A Igreja de Jesus Cristo-Uma Perspectiva Histórico-Profética

A Igreja de Jesus Cristo-Uma Perspectiva Histórico-Profética
Tradução do livro "La Iglesia de Jesucristo, una perspectiva histórico-profética" de Arcadio Sierra Diaz

terça-feira, 18 de setembro de 2007

II- Esmirna ( 2ª Parte )

Capítulo II-E S M I R N A
(2a. parte)

2. Domiciano Tito Flávio, imperador romano entre os anos 81-96 D. C., filho de Vespasiano e irmão e sucessor no trono de Tito, famoso este por haver comandado as legiões romanas que destruíram a Jerusalém no 70 D. C. Durante o reinado de Domiciano a Igreja sofreu perseguições cruéis, carregadas de ódio, impulsionada pela ira de um governante supremamente tirano. Em seu reinado acentuou a obrigação de que toda pessoa em todo o território do Império Romano oferecesse incenso a César pelo menos uma vez ao ano. Era uma espécie de adoração que no império tributavam à pessoa do imperador reinante; assunto este que não necessariamente havia tido sua origem em Roma; pois já se praticava em culturas anteriores. Recordemos o caso de Nabucodonosor na Babilônia, registrado no capítulo 3 do livro do profeta Daniel. O imperador romano era considerado divino; e os cristãos primitivos recusaram reconhecer o título de Kyrios Káiser ao imperador, ou seja, o senhor de toda a terra, dono inclusive da vida e bens de seus súditos, reservando-o única e exclusivamente para Cristo. Dentro do Império constituía um delito, por que não dizer um crime de lesa-majestade o acatar, obedecer e adorar a outro Kyrios (Senhor) que não fosse o imperador. No culto ao imperador não vemos outra coisa senão a Satanás fazendo-se adorar na pessoa de um homem, que na ocasião é seu sumo sacerdote, o espírito do anticristo fazendo sentir sua influência malévola desde a antigüidade. Os santos eram levados aos tribunais acusados além de transgressores das leis contra a tradição religiosa, sacrilégio, magia, prática de um culto estrangeiro, hostis ao estado por não tomar parte nos ritos do culto imperial. A multidão considerava os santos do Senhor como uns desleais e conspiradores de uma revolução, pelo fato de que os observavam louvando e adorando a outro Kyrios, outro Rei, "um tal Jesus, que dizem que ressuscitou". De modo que todas essas circunstâncias alimentavam o fogo dessas ferozes perseguições. Durante o reinado de Domiciano, ao redor do ano 86, foi deportado o ancião apóstolo João de Éfeso à ilha de Patmos por seu testemunho do Senhor, onde se lhe aparece o Senhor Jesus e lhe descobre o véu dos acontecimentos finais, escrevendo assim o livro de Apocalipse. *(1) *(1) Ainda que a maioria dos historiadores não tem considerado como perseguição, entretanto registramos que durante o reinado de Marco Úlpio Trajano, imperador romano entre os anos 98-117 D. C. Durante seu reinado, no ano 107 D. C., por ordem do governador romano na Palestina, foi executado Simão, sucessor de Tiago como cabeça da igreja em Jerusalem, e também irmão menor do Senhor (Marcos 6:3). Também Inácio, por sobrenome Theophorus o portador de Deus, bispo de Antioquía de Síria, foi jogado às feras no anfiteatro romano no ano 107, depois de haver comparecido ante o mesmo Trajano, quem o submeteu a um dramático interrogatório. Durante sua viagem a Roma para ser martirizado, Inácio escreveu umas cartas às igrejas nas localidades de Éfeso, Magnésia, Trácia, Roma, Filadélfia e Esmirna, entre outras, assim como uma a Policarpo, o bispo de Esmirna, e que se tem conservado; as quais nos transmitem valiosos informes sobre a fé cristã naquela época. Também dizem essas cartas acerca da reação frente ao docetismo. Diz-se que Trajano sustentava uma cruzada correspondência com Plínio filho (o menor), quem na ocasião servia como legado imperial na Bitínia, indicando que o cristianismo estava oficialmente proscrito; que se os cristãos se retratassem, podiam ser perdoados, do contrário haviam de serem executados. Durante seu reinado também foi martirizado Clemente, bispo em Roma, em circunstâncias bastante curiosas, pois há testemunho de que foi jogado ao mar, ataram ao seu pescoço uma âncora de ferro. Durante o reinado de seu sucessor, Adriano (117-138), houve perseguição em menor grau. Entre os mártires desse tempo se encontra Teléforo, pastor da igreja em Roma.

3. Antonino Pio Imperador romano entre os anos 138-161 D. C. Considerado o mais nobre dos imperadores romanos; seu reinado é considerado a idade de ouro da glória de Roma. Abaixo de seu reinado os cristãos sofreram em Roma e outras províncias do Império. Por exemplo, no ano 155, Policarpo, bispo em Esmirna, morreu queimado na fogueira, mas vendo que seu corpo não se consumia com o fogo, o rematador lhe fincou um punhal no peito. Antonino Pío fez parte dos chamados "cinco imperadores bons", com Nerva, Trajano, Adriano e Marco Aurélio, e durante seus governos nenhum crente poderia ser preso sem que se comprovasse algum delito. Entretanto, talvez pelas razões que temos exposto, quando Policarpo compareceu ante o procônsul, se lhe pediu que amaldiçoasse o nome de Jesus Cristo. Estando no estádio, o procônsul lhe disse: "Jura e te ponho em liberdade. Maldiz a Cristo". Então Policarpo disse: "Oitenta e seis anos fazem que lhe sirvo e nenhum dano tenho recebido Dele; como posso maldizer o meu Rei, que me salvou?" Os juizes incitavam a este ilustre mártir pronunciar o Kyrios Káiser (o César é o Senhor), como se tratasse de algo fútil, com o qual se livraria da morte; mas ele se recusou a pronunciar essa gravíssima blasfêmia. É provável que Policarpo fosse o último sobrevivente dos que haviam falado com testemunhas oculares de Jesus e Sua gloriosa ressurreição. (Favor ler o martírio de Policarpo no Apêndice I ao final deste capítulo).

4. Marco Aurélio. Imperador Romano entre os anos 161-180 D. C. Diz-se que este filósofo estóico foi o melhor, o mais magnânimo e consciencioso dos imperadores Romanos. Autor de "Meditações" sabias sentenças carregadas de altos sentimentos acerca do próximo; mas em parte mal aconselhado por seus mentores que o fizeram crer que o cristianismo era um movimento imoral, que inculcava o obstinado afã de morrer, e também em parte porque por motivos políticos procurava restaurar a antiga religião imperial, chegou a professar muita aversão pelos inovadores cristãos, pois muitos de seus súditos pagãos afirmavam que o descuido da adoração aos antigos deuses que haviam levado Roma a gozar de todo esse grande poder, era causa dos desastres que estava sofrendo o império. Via aos cristãos como um perigo que pairava contra a estrutura da civilização imperial que ele estava propugnando. Mas, o que havia atrás de tudo isto? Por que havia decaído a adoração aos antigos deuses no Império Romano? Marco Aurélio, por muito moralista que fosse, entretanto, não deixava de ser o chefe, o sumo pontífice da religião satânica, e era guiado por seu deus e pai a exterminar a grande força dos santos que com suas orações estavam fazendo cambalear a idolatria e essa nuvem de demônios que pairava sobre o céu imperial. O leão que ruge ao derredor dos santos guiava a seu agente humano com o fim de que acabasse com a Igreja de Jesus Cristo, e lhe dava poder para que levasse a cabo sua nefasta empresa. Durante seu reinado permitiu perseguições inclusive na Gália, como a que se desencadeou em Lyon no ano 177, e em seus domínios os santos eram decapitados ou devorados pelas bestas na arena, entre os quais temos a Justino Mártir, antigo mestre filósofo, um dos homens mais capacitados de sua época e um dos mais ilustres apologistas da fé. Seus escritos ainda existem. Foi martirizado no ano 166.

5. Setimos Severus. Lúcio, imperador Romano entre os anos 198-211 D. C. No século III, ao decair os cultos tradicionais, o cristianismo se transformou em uma força considerável. Setimo Severus procurou em vão restaurar as decadentes religiões imperiais de outros tempos. No princípio de seu reinado não se mostrou desfavorável aos cristãos; inclusive se diz que alguns deles faziam parte de sua família oficial, e que confiava a uma ama-de-leite cristã a criança de Caracala, seu filho. Mas a partir de 202 em todos seus domínios perseguiu ferozmente à Igreja, até o final de seu reinado e morte, e o fez com tanta crueldade, que muitos escritores cristãos o consideraram como o anticristo. Desta perseguição se registra na cidade de Lyon dezenove mil mártires. Onde mais se maltratou foi no Egito e todo o norte da África. Por exemplo, Leônidas, o progenitor do grande teólogo Orígenes, foi decapitado na Alexandria, e Orígenes quis correr a mesma sorte do pai, mas sua mãe evitou, escondendo sua roupa. Na cidade de Cártago, foram despedaçadas pelas ferozes bestas no ano 203, Perpétua, uma mulher nobre dessa cidade, e Felicia, sua escrava.

6. Maximiano o Traciano Caio Júlio Vero. Imperador Romano entre os anos 235-238 D. C. Responsável por ter avivado em alto grau a perseguição contra os cristãos em seu curto reinado. Nesse tempo Orígenes salvou-se se escondendo.

7. Décio. Caio Mesio Quinto Trajano, imperador Romano entre os anos 249-251 D. C. Igual a Maximino Tracio, era oriundo da região da Trácia. Tentou impor a unidade religiosa no Império, causa pela qual desatou uma terrível perseguição geral contra os cristãos; a mais severa que se havia sofrido até então. Sua intenção pode ter sido a de extirpar o cristianismo como uma ameaça ao bem comum. Diz-se de Décio que seus admiradores o louvavam como a personificação das velhas virtudes Romanas, incluindo uma preocupação devida que no império estavam abandonando aos deuses Romanos, os quais, desde seu ponto de vista, haviam engrandecido a Roma, o qual havia acarretado muitas calamidades e a decadência que afetava a sociedade. Isto o induziu a ordenar por meio de uma série de editos, a que todos os cidadãos do império oferecessem sacrifícios aos deuses, afetando amargamente aos santos. Muitos pagaram com suas vidas antes que apostatar de sua fé; alguns, como o caso de Orígenes, foram encarcerados. Afortunadamente seu reinado teve curta duração, e com sua morte a perseguição à Igreja teve um tempo de cessação. Os bárbaros mataram Décio a flechadas.

8. Galo. Caio Vibio Treboniano, Imperador Romano entre 251-253 D. C., depois da morte de Décio, quando foi proclamado imperador pelas tropas de Mesia e Trácia, mas foi morto por seus soldados a fins de 253 em Terni. Seu reinado é conhecido pela perseguição que empreendeu contra os cristãos.

9. Valeriano. Publius Licinius. Imperador Romano entre os anos 253-260 D. C. Em 257 decretou astutamente uma perseguição geral contra os cristãos, de curta duração, mas com fúria redobrada, famosa devido a que durante ela foi decapitado Cipriano, o célebre bispo de Cártago, ao norte da África, um dos mais eminentes escritores e dirigentes da Igreja em seu tempo.*(2) É importante atentarmos no fato de que durante a perseguição de Decio, Cipriano teve que fugir de Cartago. Em seu regresso pronunciou um discurso contra os lapsi, que eram os cristãos que apostatavam de sua fé em tempos de perseguição, e passada esta, solicitavam ser readmitidos de novo na comunidade da Igreja, para escapar do sofrimento. Cipriano não se deteve ai, senão que, além disso, escreveu muitas cartas e um livro titulado "Os lapsi", opondo-se à fácil readmissão sobre tudo dos que haviam livrado da perseguição por haver sacrificado aos ídolos, ou o haviam logrado mediante suborno às autoridades imperiais, solicitando assim mesmo duras penitências a estas pessoas. Novaciano, bispo da igreja em Roma, foi ainda mais longe se opondo fortemente a sua admissão, e se produziu o cisma de Novaciano, dando origem ao novacionismo, que durou até meados do século quinto, seguido pelos donatistas, nome tomado de Donato, bispo de Cártago. Durante a perseguição ordenada por Valeriano chegou a confiscar os bens, o desterro para as matronas cristãs e a escravidão para os cristãos oficiais do exército. Em Roma foi morto o bispo, e o diácono Lorenzo assado sobre uma grelha. *(2) A morte de Valeriano não pode ser mais cruel. Disse Maurício da Châtre: "Aos fins do ano 260, vendo-se depois de uma derrota rodeado pelos persas, sem esperança de poder escapar, teve uma conferência com Sapos, rei dos persas, que lhe reteve prisioneiro, sem querer jamais devolver a liberdade. O pérfido monarca, depois de haver tratado com a maior indignidade por espaço de nove anos, fazendo servir de apoio para montar a cavalo, ou subir no seu carro, lhe fez ao fim dar morte em 269, negando-lhe as honras da sepultura; porque depois de sua morte, Valeriano foi degolado por ordem daquele bárbaro, salgado seu corpo e sua pele curtida e posta em um templo para eterno monumento de afronta dos Romanos. Todos os cristãos têm reconhecido o dedo de Deus no deplorável fim de Valeriano". A história dos Papas e os Reis. CLIE 1993. Tomo I, pág. 189.

10. Diocleciano. Caio Aurélio Valério. Imperador romano entre os anos 284-305 D. C. Um dos mais poderosos imperadores Romanos. Em política religiosa quis restaurar as antigas crenças, o que lhe pôs em conflito com os cristãos, aos que perseguiu duramente. Este Imperador iniciou em 303 a mais terrível e sistemática de todas as perseguições contra a Igreja de Jesus Cristo, a qual continuou seu sucessor Galério até o ano 311. Seu proceder contrasta com as circunstâncias que lhe rodeavam, pois à idade de cinqüenta anos, rodeado de cristãos no corpo oficial, sua própria esposa e filha à vez esposa de seu sucessor Galério, eram cristãos, ou favoráveis à fé da Igreja, entretanto, desatou, talvez instigado pelo ambicioso Galério, a mais cruel das perseguições. O governo imperial ordenou a queima de todo exemplar da Bíblia confiscado; decretou a destruição de toda edificação construída como centro de reunião da Igreja; que todos os que não renunciassem a sua fé perderam sua cidadania e ficassem fora da proteção da lei. Ordenou-se a degradação de cristãos que ocupavam postos de honra no império. Dava-se o caso de que era incendiado o lugar de reunião, estando os crentes em reunião, perecendo em conseqüência os santos dentro das paredes. Seguiam emanando editos ordenando o encarceramento de dirigentes das igrejas, a escravidão dos serventes domésticos que não abjuraram de sua fé, e oferecimento de liberdade aos cristãos que ofereceram sacrifícios aos velhos deuses, e, pelo contrário, tortura e morte para quem teimasse. A intenção de Diocleciano era a de exterminar a "superstição cristã", como costumava chamar à Igreja. Mas o Senhor sempre esteve presente. Ele havia morrido e ressuscitado primeiro, e houve ocasiões em que metia Sua mão, como a vez em que animais ferozes deixaram ilesos aos cristãos que lhes eram expostos, e atacaram aos perseguidores dos santos. Ante uma contenda tão desigual entre um império dotado de um poderoso e cruel exército e a resistência passiva da Igreja do Senhor, ante os olhos dos homens, quem poderia sair vitorioso? Oh! Propósitos insondáveis os do Pai; o vitorioso não foi precisamente o governo imperial com suas forças satânicas e sua confiança na magia pagã, senão que o exército de Cristo foi o vencedor, mesmo que haja sido o único que pôs os milhares de mortos e mártires. Recorde-se que na Igreja todos estão qualificados para ser mártires vitoriosos. O termo diocese, que utiliza a Igreja Católica Romana, provém de Diocleciano. Durante seu reinado dividiu as províncias ou regiões de seu império, e a essas divisões chamaram dioceses. Todas estas perseguições tiveram um fim nos propósitos do Pai, e ao invés de ser exterminada, a Igreja saia mais fortalecida, mais santificada de cada uma delas. Por que saia a Igreja mais fortalecida? Porque tem dentro dela a vida de ressurreição. A vida de ressurreição vence a perseguição, e o vencedor recebe o prêmio da coroa da vida, como acréscimo da salvação. Cada irmão que permanecera fiel mesmo que tivesse que ir a cárcere ou dar sua vida, tinha a promessa de reinar com o Senhor no reino dos céus. Satanás poderá receber poder para quitar-nos a vida, mas não pode ir mais adiante; não pode ultrapassar os umbrais da morte e roubar-nos a coroa da vida, pois essas chaves só o Senhor Jesus as tem. Somente o Senhor conhece a grande multidão de santos mártires que derramaram seu sangue antes que render culto de adoração à criatura ou instituição criada pelos homens. Indubitavelmente Deus permitiu todo esse período sangrento para sua Igreja para fundamentar e arraigar a fé nos corações de Seus filhos; uma vez que cessaram as perseguições, se deu o início ao período de queda. Não é vão que está estampada como que em caracteres de ouro a seguinte afirmação: " 14 Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro,15 razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo. " (Ap. 7:14-15).

Constantino o Grande

A morte do imperador Constâncio Cloro em 306, de quem se diz que jamais esteve de acordo com a perseguição aos cristãos, seu filho Constantino, quem se encontrava em York, Britânia, foi proclamado imperador augusto por suas tropas, mas seus rivais se opuseram pelo qual foi escalando posições na política imperial, não sem antes travar uma prolongada contenda. Dotado de um poderoso exército foi derrotando a seus oponentes, e no ano 312, logo atrás da morte de Galério, deu um passo decisivo com relação à Igreja. Aliado com Licínio, com quem até o momento dividia o Império, o primeiro inimigo que teve de enfrentar foi a Maxêncio, ele era forte na Itália e havia se apoderado de Roma, mas Constantino o derrotou na batalha junto a ponte de Múlvia, perto de Roma. O bispo Eusébio de Cesaréia narra em um de seus livros que Constantino, na ocasião amigo seu, contou haver tido, às vésperas dessa batalha, a visão de uma cruz nos céus, que levava a inscrição em latim, "In hoc signo vinces" (Com este sinal vencerás), e que mediante um sonho Deus lhe confirmou, aparecendo a ele com o mesmo sinal, mandando que se fizesse um sinal semelhante, a fim de que a usasse como estandarte em suas batalhas com seus inimigos.Disse Eusébio que ele mesmo viu o estandarte que foi feito por ordem de Constantino, o qual constava de uma lança coberta de ouro e pedras preciosas que bordavam um monograma com as letras gregas ji e rho (Χρ) do nome de Cristo. No ano seguinte, em 313, Constantino e Licínio celebraram uma entrevista em Milão, onde tomaram a decisão de adotar uma política de tolerância para os cristãos de todo o Império, por meio da proclamação de um edito, assunto que Licínio aceitou para que se beneficiasse a parte oriental do Império, debaixo de seu domínio. Mas as relações entre ambos os imperadores, ainda que fossem cunhados, foram se deteriorando sobre tudo no terreno religioso, pois Constantino propendia por favorecer aos cristãos e Licínio aos pagãos. Por último sobreveio a irremediável guerra e Licínio foi derrotado nas batalhas de Andrianópolis e Crisópolis no ano 324, ficando assim em mãos de Caio Flávio Valério Constantino I, o Grande, o governo de todo o Império Romano.

O dano da segunda morte.

" 11 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte. " (v.11).O que o Espírito Santo convida à Igreja a ouvir aqui ? Em primeiro lugar que não esqueçamos que o Senhor Jesus foi crucificado no Gólgota, mas ressuscitou glorioso; que não temamos o que eventualmente tenhamos que padecer por causa do Senhor, pois Ele tem o controle de tudo o que ocorre no universo; que sejamos fiéis a Ele até a morte; vale a pena, pois as provas aperfeiçoam nossa fé; que Ele está a par de tudo o que nos sucede e sabe o que nos convém; Sabe perfeitamente quem são os verdadeiros filhos de Deus e quem mentem ao afirmar ser-lo, e se reúnem para reverenciar ao diabo ou servir-se a si mesmos e não ao Senhor. O que tem de vencer os irmãos da igreja em Esmirna? A vitória aqui se trata da fidelidade ao Senhor até a morte. Se forem infiéis terminam em derrota. Se foges do sofrimento, incluindo o martírio, estás em derrota. Se amas mais tua própria vida e não estás disposto à ofertar pelo Senhor, é possível que sofras o dano da segunda morte.*(3) Por ser um tema de controvérsias, no presente livro não analisaremos o “dano da segunda morte”, mas deixamos sentado a clara doutrina bíblica de que os crentes hão de ser julgados quando o Senhor vier. O apóstolo Pedro diz que o juízo começa pela casa de Deus (cfr. 1 Pedro 4:17). De fato, o primeiro juízo que presidirá o Senhor Jesus em Sua segunda vinda, será o da Igreja; Sua própria Igreja. *(3) Para uma melhor compreensão do que significa não sofrer dano da segunda morte, recomendo ao leitor a que leia meu livro "Os Vencedores e o Reino Milenar"Como filhos de Deus, temos a responsabilidade diante Dele de fazer o que nos corresponde, de conformidade com Seus propósitos, e do qual devemos dar conta. Deus não tem deixado a Sua criação nem muito menos a edificação de Sua Igreja ao arbítrio dos homens. É necessário agir de acordo com um plano minuciosamente traçado pelo Senhor. "Porque é necessário que todos nós compareçamos ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que haja feito enquanto estava no corpo, seja bem ou seja mal" (2 Co. 5:10). Aqui não se refere ao mundo e sim à Igreja, aos santos. Também falando aos discípulos, em Mateus 16:27, o Senhor lhes disse: " Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras. ". Não se trata de fazer as coisas de acordo com nosso próprio plano propósito, e assim nos pareça muito louvável, Senão segundo Deus. É necessário que desviemos nossa atenção dos interesses terrenos, tanto de tipo pessoal como de índole organizacional e não descuidar a salvação de nossa alma. "... desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor" (Fp. 2:12); e a razão disto a encontramos também na bendita Palavra de Deus, quando diz: "Porque que aproveitará ao homem, se ganhar todo o mundo, e perder sua alma? Ou que recompensa dará o homem por sua alma?" (Mt. 16:26). De acordo com o contexto, isto não disse o Senhor às multidões mundanas, mas sim a seus discípulos. Sofrer dano da segunda morte não é sofrer a segunda morte (Ap. 20:14), que é eterna, mas sim participar temporariamente de algum tipo de sofrimento dispensacional durante o período do reino milenar; sofrimento de qual o crente não vencedor há de sair uma vez que haja pago até o último quadrante; Até que realmente sua alma haja sido transformada (cfr. Mateus 5:25,26).

A Patrística

É sumamente importante traçar um ligeiro perfil dos principais protagonistas e alguns atos de interesse deste amargo, mas frutífero período da Igreja do Senhor. Alguns desses grandes mestres são os chamados pais da Igreja.

Clemente de Alexandria (150-215 aproximadamente). Nasceu provavelmente em Atenas e foi formado na atmosfera cultural e filosófica helênica; se conformava com o temperamento eclético filosófico greco-romano, e em sua busca do ensinamento apostólico foi atraído por Panteno, de quem foi sucessor na direção da escola de Alexandria. No ano 203 e a causa da perseguição do imperador Setimo Severo, abandonou Alexandria, e se sabe que nas igrejas das localidades de Jerusalém e Antioquia lhe chamavam "o bendito presbítero". Clemente chegou a se convencer que o homem sábio não deve gloriar-se em sua sabedoria e que "a sabedoria deste mundo é necessidade para com Deus", mas à vez sustentava as bondades da filosofia grega para o avanço do evangelho. Clemente afirmou a não oposição entre as verdades religiosas contidas no cristianismo e a filosofia grega, à que considerava como uma antecipação e uma preparação para a exposição das verdades cristãs. Segundo Clemente, fé e saber filosófico se complementam. Paradóxicamente, a par que repudiava aos chamados gnósticos, dizia que há uma gnose cristã, que vem pela fé e não pelo raciocínio. Clemente ensinava que a Deus só se lhe pode conhecer por meio do Logos, (a Palavra, o Verbo) o qual existe desde sempre e é o perfeito reflexo e rosto de Deus, por quem se manifesta e se dá a conhecer. Dizia que Jesus é o Logos, o Deus santo, que derramou seu sangue para salvar aos homens; o Paidagogós ou instrutor dos crentes. Mas parece que não pensava em Jesus como verdadeiro homem senão somente na aparência. Afirmava que o Senhor Jesus é a Palavra (Logos) de Deus, o Espírito feito carne. De modo que através destes e outros conceitos, vemos a forte influência da filosofia grega neste varão. Quase todos os seus livros foram escritos em defesa do cristianismo contra o paganismo, entre os quais tem sobrevivido o Protreptikós, dirigido aos gregos para alentar aos pagãos a converterem-se, o Paidagogós (Instrutor), com instruções morais para os crentes, e os Stromata, ou títulos da filosofia cristã, obra apologética e expositiva com instruções mais avançadas.

Orígenes (185-254). Indubitavelmente desempenhou um papel de maior influência este sucessor de Clemente como diretor da escola de Alexandria, desde quando somente tinha 17 anos de idade. Grande teólogo e estudioso bíblico, nascido em Alexandria, de pais cristãos. Seu pai foi encarcerado e morto, e os bens da família confiscados durante a perseguição ordenada pelo imperador Setimo Severo. Se não fosse por sua mãe que escondeu suas roupas, ele haveria se apresentado voluntariamente ao martírio. Tomando ao pé da letra o dito pelo Senhor em Mateus 19:12, Orígenes se fez eunuco, e também para aceitar algumas em suas conferências e evitar a possibilidade de qualquer escândalo. Foi estudante do neoplatonismo. Visitou a Roma, Arábia, Grécia e Palestina. Na Palestina foi ordenado presbítero pelos bispos de Cesaréia e Jerusalém. Isso lhe acarretou problemas com Demétrio, bispo de Alexandria, que alegava que não haviam respeitado sua jurisdição, mas no fundo parece que havia motivos de ciúmes pelo prestígio de Orígenes. Porque este teve que se estabelecer em Cesaréia, onde prosseguiu suas atividades pedagógicas e de escritor ubérrimo, e onde também teve a oportunidade de trazer desde o Ponto a Gregório Taumaturgo, quem recebeu toda colaboração dos ensinamentos de Orígenes. Nesse tempo os homens haviam se apartado muito dos princípios bíblicos sobre o presbitério e o governo da igreja. Morreu Orígenes como conseqüência das torturas durante a perseguição ordenada por Décio, com a idade de sessenta e nove anos e foi sepultado em Tiro. Suas obras principais foram:* A Hexapla. Texto do Antigo Testamento colocado em seis colunas paralelas; a primeira o texto hebreu, a segunda o mesmo texto hebreu transliterado em caracteres gregos, e o resto várias traduções gregas. Somente se conservam fragmentos. Diz-se que Jerônimo usou a Hexapla para a tradução da Bíblia latina, a famosa Vulgata. * Comentário sobre as Escrituras. * Sobre Princípios Primeiros (De Principiis). Quatro livros. A primeira obra dogmática ou de teologia cristã, que se trata da primeira exposição metódica e compreensiva da fé cristã.* Contra Celso. São oito livros de apologia para rebater os ataques e a mais aguda crítica que contra o cristianismo havia dirigido sessenta anos antes o pagão Celso. Se considera a mais hábil defesa do cristianismo produzida até então. * Escritos menores. Um chamado de ressurreição, outro sobre oração, outro sobre a exortação ao martírio. É indiscutível, como se sucedeu a muitos outros homens de Deus que haviam sido educados nas canteiras da filosofia grega, que Orígenes, tanto em seus escritos como no enfoque de sua linha teológica, deixava entrever algum sinal dessa herança. Mas se aplicava no minucioso e profundo estudo da Bíblia, vendo nela três planos de significado: a) o comum ou histórico, o sentido literal, o da carne, o que está na superfície, para as pessoas simples; b) a alma das Escrituras, o sentido moral, o que edifica aos que o percebem, etc...) o espiritual, místico, para os espirituais, que encerra algo escondido de baixo o que superficialmente repugna à consciência, mas que uma vez discernido pode ser expressado em forma de alegoria. Mas é difícil manter estes três pontos de vista através de toda a Palavra de Deus. Querer harmonizar a filosofia com os ensinamentos do cristianismo, ou o que é o mesmo, explicar os ensinamentos do Senhor em termos filosóficos e lógicos, além de sustentar alguns outros pontos de vista errôneos, acarretaram a Orígenes haver sido assinalado como herege em alguns pontos por sínodos regionais celebrados em Alexandria (399), Jerusalém e Chipre. Posteriormente, em dois concílios celebrados em Constantinopla (543 e 553) formularam o catálogo dos "Erros de Orígenes". A principal contradição de Orígenes foi seu antigo discípulo Metódio de Olimpo, quem foi o que deu começo às controvérsias.

Gregório Taumaturgo (213-270). Advogado pagão da Nova Cesaréia, em Ponto, Gregório Taumaturgo (obreiro de maravilhas) provinha de uma família rica e de renome; assim teve contato com Orígenes em Cesaréia, Palestina, a quem buscou como distinto mestre de filosofia, e nele encontrou, mais que filosofia e conhecimentos seculares, a fé cristã, com as ênfases distintas de Orígenes. Ao regressar a Ponto chegou a ser bispo da igreja de sua localidade, ao redor do ano 240. Quando Gregório morreu, a grande maioria de seus conterrâneos havia se convertido. Dele se conta uma curiosa e interessante anedota retórica. Diz-se que quando foi constituído bispo, somente havia uns dezessete irmãos cristãos integrando a igreja, e que a sua morte, trinta anos mais tarde, só ficavam dezessete pagãos na cidade. Isso significa que seu ministério teve muito êxito. Alguns opinam que fez ali grandes esforços para apartar aos crentes das festividades pagãs instituindo festas na memória dos mártires. A opinião de outros é que Gregório usou para ele um meio duvidoso, pois foi fazendo a transição para seus paisanos tão fácil como fora possível, substituindo festejos em honra aos mártires cristãos pelas festas dos deuses pagãos, o qual se pode tomar como uma prolongação da idolatria.

Escolas teológicas

Diante da necessidade da instrução catequista dos novos convertidos provenientes de lugares pagãos, surgiram e foram estabelecidas quatro grandes escolas de teologia e pensamento cristão, as quais se converteram mais tarde em centros de preparação avançada de teologia e doutrina para os dirigentes e mestres da Igreja. Nessa época que necessitava de uma centralidade na doutrina cristã frente à avalanche de erros e heresias. Há de se levar em conta que nessa época a exegese bíblica estava em sua infância e na Igreja não existia um sistema desenvolvido de hermenêutica. Essas escolas foram as de Alexandria, Ásia Menor e Norte da África, às quais estavam associados grandes mestres. A escola de Alexandria, foi fundada por Panteno ao redor do ano 180, em uma das mais cultas e importantes cidades do Império Romano, fundada por Alexandre o Grande no século IV A.C. Dotada que havia sido de uma das mais completas bibliotecas da Antigüidade, Alexandria foi o berço da última das filosofias greco-romanas não cristãs, o neoplatonismo; e floresceu também ali o gnosticismo. Como importante centro cultural do mundo helênico, em Alexandria, desde os tempos de Ptolomeo Lagi (323-285 a.C.) e Ptolomeo Filadelfo (285-247 a.C.) se foram dando citação a diversas escolas de pensamento, o mesmo que as correntes místicas asiáticas, as diferentes filosofias gregas, a influência do judaísmo e o direito romano, se purificando de passagem, o gosto pela alegoria sobre tudo no terreno religioso, método exegético praticado por estudiosos do porte de Filom e Orígenes. O judeu helenista Filon, foi um estudioso da Bíblia, mas usava um sistema eclético de interpretação, inclinando-se pelas especulações filosóficas gregas, aplicando em especial o arbitrário método alegórico, herança que pagou à teologia cristã Alexandrina. Deve se ter em conta que em Alexandria os mestres cristãos, entre eles Panteno, Clemente de Alexandria e Orígenes, consideravam a filosofia grega como uma ferramenta que devia ser usada, ferramenta que em ocasiões resultou em dois gumes. Panteno foi um filósofo estóico convertido e era eminente pelo fervor de seu espírito, do qual só se conservam fragmentos de seus escritos.A escola de Antioquia, fundada por Luciano. Relacionados com esta escola encontramos aos grandes, Deodoro de Tarso, Teodoro de Mopsuéstia, Teodoreto de Ciro, Doroteo, e o mais sobressalente, João Crisóstomo. A diferença da escola de Alexandria, que era alegórica, a de Antioquia era exegética, gramático-histórica, e as vezes céptica em algumas coisas. Desafortunadamente, devido ao rigor na aplicação deste método exegético, nesta escola caíram em alguns desvios, como o exagerado racionalismo, chegando inclusive a descartar o aparentemente incompreensível da Bíblia. Estes métodos especulativos de captar a Revelação chegaram a degenerar em excessos como o de Luciano, um dos precursores do arianismo, ou o de Teodoro de Mopsuestia, quem apesar de ser um dos melhores comentaristas bíblicos da antigüidade, não por ele deixou de cair no erro de negar a inspiração de alguns livros do Antigo Testamento.A escola da Ásia Menor, se caracterizava porque, a diferença da de Alexandria, não estava centrada em uma cidade em especial, e sim que consistia em uma linha de pensamento e trabalho conjuntural de um grupo de mestres e escritores de teologia. Irineu foi o mais notável exponente desta escola, grande evangelista, conferencista e escritor, defensor da causa de Cristo.A escola do Norte da África, tinha seu centro em Cártago. Foi a escola que mais contribuiu à formação do pensamento teológico da Europa. Ali se destacaram importantes escritores e teólogos da estatura do brilhante, célebre, controvertido e fervoroso Tertuliano, e do hábil bispo Cipriano.


Os apologistas

Não obstante atravessar a época mais amarga e sangrenta da Igreja, e devido a que o cristianismo se enfrentava também com as idéias opositoras surgidas do paganismo, alguns escritores cristãos dos anos 120 a 220 escrevem para defender o fazer a apologia da fé dos seguidores do Senhor Jesus, e buscar a conversão dos pagãos. Estas obras se caracterizam porque foram escritas em um estilo untado de ideologias filosóficas gregas, pois uma das dificuldades para os pagãos era aceitar a divindade de Cristo, por isso recorreram ao Logos para buscar uma compreensão entre os platônicos helenistas de seu tempo. A doutrina do Logos era conhecida dos pagãos e é usada por Justino para expor como Deus revela Sua sabedoria. O estoicismo e o neoplatonismo exerceram marcada influência no pensamento cristão dos primeiros séculos; por exemplo, muitos dos apologistas e dos chamados pais usaram o estoicismo para fundamentar teoricamente a ética.O estoicismo ensinava que no universo havia uma razão divina dominante, da qual saiu uma lei moral natural, a que para muitos intelectuais cristãos era idêntica com a lei moral cristã, mesmo que conservassem o contraste entre o cristianismo e o mundo. Moldadores dos pensamentos cristãos tão proeminentes como Orígenes e Clemente de Alexandria, eram estudantes da filosofia grega, particularmente o neoplatonismo e o estoicismo. Parece que o neoplatonismo teve sua origem precisamente na Alexandria. Ambrósio de Milão havia bebido em fontes estóicas, e Agostinho nas do neoplatonismo. Enfocando de novo os apologistas, temos estado distante dos tempos das inquisições da parte de uma organização religiosa que persegue a quem não pensavam como eles, os cristãos do tempo de Esmirna se atrevem a pedir liberdade religiosa. Os apologistas cristãos condenaram energicamente os cultos pagãos, tão abundantes no Império, negando a fazer contemporização alguma com eles. Entre os que lucraram por defender a fé cristã contra as calunias e ataques dos judeus e pagãos politeístas, temos a:

Quadrato. Era um profeta que conheceu aos apóstolos. Em sua apologia menciona esses quinhentos discípulos que vieram ao Senhor ressuscitado. Segundo Eusébio de Cesaréia, escreveu a primeira das apologias conhecidas, a qual foi apresentada ao imperador Adriano em Atenas, no inverno de 124-125, e da qual só se conserva um fragmento. Muitos consideram que sua Apologia é a mesma Epístola a Diogneto.
Arístides. Este contemporâneo de Quadrato escreveu a segunda destas apologias. Eusébio diz que a redigiu durante o reinado de Adriano e a tradução siríaca durante o reinado de Antonino Pío; mas é mais forte a opinião que foi dirigida a este último. Tratou-se de um cristão filósofo, de acordo com a necessidade do momento e por ser dirigida à oposição originada na cultura helenista, Aristides inicia sua apologia com um esboço demonstrando a existência de Deus baseando-se no argumento do filósofo Aristóteles que se relaciona com a origem do movimento. O texto desta apologia não se veio a ter senão até 1878, em que os monges armênios do monastério As Arestas, de Veneza, publicaram uma versão Armênia. A versão siríaca foi descoberta no monte Sinai em 1889 por Rendel Harris.

Epístola a Diogneto. Existe um brilhante e anônimo documento apologista chamado Epístola a Diogneto, obra atribuída supostamente a Panteno, mas com mais argumentos fundamentados a Quadrato, e dirigida a um certo Diogneto, que provavelmente se trate do imperador Adriano. Esta carta oferece uma excelente apresentação dos postulados da Igreja frente ao paganismo e ao judaísmo, ante a acusação nessa época de que o cristianismo ia debilitando a estabilidade e as estruturas do Império Romano, a Epístola a Diogneto declarou: "O que alma é ao corpo, são os cristãos ao mundo... A alma está aprisionada no corpo, mas ela conserva ao mesmo corpo; e os cristãos estão aprisionados no mundo como em um cárcere, mas eles mantêm unidos ao mundo". (Se pode ler este documento no Apêndice II no final do presente capítulo).

Justino Mártir. Era natural de Samaria. Escreveu duas das mais famosas apologias do cristianismo durante o reinado de Antonino Pío. O perfil deste mártir é o de um homem de uma personalidade excepcional, como humano e por sua inegável influência na Igreja. Em sua obra Diálogo com Trifon narra algumas datas biográficas. Estudioso em algumas escolas filosóficas gregas antes de conhecer ao Senhor, até que falou a verdade em Cristo, em quem o Logos historicamente havia encarnado e tomado forma humana. Em Roma fundou uma escola a maneira dos filósofos pagãos. É curioso o contraste entre Marciom e Justino. Enquanto aquele usa a filosofia para adulterar os ensinamentos da Igreja, Justino põe esses conhecimentos ao serviço do evangelho, para defendê-lo e propaga-lo. Da obra de Justino se conserva muito pouco, mas pelo historiador Eusébio se sabe que escreveu muito, e que era um filósofo no estilo, e desde esse ponto de vista usava o método platônico, mas no conteúdo era um verdadeiro cristão. Justino ganhou seu qualificativo por haver morrido pela fé no Senhor Jesus.

Melitão. Eusébio o cita como bispo de Sardes durante o reinado de Marco Aurélio, e nos da uma lista de sua obra, da qual só se conservam fragmentos, citando entre suas obras uma apologia ao imperador Cômodo, filho e sucessor do anterior. Ainda assim se conserva sua obra a Homília sobre a Páscoa. Nessa mesma época escreve também outro apologista chamado Apolinário de Hierápolis.

Atenágoras, o filósofo cristão de Atenas, Escreveu sua apologia dirigida aos imperadores Marco Aurélio e Cômodo, e faz a entrega em Atenas, sua cidade natal. Contradiz as calunias aos cristãos quando os acusam de ateus, afirmando que crêem em um Deus superior. Escreve um tratado sobre "A ressurreição do corpo", tocando um tema inaceitável para os filósofos de seu tempo. Defende a divindade do Logos. Nessa mesma cidade e em similares circunstâncias escreve e atua o apologista Milcíades.

Teófilo, apologista que foi bispo de Antioquía, escreveu três livros apologéticos a seu amigo Autólico, nos quais aparece pela primeira vez o termo Trindade (em grego, Tríada).

Taciano, contemporâneo com Teófilo, floreceu este outro apologista, nascido no ano 110, quem depois de haver sido discípulo de Justino (mártir) em Roma, no ano 172 voltou ao Oriente e fundou uma rigorosa seita gnóstica encratita, movimento de onde havia saído, a seita rigorosa contra o matrimônio. Antes de dar este passo, escreveu “Oratio ad Græcos”, obra apologética onde defende a origem divina do cristianismo. É mais conhecido por sua obra O Diatessarão, uma espécie de história da vida de Cristo; é uma harmonia ou correlação dos Quatro evangelhos.

Minúcio Félix escreve uma simpática apologia chamada “Octavius”, por meio da qual defende ao cristianismo usando um diálogo entre um pagão chamado Cecílio e um cristão de nome Octavio. Cecílio expõe as calunias difundidas contra a Igreja e Octavio lhe responde mostrando as verdades cristãs.

Hermias. Tem uma Sátira contra os Gregos, onde ataca e ridiculariza a filosofia grega.

Os polemistas


Além dos chamados pais apostólicos que conheceram diretamente aos apóstolos, e dos apologistas na época das perseguições, registramos no período profético de Esmirna aos polemistas, o seja, os que combateram contra as heresias, contra os gnósticos e defenderam valentemente a divindade de Cristo frente a todos os ataques do inimigo. Os mais famosos exponentes são:
Irineu (130-195). Provavelmente nasceu em Esmirna, onde desde criança conheceu a Policarpo, e desde ali foi enviado às Gálias (França) fazendo parte de um grupo de evangelistas. Mais tarde chegou a ser bispo de Lyon, onde realizou um trabalho tão meritório, que se registra que quase toda a cidade foi feita cristã, convertendo-se em um centro de onde saíram muitos missionários a evangelizar a Gália. É talvez o personagem que reveste maior importância em todo este período de Esmirna. Foi o principal opositor dos ataques dos gnósticos e marcionitas, heresias que conheceu e refutou em defesa da Igreja. Para combater o gnosticismo escreveu importantes livros como "Contra heresias" (Adversus Hæresus), e sua "Demonstração da pregação apostólica". No processo da formação do cânon, e devido a que alguns colocavam em dúvida a posição do Evangelho segundo João, defendeu a tese de que tinha que haver quatro evangelhos; assim mesmo expressa claramente a questão da sucessão apostólica. Por outro lado, sustentava que o Logos que se fez carne em Jesus Cristo, era o Filho de Deus, e dava ênfase a sua convicção de que Jesus Cristo era tanto plenamente homem como Deus, e que Jesus Deus-homem sofreu a crucificação pelos homens, em contraposição aos postulados gnósticos de que Cristo era um mero fantasma, e dos marcionitas com seu raro dualismo. Então em reação contra o velado politeísmo dos gnósticos e os dois deuses dos marcionitas, Irineu é um representativo da unidade de Deus, morreu como mártir.

Tertuliano, Quintus Setimus Florens (160-220). Este polêmico e grande teólogo e apologista cristão nasceu em Cártago, no Norte de África, de pais pagãos, ricos. Figura de controvérsia na história da Igreja, muito instruído na filosofia estóica; exercitou sua profissão de advogado em Roma. Em sua juventude parece haver sido instruído na filosofia estóica. Sua conversão ao Senhor ocorreu em sua idade mediana, chegando a ser presbítero. Conheceu bem o grego, mas escreveu muito em latim. Caracterizava-se por ser um cristão ortodoxo e composto um extenso tratado contra Marciom. Outras obras suas são “Prescrição Contra os Hereges, e contra os pagãos, a apologia o Apologético. Quando já envelhecia se tornou montanista até sua morte. Dele se diz que longe de ser herege, era o campeão da Igreja contra a heresia. Como bom apologista e advogado se atreveu a declarar no ano 212 que "é um direito do homem, um privilégio de sua natureza que cada qual possa adorar segundo suas próprias convicções". Os cristãos dos primeiros tempos encontraram sérias dificuldades para expor algumas verdades teológicas, e não poucas ocasiões se valeram assim de princípios filosóficos e legais para sua tarefa didática e apologética. Para referir-se a Deus, por exemplo, Tertuliano usava a palavra latina “substantia”, tomada da terminologia legal romana com a conotação da posição relativa do homem na comunidade; usando-la para se referir a que Deus em substância é um, mas que Pai, Filho e Espírito Santo, em essência, forma e aspecto, são três pessoas. Ao usar a palavra (personæ) pessoa, em sua disciplina de advogado, Tertuliano tinha em mente seu uso na lei romana, com o significado de: "uma parte em alguma ação legal"; de maneira que as três Pessoas da Trindade Divina tem seu respectivo lugar na economia ou atividade administrativa de Deus. Tertuliano entendia que o Filho estava subordinado ao Pai, e que o Espírito Santo procedia do Pai por meio do Filho.Já temos mencionado que para esta época começava a aparecer em algumas igrejas locais o episcopado com tendências monárquicas, e em alguma forma ia se pondo as bases para o grande salto que deu a Igreja a partir dos primeiros anos do século quarto, quando se dá o começo do período profético de Pérgamo, com todas suas conseqüências.

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