ser secretário do bispo Damaso, quem lhe sugeriu a tradução da Bíblia, tarefa que mais tarde praticou em Belém. Sua obra mais conhecida é a Vulgata Latina, versão da Bíblia dos originais hebreu e grego (sem usar a Septuaginta) no latim popular, que é a mesma Bíblia oficial do sistema católico romano. Para desenvolver este trabalho usou a hexápla de Orígenes, e se negou a incluir os livros apócrifos no cânon, e os traduziu colocando uma nota declarando que não os havia encontrado entre os livros sagrados hebreus, declarando que suas traduções foram feitas só para servir como leitura edificante e informação histórica. A versão da Vulgata não é fiel em numerosas passagens devido ao fato que Jerônimo ignorava muitos dos códices e manuscritos que foram descobertos posteriormente, e traduziu em algumas partes, mudando totalmente o original. Tomou parte em controvérsias teológicas relacionadas com Vigilâncio, Orígenes, Pelágio, Joviniano, seu antigo amigo Rufino e até com Agostinho de Hipo. Além da Vulgata, Jerônimo escreveu muitas cartas, escritos históricos, obras polêmicas e comentários bíblicos, assim como escritos biográficos, como a Vida de São Paulo o Ermitão. Também escreveu Viris Ilustris (Varões ilustres). Deve se ter em conta que a hagiografia é o estilo de biografia que tenta representar à pessoa como um herói da fé. Morreu em Belém, ali onde havia passado os últimos trinta e quatro anos de sua vida.

João Crisóstomo (345-407), chamado por sua grande eloqüência a boca de ouro. Nasceu em Antioquia de pais fervorosamente cristãos. Sua hábil oratória talvez se deva a que em um princípio se preparava para a carreira de advogado, pois adiantou estudos de filosofia e retórica com o célebre professor pagão Libanius e também com Diodoro de Tarso. Foi batizado ao redor dos vinte e cinco anos, chegando a ser frade, pois antes que bispo foi um monge. Mais tarde, ao ser ordenado, se destacou como um grande pregador ardente e eloqüente, a tal ponto que a pedido do mesmo imperador foi feito bispo de Constantinopla em 398. Na oratória era um gigante por cima dos gigantes. Desde ali enviou missionários às terras dos bárbaros, mas foi desterrado por haver combatido, desde o púlpito da basílica de Santa Sofía, o vício entre o clero e o laicato rico, por seu zelo transformador, fidelidade e independência, que causaram choques com a imperatriz Eudóxia, esposa do imperador Arcádio.Se destacou também por sustentar o meio mais eficaz de influir na conversão dos demais era dando exemplo de uma autêntica vida cristã. Na oratória expressava oralmente sua própria vida, sendo o púlpito o melhor lugar onde batalhava contra os poderes do mal. "Não havia mais pagãos, se nós fossemos verdadeiros cristãos", costumava dizer. Dele se conta que empreendeu a destruição dos templos pagãos em Alexandria aos finais do século quarto, pois se conta que suas célebres homilias das "estátuas" foram causa de grandes ações iconoclastas ( aquele que destrói imagens). Nessa cidade também converteu ao Serapeo (grande santuário de Serapis) em templo cristão. Influenciado pelas idéias pelagianas, João Crisóstomo insistia em que os homens podem escolher o bem, e ao fazê-lo, a graça de Deus vem em sua ajuda a fim de fortalecê-lo para fazer a vontade de Deus. Morreu no exílio em 407 o homem que falava palavras de ouro, porque falava o que era de Deus.

Agostinho de Hipo. Nasceu em Tagaste, pequena cidade romana de Numídia (hoje Argélia), África do Norte (354-430), de mãe cristã (Mônica) e pai pagão. Entre os dados biográficos queremos ressaltar que sendo jovem, Agostinho recebeu instrução cristã abaixo da influência de sua devota mãe, sem que chegasse a se batizar, foi dito a ele que pela mencionada crença entre seus contemporâneos de que o batismo lavava os pecados cometidos antes de ser administrado. Pela leitura de Hortensius, de Cícero, o famoso orador da era clássica romana, Agostinho foi atraído pela filosofia e o pensamento helenístico em general, especialmente pelo neoplatonismo e a influência do epicúreo, céptico e eclético, mas na filosofia não encontrou a resposta aos grandes problemas da existência e aos interrogantes da vida.Fiel a suas idéias lógicas e racionalistas se decidiu então pelo maniqueísmo, movimento que lhe apresentava uma explicação da dicotomia do mal e do bem, do que também se separou, pois tampouco lhe satisfizeram suas inquietudes intelectuais. Exerceu como mestre de retórica em Cartago, Roma e eventualmente em Milão, onde conheceu e foi influenciado por Ambrósio, bispo da cidade. A princípio se interessou em escutar a Ambrósio só por motivos didáticos, mas pouco a pouco além do estilo e a retórica, Agostinho foi se interessando pelo contido dos sermões. Foi encontrando as respostas que não havia visto na filosofia helenística nem no maniqueísmo, e determinou estudar de novo a Bíblia. Mas Agostinho continuava com a mesma impotência para controlar seus impulsos da carne, que o haviam caracterizado desde sua adolescência, época em que, antes de que completasse os dezoito anos, em Cartago uma concubina lhe deu um filho, a quem chamou Adeodato, que significa, "dado por Deus". Um dia Agostinho se afastou do grupo de seus jovens amigos a um recanto de um agradável jardim, outros dizem que o certo era que estava esperando uma mulher casada, e achando-se em uma luta de consciência, lhe pareceu escutar uma doce voz que lhe dizia: "Toma, lê", vendo frente a si um exemplar da epístola de Paulo aos Romanos, “Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes;
14 mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências.” (Ro. 13:13-14).Tudo isto foi precipitando sua conversão, e o dia 25 de abril de 387, ele e Adeodato foram batizados por Ambrósio. Uma vez superados os conflitos da carne, Agostinho manifestava que lhe persistia o problema do orgulho, mas regressando a África se aplicou no estudo da Bíblia e chegou a ser um escritor prodígio, deixando uma obra literária de quase cem livros. Foi bispo em Hipo desde o ano 395 até sua morte em 430. Há consenso em que depois de Paulo, foi o cristão de maior, mais profunda e prolongada influência sobre o cristianismo de Europa ocidental, em especial por haver sido um ubérrimo escritor que enriqueceu a Igreja, particularmente no ocidente, com esse grande depósito que havia recebido dos aportes das escolas de Alexandria, Antioquía, e outras, mesmo que padeceu de alguns erros, fruto de sua formação helenística.Agostinho sustentava que no princípio os anjos e homens foram criados racionais e livres e que antes da queda não existia mal em nenhuma parte da criação, rebelando-se contra o princípio mal dos maniqueístas. Agostinho sustentava que a capacidade para a livre eleição racional é simultaneamente um dom de Deus destinado para o bem do homem, como também seu maior perigo, e o tinha como a qualidade mais elevada do homem. Por seu fundo neoplatônico, sustentava a crença que as criaturas dotadas de livre arbítrio racional (anjos e homens) podem existir sem serem malvados, mesmo só eles podem ser malvados; e que Adão, empregando essa capacidade de livre eleição racional, caiu em pecado e passou o mal a toda a raça humana.Ensinava a si mesmo que a raiz do pecado humano é o orgulho, o amor próprio, o desejo da criatura de colocar-se no centro, desprezando ao Criador, o querer fazer sua própria vontade em vez da de Deus. E cria, além disso, que depois da queda o homem é totalmente incapaz de levantar-se de sua degradação por seu próprio esforço. O homem se concentra tanto em si mesmo, que é incapaz de escolher a Deus, e que só podemos ser resgatados mediante um segundo nascimento, mediante um novo pacto de Deus. Agora, embaixo do cativeiro do pecado e da morte, a liberdade só pode vir pela graça de Deus, a qual estava em Cristo, plenamente Deus e plenamente homem; o segundo Adão, com o qual Deus começou de novo, mas equiparava os sacramentos com a Palavra, como meios para alcançar a graça, ainda que afirma que a mera participação nos sacramentos não nos faz membros da verdadeira igreja. Mas se inclinou pelo batismo das crianças, dizendo que se em Adão todos temos pecado, as crianças nascem merecedores do inferno e perecem se não são batizados. Tomava Agostinho o ato sexual como transmissor do pecado original, por quanto acarreta concupiscência, que para ele era a essência do pecado original. Foi tão profunda a influência exercida por Agostinho na Igreja, que se pode dizer que durou cerca de mil anos, tempo em que era obrigada a consulta por todos os estudiosos de teologia. Escreveu sobre teologia cristã englobando diversos temas como a hermenêutica, a exegese, história, filosofia, etc.., e seus escritos foram citados constantemente pelos reformadores para defender a doutrina da graça e a segurança da salvação. Agostinho, citando a São Paulo, afirmava a predestinação, convencido de que todos os homens ao participar do pecado de Adão merecem o juízo, mas Deus pelo puro afeto de sua vontade, e para louvor da glória de sua graça, resolveu predestinar a alguns para salvação, sem ter haver com méritos humanos; que o número dos predestinados é fixo, e todo o que é predestinado se salva. De acordo com Agostinho, a graça é efeito da predestinação, mas não será que a predestinação é produto da graça? Calvino, Lutero e outros reformadores costumavam cita-lo constantemente. Entre os livros mais famosos e lidos deste gênio do cristianismo, relacionamos: * Confissões, obra autobiográfica, um comovedor e profundo registro das lutas e as peregrinações da alma humana. Nesta obra interpreta seu passado desde a morte de sua mãe Mônica, e onde sem consideração se acusa a si mesmo, e onde usa uma filosofia cheia de controvérsias, sobre tudo contra os maniqueístas. * De Civitate Dei (A Cidade de Deus), obra escrita no ano 412 e que consta de 22 livros, a maneira de uma interpretação filosófica da história e de todo o drama humano. Provocado Agostinho pelo saqueio de Roma por parte de Alarico e seus godos em 410.
Todavia existia um forte número de pagãos no território imperial, esta obra era uma contestação em seu momento aos que acusavam ao cristianismo como responsável da queda de Roma nas mãos dos bárbaros, e de ser culpáveis de debilitar a antiga força do Império Romano. Que Roma havia caído por haver abraçado ao cristianismo e haver abandonado os antigos deuses que a haviam engrandecido e a enchido de poder.
Na trama do livro, Agostinho contrasta a história paralela de duas cidades, cuja construção se baseia nos princípios opostos. A cidade de Deus, fundada sobre o amor de Deus, e uma oposta, a cidade terrena fundada sobre o amor a si mesmo, e que entre ambas há uma guerra sem quartel. Na história da humanidade aparecem reinos e nações fundados sobre o amor a si mesmo, e que não são senão expressões da cidade do mundo, até que chegue o tempo em que sucumbam, só subsista ao final a cidade de Deus. Isso ocorreu a Roma em sua oportunidade. Na história paralela se aprecia o contraste em Abel e Caim, Jacó e Esaú, Jerusalém e Babilônia, a Igreja e o Império Romano. Resulta supremamente interessante fazer alguns comentários sobre esta obra. Temos estado analisando neste capítulo esse período matrimonial da Igreja com o Estado, chamado Pérgamo. Os gregos consideravam a história como uma série interminável de ciclos repetitivos, e em contraste, Agostinho, com base escrituraria, sustentava que a história teve seu princípio e terá seu fim. Seus contemporâneos contemplavam a queda de Roma com profunda angústia, pois viam no Império Romano e seu "divino" governante como o sustentador da unidade social. Por contraste, Agostinho visava essa carnificina com esperança, no convencimento de que o domínio secular havia de ser recomeçado por uma melhor ordem das coisas, estabelecido por Deus. Nesta linha de pensamento meditava Agostinho arrancando desde o Gênesis, e via a cidade terrena tipificada por Caim e a celestial por Abel, como o que a Palavra de Deus designa como a luta entre as duas sementes, a da mulher, Cristo, e a da serpente, Satanás. De acordo com Agostinho, a cidade terrena foi construída com base no egoísmo e o orgulho, e a celestial é dominada pelo amor de Deus, o qual desterra todo egoísmo. Agostinho Considera que a cidade terrena não é mal de todo, por quanto Babilônia e Roma, suas representantes por excelência, mesmo que com governos que cuidando de seus próprios interesses, haviam trazido paz e ordem. Em Quanto à celestial, que neste aspecto se confundem com o reino de Deus, os homens entram nele aqui e agora, pois está representada eventualmente pela Igreja, o Corpo de Cristo, mesmo que Agostinho visava melhor o ponto de vista da organização visível da Igreja em seu tempo, por quanto ele apresentava que a cidade terrena tendia a decair a medida que cresceria a celestial. Seguramente que alguns destes pontos de vista foram em sua oportunidade mal interpretados com conseqüências desastrosas. * Da Trindade* Contra acadêmicos.* De Beata Vita (Da vida feliz).* Soliloquia ( monólogo).* Inmortalitate animæ (Da Imortalidade da alma).* De Genesi (De Gênesis).* Contra Manichæos (Contra os maniqueístas).* De libero arbitrio (Do livre arbítrio). Obra na que contradiz aos maniqueístas e sai em defesa do livre arbítrio.* De vera religione (Da verdadeira religião).* Obras anti-pelagianas e as anti-donatistas. Durante a época de seu pastorado, Agostinho enfrentou com habilidade aos donatistas como aos pelagianos.Conforme a época histórica que lhe tocou em graça viver, Agostinho conservou um moderado lugar intermediário entre o bando que se misturou totalmente com o Estado e sua influência pagã, e o outro extremo dos que optaram por retirar-se ao deserto e à vida ascética.Com Agostinho se inicia una nova orientação doutrinal, tendente à subordinação da Igreja ao poder temporal. De acordo com os propósitos de Deus, o homem necessita reconciliar-se com Ele através da justificação pela obra de Jesus Cristo. Agostinho orienta sua teologia de tal maneira que passa sem transição da idéia paulina de justificação à jurídica da justiça, e isto encerra a idéia de realizar justiça orientada à justificação. Esta orientação filosófica das doutrinas paulinas admitiu que legitimamente a sociedade organizada tinha direito de exigir a obediência do cristão, alegando sua origem divino e por estar regida pela providência. Com base nestas explicações, seus discípulos terminaram por absorver o Estado na Igreja. Mais tarde se veriam os abusos, e sairia a palestra da teoria das duas espadas, a espada do poder temporal e a do poder espiritual, do papa Gelásio (492-96), afirmando a superioridade pontifícia, seguido pelo trânsito as teses do agostinismo político defendido por Gregório Magno (590-604). A nova igreja ia pouco a pouco construindo uma torre mais alta, mas na confusão terrena. A igreja apóstata reclamaria definitivamente o direito de governar tanto na esfera religiosa como na política.

Heresias em Pérgamo

Desde seus primeiros dias, a Igreja havia sido cenário de controvérsias teológicas, como as dos judaizantes, os gnósticos e outras doutrinas semelhantes. Mais tarde, nos tempos de Cipriano, o bispo de Cártago, a questão da restauração dos apóstatas. Depois de promulgado o Edito de Tolerância, se propagaram novas idéias que perturbavam as igrejas cristãs, e se desenvolviam as iniciadas nos períodos anteriores. Ao largo da presente obra fazemos ênfases na influência do neoplatonismo sobre a cristalização das doutrinas cristãs, a qual enfatizava ao espírito as custas do sofrimento carne. Ai temos, por exemplo, o monofisismo, doutrina que menosprezava o elemento humano em Cristo, mas que teve mais aceitação no oriente que no ocidente. Os monofisitas diziam que Cristo só tinha uma só natureza, a divina. Uma das principais heresias desenvolvidas na época foi o arianismo; e disse Eusébio de Cesaréia, em sua obra História Eclesiástica, que ao imperador Constantino lhe interessava um cristianismo unido, pois qualquer cisma ameaçaria a unidade do Império. E impulsionou a convocação a um Concílio em Nicéia (325) para solucionar o problema do arianismo, e esmagar as inerentes diferenças de opinião, e em conseqüência foi aprovado o chamado Credo de Nicéia, que constitui uma confissão de fé cristológica. De acordo com o espírito da época, quem não aceitava as decisões do Concilio, foram desterrados, porque a diferença dos períodos anteriores, nos quais se descobria a verdade mediante o debate teológico e a autoridade da Palavra de Deus, já em tempos da Igreja comprometida com o Estado, era a autoridade imperial e a intriga política a que definia, em última instância, esta classe de controvérsias.

Donato e o donatismo. Como se havia dado no século III com Novaciano com motivo de certas práticas morais vistas como rejeitadas na Igreja e pelo tratamento benigno dado aos que haviam negado a fé em tempos de perseguições. Nos começos do IV surge uma reação cismática depois da perseguição iniciada com Diocleciano, e que toma seu nome de Donato de Casa Negra, nativo em Numídia (norte de África) e pastor em Cártago em 305, mas que esteve encarcerado por seis anos durante essa perseguição. Registram-se outras causas de origem político, social e econômico na região da África proconsular e Numídia para que acontecesse o cisma donatista, mas para nosso propósito no presente trabalho só citaremos o seguinte. Em Cártago simultaneamente foram consagrados dois bispos, mas os seguidores de Donato não reconheciam a Ceciliano por haver sido consagrado por três bispos indignos, pois haviam chegado a entregar as Escrituras às autoridades imperiais para sua destruição nos tempos de perseguição. O bispado de Donato foi considerado ilegítimo por usurpador por Constantino e pelos bispos das cidades importantes, entre eles o de Roma.Por outro lado, entre os que não estiveram de acordo com o giro dado pela Igreja a raiz da política e do Império que a manipulava, uns optaram por ir como ermitãos ao deserto, mas outros como os donatistas, insistiam na pureza da Igreja, proclamando sua separação do Estado. Ao não dar-se a essa separação, se protocolizou o cisma, e chegou o momento em que chegaram os donatistas a ter uns 276 bispos. Levemos em conta que os primeiros donatistas não se opunham necessariamente ao Império em quanto império, senão em quanto "mundo", e não vieram a desaparecer completamente, pelo menos até o século VII, pelo avanço do islamismo no norte da África. Agostinho de Hipona teve sérios enfrentamentos com os donatistas, pois estes enfatizavam muito a santidade e a necessidade de que o sacerdote fosse uma pessoa santa, insistindo que um sacerdote indigno não pode celebrar o sacramento, pois não pode dar o que não tem. Frente a isso, Agostinho sustentava que a eficácia do sacramento não depende da condição moral de quem o administra, senão do dom de Deus. O ministro não dá de si mesmo, senão o de Deus. Claro que o ministro de Cristo deve refletir a Cristo.

Ário e o arianismo. Ário, um presbítero da igreja de Alexandria, e que anteriormente havia vindo das desenvolvidas igrejas do Norte da África. Ao redor do ano 318, foi o iniciador da heresia que leva seu nome ao pregar que Cristo, ainda que superior à natureza humana, havia sido criado, negando, pois, sua eternidade, sua igualdade e unidade com o Pai e o Espírito Santo, tal como o haviam ensinado os apóstolos, e em particular João. Esta controvérsia se estendeu por todas as igrejas. No começo Ário gozou do respaldo da parte de influentes teólogos e dirigentes da Igreja, mas alguns, depois de profundos estudos, e de que o Concílio de Nicéia, em Bitínia, em 325, aprovara a doutrina reta de conformidade com o Novo Testamento, se decidiram pela ortodoxia; entre eles se conta a Eusébio de Cesaréia, historiador eclesiástico, em cujos escritos deixou consignada parte destas datas. Outros foram Ósio, o bispo de Córdoba e Eusébio de Nicomédia, antigo companheiro de Ário. As raízes do arianismo se remontam à época em que mestres da estatura de Justino Mártir, Clemente de Alexandria, Orígenes e Tertuliano apelavam a pequenos postulados da filosofia grega para explicar a existência de Deus, e mostrar a compatibilidade da fé e a filosofia, e de passo despersonificando a Deus, pois um Deus imutável, impassível e estático -segundo a filosofia grega- não podia ser pessoal; originando a si conflitos em quanto ao enfoque da doutrina do Logos o Verbo de Deus, que já aparecia personificado, pois se podia falar. Daqui que o ponto crucial da controvérsia com o arianismo era, o Verbo é coeterno com o Pai ou não? Então estava em jogo a divindade do Verbo. Ário sustentava que o Verbo, ainda antes da criação, havia sido criado por Deus, contrário às Escrituras que afirmam que o Verbo é coeterno e da mesma sustância divina do Pai, sendo um com o Pai e o Espírito Santo, pois o Verbo é Jesus Cristo, e Jesus Cristo é Deus. O arianismo se encaminhava a opor-se ao conceito de um Deus Trino. Ário havia sido desautorizado inicialmente por um sínodo de cem bispos convocados por Alexandre, bispo de Alexandria, seu primeiro oponente; e devido a sua persistência e ante um problema de profundas raízes e sérias controvérsias, intervindo o imperador Constantino e o concilio de uns 318 bispos reunidos em Nicéia, sendo assim condenado o arianismo e Ário foi desterrado pelo imperador. Mas tarde foi perdoado graças a Eusébio de Nicomédia, e morreu quando se dispôs a entrar em Constantinopla. De seus escritos não restou senão duas cartas dirigidas a Eusébio de Nicomédia e a Alexandre de Alexandria, como também fragmentos de sua popular obra Talia. O principal opositor do arianismo foi Atanásio de Alexandria, quem com sua eloqüência e conhecimento teológico afirmava e defendia a unidade do Pai com o Filho, a deidade de Cristo e sua existência eterna, Gerado e não criado, e da mesma natureza, sustância, do Pai. Nos tempos do Concilio de Nicéia Atanásio era só um diácono, e tinha voz, mas não voto; e apesar desse inconveniente logrou que o Concílio, mediante a promulgação do credo niceno condenasse os ensinamentos de Ário. Mas Ário gozava de muito poder e influência política entre as classes mais elevadas, quem o respaldava incluso Constâncio, o filho e sucessor de Constantino. Os arianos convocavam sínodos, se fortaleciam e voltavam os ortodoxos a condenar o arianismo, de tal modo que cinco vezes foi Atanásio enviado ao desterro. Alguma vez um amigo lhe disse: Atanásio, tens a todo o mundo contra você; ele lhe contestou: "Athanasius contra mundum" (Pois, Atanásio contra o mundo). O imperador Teodosio publicou um edito no ano 380 em favor da fé ortodoxa e perseguiu aos arianos, decaindo assim esta heresia no Império. Nos tempos modernos o arianismo tem feito aparição nos chamados "Testemunhas de Jeová".
Apolinário e o apolinarismo. Apolinário (310-390) bispo de Laodicéia, estimulou a controvérsia sobre a natureza de Cristo, afirmando que Cristo não podia ter duas naturezas, a divina e a humana, completas e contrárias, pois a divina era eterna, invariável, perfeita, e pelo contrário, a humana era temporal, finita, imperfeita e corruptível. Afirmava que o homem está formado de alma, corpo e razão; sustentava que se Cristo houvesse tido as duas naturezas, se houvesse tido em si dois seres, com a parte humana poderia ter praticado algum pecado. Curiosamente, Jesus tinha corpo e alma humanas, mas se diferenciava do resto dos seres humanos em que o Logos divino substituiu ao intelecto humano, resolvendo dessa maneira a relação entre o divino e o humano em Jesus.Apolinário estava convencido de haver resolvido um dos mistérios ou enigmas mais irresolúveis, e de haver permanecido fiel à ortodoxia nicena. Apolinário pertencia à escola de Alexandria, a qual havia recebido mais a influência neoplatônica, a diferença da escola de Antioquía, que se inclinava mais ao estudo da história da vida de Cristo, e era afetada pelo pensamento aristotélico. O apolinarismo foi condenado no Concílio de Constantinopla (381), e um dos principais argumentos contra Apolinário foi que Cristo não havia podido redimir àquilo que ele mesmo não possuía, como a mente humana, cabe dizer, se não houvesse sido, além de Deus, verdadeiro homem. Os capadócios se apresentaram em oposição a Apolinário. Gregório Nazianzeno sustentava que para que Cristo pudesse salvar todos os homens, era necessário que tivesse todos os elementos da natureza humana.
Pelágio e o pelagianismo. Pelágio, monge oriundo da Britânia chegou a Roma no ano 410, sustentava que o homem não herda suas tendências pecaminosas de Adão, negando que a depravação fosse inata no homem, senão que cada um escolhe já seja o pecado ou a justiça, acrescentando que cada vontade humana é livre para escolher entre a virtude e o vicio e que Deus deu ao homem a capacidade de obedecer a seus mandamentos; afirmando a si mesmo que o coração humano não se inclina nem ao bem nem ao mal, e cada qual é responsável de suas decisões, e chegou até ao extremo de afirmar que alguns antes de Cristo haviam sido isentos de pecado, por usar seu livre arbítrio. Pelágio era um laico de certa erudição, vida austera e não isenta de ascetismo, e aparentemente escandalizado pela moral dissoluta do meio social romano, os tratava de persuadir, dizendo-lhes que se eles realmente quiserem, podiam guardar os mandamentos de Deus. Entre os que ganhou estava o jovem advogado Celestio, que foi mais longe que seu mestre na expressão de seus desatinos.De acordo com a doutrina pelagiana, a queda de Adão não afetou ao gênero humano. Então o efeito venenoso de Pelágio vai dirigido a desprestigiar a obra de Jesus Cristo, ao afirmar que a finalidade da encarnação do Senhor Jesus Cristo não foi senão ajudar aos homens com seu exemplo e ensinamentos a ser bons e a salvar-se, descartando a redenção por meio de Seu sacrifício na cruz. A si mesmo Pelágio aplicou a idéia de que é necessário batizar-se para a salvação, acrescentando outra heresia anti-bíblica como as demais, de que as crianças que morrem sem se batizar não gozam do mesmo grado de glória que aqueles que têm sido batizados, desconhecendo o propósito e o significado do batismo, e a verdade bíblica de que o reino dos céus é das crianças, mas por contraste os pelagianos negavam "o pecado original". Estas séries de heresias do pelagianismo foram tomando força na cristandade, tanto no sistema católico romano como fora dele, como nas escolas de teologia modernista. Há de se levar em conta que no ano 416, vários sínodos reunidos em Cártago, Mileve (Numídia) e Roma tomaram ação contra esta heresia, mas Zósimo, bispo de Roma (se encontra na lista dos chamados papas) tomou partido a favor de Pelágio e Celestio, e tomou a determinação de condena-los só quando o imperador Honório os desterrou (418). Grande oponente desta corrente doutrinal de Pelágio e seu associado Celestio, foi Agostinho de Hipona, o homem que influiu mais no cristianismo depois do apóstolo Paulo, quem apoiou o ponto de vista bíblico de que Adão representava a toda a raça humana, em cujo pecado se viu involucrada toda a humanidade, e em conseqüência todo gênero humano é considerado culpável. Agostinho compartilhava a si mesmo a asseveração bíblica de que o homem por sua própria eleição não pode eleger a salvação, senão que estava dependente da vontade de Deus, que nos há escolhido desde antes da fundação do mundo para sermos salvos. Em 418, o Concílio de Cártago condenou as idéias pelagianas. A ortodoxia teológica de Agostinho veio a ser normativa na Igreja, e não foi senão até ao redor do ano 1600, em que com Armínio na Holanda, e mais tarde com John Wesley, surgiu outra escola de pensamento em relação com a salvação, afastada da doutrina agostiniana. Tenha-se em conta que depois da morte de Agostinho, a teologia tomou rumo por uma linha considerada como semi-pelagianismo, que teve como resultado que na idade média se seguira mantendo a ênfase na graça de Deus, mas mesclada com o livre arbítrio e a necessidade do homem de cooperar com a graça. E isso se deve em parte ao ponto de vista agostino acerca da liberdade da vontade humana e sua implícita responsabilidade ante a salvação, o qual levou a certos mal entendidos a respeito da predestinação.
Nestório e o nestorianismo (morreu em 451). Filho de pais Persas. Presbítero e frade de Antioquía, que em 428 foi chamado desde seu monastério pelo imperador do Oriente Teodosio II a ser bispo de Constantinopla. Atacou os resíduos dos arianos e nas disputas ao redor da cristologia e em particular da encarnação, criado no meio teológico de Antioquía, se opôs a que a virgem Maria fosse chamada mãe de Deus (Theotokos), preferindo a de mãe de Cristo (Christotokos), dizendo que Maria havia sido só mãe do corpo de Jesus. Se lhe opôs Cirilo, bispo de Alexandria, acusando-o de rebaixar o conceito da divindade do Senhor. A controvérsia circulou no princípio por meio de cartas, logo levado o caso ante o bispo de Roma, foi condenado em assembléia em Roma e Alexandria em 430, e por último no Concílio de Éfeso em 431. E exilou por ordem do imperador a seu convento de Antioquía e mais tarde o grande Oásis do deserto do Egito, onde morreu, derrotado, enfraquecido, depois de sofrer a mingua grande angústia física e mental. Esta controvérsia cristológica foi definida no concílio de Calcedônia. Nestório se opôs à idéia de que o Logos divino pudesse ser envolto em sofrimento e debilidade humana, pois o erro cristológico do nestorianismo consistia em que eles sustentavam que Jesus não havia sido só um homem, que o divino e o humano em Cristo realmente formavam Nele dois seres ou pessoas distintas; ensinando que quem foi concebido e nasceu de Maria foi só um homem, ao qual se uniu voluntariamente outro ser, o Logos de Deus, de tal maneira que Nestório ensinava que Cristo, o Logos era uma pessoa, a divina, e Jesus outra pessoa, a humana, contrariamente à opinião da maioria, que sustentavam que havia em Cristo duas naturezas coexistentes, a divina em quanto Verbo de Deus e a humana por quanto se fez carne, assumindo a natureza humana desde o ventre de Maria, em uma só pessoa (prosopon) e uma substância (hypostasis).A Palavra de Deus declara com clareza que Jesus é o Cristo, uma mesma pessoa.
" quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho. " (1 Jo. 2:22). Nestório ensinava que sobre o homem Jesus descendeu o Logos; mas a Palavra de Deus afirma que "o Logos se fez carne", e que foi "feito semelhante aos homens", como diz Filipenses 2:7. A Bíblia não diz que Cristo descendeu sobre uma carne, senão que se fez carne Ele mesmo.

O maná escondido

" Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca, e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe. " (v.17).O que está dizendo o Espírito às igrejas que quer que se ouça? Ele quer que sua Igreja se arrependa e se levante de sua queda. Nesta terra tem seu trono Satanás, o príncipe deste mundo; e o Senhor quer que Sua Igreja, em vez de morar nesta terra, se aparte do mundo, se desligue dos poderes políticos. Mas como a Igreja foi infiel, se casando com o mundo, e não quis dar o passo de voltar às fontes primordiais, então o Senhor se dirige aos crentes individuais a que sejam vencedores; que vençam e se oponham aos enredos satânicos, com seu ensinamento de idolatria e fornicação; que sejam vencedores sobre os que praticam a doutrina de Balaão, guiando aos filhos de Deus à contemporização com o mundo e usando os meios eclesiásticos para “crescer” em proveito próprio; que vençam sobre os que têm rompido a igualdade na Igreja e têm dividido os filhos de Deus em clérigos e laicos com seus ensinamentos da hierarquia; que vençam voltando a Jesus Cristo, o filho de Deus, e o conheçam e lhe obedeçam e tenham plena comunhão no Corpo com o Pai, com o filho e com o Espírito Santo. Na carta à igreja em Pérgamo estão registradas duas promessas para os vencedores. Uma dessas promessas é a do maná escondido que lhes dará o mesmo Senhor. O que é o maná escondido? O maná que os israelitas comeram no deserto era um pão visível e gratuito que o Senhor lhes dava do alto, o qual era um protótipo de Cristo, o verdadeiro pão que desceu do céu. Diz João 6:49-51: " 49 Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram.50 Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça.51 Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne. ".E na tipologia do maná veterotestamentario, além disso do maná visível que o povo comia no deserto, houve um maná escondido e que permaneceu em uma vasilha de ouro dentro da arca, no Lugar Santíssimo do templo de Jerusalém, a onde só tinham acesso os da família sacerdotal (Êxodo 16:32-34; Hebreus 9:4). Se no deserto os israelitas recolhiam mais de um gômer por pessoa diário com o fim de guardar, o que guardavam apodrecia, caía vermes e fedia; em contrapartida a porção que haviam guardado em uma vasilha dentro da Arca do Testemunho, essa não apodrecia, era incorruptível, de maneira que esse maná escondido é símbolo de Cristo. Na Igreja todos os crentes têm recebido a salvação e se alimentam de Cristo, mas somente os vencedores da degradação da igreja mundana tenham o privilégio de participar na comida desta parte escondida do Senhor Jesus, não conhecida por todos. Uns buscam o mundo, mas os vencedores não se contaminam com as ofertas mundanas e buscam se alimentar de Cristo, a presença do Senhor no Lugar Santíssimo, uma profunda intimidade com Ele.A outra promessa para os vencedores da igreja em Pérgamo e para todos os que queiram ouvir e vencer, é uma pedrinha branca com um nome escrito, que ninguém conhece, senão a pessoa que o recebe. Agora somos vasos de barro usados por Deus, pois de barro foi feito o homem no Édem, mas na regeneração temos recebido a natureza divina; de barro temos sido convertidos em pedras, é como dizer, em material para a edificação da casa de Deus; e de pedras podemos ser transformados em diamantes (pedras brancas), com um nome novo porque isso designa que já somos pessoas transformadas, novas. Se comemos do maná escondido, somos transformados em pedras brancas. Também se deve ter em conta que nos tempos em que foi escrita esta carta, nas votações, como se usa papel, eles usavam uma pedrinha branca na qual se escrevia o nome do candidato a eleger. Significará isto que o Senhor escolhe o vencedor para algo em especial, significando que ele que está satisfeito com o vencedor?Além disto, Apocalipse 19:12b-13 diz: " tem um nome escrito que ninguém conhece, senão ele mesmo.13 Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus; ". Não é fácil sair vitorioso de um meio tão contaminado, onde a maioria dos crentes tem por verdadeiro e bíblico o participar e comer das coisas sacrificadas aos ídolos, ou comercializar as coisas sagradas e pregar por lucro humano, mesmo a custo de induzir ao povo de Deus a pecar. Se te opões a tudo isso, te expões a que te recusem e te excomunguem por herege. Mas a edificação é de Deus, e Ele te converte em uma pedra branca desse edifício quando tu desfrutas de Cristo como tua provisão de vida.

Transição entre Pérgamo e Tiatira.

Há quem defende a opinião de que aqui também Deus converteu este mal em bem, desde o ponto de vista de que a autoridade e o poder imperial serviram para que por meio de autoritários concílios ecumênicos se protegera à Igreja contra a desintegração pelas divisões, pela desobediência de muitos bispos, pela ameaça de muitas heresias e a aparição de ensinamentos errados; mas muitas foram as conseqüências desde que a Igreja aceitou morar na terra e se unir com o mundo. Se foi mesclando o paganismo com o cristianismo. Tudo se foi preparando para a formação do cesaropapismo. Eusébio de Cesaréia descreve com alegria e ar triunfalista a construção de luxuosos templos. Mas, Quais foram os resultados? Evoluiu a liturgia nessas grandes construções, se consolidou uma aristocracia clerical, à altura da imperial e com muitos de seus costumes e sua estruturação social. Como em seu tempo vieram à Constantino o cumprimento da história e do plano de Deus, se deixou de pregar o advento do Reino de Deus e começou a se divulgar uma crença que têm sobrevivido até nossos dias sobre tudo no sistema católico romano e semelhantes, de que o que espera o crente é o de ser transferido em espírito ao reino celestial, e na Igreja se começou a dar ouvidos a esperança do retorno do Senhor para estabelecer nesta terra um Reino de paz e justiça. Esse foi o ponto de vista oficial, e quem regressara ao verdadeiro ponto de vista neotestamentario era condenado por herege. A estrutura social e política que a Igreja imitou do Império ia sendo encaminhada à exigência de um chefe visível. O império era governado por uma autocracia com poderes absolutos. Temos explicado que é a vontade do Senhor que cada igreja local seja supervisada por um grupo de bispos; mais tarde, já a começos do século segundo, emergiu a supremacia de certos bispos regionais com autoridade por cima dos outros a quem seguiam chamando presbíteros. A si mesmo se foram introduzindo bispos de certa categoria em determinadas cidades a quem chamaram metropolitanos e mais tarde patriarcas, como os de Roma, Jerusalém, Antioquía, Alexandria e Constantinopla, entre os quais se suscitavam às duras disputas pelos assuntos da supremacia; até que ao final se a disputavam os patriarcas das duas capitais imperiais, Roma e Constantinopla, pelas razões expostas. O bispo de Roma tomou o título de pai, papá, e por último papa, do grego papas, e reclamava para si autoridade apostólica. Sirício foi o primeiro bispo de Roma que tomou para si o título de papa no século quarto. Mas não foi senão até o século VII no que definitivamente este título se converteu em propriedade dos bispos de Roma. Indubitavelmente que a igreja de Roma havia exercido grande influência como uma coluna nos ensinamentos doutrinários ortodoxo, havia sido pouco contaminada com escolas e idéias heréticas, e tinha em seu haver o estar na sede do principal centro do governo imperial. É assim como o bispo romano, o papa, paulatinamente foi sendo considerado como a autoridade suprema da igreja em geral. Devido ao vasto território imperial, à ambição política de muitos militares, às guerras intestinas ( entre partidos do mesmo povo), aos numerosos crimes políticos, à descomposição dos costumes, ao lazer e progresso material e muitas outras causas. O Império foi se debilitando, as tribos bárbaras foram fazendo incursões e tomando possessão de muita parte de seu território, de tal modo que nas últimas o Império Romano Ocidental ficou reduzido a um pequeno território ao redor da capital. Foi então quando o rei germânico Odoacro e sua pequena tribo dos hérulos, tomou posse da cidade no ano 476, destronando a Rômulo Augusto, o menino imperador, apelidado Augusto o Pequeno. Em 477 Odoacro obteve de Zenon, imperador do Oriente, o título de patrício, que equivalia ao de rei da Itália, desaparecendo assim o Império Romano ocidental, pois o oriental, cuja capital era Constantinopla, permaneceu até o ano 1453, fecha próximo ao descobrimento de América. Inversamente proporcional ao debilitamento e queda do Império Romano, ia aumentando a influência e poder da igreja de Roma e seus papas em todo o território europeu, o que na prática se traduz como a continuação das mesmas estruturas e poderes imperiais, debaixo de outra roupagem.

III- Pérgamo ( 2ª Parte )

Capítulo III
P É R G A M O
(2a. parte)


Constantino o Grande

Ao tentar perfilar a personalidade e as intenções do personagem histórico conhecido como Constantino o Grande, desejamos fazê-lo passando por muitos lugares comuns, cuidando-nos de afirmar o que só Deus e Constantino mesmo podem dar fé como verdadeiro ou falso. Levamos em conta que todos os feitos de um político ambicioso demonstram que seja o governante ideal, e um traço típico de Constantino foi o de ganhar o favor de seus súditos (incluídos os cristãos) mostrando clemência e sabedoria em seus editos e outros atos governamentais. Mas a história narra o lado oposto da moeda, quando se afirma que os vinhedos que geravam os recursos da cidade alagavam por falta de drenagem, enquanto isso o imperador dilapidava os fundos públicos em luxos e a construção de um palácio suntuoso em Tréveris; o ganhar a simpatia dos Gálios explorando suas mais baixas paixões brindando-lhes no circo espetáculos cruéis onde morriam tantos bárbaros cativos, que alguém comenta que até as bestas se entediavam da matança. Realmente se converteu Constantino ao Senhor Jesus Cristo? Isto se a questionado muito, mas podemos tirar algumas conclusões apontando as seguintes razões. Era uma época em que se acreditava que o batismo apagava os pecados cometidos, pelo qual Constantino determinou que não o batizassem senão em seu leito de morte, ele considerava a si mesmo "o bispo dos bispos". Os bispos que lhe rodeavam, nem mesmo Osio de Córdoba, que era seu conselheiro em matérias eclesiásticas, jamais protestara pelo feito de que Constantino, mesmo depois de sua "conversão", continuara participando de ritos pagãos proibidos para qualquer cristão. Aí vemos em plena atuação os que retêm a doutrina de Balaão. Cabe ao respeito notar que existem organizações eclesiásticas atuais que chamam de apostólico a Constantino. Levemos em conta que Constantino nunca renunciou de seu título de Pontifex Máximus (sacerdote do alto) da religião pagã babilônica, nem sua devoção pelo Sol Invicto. Atrevemos-nos a assegurar que se Constantino o Grande cria verdadeiramente no poder de Jesus Cristo, não deve ter entendido e seguido a fé, essa fé que haviam seguido os que haviam sido fiéis ao Senhor até ofertarem suas vidas antes que negar-la. Agiu não de boa fé, sua intenção era mais política que espiritual, o certo era que se queria ganhar a proteção do Deus dos cristãos. Protegendo-o e construindo-lhe templos, e, uma vez que serviu aos outros deuses, trasladou imagens a Constantinopla, sem descuidar o culto pagão para não acarretar em uma oposição irresistível da ala pagã do Império, e de seus deuses. Mas as coisas iam andando lentamente. No começo de seu reinado o Império era oficialmente pagão, e ele, mesmo imperador continuara com o sustento das Virgens Vestais em Roma, entretanto, Constantino doou ao clero cristão o palácio de Letrán, em Roma, que pertencia à família de sua esposa. Em um político hábil e ambicioso como Constantino não é difícil entender que ele pode ter visto no Deus dos cristãos um novo deus, mas dotado de poderes fora do comum. Para ninguém era segredo que a Igreja havia saído vitoriosa depois de dois séculos e meio de cruel perseguição, de tal maneira que a força do cristianismo já era respeitável nos tempos de Constantino. Ao promulgar o Edito de Tolerância, não estaria Constantino buscando o favor desse Deus dos cristãos e o apoio político dos seguidores de Jesus? Seja qual foi sua intenção, o certo é que Constantino, como Balaque, contaminou e perverteu a Igreja, até chegar a convertê-la na "grande prostituta".Ao que os cristãos desde os primórdios da Igreja se reuniam no primeiro dia da semana para partir o pão e celebrar a ressurreição do Senhor, também este dia era dedicado ao culto pagão do Sol Invicto em todo o território do Império. Constantino, no ano 324, mediante um edito imperial ordenou que todos os soldados adorassem neste dia ao Deus supremo; e aqui temos a razão pela qual os pagãos não se opuseram a tal edito. Explicitamente manifesto que a conversão de Constantino não se ajusta aos parâmetros bíblicos, como tão pouco se ajusta que seja da parte de Deus a visão da cruz nas vésperas do dia da batalha da Ponte Múlvia. Não há concordância entre os ensinos da Palavra de Deus e o feito de que supostamente Deus haja ordenado a este governante de um império pagão, enredado em suas intrigas políticas e derramamento de sangue e simultaneamente sumo pontífice da religião satânica, que elaborou um emblema em forma de cruz para que com esse emblema vencesse. Essa classe de visão está muito longe de ter sequer alguma similaridade com a que aconteceu no caminho de Damasco a Saulo de Tarso. É difícil crer que o mesmo Deus que envia a Paulo a pregar o evangelho e edificar a Igreja em meio a muitas provas e sofrimentos, se preste a enviar a Constantino, o mesmo que jamais renunciou a seu título de sumo pontífice pagão, a edificar um sistema apóstata com seu centro em Roma.O bom humor religioso de Constantino se pode medir nas moedas cunhadas em seu governo; no anverso aparecia uma cruz e no reverso representações dos deuses pagãos como Marte ou Apolo, mostras das quais podem ser vistas nos museus modernos. Aí temos uma das estratégias sincretistas das muitas que usou para mesclar e casar a Igreja de Jesus Cristo com o paganismo. Muitos historiadores registram em suas crônicas que antes que começasse o século quinto o paganismo havia caído de seu elevado lugar; e alguns dizem com alvoroço; mas nós cremos mais na Palavra de Deus, a qual diz que foi a Igreja que caiu das alturas celestiais para ver a morar na terra, onde Satanás tem seu trono.Muitos imperadores antecessores de Constantino tentaram realizar uma grande restauração do velho Império Romano, reafirmando para ele a antiga religião pagã. Essas eram as mesmas intenções de Constantino, mas com a diferença de que ele se propôs a construir sobre a base do cristianismo, não sem que houvesse sérios oponentes a estas aspirações entre a classe política e aristocrática de Roma. Este foi um dos motivos pelos quais determinou construir uma "nova Roma", uma nova capital imperial, pomposa e forte, que se chamaria Constantinopla, "a cidade de Constantino"; que outrora era Bizâncio, de «Byzantium», nome prévio à época cristã de Constantinopla, situada no ponto de contato entre Europa e Ásia, a capital da parte oriental do Império, recentemente conquistada por seu cunhado Licínio (Lúcio).
A pequena cidade de Bizâncio foi ampliada e adornada com espaçosos e luxuosos palácios e estátuas dos antigos deuses pagãos trazidos de todos os lugares do vasto império. Assim como com a construção da grande basílica de Santa Irene, e foi mudado seu nome pelo de Constantinopla (hoje Istambul), capital que foi a perna oriental deste quarto império mundial e conservou seu poder e herança política e cultural por mil anos depois que sucumbiu Roma abaixo da invasão dos bárbaros. Constantino trasladou a capital do Império de Roma a Constantinopla em 11 de maio do ano 330; então o império iniciou uma etapa de orientação; o caráter romano se foi perdendo paulatinamente, helenizando-se em seu novo meio bizantino. Constantinopla foi tomada pelos turcos no ano 1453, um pouco antes do descobrimento da América; e o grande templo de Santa Sofía foi convertido em uma mesquita muçulmana até o dia de hoje.
*(1) Referência à estatua do sonho de Nabucodonosor em Daniel 2:33,40

Constantino abriu as portas do Império ao cristianismo, mas foi Teodósio (378-395) quem fez do cristianismo a religião do Estado, obrigando aos cidadãos a serem membros da igreja, oficializando assim a união da igreja e o mundo pagão, mudando a natureza da mesma e dando origem a mil terríveis anos de abominações do cesaropapismo. E estas "conversões" em massa e por decreto imperial, aconteceria simultaneamente a "regeneração" bíblica? Chegou o momento histórico em que se substituiu a pregação do evangelho pela algema do poder civil. (Ler os decretos de Teodósio no apêndice do presente capítulo).

Consolidação dos nicolaítas

"E também tens aos que retém a doutrina dos nicolaítas, a que eu aborreço" (v.15).Durante o período de Éfeso houve somente o que a Palavra de Deus chama obras dos nicolaítas, quando iniciaram a prática da hierarquia na igreja; aliás, nada se havia ensinado a respeito, nem muito menos institucionalizado, decretado nem dogmatizado. Mas já no século quarto, em pleno auge do período de Pérgamo, essas obras progrediram e se converteram em ensinamentos, e de ensinamento à dogma é só um passo, de maneira que hoje na igreja degradada, tanto no setor do catolicismo como no protestantismo institucionalizado, o nicolaísmo é ensinado e praticado. Então primeiro surgem membros individuais ao estilo Diótrefes, que se esforçam por obter domínio sobre os demais, logo há necessidade de inventar uma teoria que justifique este domínio; a teoria se converteu em ensinamento e o ensinamento se consolidou em dogma, o qual, por último, a Igreja aceitou sem prévio exame, revisão nem crítica, sem julgar à luz da Palavra de Deus, destruindo assim a função dos crentes, mutilando ou anulando o Corpo do Senhor como expressão de Cristo, que é o Cabeça.Por volta do ano 324, o cristianismo foi reconhecido como a religião oficial do Império Romano. De acordo com o espírito da época, por um lado a legislação oficial ia se encaminhando à obrigatoriedade da conversão dos cidadãos do Império, incluída a ameaça, e por outra parte surgiram motivos e interesses pessoais que levaram às pessoas a converterem-se em massa; razão pela qual o cristianismo se encheu de um povo ignorante das verdades cristãs, de maneira que isso também coadjuvou para a formação de um clero seleto que tivera a seu cargo os ministérios espirituais, surgindo assim definitivamente a imperiosa necessidade de dividir a Igreja entre clérigos e laicos; se consolidou uma hierarquia que sustentava o monopólio do conhecimento e o ensinamento, além do poder e o governo eclesiástico.
O cristianismo, ao se consolidar como religião estatal, se toma como pretexto a necessidade de criar estruturas mais complexas a fim de poder manter tanto a disciplina como regular a pureza doutrinal. Os presbíteros substituídos por uma hierarquia de bispos e começou a emergir uma estrutura diocesana. Os dirigentes eclesiásticos, imitando a forma de governo imperial, adotaram um governo de superior hierarquia, em preferência àquele exercido em um plano de igualdade, como os praticados na igreja em seus primeiros anos. a Igreja cristã ia modelando sua própria organização sobre a base do sistema governamental do Império Romano, abandonando assim os princípios escriturais. Constantino consolidou no Império uma organização político-administrativa hierarquizada, agrupando as províncias em dioceses, que como antes se dizia, provém tal nome do imperador Diocleciano, governadas pelos vicarii (vigários). Mais tarde, quando já desenvolvido, o sistema católico romano imitou essa mesma forma de organização política. Consolidou-se a configuração de uma hierarquia eclesiástica seguindo as diretrizes da mesma divisão administrativa imperial. Instituíram-se metropolitanos nas províncias e bispos nas cidades. O Senhor quer que a Igreja seja edificada normalmente com Seu poder, sem que goze de alguma cota de poder do estado. O Senhor ordenou obediência aos homens que na comunidade representassem a autoridade, mas se negou a inventar métodos políticos para si mesmo e para Seus propósitos, incluindo a Igreja, e, além disso, nunca advogou por qualquer método de rebelião, senão que a Palavra de Deus condena esta atitude, em qualquer de suas manifestações.O estado e a Igreja de Jesus Cristo jamais deviam unir-se na história, pois são duas coisas com origens, índole e fins diferentes. Uma não tem nada haver com a outra; mas na história maleficamente se confundiu à Igreja de Jesus Cristo com a religião babilônica, a qual sempre foi a religião do Estado. Essa herança matrimonial continuou até nossos dias, com influências e imitações mais pra lá do sistema central, o qual se identifica com o que a Bíblia chama a grande prostituta; sistema que, dizendo representar os interesses do Senhor, tem sido infiel. Esse sistema religioso chegou a ser uma só coisa com o estado. A Igreja de Jesus Cristo está longe de necessitar da aprovação oficial para desenvolver-se e cumprir sua finalidade nesta terra. Essa condição não a encontramos na Bíblia. A Igreja de Jesus Cristo longe está de necessitar que os reis e poderosos deste mundo a defendam. Pelo contrário; por eles, seguindo uma trilha por trás dos bastidores do príncipe deste mundo, havia de ser perseguida. A Palavra de Deus dá testemunho destas asseverações." 16 Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas.
17 E acautelai-vos dos homens; porque vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas; 18 por minha causa sereis levados à presença de governadores e de reis, para lhes servir de testemunho, a eles e aos gentios.. " (Mt. 10:16-18)." Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o seu Ungido; " (At. 4:26).Desse matrimônio da Igreja com o mundo, com o Estado e com a religião babilônica sobrevieram grandes males. Por exemplo, na esfera do poder surgiu algo curioso. A raiz da divisão do Império Romano no Oriente e Ocidente, houve a ocasião das capitais imperiais: Roma Constantinopla. Isso originou, a par que os políticos, divergências e ambições de poder entre a hierarquia clerical de ambas capitais, com o subseqüente cisma entre ambas vertentes do cristianismo oficial; o que se conhece historicamente como Cisma do Oriente. O que aconteceu depois? Que nas províncias do bloqueio oriental, as ortodoxas, com o tempo o Estado dominou de tal maneira a essa parte do cristianismo, que este foi debilitado em grande prostituta. Foi diferente no ocidente, sucedeu gradualmente o reverso da moeda, pois o clero foi usurpando o poder ao Estado, e aquilo deixou de ser cristianismo para converter-se em uma hierarquia mais bem corrupta, que chegou a dominar às nações da Europa, como uma verdadeira e astuta maquinaria política. Tanto o Senhor como o apóstolo Paulo pela inspiração do Espírito Santo, o profetizaram."42 Mas Jesus, chamando-os para junto de si, disse-lhes: Sabeis que os que são considerados governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. 43 Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; 44 e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos. 45 Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos." (Mc. 10:42-45)."30 E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles." (At. 20:30).Durante as épocas de Éfeso e Esmirna, Cristo era o legítimo e único Kyrie da Igreja, e por não nega-lo, sofreram os santos até o martírio; mas entrando o período de Pérgamo as coisas foram mudando; a Igreja começa a abrir as portas a um kyrios diferente do Senhor, casando-se com o mundo e começou a surgir o antigo kyrios o dominus imperial, um monarca absoluto que, como já o temos dito, exercia soberanamente um poder que no Império o atribuíam a de origem divino. A partir de Constantino, ao imperador se atribuía o direito de intervenção nos assuntos da Igreja, não só por própria iniciativa, senão também por solicitação e com o consentimento da hierarquia eclesiástica.
A doutrina de Balaão continua operando com sua nefasta seqüela, tanto que chegou a desenvolver uma "teologia oficial", e alguns da casta clerical, deslumbrados pelos favores de Constantino, chegaram a difundir que Constantino havia sido eleito por Deus para que sua obra fosse a culminação da história da Igreja, e entre os quais se dizem estar o historiador Eusébio de Cesárea. Essas intervenções imperiais nos assuntos da Igreja as vezes eram de tipo disciplinador, como expulsar clérigos, depor e desterrar bispos, e incluir papas, quando esta instituição surgiu historicamente; as vezes eram de tipo jurisdicional, e é assim como o imperador incluso castiga delitos religiosos como sacrilégio. Mas o imperador chegou mais longe, intervém nos assuntos doutrinários, e convoca concílios, os orienta, legaliza suas decisões e até publica encíclicas, de modo que a Igreja ia se fundindo até cair também em baixo das garras de um tirano mundano. Com exceção de Juliano o Apóstata (morreu em 363), todos os imperadores que sucederam no poder a Constantino eram ativos em conter os velhos cultos pagãos e em alentar a propagação do cristianismo e favorecê-lo. Por exemplo, Teodósio I (governou entre 379 a 395) impulsou a demolição de templos pagãos, aboliu os sacrifícios e as visitas a santuários pagãos, e foi mais longe, ordenando que a os apóstatas do cristianismo se privasse do direito de herança, tanto de receber como de transmitir por testamento. Há outro significado da palavra Pérgamo, e é fechadura alta. Note que historicamente os bispos obtiveram direitos, privilégios, autoridade; cercados de riquezas, os irmãos tinham que pedir audiências para vê-los. Por que? Porque começaram a viver entre altas fechaduras de seus luxuosos palácios, pelo ensinamento dos nicolaítas. Constantino havia igualado os direitos da igreja e o paganismo, e desde então os reis e poderosos da terra começaram a presidir os concílios da igreja, e a confirmar todas as decisões que se tomaram.

A Igreja chamada a cortar com o mundo


" 16 Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca. " (v.16).Na armadura de um soldado romano, a espada era um arma defensiva. "17 Tomai .... espada do Espírito, que é a palavra de Deus; " (Ef. 6:17). Esta espada é a mesma que aparece no verso 12, a Palavra de Deus, e que o Senhor vai usar para desfazer a união desigual e toda relação de Sua Igreja com o mundo. Como pode a Palavra de Deus ser usada para cortar nossa relação com o mundo? Primeiro o Senhor nos chama a que nos arrependamos, que cortemos por nós mesmos esses vínculos com o mundo em todos os aspectos. Mas se não nos arrependemos, a mesma Palavra de Deus se encarregará de julgar-nos, a qual tudo discerne, diferenciando o bom do mal, e é cortante como espada de dois fios. Como com a mistura do mundo com a Igreja, a natureza desta mudou radicalmente, é necessário que Deus use a espada de Sua boca para efetuar essa profunda divisão. O Senhor intervém na história para cortar de Sua Igreja legítima um ente novo, nascido da instituição política da confissão cristã. A partir de Constantino tem rondado na Igreja do Senhor esse obscuro fantasma de que a Igreja de Jesus Cristo necessita que o poder secular exerça sobre ela alguma relação de tutela e proteção. Tem sido difícil para os eclesiásticos entender que a Igreja do Senhor, em quanto Igreja, Corpo de Cristo, não necessita ter nexos com o Estado, nem políticos, nem econômicos, nem religiosos, nem jurídicos, nem militares, nem culturais, nem sociais, se com ele está em perigo comprometer sua fidelidade ao Senhor, mas à Igreja se lhe deu por trocar a doutrina evangélica.Por testemunho cristão, já que as Escrituras nos ordenam (Mt. 22:21; Ro. 13:1-7; Mt. 17:27) Tem que guardar um respeito e submissão às autoridades no âmbito pessoal, mas guardando sempre uma moderada e prudente separação entre a Igreja e o Estado. A Igreja deve aportar o necessário para a ordem, a justiça e a paz social, porque é sal e luz na terra, mas sem comprometer sua fidelidade ao Senhor da Igreja. Como esses laços entre a igreja degradada e os nicolaítas com sua seqüela de mundanismo e maldade tem permanecido no sistema da Igreja Católica Romana em toda a história através de Tiatira, bebendo o mel do poder temporal, chegará o eventual momento em que o Senhor julgará esse sistema e aniquilará com sua Palavra, como está previsto na Bíblia.

O ascetismo

Alguém se perguntará: Se a Igreja se uniu aos poderes do mundo e se o luxo e a ostentação fazem furor nos "altares" da cristandade, não houve quem reagisse? O feito de que Constantino houvesse dado essa virada na política do Império com relação ao cristianismo, que vinha de padecer quase trezentos anos de cruel perseguição, foi visto por muitos eminentes personagens da Igreja, como Eusébio de Cesárea, como o cumprimento dos desígnios de Deus. Mas outros viam mais além da simples aparência. Viam como a porta estreita e o caminho apertado se encaixavam tanto, que muitos se apressaram a mesclar-se intimamente na política, as posições e o prestígio deste século. Viam que cada dia o cristianismo se mesclava mais e mais com o paganismo. Uns poucos viram como a doutrina dos nicolaítas começou a penetrar e impregnar todas as assembléias da Igreja. E não foi estanho que os ricos e poderosos que se apoderam das nações, também encontraram ocasião de dominar a vida da Igreja do Senhor a fim de que se confundisse as coisas do César e as de Deus, pois a Igreja havia vindo instalar sua morada nesta terra, onde o diabo tem seu trono. O partido clerical se esqueceu que a Igreja é peregrina nesta terra, e que Seu divino fundador não só jamais teve uma luxuosa mansão nesta terra, senão nem sequer uma pedra onde pudesse reclinar Sua cabeça, pois o Pai o estava esperando nos lugares celestiais. Alguns consideraram que o feito de que o imperador se declarasse cristão, e que se deram essas fáceis conversões em massa, não significava uma benção, mas sim uma grande apostasia, pois começou a formar-se o catolicismo paganizado, a disciplina da Igreja decaiu e ia se abrindo mais a brecha entre o ideal cristianismo e devido a tudo isto, muitos que não queriam abandonar a comunhão da Igreja, tiveram uma espécie de rebelião individual contra a organização e novo giro que a classe clerical havia dado à Igreja, e preferiram ir a outro extremo, retirar-se ao deserto para levar uma vida ascética, vivendo em cavernas e lugares solitários, dedicados a oração e a contemplação. Mas ambos extremos são perniciosos.A Palavra de Deus não aprova para os filhos de Deus o matrimônio com o mundo, sua profunda ingerência na política nem busca de posições elevadas, por um lado, nem o monasticismo, tanto em sua modalidade solitária, como os ermitãos, ou coletivamente enclaustrados nos monastérios, por outro lado. Na Igreja primitiva não havia monjas nem monges; na experiência pré-cristã, estas práticas eram pagãs. Alguns também defendem a posição dos monges conduzidos pela influência do gnosticismo, o marcionismo e em particular do maniqueísmo, se havia propagado a idéia dualista de corpo e espírito, pensando que o corpo se opunha à vida plena do espírito, pela difundida crença filosófica de que a matéria em si é mal, e tinha que dobrá-la, submetê-la (por meios carnais, ). Esse é um erro fundamental que se aparta do ensinamento bíblico. Nessa classe de vida se infiltrou algo do legalismo, ou seja, o ponto de vista de que a salvação de alguma maneira pode ser conquistada e merecida mediante obras, em oposição à graça. O Senhor Jesus viveu uma vida santa, mas de nenhuma maneira ascética, e tampouco recomendou o ascetismo, ao contrário, ordenou ir pelo mundo a pregar o evangelho e fazer discípulos e não fugir do mundo. Ao principio muitos bispos olharam mal o monacato, mas depois de estendido, a finais do século quinto, chegou a ser a característica do cristianismo, chegando a seu ápice durante a idade média. Merece também mencionar que no movimento monástico teve influências, de uma parte pelo lado de Orígenes, Pânfilo e Eusébio de Cesaréia no sentido de deixar-se levar pelo ideal platônico de vida, e mesmo por certos princípios estóicos; e por outro lado pelas palavras do apóstolo Paulo, de que quem não se casava podia ter mais liberdade para servir ao Senhor. Levemos em conta também que se pelo lado dos nicolaítas se realizava uma mescla com o paganismo e seus rituais, no outro extremo, os monges puderam imitar o exemplo das religiões pagãs, pois estas tinham virgens sagradas, eunucos, celibato entre os sacerdotes e pessoas apartadas para o serviço de seus deuses. Se os que andavam de braços dados a Constantino se enchiam de orgulho de classe, não menos surgiu entre os que levavam sua vida monástica, pois entre eles se deu outra forma de orgulho, pensando que seu nível espiritual estava por cima dos bispos, e por serem eles e não os dirigentes eclesiásticos quem deviam decidir sobre questões da doutrina cristã. É curiosa a terminologia com que se lhes há designado. Eremitas ou ermitãos, por quanto preferiram viver em ermitas, santuários ou capelas situadas em lugares solitários. Monges, que vem da palavra grega monachós, que significa "solitário". Anacoretas, que quer dizer, "retirado" ou "fugitivo". Cenobitas, palavra derivada de dois términos gregos, que significam "vida comum", como uma modalidade coletiva, diferente ao anacoretismo. Diz-se que foram milhares os que tomaram esta decisão de retirarem-se a essa vida monástica, como espécie de contagio em massa; Paulo o ermitão (não o apóstolo) e Antônio são os mais sobressalentes, e que os põe como os iniciadores desta classe de vida, talvez pelo feito de que respectivamente, Jerônimo e Atanásio escreveram suas vidas. Ali se registra que Paulo fugiu da perseguição ao deserto em meados do século terceiro. Em quanto a Antônio, tomou sua decisão ao redor do ano 320, pois lhe impactaram as palavras do Senhor Jesus acerca do jovem rico em Mateus 19:21, pelo qual dispôs de suas propriedades e repartiu seus bens entre os pobres, e se retirou ao deserto do Egito. Outros de grande renome são Simeão do Pilar e Palemão o estilita, chamados assim por sua curiosa maneira de viver em colunas que terminavam em uma base. Curiosamente, de Simeão se diz que viveu sobre seu pilar ao leste de Antioquía trinta e seis anos e que gotejava vermes, piolhos e sebo. Houveram pessoas cujo ingresso a um monastério não estava associado com a conversão à fé, senão, a uma preocupação pela salvação. Quando o monastério estatutariamente implica uma vida de renuncia ao mundo, de mortificar a vontade, de austeridade na comida e vestimenta mortificante, vigílias noturnas depois de um duro trabalho diurno, jejum, castigo da carne, e outros procedimentos, isso vai dar em um legalismo e a prática de exagerados rudimentos do mundo, que não produzem a paz com Deus, nem menos vai substituir o sacrifício de Cristo. Na época que se inicia com Constantino, os ministros cristãos começaram a chamar-se "sacerdotes", mesmo para a época de Constantino, o título de sacerdote tomou um aspecto mais pagão, pois antes de Constantino, na Tradição Apostólica, Hipólito de Roma chama sacerdote a João, e a Didaké, do século I, chama sumos sacerdotes aos profetas da Igreja, mas no sentido neotestamentário que usam Pedro, Paulo e João. O sacerdócio paganizado contribuiu para a formação do nicolaísmo, tirando o sacerdócio ao povo."4 Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa,5 também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo.. Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; " (1 Pe. 2:4-5,9)." 16 para que eu seja ministro de Cristo Jesus entre os gentios, no sagrado encargo de anunciar o evangelho de Deus, de modo que a oferta deles seja aceitável, uma vez santificada pelo Espírito Santo.” (Ro. 15:16). “e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra.” (Apo. 1:6; 5:10).Mesmo ao contrário da sua vontade e pela insistência e petição de algum bispo, alguns destes ermitãos chegaram a ser ordenados sacerdotes e bispos e ocupar cargos eclesiásticos. Se diz que Pacómio, antigo soldado do exército imperial, que nascera em uma pequena aldeia ao sul do Egito em 286, foi quem teve grande proeminência no surgimento do monaquismo comunal ou cenobítico, mais tarde Basílio de Cesaréia, um dos três Capadócios, Martín de Tours e Jerônimo. Um dos mais sobressalentes organizadores do ascetismo foi Benito de Núrcia, autor da famosa regra de São Benito, uma das mais influentes da organização do ascetismo.

Os Pais da Igreja

Pelas informações recebidas da época, houve nesse tempo muita atividade teológica, e não menos correntes de idéias controversas; é a época do desenvolvimento e aprofundamento da Cristologia, e fazem suas aparições novas escolas teológicas em Constantinopla, Roma, Antioquía e Córdoba. Pérgamo é um período de grandes figuras protagônicas no suceder de uma grande virada da Igreja, entre os quais se destacaram eminentes teólogos, filósofos, historiadores, apologistas e polemistas, alguns dos quais deixaram registros escritos desses importantes acontecimentos. Antes de registrar um ligeiro perfil de alguns dos chamados pais da Igreja, é interessante notar que o platonismo exerceu grande influência no cristianismo, principalmente por meio de pensadores cristãos como o judeu helenista Fílon, Justino Mártir, Clemente de Alexandria, Agostinho e os escritos que levam o nome de Dionísio o Areopagita.

Eusébio de Cesaréia (260-340). Sábio erudito e historiador da Igreja, nascido provavelmente na Palestina, onde chegou a ser bispo de Cesaréia e onde foi discípulo de Pânfilo, natural de Berito (hoje Beirute), na ocasião em que este estudava, organizava e completava a biblioteca que Orígenes havia deixado ali em possessão da igreja. Desde esta sede, Eusébio saía por diversas cidades buscando documentação acerca das origens do cristianismo. Inicialmente, e mesmo em meio das perseguições em tempos do imperador Maximino Daza, Eusébio escreveu junto com Pânfilo várias obras, entre elas Crônica, cinco livros de uma Apologia de Orígenes. Morto seu mestre, revisou e ampliou sua obra mais importante, a História Eclesiástica. Obra de suma importância para o estudo dos primeiros tempos da vida da Igreja, pois ele se encarregou de compilar, organizar e publicar quase todo o que a posteridade logrou saber de muitos dos cristãos dos primeiros séculos da Igreja. E foi terminada quando o imperador Constantino acabava de firmar o Edito de tolerância no ano 313, que outorgava a paz aos cristãos. Eusébio em sua oportunidade escapou da perseguição e se livrou do martírio, e foi testemunha presencial daquelas amargas horas da Igreja, e por razões que temos analisado acima no presente capítulo, como muitos outros em seus tempos, viu em Constantino um instrumento escolhido por Deus para levar a cabo seus propósitos, e, segundo afirmam vários analistas da história, por causa da fascinação da pompa imperial, se dedicou a servir os interesses do império por cima dos de Jesus Cristo. Eusébio se viu envolto nas controvérsias arianas, ao que se manteve no Concílio de Nicéia dentro da linha ortodoxa, aliás, deixou muito a desejar, pois não apoiou plenamente a Atanásio de Alexandria, já que seus interesses eram outros. Diz-se que era amigo pessoal de Constantino, de quem escreveu sua obra “Vida de Constantino”. No pensamento e modo de ver as coisas, Eusébio, mesmo sem aperceber-se, discordava muitas vezes da sã teologia cristã. Por exemplo, foi um dos que não percebeu do perigo que era que a Igreja perseguida passara a ser a Igreja dos poderosos. Os que segundo as palavras do Senhor no evangelho tem muita dificuldade para herdarem o reino dos céus, a Igreja que preferiu morar na terra antes que ser peregrina, e a ver a riqueza e a pompa como uma benção de Deus. Também escreveu uma obra útil para os estudos bíblicos, sua Onomástico, enumerando e identificando os principais lugares geográficos da Palestina.
Atanásio de Alexandria (300-373). Um dos quatro grandes dos chamados pais da Igreja, de orientação grega. Nasceu provavelmente em alguma pequena aldeia ribeirinha do Nilo e morreu em Alexandria; pertencente a uma família de classe humilde, talvez da raça copta. Este gigante da Igreja era de pele escura e muito curto de estatura, a tal ponto que seus inimigos às vezes zombavam dele o chamando de anão. Desde sua infância demonstrou profundo interesse pela igreja, e chegou a desfrutar da favorável atenção de Alexandro, o bispo de sua cidade natal, onde muito jovem chegou a ser diácono. O centro de sua fé o constituía a presença de Deus na história, e por isso se constituiu no mais temível opositor do arianismo, antes e depois do Concílio de Nicéia, tendo em conta que para Atanásio a controvérsia ariana ia mais longe de serem simples sutilezas filosóficas; tinha a luz suficiente para saber que essa heresia socavava o centro da fé cristã. Depois do Concílio de Nicéia, morreu Alexandro e Atanásio foi eleito bispo de Alexandria, e esse havia sido o desejo de seu antecessor. Mas Eusébio de Nicomédia e demais dirigentes arianos, persuadiram ao imperador contra Atanásio acusando-lo de irregularidades eclesiásticas e até de homicídio, pelo qual Atanásio sofreu uma vida de lutas e de repetidos exílios. Seus últimos sete anos passou sossegadamente em Alexandria, onde morou em 373. Finalmente suas idéias triunfaram por toda a Igreja, ficando consignadas no Credo de Atanásio, ao que este não houvera sido escrito por ele. Entre as obras escritas por este eminente varão de Deus relacionamos: * A Vida de Santo Ântonio. Atanásio costumava visitar aos monges do deserto, e em especial a Paulo o ermitão e a Antônio, de quem aprendeu uma grande austeridade e rígida disciplina.* Contra os gentios. O mesmo que a seguinte, escrita antes da controvérsia ariana.* Acerca da encarnação do Verbo. Escrita abaixo da profunda convicção da centralidade da encarnação de Cristo na fé da Igreja e mesmo da história humana, e sem a influência das especulações filosóficas de Clemente de Alexandria ou de Orígenes.
Os Capadócios. Este título foi dado a três grandes teólogos cristãos do século IV, que pertenciam as igrejas da província de Capadócia, ao norte de Cicília, na Ásia Menor, os quais tiveram uma influência decisiva por haver se aprofundado no assunto da Trindade e haver contribuído grandemente à derrota do arianismo. São eles Basílio Magno o de Cesaréia, seu irmão Gregório de Nissa, famoso por suas obras acerca da contemplação mística, e Gregório de Nazianzo ou Nazianzeno, célebre orador, poeta e compositor de hinos. Os três tiveram forte influência do pensamento de Orígenes.
Basílio o Grande (329-379). Membro de uma família profundamente religiosa de Cesaréia. Recebeu educação universitária em Cesaréia, Constantinopla, Antioquía e Atenas, cidade esta onde se fez amigo de Gregório, conhecido mais tarde como Gregório Nazianzeno. Uma vez regresso em sua terra natal esteve a frente da catedral de retórica da Universidade de Cesaréia, mas foi repreendido por sua própria irmã Macrina, devido a que estava muito envaidecido, que não citara tanto os autores pagão, senão que buscara viver de acordo com os ensinamentos dos autores cristãos. A influência de sua piedosa irmã e a morte de Lucrécio, outro irmão que havia vivendo uma vida de contemplação, o levou a renunciar a sua catedral e demais honras e pompas do mundo, para dedicar-se a aprender com sua irmã os segredos da vida monacal. Em 357 foi batizado e ordenado leitor na igreja. Viajou pelo Egito, Palestina a fim de aprender dos monges a vida contemplativa, e em seu regresso fundou com Gregório de Nazianzo uma comunidade de monges em Ibora, não longe de seu lar, escreveu regras e princípios para a comunidade, que foram base para as de outras comunidades. Em 364, a petição de Eusébio de Cesaréia foi ordenado presbítero, e se dedicou a escrever livros. Depois da morte de Eusébio, em 370, Basílio foi nomeado bispo de Cesaréia. Nesse tempo Valente, um ariano, chegou a ocupar o trono imperial, e foi a visitar a Cesaréia, talvez com o propósito de fortalecer o bando ariano e debilitar o niceno, e Basílio enfrentou o imperador sem deixar-se submeter com promessas nem ameaças. Com Gregório Nazianzo e Gregório de Nissa, Basílio contribuiu poderosamente acerca da doutrina da Trindade e a terminar a disputa relacionada com a terminologia sobre o Espírito Santo. Morreu aos cinqüenta anos, pouco antes do Concílio de Constantinopla, no ano 381, confirmara a doutrina nicena.
Gregório de Nissa (330-395). Irmão menor de Basílio e ao contrário de seu irmão, era de um temperamento agradável e tranqüilo. Preferia a vida apartada e retirada do mundo ruído. Sua educação, ainda que boa, não foi tão esmerada como a de seu irmão. Contraiu matrimonio com a formosa jovem Teosébia, com quem foi feliz. Parece que mais tarde enviuvou e entrou em um monastério fundado por seu irmão, e no ano 371, devido a certas medidas tomadas pelo imperador Valente para limitar o poder de Basílio, ao dividir a província de Capadócia, este nomeou novos bispos para várias pequenas povoações, e uma delas foi Nissa, onde chamou a seu irmão Gregório para que ocupasse o bispado. Foi grande defensor da fé nicena sobre a Trindade. Seus escritos compreendem obras místicas, apologéticas, sobre a controvérsia trinitaria. Escreveu um tratado Acerca da virgindade. Sua principal obra apologética foi o Termo-catequeticus, o qual se trata de um manual teológico cujos temas principais são a cristologia e a escatologia. Teve certa influência origenista, pois sustentava a concepção antibíblica de Orígenes sobre o inferno no sentido de que é uma espécie de purgatório, e que ao final dos tempos todos os seres, tanto homens como demônios serão salvos, incluído Satanás mesmo. Recorde-se que esta ordem de idéias tem sido divulgado por certos escritores que seguem a linha do italiano Papini. É possível que Gregório haja aceitado esta idéia ao haver interpretado erroneamente as palavras de Paulo que Cristo será tudo em todos. Ao final de seus dias voltou a retirar-se de toda atenção do mundo, a tal ponto que se ignora o lugar de sua morte.
Gregório de Nazianzo ou Nazianzeno (330-389). Um dos três grandes Capadócios; companheiro de estudos e amigo de Basílio. Filho de Gregório, o bispo de Nazianzo, e Nona. Iniciou seus estudos em Cesaréia, e pelo ano 350 estudou na Universidade de Atenas, onde permaneceu uns catorze anos. Igual a Basílio, Gregório também se ocupou em ensinar retórica, antes de se dedicar a levar uma vida monacal em companhia de Basílio. Foi um hábil orador, e isso lhe trouxe como conseqüência haver sido ordenado presbítero à força, antes que Basílio o nomeasse bispo na pequena aldeia de Sasima, no tempo quando o imperador Valente adiantou ações contra Basílio. Nos tempos do imperador Teodósio, de origem espanhola, Gregório chegou a ser, contra a sua vontade, patriarca de Constantinopla, cargo ao qual renunciou para regressar a sua terra natal às tarefas pastorais e compor hinos. Morreu em seu retiro, aos 60 anos de idade. Estando como Patriarca chegou a presidir o Concílio de Constantinopla em 381. Entre suas obras mais destacadas como escritor se contam cinco discursos teológicos contra os arianos que se conhecem como "Cinco discursos teológicos acerca da Trindade", que são considerados a chave na exposição da doutrina trinitária. O livro Philocalia, que é una seleção das obras de Orígenes, compiladas juntamente com Basílio, e têm sido conservadas também umas 242 cartas e poemas.
Ambrósio de Milão (340-397). Natural de Tréveris, filho de um prefeito do pretório das Gálias, educado num ambiente estóico, de acordo com as normas daqueles tempos, chegou a ser um oficial civil e prefeito do Norte da Itália. Para surpresa sua, o povo insistiu que fosse bispo de Milão, na época em que era governador da cidade, quando mesmo nem sequer havia sido batizado, sendo tão somente um catecúmeno ( aspirante a cristão). Havia morrido Auxêncio, o bispo imposto pelos arianos, e a eleição de um novo amenizava para que não houvesse um tumulto, quando ele apareceu para apaziguar o ânimo do povo. Foram dramáticos seus esforços para persuadir a multidão de que ele era indigno desse cargo, e viu a necessidade de empreender um curso de leitura teológica a fim de encher o vazio que não necessariamente buscava. Depois de ser batizado, em apenas uma semana chegou a ser sucessivamente leitor, acólito( sacristão), subdiácono, diácono, presbítero e bispo; isso ocorreu em primeiro de dezembro do ano 373.chegando a ser um dos mais famosos bispos, pregador e administrador. No ano 394, a raiz da sangrenta represália do imperador Teodósio contra Tessalônica, na qual mandou matar umas sete mil pessoas reunidas no circo, celebrando precisamente o perdão imperial, valentemente Ambrósio repreendeu ao imperador por sua crueldade contra os vencidos, impondo-lhes uma penitência; mas depois foi tratado com muita estimação por Teodósio. Foi zeloso da autonomia da Igreja nos assuntos espirituais, mas estava de acordo que a Igreja tinha predomínio sobre o poder civil. Dizia-se que "o imperador está na Igreja, mas não por cima dela".Segundo as controvérsias dessa época e contrastando com João Crisóstomo, o qual sustentava que o homem valendo-se de seu próprio arbítrio pode voltar-se a Deus, e que ao fazê-lo, Deus apóia a vontade do homem, Ambrósio em contrapartida ia um pouco mais longe, pois cria que a graça de Deus era a encarregada de iniciar a obra de salvação, e que quando o homem é objeto da graça de Deus, o homem coopera por sua própria vontade. Foi autor de muitos livros e hinos cristãos litúrgicos. É de suma importância sua influência na conversão do jovem intelectual Agostinho, quem no curso de uma peregrinação escutava os sermões de Ambrósio, com quem a si mesmo se fez batizar, o que chegara a ser o famoso bispo de Hipona e o mais brilhante dos "gigantes" de sua época. Ambrósio morreu em 4 de abril de 397.

III- Pérgamo ( 1ª Parte )


Capítulo III P É R G A M O
(1a. parte)

SINOPSES DE PÉRGAMO

Antecedentes de um matrimônio múltiplo

Compromisso matrimonial de onde mora Satanás. - O trono de Satanás - O altar de Pérgamo - Matrimônio da Igreja com o mundo e o Estado - A Igreja morando na terra.

Consolidação do matrimônio infiel

Constantino o Grande e o Edito de Tolerância - A Doutrina de Balaão: A corrupção do povo santo - O caminho de Balaão: Amor ao prêmio da injustiça - O erro de Balaão: Os falsos profetas que correm atrás de lucro.

Frutos do matrimônio

A falsa conversão de Constantino e a perversão da Igreja - A doutrina dos nicolaítas e a criação do clero - O cristianismo: religião oficial do Império Romano. -As duas capitais do Império: Roma e Constantinopla - Reações dos santos: o ascetismo dos eremitas.

Exponentes da patrística em Pérgamo.

Eusébio de Cesaréia - Atanásio de Alexandria - Basílio o Grande - Gregório de Nissa - Gregório de Nazianzo - Ambrósio de Milão - Jerônimo - João Crisóstomo - Agostinho de Hipo.

Algumas heresias em Pérgamo.

A reação cismática donatista. - Ário e a negação da divindade de Cristo no Concílio de Nicéia. - Apolinário e a negação das duas naturezas em Cristo. - Pelagio e a negação da depravação total na qual nasce homem. - Nestório e sua afirmação de que Jesus ao nascer só era a pessoa humana, ao que mais tarde veio o Cristo, o Logos divino.

Os vencedores de Pérgamo

Terceira recompensa: O Senhor lhes dará a comer o maná escondido e uma pedrinha branca, e na pedrinha um nome novo, nome que só conhece o vencedor que o recebe.

A CARTA À PÉRGAMO

“12 Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Estas coisas diz aquele que tem a espada afiada de dois gumes:
13 Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de Satanás, e que conservas o meu nome e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita.
14 Tenho, todavia, contra ti algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição.
15 Outrossim, também tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina dos nicolaítas.
16 Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca.
17 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca, e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe.” (Apo. 2:12-17).

O trono de Satanás

A antiga, rica e paisagística cidade grega de Pérgamo situava-se na Mísia; a doze quilômetros ao norte de Esmirna e ao noroeste de Ásia Menor. Desde o século terceiro antes de Cristo foi uma das cidades mais importantes do mundo helenístico, provida de artísticos monumentos, com uma famosa biblioteca, e sob o reinado de Eumenes II, ali se fabricou pela primeira vez o pergaminho, que tomou o nome da cidade, para substituir ao papiro como meio de escrita. Pérgamo se destacou por ser um grande centro de idolatria, cidade de templos e altares dedicados a muitos deuses, aos quais lhes ofereciam cultos pagãos enquanto praticavam toda classe de desenfreio. Não obstante ao anterior, seus habitantes eram tolerantes, faziam outros cultos, e devido a isso, em Pérgamo não houve perseguição aos cristãos como em Esmirna. Da época greco-romana, se conservaram de suas ruínas a Acrópole, que inclusive entre outros o templo dórico de Atenas Polias; um templo Corinto chamado Traianeum, e um templo de estilo jônico, dedicado a princípio a Dionísio e posteriormente ao Imperador romano Caracalla. Também tinham o templo a Esculápio, o deus da medicina, o que é representado por um humano com uma serpente, ao qual se lhe atribuíam poder curativo. Era tanta a atividade idolátrica, que várias correntes de interpretações conjecturam que o trono de Satanás, o qual se encontrava desde o princípio na Babilônia, sede de seu domínio desde quando o recebeu na queda de Adão, mais tarde na eventual queda e destruição da Babilônia, esse trono foi trasladado a Pérgamo, conforme diz na carta. E o curioso é que se registra a existência nesta cidade do Altar de Pérgamo, o altar do templo de Zeus, construído sob o reinado de Eumenes II, E que hoje se conserva no Pergamon Museum em Berlin. Será mera casualidade? Zeus era o deus supremo do Olímpo dos gregos; o mesmo Júpiter dos romanos, chamado o Optimus Maximus; o mesmo deus babilônico Marduk, "senhor de todos os deuses do céu e da terra", segundo eles; o qual não é outra coisa que uma espécie de materialização do mesmo diabo em busca da adoração dos homens.Ao separar detalhadamente a afirmação anterior, devemos nos transladar a Bíblia para saber o lugar aproximado da localização topográfica do Éden, cenário da queda de Adão. Em Gênesis 2:10-11,13-14 diz : “10 E saía um rio do Éden para regar o jardim e dali se dividia, repartindo-se em quatro braços.
11 O primeiro chama-se Pisom; é o que rodeia a terra de Havilá, onde há ouro .13 O segundo rio chama-se Giom; é o que circunda a terra de Cuxe.
14 O nome do terceiro rio é Tigre; é o que corre pelo oriente da Assíria. E o quarto é o Eufrates.” O anterior nos indica que o Éden estava localizado na antiga Mesopotâmia e a região de Sinar, onde foi edificada a cidade da Babilônia.De acordo com o capítulo três de Gênesis, ali o homem foi despojado, pelas artimanhas do diabo, de seu senhorio sobre a terra, e começou Satanás a ser o príncipe deste mundo. Ali constituiu seu trono. Mas o diabo necessitava de um centro de operações, e foi assim como depois do dilúvio, debaixo de sua iniciativa os homens começaram a construir o primeiro grande zigurate, a torre sagrada para que o adorassem; e consultaram aos astros, o qual se conhece como a torre de Babel; palavra que na raiz hebréia significa confusão, mas no idioma acadio quer dizer porta de Deus. A torre de Babel é um símbolo discente do orgulho humano. Podemos supor que essa torre seja a sombra do primeiro símbolo de Tiatira, a grande organização religiosa que teve suas origens em Pérgamo; de acordo com os descobrimentos da arqueologia, nesta torre se apoiava o templo dedicado na Babilônia ao deus Marduk.Podemos ver no capítulo 10 de Gênesis que um neto de Cam chamado Ninrode foi quem fundou a Babilônia e outras cidades como Nínive; foi o primeiro poderoso na terra, grande caçador oponente de Deus, que como líder político e religioso organizou as multidões fundando cidades muradas para se protegerem das feras. Essa foi a origem da religião babilônica e Ninrode foi seu primeiro sumo-pontífice, a primeira ponte, intermediário, já não entre os homens e Deus, e sim com vínculos diretos com Satanás, título que herdarão os subseqüentes governantes e reis babilônicos. O nome Ninrode significa rebeldia, e o mesmo, guiou pessoas a se rebelarem contra Deus, a auxiliar na adoração ao príncipe das trevas. É possível que houvesse uma grande liderança na construção dessa primeira torre de confusão. Mas o império babilônico teve seu fim e chegou o dia em que a Babilônia foi destruída para sempre, conforme haviam declarado os profetas na Palavra de Deus; mas o sistema religioso babilônico não foi destruído e Satanás necessitava recolocar a sede de seu trono, e escolheu transporta-lo para Pérgamo, cidade onde estabeleceu um influente centro idolátrico. Ali, os reis de Pérgamo receberam o transmissível título babilônico de sumo pontífice. Mas o último rei de Pérgamo, Átalo III, rendeu seus domínios a Roma no ano cento e trinta e três antes de Cristo, passando virtualmente o trono de Satanás a Roma, a capital do império em que convergem as profecias que se relacionam com a Igreja, e também onde continua. Em Roma, o imperador, além de chefe político, também chegou a ser o sumo pontífice (pontifex máximus) da religião babilônica, satânica; e recebeu esse título do rei de Pérgamo, o qual em sua vez ancestralmente o havia recebido da Babilônia. Quando João escreveu esta carta em Patmos, já a histórica cidade da Babilônia não existia, mas seguia existindo outra cidade que era a sede do grande sistema babilônico que encheu e segue enchendo de confusão a toda humanidade misturada nessa corrente.

Matrimônio com o mundo

"Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Estas coisas diz aquele que tem a espada afiada de dois gumes:" (v.12).A terceira carta do Apocalipse está dirigida à histórica igreja na localidade de Pérgamo, cujas características coincidem com o terceiro período profético da Igreja, que tem seu começo com a publicação do Edito de Tolerância religiosa; Promulgado pelo imperador Constantino em Milão no ano 313, dando os primeiros passos para a aceitação do Cristianismo como a religião do império, até o final do século quinto, pela eventual queda de Roma em 476. É sumariamente importante observar em cada uma das sete localidades geográficas e históricas das sete igrejas do Apocalipse uma série de coincidências entre a cultura, religião e história da cidade com a condição de suas respectivas igrejas locais e o período profético correspondente. Por exemplo, quando João escreve a carta à igreja em Pérgamo, podemos fazer uma tríplice alusão. Por uma parte se refere à igreja nessa localidade; por outra a Pérgamo, a cidade, sede do grande altar de Zeus, o trono de Satanás, e por outra, Roma, capital do poderoso império cujo imperador ostentava o título satânico de sumo pontífice, com o qual a Igreja se unirá em matrimônio no período profético de Pérgamo. A palavra Pérgamo significa muito casado (do prefixo grego per, como em hiper, super, nos compostos químicos como permanganato, e a raiz gamos, gameta, esposa, ou gamétes, marido, de onde surgem palavras como poligamia), matrimônio múltiple, compromisso matrimonial, e isso nos indica que o diabo, vendo que por meio das heresias e as perseguições não conseguiu acabar com a Igreja, põe fim às perseguições e agora opta por usar outra tática, a de corrompê-la, promovendo a união em matrimônio da Igreja de Jesus cristo com o mundo, com sua política, sua economia e sua religião. Durante as épocas de Éfeso e Esmirna, Satanás, convertido em um leão rugindo, atacava a Igreja por meio do mundo; agora, vestido como anjo de luz, usa o mundo para dar umas calorosas boas vindas à Igreja que antes tratou de destruir. A Igreja de Jesus cristo sofreu dura e cruel perseguição, mas o Senhor lhes havia dito: “não temas”; mas o perigo para Igreja realmente surgiu e se acrescentou quando o estado se aliou com o cristianismo. Esse elemento estranho chamado mundo começou a mesclar-se com a mesma natureza santa e pura da Igreja, e isso nos da a idéia de que à Igreja se lhe foi dada um lugar importante no estado, dotando-la a si mesmo dos grandes templos pagãos; aparentemente começa a prosperar, e começa a ser levantada em uma posição alta, mas no mundo, para receber a glória do mundo, não nos lugares celestiais com Cristo Jesus. A Igreja começa a receber fortalecimentos pagãos e se tornou mundana, é como se diz, passou das garras dos ferozes leões, a ocupar uma posição de honra no trono imperial. A Igreja deve orar pelo governo e as autoridades do estado para que não haja anarquia, mas não unir-se e mesclar-se com o estado. A Igreja é a noiva de Cristo, casta e pura; já está desposada com o Senhor, e por isso a união da Igreja com o mundo é considerada fornicação espiritual. Devido a isso, o Senhor se apresenta como o que tem a espada aguda de dois fios. O que simboliza isso? A Palavra mesmo nos da a resposta. "Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração." (Hb. 4:12). Por um lado o Senhor diz à Igreja que com essa espada inevitavelmente vai separar essa união de Sua Igreja com o mundo, e vai discernir e julgar essa união. O Senhor tem toda a autoridade para executar esta sentença. Através da história, o Senhor foi dando os passos necessários para cumprir sua palavra. A espada também é um instrumento de castigo, e o Senhor não está em conformidade com a igreja mundana, a qual retém o nome do Senhor, mas na prática o nega, porque com o tempo começou a esquecer-se de Seu nome e a negar a autentica fé.Há textos da história eclesiástica que intitulam este período como “a Igreja Imperial”, com o sugestivo subtítulo de “a vitória do cristianismo’. Ambas as coisas são muito questionáveis, em primeiro lugar porque na Palavra de Deus não encontramos afirmação de que haja igreja imperial; a Igreja de Jesus cristo não é imperial, pois uma igreja imperial não é bíblica, e o que não obedece os princípios bíblicos se aparta da vontade de Deus. A Igreja não pode ser imperial e celestial ao mesmo tempo, não pode ao mesmo tempo ocupar os lugares celestiais com Cristo e uma posição de destaque entre os grandes da terra. E enquanto a "vitória", a consideramos uma vitória prejudicial, porque não dizer que é uma verdadeira derrota. Considere se é vitorioso que a Igreja paulatinamente comece a herdar os costumes, observâncias, formas e cerimônias pagãs, bastando uma mudança de nomes e modificações na adoração; e agora os templos dos deuses do Olímpo são "consagrados" para adorar ao Senhor, como atualmente acontece na Itália, que templos católicos de algumas províncias, eram templos onde se rendiam culto a deusa Diana. E estas construções com o tempo foram chamadas de "igrejas", termo impróprio para os edifícios, pois a Igreja é a assembléia dos santos; com isto tomaram o continente por inteiro. Não pode ser vitorioso para a Igreja de Jesus cristo, uma vez que plena de poder secular, deixe de expressar o Corpo que testemunha ao mundo o conhecimento do Deus verdadeiro e de Seu Cristo, para introduzir no mundo uma religião aliada ao estado.Na Igreja a prosperidade secular é inversamente proporcional a prosperidade espiritual. Por exemplo, em seu auge a Igreja se reunia para adorar em casas particulares; depois e por causa das perseguições, os irmãos se reuniam em cemitérios, como as catacumbas romanas, e com a "conversão" de Constantino começaram a construção de formosos templos, e começaram a introduzir os costumes e protocolos imperiais, como o uso do incenso, vestimentas ricas de origem dos judeus pagãos foram sendo usada pelos clérigos, procissões, e desenvolvimentos de coros, tudo isso teve como resultado que a congregação, desconhecedora de uma linguagem como o latim, tiveram menos parte ativa no culto e serviço, e sua conseqüência foi um desenvolvimento anormal da aparência do reino de Deus na terra, porque na era atual a Igreja de Jesus cristo é a expressão do reino na terra. Com o passar dos séculos, isto também se vive no protestantismo. Aí teremos a parábola da semente de mostarda. "31 Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda, que um homem tomou e plantou no seu campo;
32 o qual é, na verdade, a menor de todas as sementes, e, crescida, é maior do que as hortaliças, e se faz árvore, de modo que as aves do céu vêm aninhar-se nos seus ramos." (Mt. 13:31-32).nessa parábola vemos que desde antes do tempo de Pérgamo, a partir de seu humilde nascimento, a Igreja foi se convertendo em uma grande árvore que começou a produzir alimento espiritual para todas as nações, com o agravante de que na aparência do Cristianismo, houve a trágica influência de milhões de crentes falsos, com propósitos satânicos. A partir de Pérgamo, a Igreja começou a sofrer uma metamorfose, e ao invés de ser peregrina na terra, se estabeleceu neste mundo, arraigando-se na terra, como a árvore da parábola, e entre seus ramos foram surgindo muitas curvas de organizações, projetos e operações terrenas, com uma enganosa aparência do reino dos céus. E nos tempos do imperador romano Teodósio o Grande (380), multidões de incrédulos e pagãos foram batizados e ingressaram à "igreja", já unida ao mundo por meio de seus tentáculos da política, da economia e religião babilônica, a esposa do Cordeiro havia sido infiel ao Senhor.

A igreja morando na terra


"Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de Satanás, e que conservas o meu nome e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita." (v.13)É curioso e assombroso quando a Palavra de Deus nos revela a face oculta das coisas e acontecimentos históricos. Por exemplo, não é uma coincidência que na localidade de Pérgamo, existia o famoso altar de Zeus, e se levantaram assim mesmo templos a Roma e a Augusto, que são vivos e deficientes exemplos do culto imperial. Indubitavelmente que quando a Bíblia diz que ali está o trono de Satanás, se refere ao altar do deus Zeus em associação ao lugar de adoração ao imperador. Isso também declara que o trono de Satanás está no mundo, e por isso a Palavra de Deus diz que a igreja mundana mora onde mora Satanás. Isso significa que a igreja mundana se uniu ao mundo e guarda estreita relação com Satanás até o dia de hoje. Em todas e cada uma das sete cartas há uma constante: o Senhor disse a cada igreja, "Eu conheço tuas obras". O que faz a Igreja nesta época? Exceto um pequeno remanescente, uma onda de orgulho, ambição, arrogância e mundanismo foi substituindo a santidade e a humildade dos cristãos primitivos. A verdadeira posição da Igreja é com Cristo nos lugares celestiais; não é uma assembléia terrena como o povo hebreu, e sim peregrina na terra. A Igreja não deve enredar-se nos negócios deste mundo, pois nosso verdadeiro lugar esta com o Senhor nos céus. O Senhor mesmo nos deu exemplo nisto; neste sentido ele jamais se preocupou, senão por ser um peregrino, um residente temporal neste mundo, a tal ponto que chegou a dizer a alguém que se ofereceu a segui-lo, que ele não tinha nem uma pedra onde pudesse reclinar sua cabeça. Mas chega o momento em que a Igreja despreza o ouro fino e legítimo, deixando-se deslumbrar pelo brilho do ouro falso, e ao invés de ser peregrina nesta terra, prefere morar nela, onde satanás tem seu trono. Ele é o príncipe deste mundo, e a cidade geográfica onde está localizado este trono não é outra senão Roma, a capital do império dominante no tempo em que João escreveu a carta a Pérgamo. Em Roma também tem em seu centro de governo o sumo pontífice satânico, o imperador mesmo. Ali começou a "prosperar" a Igreja. Será esta a classe de prosperidade que o Senhor quer para Sua Igreja? Quer o Senhor que Sua Igreja santa escale posições terrenas, influência mundana e glória dos homens? Quer o Senhor que Sua Igreja sem mancha nem rugas se sente a governar com o mundo? Não será que a pretendida "vitória" nos tempos do imperador Constantino foi uma selvagem onda de derrota e corrupção para a Igreja de Jesus cristo?O Senhor aborrece que Sua amada habite onde seu inimigo tem o trono. O Senhor aborrece que Sua Igreja, para as reuniões, ao invés das casas dos irmãos, ou simples locais de reunião, comece a imitar ao mundo construindo magníficos palácios com a forma e o nome da basílica romana ou salão da corte. O Senhor aborrece que muita gente se apressou a fazer-se membro da Igreja, em procura de ganância pessoal. Satanás não pode acabar com a Igreja por meio das perseguições, então decide dar as boas vindas, acolhe-la para torná-la mundana, para corrompê-la. Menciona-se a um mártir chamado Antipas, testemunha fiel do Senhor, e que foi morto entre os irmãos em Pérgamo, e repete: "onde mora Satanás". Antipas em grego significa contra tudo. Nada mais se sabe deste importante mártir cristão que morreu por manter-se fiel ao Senhor, por não querer contaminar-se e negar ao Senhor, por estar contra tudo o que a igreja mundana introduziu na vida da Igreja. Há afirmações no sentido de que os historiadores Bolandistas ou Bolandos (pertencentes a uma sociedade fundada no século XVII pelo jesuíta Jan van Boland, encarregada de realizar um estudo crítico das biografias do santoral católico. ), chamaram de lendas as Atas dos Mártires, e dizem eles que Antipas foi martirizado em Pérgamo nos tempos do imperador Domiciano, e queimado dentro de um boi de bronze. Tertuliano também dá testemunho de que Antipas foi o bispo dessa igreja, e de que ao não obedecer aos decretos do imperador no sentido de tomar parte na adoração e sacrifícios a Esculápio, então foi sacrificado, no mesmo tempo quando o apóstolo João foi deportado à ilha de Patmos. Antipas é o arquétipo dos cristãos fiéis ao Senhor até o martírio. Enquanto isso irmãos fiéis viveram, a Igreja se manteve firme, e morriam durante as perseguições por não negarem sua fé; os santos preferiam morrer antes que negar a fé e o nome do Senhor. Pérgamo, apesar de morar na cidade que mais se dedicava à idolatria em toda a Ásia, com tudo isso, permaneceu fiel ao nome do Senhor. Os pagãos gritavam: "César é o senhor", mas havia muitos crentes que, como Antipas, confessavam: "Jesus é o Senhor". Ainda que seja de se entender que a época profética de Pérgamo se foi desenvolvendo mediante um processo, é certo que uma vez mortos os irmãos da época de Esmirna, os mártires, não há um deslize, senão uma queda terrível na Igreja do Senhor. Vivemos tempos em que é necessário ter o espírito de mártir, se queremos testificar contra a igreja mundana. Terminou o período em que ninguém se unia à Igreja buscando ganância mundana, ou em procura de celebridade; havia terminado a época em que só permaneciam os que estavam dispostos a ser fiéis até a morte, e somente essa classe de servos era dos que se faziam abertamente seguidores de Cristo. Entretanto, e apesar de começar a ser infiel ao Senhor, casando-se com o mundo, a Igreja continuou retendo o nome do Senhor por algum tempo; seguiu sem assumir nome algum de organização de origem humana; porque o nome denota a realidade da pessoa do Senhor. A pesar de que a Igreja estava experimentando um processo de afastamento maior que o nível original de onde o Senhor a havia colocado no princípio, abandonando o conselho de Deus, descuidando o depósito do Senhor e os princípios bíblicos, notamos que havia quem se preocupava por não negar sua fé no Senhor.


O Edito de tolerância

O que aconteceu para que a Igreja fosse morar no mundo? O Senhor havia bendito de tal maneira à Igreja, que alguns opinam que a metade do povo do Império Romano já era cristã, no começo do século quarto de nossa era. Isso era percebido pelos governantes imperiais, eles estavam convencidos de que a Igreja era inexpugnável e indestrutível, e o haviam comprovado com a perseguição de Diocleciano (303-304), por meio da qual o paganismo tentou, com uma frieza sem comparação no passado, aniquilar a Igreja de Cristo. Surge Constantino na cena política do Império e decide "aceitar" ao cristianismo; não parecer ser verdadeira a conversão a Cristo, e ainda que seus motivos foram mais políticos, esse evento significou uma decisão transcendental. No ano 313, Constantino e Licínio ( Lúcio), com quem até essa época compartilhava o poder sobre o Império, reunidos em Milão, publicam o chamado Edito de Milão, o qual consigna a liberdade religiosa e a igualdade de direitos para os cristãos, a devolução dos bens desapropriados aos cristão e a aparente abolição do culto estatal. Posteriormente, mediante o Edito de Tessalônica, do ano 380, o cristianismo foi estabelecido como a religião oficial do Império. (Ver no apêndice deste capítulo o texto dos editos).

A doutrina de Balaão

“Tenho, todavia, contra ti algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição.” (v.14).O que é a doutrina de Balaão? Por que disse o Senhor que alguns a estavam retendo nessa época? Balaão foi um cobiçoso profeta dos gentios, que conhecia o verdadeiro Deus, e que aparece como protagonista no livro de Números, durante os passo do povo hebreu pelas terras de Moabe, em sua peregrinação pelo deserto em busca da terra prometida. O nome Balaão significa desviador do povo, e nesse propósito firmou seu ministério. No princípio Balaão pode ter sido um profeta de Deus, mas por ganância desonesta e por congraçar-se, se converteu em mercenário e desviou o caminho da verdade. Balaque, na ocasião rei de Moabe, ofereceu dinheiro a Balaão para que amaldiçoasse o povo hebreu, pois temia que o eventual cruzamento do povo de Deus por suas terras lhe ocasionara prejuízos, como havia sucedido com o Amorreu. Diz a Palavra de Deus que quando chegaram os emissários do rei com o pagamento para que Balaão fosse realizar seu nefasto trabalho, Deus havia dito com muita clareza a Balaão: "Então, disse Deus a Balaão: Não irás com eles, nem amaldiçoarás o povo; porque é povo abençoado." (Nm. 22:12). Mas Balaão insistiu e o Senhor o permitiu ir, mas com a condição de que fizesse o que Ele lhe dissesse, constituindo este um dos exemplos bíblicos mais exponentes da vontade permissiva de Deus. Balaão sabia muito bem que não era a vontade perfeita de Deus que atendesse a esse chamado. O Senhor não ia permitir que nada amaldiçoasse a seu povo. Instigado pelo rei Balaque e por seus oferecimentos de paga, por mais que fosse tentado, Balaão não podia maldizer o povo de Deus, pois Deus ia frustrando os esforços de Balaque . Então ocorreu o que a Palavra de Deus chama de doutrina de Balaão; o profeta usa uma astuta estratégia para fazer cair em pecado o povo hebreu diante de Deus, pois aconselhou a Balaque que, seguindo essas instruções, corrompeu ao povo de Israel procurando uni-lo com as mulheres gentias pela atração do desenfreio sexual e logo a adoração de imagens. " Habitando Israel em Sitim, começou o povo a prostituir-se com as filhas dos moabitas. 2 Estas convidaram o povo aos sacrifícios dos seus deuses; e o povo comeu e inclinou-se aos deuses delas. 3 Juntando-se Israel a Baal-Peor, a ira do SENHOR se acendeu contra Israel." (Nm. 25:1-3). Como conseqüência houve uma grande mortandade entre os varões do povo de Israel e matança dos medianitas, incluindo o próprio Balaão, e os israelitas “e mataram todo homem feito. Mataram, além dos que já haviam sido mortos, os reis dos midianitas, Evi, Requém, Zur, Hur e Reba, cinco reis dos midianitas; também Balaão, filho de Beor, mataram à espada. 15 Disse-lhes Moisés: Deixastes viver todas as mulheres?16 Eis que estas, por conselho de Balaão, fizeram prevaricar os filhos de Israel contra o SENHOR, no caso de Peor, pelo que houve a praga entre a congregação do SENHOR” (31:8,15,16).Satanás não podia acabar com a Igreja. Assim como Balaque teve temor deste povo numeroso que havia entrado em seus domínios, Constantino propicia uma fusão, um matrimônio da Igreja com a religião babilônica, incitando ao que a Palavra de Deus chama de "comer coisas sacrificadas aos ídolos", e que finalmente gera confusão entre a sociedade política e religiosa, que, pelos conflitos do perverso coração humano, leva implícito o problema do poder, e não qualquer poder, senão aquele que os imperadores se reservam os "divinos" direitos, e que se destaca a seu devido tempo e se conhece historicamente como o cesaropapismo.Não se chega a compreender a razão pela qual havia existido a opinião de que a incursão e executória de Constantino na vida da Igreja de Jesus, constituiu para ele uma grande vitória, alegando para ele haver decretado por fim às perseguições aos santos e haver-la enchido de rendas eclesiásticas, liberdades e exaltações, e se fala inclusive de que a Igreja tem entrado em crises nos nossos dias devido ao fato que recentemente temos chegado ao fim da era constantiniana. Constantino abriu as portas aos cristãos para ascendê-los aos mais altos cargos da administração imperial, como o de consulado, prefeitura de Roma e prefeitura do Pretório. Assim mesmo concede ao cristianismo um estatuto jurídico especial, por meio dos quais os dirigentes eclesiásticos começam a gozar de privilégios, equiparando-se aos funcionários civis. Constantino foi o principal instrumento inicial de Satanás para introduzir no cristianismo todos os mistérios da religião antiga babilônica, a que se iniciou com Ninrode depois da época do dilúvio e a edificação do zigurate chamado Torre de Babel, que logo se consolidou em Tiatira com a Igreja Católica Romana, dando solidez e continuação ao ministério de iniqüidade com o papado, que com suas sutilezas de raciocínio e sua astúcia chegou a consolidar o culto à antiga rainha do céu babilônica, com todo seu seguimento de abominações. Têm a doutrina de Balaão suas incidências hoje? Objetivamente os luxuosos ensinos religiosos, ensinos terrenos foram apagando a santidade e minguando o testemunho fiel no seio da Igreja, não olhando com bons olhos que os filhos de Deus pratiquem a apropriada fé cristã, separando-se do mundo, não participando de suas empresas sujas nem associando-se a suas organizações; e na "igreja" mundana alguns começaram a ensinar muito desses desvios, até que o povo chegou à executória plena da idolatria. Se não se retém o nome do Senhor, o resultado final é a idolatria e a prostituição. Essa doutrina ensina a distrair os crentes, e como conseqüência caíram na idolatria, apartando-se da pessoa de Cristo, de Sua adoração e pleno gozo. Incitar a comer do sacrificado aos ídolos e a prostituição, se relaciona com o que entre os pagãos era chamado "sagrada prostituição", já que a praticavam em seus próprios templos em honra à seus deuses. Aqui a prostituição tem a conotação de apostasia. Tanto a doutrina dos nicolaítas como a de Balaão ensinam falsidade, sedução, tentação e indução à apostasia. A mistura dos ensinamentos e ritos pagãos com as doutrinas cristãs se chama sincretismo. Comer do sacrificado aos ídolos é também voltar às meras doutrinas, as quais conduzem à prostituição e a idolatria. Nosso alimento verdadeiro é Cristo. Não podemos esquecer que hoje abundam os pregadores por contrato, assalariados, não chamados por Deus. as multidões no cristianismo de hoje correm atrás dessa classe de pregadores, e por isso são desorientados. Isso se consegue mediante a doutrina de Balaão; se desvia os crentes da pessoa de Cristo levando-os a idolatria; qualquer classe de idolatria.


O caminho de Balaão

Além da doutrina de Balaão, a Palavra de Deus registra o caminho de Balaão. Qual é esse caminho de Balaão? Responde-nos Pedro, quando disse: " 15 abandonando o reto caminho, se extraviaram, seguindo pelo caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça. 16 (recebeu, porém, castigo da sua transgressão, a saber, um mudo animal de carga, falando com voz humana, refreou a insensatez do profeta). " (2 Pe. 2:15-16). No contexto Pedro está descrevendo o caráter e conduta dos líderes e profetas enganadores, como conseqüência direta da doutrina; ou seja, quem é como Balaão, despreza o senhorio e a vontade de Deus por andar pelo caminho do prêmio injusto e usando o dom profético e o chamado de Deus para o próprio crescimento e ganância pessoal. Foi se introduzindo na Igreja uns tipos de servos inclinados talvez a servir simultaneamente a Deus e a seus próprios interesses, dentro desse espírito de casamento com mundo de Pérgamo, cedo ou tarde enfrentando-se inevitavelmente à desaprovação e condenação do Senhor. Está na moda, nestes tempos contemporâneos, o pregar por amor ao dinheiro, o buscar a congregação de maiores ingressos, o introduzir na assembléia dos santos os métodos e modo de atuar do mundo, tais como a psicologia de massas, manejo de luzes, controle emocional mediante a música, etc..., que acondicionam emocionalmente à alma.Leva-se em conta que na Mesopotâmia e região da Babilônia, antiga terra habitada pelos sumérios e acadios, e onde originalmente estava o trono de Satanás, cada cidade estava debaixo da proteção de um deus específico, ao qual, junto com seu numeroso séqüito de deuses menores, lhes haviam construído um magnífico templo. Os sacerdotes que serviam ali cumpriam a si mesmo uma função financeira, devido a que as riquezas do templo incluíam grande parte das terras e ganhos da cidade. Diz-se que o comércio religioso dominava a cidade econômica e socialmente. Suas salas de pequenos cultos estavam elevadas sobre uma plataforma por cima das casas do resto do povo. Será todo isto mera casualidade frente ao que aconteceu com a Igreja desde os tempos de Constantino? Muitas das capelas, templos e santuários do paganismo pré-cristão foram transferidos para o serviço cristão, junto com suas dotações monetárias. Mas o curioso e lamentavelmente é o feito de que muitos de seus sacerdotes pagãos e mesmo seus filhos, como algo hereditário, passaram diretamente ao corpo do clero cristão, e alguns foram feitos bispos. Constantino proporcionou à Igreja exatamente o mesmo que Balaque havia feito com Israel. Com o enriquecimento material, a conduziu ao adultério espiritual e à idolatria. Depois de Constantino, as igrejas começaram a receber subsídios oficiais, pelo menos nas grandes cidades. E mais, se criou um patrimônio eclesiástico, graças às oblações e oferendas dos fiéis e o favor econômico dos Imperadores, e tal patrimônio é administrado com completa autonomia pelo bispo, quem desfruta de isenção fiscal, assunto este que se tem perpetuado através dos séculos. Aos eclesiásticos o Império lhes concedeu um estatuto privilegiado, consistente em liberdade para dispor do patrimônio, imunidade fiscal, ou seja, que jamais pagaram impostos, dispensa de cargos curiais, etc... Mas essa igreja mundana se empobreceu espiritualmente, e começaram a receber multidões sem conversão e chegaram à prática do batismo infantil.

O erro de Balaão

O caminho de Balaão está intimamente associado com o erro de Balaão descrito em Judas 11. Ali o apóstolo também descreve as características dos falsos mestres e o destino que lhes espera, trazendo à tona o assunto que quase sempre registra o falso mestre, a ambição e o desejo de ganância pessoal. Ali diz: " Ai deles! Porque prosseguiram pelo caminho de Caim, e, movidos de ganância, se precipitaram no erro de Balaão, e pereceram na revolta de Coré. "As passagens que narram o Antigo Testamento são também arquétipos dos eventos cumpridos no Novo e relacionado com a Igreja. Lamentavelmente vemos que a Igreja foi institucionalizada e integrada ao sistema político de Roma, de tal maneira que aquele aspecto de comunidade espiritual de fiéis (Ecclesia) desafortunadamente passou a um segundo plano. De baixo dessa ameaça decretada por meio dos editos, as "conversões" das multidões se efetuavam em massa, sem o devido arrependimento, quantas vezes sem conhecer quem era o Senhor e sua obra expiatória. Começou a se experimentar um marcado desnível entre a moral cristã do tempo das perseguições e a deste período de Pérgamo; muitos cronistas diziam que homens ambiciosos e inescrupulosos procuravam postos na Igreja para obterem ganhos econômicos e influência social e política. Esse é o caminho de Balaão. Muitos dos cristãos nominais ofereciam somente adoração externa, de lábios, pois seguiam sendo pagãos de coração. Nessas conversões em massa, odres velhos queriam receber um vinho novo e qual foi o resultado? Os odres se romperam e em muitas dessas vidas se perdeu o vinho.