A Igreja de Jesus Cristo-Uma Perspectiva Histórico-Profética

A Igreja de Jesus Cristo-Uma Perspectiva Histórico-Profética
Tradução do livro "La Iglesia de Jesucristo, una perspectiva histórico-profética" de Arcadio Sierra Diaz

sábado, 22 de setembro de 2007

III- Pérgamo ( 1ª Parte )


Capítulo III P É R G A M O
(1a. parte)

SINOPSES DE PÉRGAMO

Antecedentes de um matrimônio múltiplo

Compromisso matrimonial de onde mora Satanás. - O trono de Satanás - O altar de Pérgamo - Matrimônio da Igreja com o mundo e o Estado - A Igreja morando na terra.

Consolidação do matrimônio infiel

Constantino o Grande e o Edito de Tolerância - A Doutrina de Balaão: A corrupção do povo santo - O caminho de Balaão: Amor ao prêmio da injustiça - O erro de Balaão: Os falsos profetas que correm atrás de lucro.

Frutos do matrimônio

A falsa conversão de Constantino e a perversão da Igreja - A doutrina dos nicolaítas e a criação do clero - O cristianismo: religião oficial do Império Romano. -As duas capitais do Império: Roma e Constantinopla - Reações dos santos: o ascetismo dos eremitas.

Exponentes da patrística em Pérgamo.

Eusébio de Cesaréia - Atanásio de Alexandria - Basílio o Grande - Gregório de Nissa - Gregório de Nazianzo - Ambrósio de Milão - Jerônimo - João Crisóstomo - Agostinho de Hipo.

Algumas heresias em Pérgamo.

A reação cismática donatista. - Ário e a negação da divindade de Cristo no Concílio de Nicéia. - Apolinário e a negação das duas naturezas em Cristo. - Pelagio e a negação da depravação total na qual nasce homem. - Nestório e sua afirmação de que Jesus ao nascer só era a pessoa humana, ao que mais tarde veio o Cristo, o Logos divino.

Os vencedores de Pérgamo

Terceira recompensa: O Senhor lhes dará a comer o maná escondido e uma pedrinha branca, e na pedrinha um nome novo, nome que só conhece o vencedor que o recebe.

A CARTA À PÉRGAMO

“12 Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Estas coisas diz aquele que tem a espada afiada de dois gumes:
13 Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de Satanás, e que conservas o meu nome e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita.
14 Tenho, todavia, contra ti algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição.
15 Outrossim, também tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina dos nicolaítas.
16 Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca.
17 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca, e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe.” (Apo. 2:12-17).

O trono de Satanás

A antiga, rica e paisagística cidade grega de Pérgamo situava-se na Mísia; a doze quilômetros ao norte de Esmirna e ao noroeste de Ásia Menor. Desde o século terceiro antes de Cristo foi uma das cidades mais importantes do mundo helenístico, provida de artísticos monumentos, com uma famosa biblioteca, e sob o reinado de Eumenes II, ali se fabricou pela primeira vez o pergaminho, que tomou o nome da cidade, para substituir ao papiro como meio de escrita. Pérgamo se destacou por ser um grande centro de idolatria, cidade de templos e altares dedicados a muitos deuses, aos quais lhes ofereciam cultos pagãos enquanto praticavam toda classe de desenfreio. Não obstante ao anterior, seus habitantes eram tolerantes, faziam outros cultos, e devido a isso, em Pérgamo não houve perseguição aos cristãos como em Esmirna. Da época greco-romana, se conservaram de suas ruínas a Acrópole, que inclusive entre outros o templo dórico de Atenas Polias; um templo Corinto chamado Traianeum, e um templo de estilo jônico, dedicado a princípio a Dionísio e posteriormente ao Imperador romano Caracalla. Também tinham o templo a Esculápio, o deus da medicina, o que é representado por um humano com uma serpente, ao qual se lhe atribuíam poder curativo. Era tanta a atividade idolátrica, que várias correntes de interpretações conjecturam que o trono de Satanás, o qual se encontrava desde o princípio na Babilônia, sede de seu domínio desde quando o recebeu na queda de Adão, mais tarde na eventual queda e destruição da Babilônia, esse trono foi trasladado a Pérgamo, conforme diz na carta. E o curioso é que se registra a existência nesta cidade do Altar de Pérgamo, o altar do templo de Zeus, construído sob o reinado de Eumenes II, E que hoje se conserva no Pergamon Museum em Berlin. Será mera casualidade? Zeus era o deus supremo do Olímpo dos gregos; o mesmo Júpiter dos romanos, chamado o Optimus Maximus; o mesmo deus babilônico Marduk, "senhor de todos os deuses do céu e da terra", segundo eles; o qual não é outra coisa que uma espécie de materialização do mesmo diabo em busca da adoração dos homens.Ao separar detalhadamente a afirmação anterior, devemos nos transladar a Bíblia para saber o lugar aproximado da localização topográfica do Éden, cenário da queda de Adão. Em Gênesis 2:10-11,13-14 diz : “10 E saía um rio do Éden para regar o jardim e dali se dividia, repartindo-se em quatro braços.
11 O primeiro chama-se Pisom; é o que rodeia a terra de Havilá, onde há ouro .13 O segundo rio chama-se Giom; é o que circunda a terra de Cuxe.
14 O nome do terceiro rio é Tigre; é o que corre pelo oriente da Assíria. E o quarto é o Eufrates.” O anterior nos indica que o Éden estava localizado na antiga Mesopotâmia e a região de Sinar, onde foi edificada a cidade da Babilônia.De acordo com o capítulo três de Gênesis, ali o homem foi despojado, pelas artimanhas do diabo, de seu senhorio sobre a terra, e começou Satanás a ser o príncipe deste mundo. Ali constituiu seu trono. Mas o diabo necessitava de um centro de operações, e foi assim como depois do dilúvio, debaixo de sua iniciativa os homens começaram a construir o primeiro grande zigurate, a torre sagrada para que o adorassem; e consultaram aos astros, o qual se conhece como a torre de Babel; palavra que na raiz hebréia significa confusão, mas no idioma acadio quer dizer porta de Deus. A torre de Babel é um símbolo discente do orgulho humano. Podemos supor que essa torre seja a sombra do primeiro símbolo de Tiatira, a grande organização religiosa que teve suas origens em Pérgamo; de acordo com os descobrimentos da arqueologia, nesta torre se apoiava o templo dedicado na Babilônia ao deus Marduk.Podemos ver no capítulo 10 de Gênesis que um neto de Cam chamado Ninrode foi quem fundou a Babilônia e outras cidades como Nínive; foi o primeiro poderoso na terra, grande caçador oponente de Deus, que como líder político e religioso organizou as multidões fundando cidades muradas para se protegerem das feras. Essa foi a origem da religião babilônica e Ninrode foi seu primeiro sumo-pontífice, a primeira ponte, intermediário, já não entre os homens e Deus, e sim com vínculos diretos com Satanás, título que herdarão os subseqüentes governantes e reis babilônicos. O nome Ninrode significa rebeldia, e o mesmo, guiou pessoas a se rebelarem contra Deus, a auxiliar na adoração ao príncipe das trevas. É possível que houvesse uma grande liderança na construção dessa primeira torre de confusão. Mas o império babilônico teve seu fim e chegou o dia em que a Babilônia foi destruída para sempre, conforme haviam declarado os profetas na Palavra de Deus; mas o sistema religioso babilônico não foi destruído e Satanás necessitava recolocar a sede de seu trono, e escolheu transporta-lo para Pérgamo, cidade onde estabeleceu um influente centro idolátrico. Ali, os reis de Pérgamo receberam o transmissível título babilônico de sumo pontífice. Mas o último rei de Pérgamo, Átalo III, rendeu seus domínios a Roma no ano cento e trinta e três antes de Cristo, passando virtualmente o trono de Satanás a Roma, a capital do império em que convergem as profecias que se relacionam com a Igreja, e também onde continua. Em Roma, o imperador, além de chefe político, também chegou a ser o sumo pontífice (pontifex máximus) da religião babilônica, satânica; e recebeu esse título do rei de Pérgamo, o qual em sua vez ancestralmente o havia recebido da Babilônia. Quando João escreveu esta carta em Patmos, já a histórica cidade da Babilônia não existia, mas seguia existindo outra cidade que era a sede do grande sistema babilônico que encheu e segue enchendo de confusão a toda humanidade misturada nessa corrente.

Matrimônio com o mundo

"Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Estas coisas diz aquele que tem a espada afiada de dois gumes:" (v.12).A terceira carta do Apocalipse está dirigida à histórica igreja na localidade de Pérgamo, cujas características coincidem com o terceiro período profético da Igreja, que tem seu começo com a publicação do Edito de Tolerância religiosa; Promulgado pelo imperador Constantino em Milão no ano 313, dando os primeiros passos para a aceitação do Cristianismo como a religião do império, até o final do século quinto, pela eventual queda de Roma em 476. É sumariamente importante observar em cada uma das sete localidades geográficas e históricas das sete igrejas do Apocalipse uma série de coincidências entre a cultura, religião e história da cidade com a condição de suas respectivas igrejas locais e o período profético correspondente. Por exemplo, quando João escreve a carta à igreja em Pérgamo, podemos fazer uma tríplice alusão. Por uma parte se refere à igreja nessa localidade; por outra a Pérgamo, a cidade, sede do grande altar de Zeus, o trono de Satanás, e por outra, Roma, capital do poderoso império cujo imperador ostentava o título satânico de sumo pontífice, com o qual a Igreja se unirá em matrimônio no período profético de Pérgamo. A palavra Pérgamo significa muito casado (do prefixo grego per, como em hiper, super, nos compostos químicos como permanganato, e a raiz gamos, gameta, esposa, ou gamétes, marido, de onde surgem palavras como poligamia), matrimônio múltiple, compromisso matrimonial, e isso nos indica que o diabo, vendo que por meio das heresias e as perseguições não conseguiu acabar com a Igreja, põe fim às perseguições e agora opta por usar outra tática, a de corrompê-la, promovendo a união em matrimônio da Igreja de Jesus cristo com o mundo, com sua política, sua economia e sua religião. Durante as épocas de Éfeso e Esmirna, Satanás, convertido em um leão rugindo, atacava a Igreja por meio do mundo; agora, vestido como anjo de luz, usa o mundo para dar umas calorosas boas vindas à Igreja que antes tratou de destruir. A Igreja de Jesus cristo sofreu dura e cruel perseguição, mas o Senhor lhes havia dito: “não temas”; mas o perigo para Igreja realmente surgiu e se acrescentou quando o estado se aliou com o cristianismo. Esse elemento estranho chamado mundo começou a mesclar-se com a mesma natureza santa e pura da Igreja, e isso nos da a idéia de que à Igreja se lhe foi dada um lugar importante no estado, dotando-la a si mesmo dos grandes templos pagãos; aparentemente começa a prosperar, e começa a ser levantada em uma posição alta, mas no mundo, para receber a glória do mundo, não nos lugares celestiais com Cristo Jesus. A Igreja começa a receber fortalecimentos pagãos e se tornou mundana, é como se diz, passou das garras dos ferozes leões, a ocupar uma posição de honra no trono imperial. A Igreja deve orar pelo governo e as autoridades do estado para que não haja anarquia, mas não unir-se e mesclar-se com o estado. A Igreja é a noiva de Cristo, casta e pura; já está desposada com o Senhor, e por isso a união da Igreja com o mundo é considerada fornicação espiritual. Devido a isso, o Senhor se apresenta como o que tem a espada aguda de dois fios. O que simboliza isso? A Palavra mesmo nos da a resposta. "Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração." (Hb. 4:12). Por um lado o Senhor diz à Igreja que com essa espada inevitavelmente vai separar essa união de Sua Igreja com o mundo, e vai discernir e julgar essa união. O Senhor tem toda a autoridade para executar esta sentença. Através da história, o Senhor foi dando os passos necessários para cumprir sua palavra. A espada também é um instrumento de castigo, e o Senhor não está em conformidade com a igreja mundana, a qual retém o nome do Senhor, mas na prática o nega, porque com o tempo começou a esquecer-se de Seu nome e a negar a autentica fé.Há textos da história eclesiástica que intitulam este período como “a Igreja Imperial”, com o sugestivo subtítulo de “a vitória do cristianismo’. Ambas as coisas são muito questionáveis, em primeiro lugar porque na Palavra de Deus não encontramos afirmação de que haja igreja imperial; a Igreja de Jesus cristo não é imperial, pois uma igreja imperial não é bíblica, e o que não obedece os princípios bíblicos se aparta da vontade de Deus. A Igreja não pode ser imperial e celestial ao mesmo tempo, não pode ao mesmo tempo ocupar os lugares celestiais com Cristo e uma posição de destaque entre os grandes da terra. E enquanto a "vitória", a consideramos uma vitória prejudicial, porque não dizer que é uma verdadeira derrota. Considere se é vitorioso que a Igreja paulatinamente comece a herdar os costumes, observâncias, formas e cerimônias pagãs, bastando uma mudança de nomes e modificações na adoração; e agora os templos dos deuses do Olímpo são "consagrados" para adorar ao Senhor, como atualmente acontece na Itália, que templos católicos de algumas províncias, eram templos onde se rendiam culto a deusa Diana. E estas construções com o tempo foram chamadas de "igrejas", termo impróprio para os edifícios, pois a Igreja é a assembléia dos santos; com isto tomaram o continente por inteiro. Não pode ser vitorioso para a Igreja de Jesus cristo, uma vez que plena de poder secular, deixe de expressar o Corpo que testemunha ao mundo o conhecimento do Deus verdadeiro e de Seu Cristo, para introduzir no mundo uma religião aliada ao estado.Na Igreja a prosperidade secular é inversamente proporcional a prosperidade espiritual. Por exemplo, em seu auge a Igreja se reunia para adorar em casas particulares; depois e por causa das perseguições, os irmãos se reuniam em cemitérios, como as catacumbas romanas, e com a "conversão" de Constantino começaram a construção de formosos templos, e começaram a introduzir os costumes e protocolos imperiais, como o uso do incenso, vestimentas ricas de origem dos judeus pagãos foram sendo usada pelos clérigos, procissões, e desenvolvimentos de coros, tudo isso teve como resultado que a congregação, desconhecedora de uma linguagem como o latim, tiveram menos parte ativa no culto e serviço, e sua conseqüência foi um desenvolvimento anormal da aparência do reino de Deus na terra, porque na era atual a Igreja de Jesus cristo é a expressão do reino na terra. Com o passar dos séculos, isto também se vive no protestantismo. Aí teremos a parábola da semente de mostarda. "31 Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda, que um homem tomou e plantou no seu campo;
32 o qual é, na verdade, a menor de todas as sementes, e, crescida, é maior do que as hortaliças, e se faz árvore, de modo que as aves do céu vêm aninhar-se nos seus ramos." (Mt. 13:31-32).nessa parábola vemos que desde antes do tempo de Pérgamo, a partir de seu humilde nascimento, a Igreja foi se convertendo em uma grande árvore que começou a produzir alimento espiritual para todas as nações, com o agravante de que na aparência do Cristianismo, houve a trágica influência de milhões de crentes falsos, com propósitos satânicos. A partir de Pérgamo, a Igreja começou a sofrer uma metamorfose, e ao invés de ser peregrina na terra, se estabeleceu neste mundo, arraigando-se na terra, como a árvore da parábola, e entre seus ramos foram surgindo muitas curvas de organizações, projetos e operações terrenas, com uma enganosa aparência do reino dos céus. E nos tempos do imperador romano Teodósio o Grande (380), multidões de incrédulos e pagãos foram batizados e ingressaram à "igreja", já unida ao mundo por meio de seus tentáculos da política, da economia e religião babilônica, a esposa do Cordeiro havia sido infiel ao Senhor.

A igreja morando na terra


"Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de Satanás, e que conservas o meu nome e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita." (v.13)É curioso e assombroso quando a Palavra de Deus nos revela a face oculta das coisas e acontecimentos históricos. Por exemplo, não é uma coincidência que na localidade de Pérgamo, existia o famoso altar de Zeus, e se levantaram assim mesmo templos a Roma e a Augusto, que são vivos e deficientes exemplos do culto imperial. Indubitavelmente que quando a Bíblia diz que ali está o trono de Satanás, se refere ao altar do deus Zeus em associação ao lugar de adoração ao imperador. Isso também declara que o trono de Satanás está no mundo, e por isso a Palavra de Deus diz que a igreja mundana mora onde mora Satanás. Isso significa que a igreja mundana se uniu ao mundo e guarda estreita relação com Satanás até o dia de hoje. Em todas e cada uma das sete cartas há uma constante: o Senhor disse a cada igreja, "Eu conheço tuas obras". O que faz a Igreja nesta época? Exceto um pequeno remanescente, uma onda de orgulho, ambição, arrogância e mundanismo foi substituindo a santidade e a humildade dos cristãos primitivos. A verdadeira posição da Igreja é com Cristo nos lugares celestiais; não é uma assembléia terrena como o povo hebreu, e sim peregrina na terra. A Igreja não deve enredar-se nos negócios deste mundo, pois nosso verdadeiro lugar esta com o Senhor nos céus. O Senhor mesmo nos deu exemplo nisto; neste sentido ele jamais se preocupou, senão por ser um peregrino, um residente temporal neste mundo, a tal ponto que chegou a dizer a alguém que se ofereceu a segui-lo, que ele não tinha nem uma pedra onde pudesse reclinar sua cabeça. Mas chega o momento em que a Igreja despreza o ouro fino e legítimo, deixando-se deslumbrar pelo brilho do ouro falso, e ao invés de ser peregrina nesta terra, prefere morar nela, onde satanás tem seu trono. Ele é o príncipe deste mundo, e a cidade geográfica onde está localizado este trono não é outra senão Roma, a capital do império dominante no tempo em que João escreveu a carta a Pérgamo. Em Roma também tem em seu centro de governo o sumo pontífice satânico, o imperador mesmo. Ali começou a "prosperar" a Igreja. Será esta a classe de prosperidade que o Senhor quer para Sua Igreja? Quer o Senhor que Sua Igreja santa escale posições terrenas, influência mundana e glória dos homens? Quer o Senhor que Sua Igreja sem mancha nem rugas se sente a governar com o mundo? Não será que a pretendida "vitória" nos tempos do imperador Constantino foi uma selvagem onda de derrota e corrupção para a Igreja de Jesus cristo?O Senhor aborrece que Sua amada habite onde seu inimigo tem o trono. O Senhor aborrece que Sua Igreja, para as reuniões, ao invés das casas dos irmãos, ou simples locais de reunião, comece a imitar ao mundo construindo magníficos palácios com a forma e o nome da basílica romana ou salão da corte. O Senhor aborrece que muita gente se apressou a fazer-se membro da Igreja, em procura de ganância pessoal. Satanás não pode acabar com a Igreja por meio das perseguições, então decide dar as boas vindas, acolhe-la para torná-la mundana, para corrompê-la. Menciona-se a um mártir chamado Antipas, testemunha fiel do Senhor, e que foi morto entre os irmãos em Pérgamo, e repete: "onde mora Satanás". Antipas em grego significa contra tudo. Nada mais se sabe deste importante mártir cristão que morreu por manter-se fiel ao Senhor, por não querer contaminar-se e negar ao Senhor, por estar contra tudo o que a igreja mundana introduziu na vida da Igreja. Há afirmações no sentido de que os historiadores Bolandistas ou Bolandos (pertencentes a uma sociedade fundada no século XVII pelo jesuíta Jan van Boland, encarregada de realizar um estudo crítico das biografias do santoral católico. ), chamaram de lendas as Atas dos Mártires, e dizem eles que Antipas foi martirizado em Pérgamo nos tempos do imperador Domiciano, e queimado dentro de um boi de bronze. Tertuliano também dá testemunho de que Antipas foi o bispo dessa igreja, e de que ao não obedecer aos decretos do imperador no sentido de tomar parte na adoração e sacrifícios a Esculápio, então foi sacrificado, no mesmo tempo quando o apóstolo João foi deportado à ilha de Patmos. Antipas é o arquétipo dos cristãos fiéis ao Senhor até o martírio. Enquanto isso irmãos fiéis viveram, a Igreja se manteve firme, e morriam durante as perseguições por não negarem sua fé; os santos preferiam morrer antes que negar a fé e o nome do Senhor. Pérgamo, apesar de morar na cidade que mais se dedicava à idolatria em toda a Ásia, com tudo isso, permaneceu fiel ao nome do Senhor. Os pagãos gritavam: "César é o senhor", mas havia muitos crentes que, como Antipas, confessavam: "Jesus é o Senhor". Ainda que seja de se entender que a época profética de Pérgamo se foi desenvolvendo mediante um processo, é certo que uma vez mortos os irmãos da época de Esmirna, os mártires, não há um deslize, senão uma queda terrível na Igreja do Senhor. Vivemos tempos em que é necessário ter o espírito de mártir, se queremos testificar contra a igreja mundana. Terminou o período em que ninguém se unia à Igreja buscando ganância mundana, ou em procura de celebridade; havia terminado a época em que só permaneciam os que estavam dispostos a ser fiéis até a morte, e somente essa classe de servos era dos que se faziam abertamente seguidores de Cristo. Entretanto, e apesar de começar a ser infiel ao Senhor, casando-se com o mundo, a Igreja continuou retendo o nome do Senhor por algum tempo; seguiu sem assumir nome algum de organização de origem humana; porque o nome denota a realidade da pessoa do Senhor. A pesar de que a Igreja estava experimentando um processo de afastamento maior que o nível original de onde o Senhor a havia colocado no princípio, abandonando o conselho de Deus, descuidando o depósito do Senhor e os princípios bíblicos, notamos que havia quem se preocupava por não negar sua fé no Senhor.


O Edito de tolerância

O que aconteceu para que a Igreja fosse morar no mundo? O Senhor havia bendito de tal maneira à Igreja, que alguns opinam que a metade do povo do Império Romano já era cristã, no começo do século quarto de nossa era. Isso era percebido pelos governantes imperiais, eles estavam convencidos de que a Igreja era inexpugnável e indestrutível, e o haviam comprovado com a perseguição de Diocleciano (303-304), por meio da qual o paganismo tentou, com uma frieza sem comparação no passado, aniquilar a Igreja de Cristo. Surge Constantino na cena política do Império e decide "aceitar" ao cristianismo; não parecer ser verdadeira a conversão a Cristo, e ainda que seus motivos foram mais políticos, esse evento significou uma decisão transcendental. No ano 313, Constantino e Licínio ( Lúcio), com quem até essa época compartilhava o poder sobre o Império, reunidos em Milão, publicam o chamado Edito de Milão, o qual consigna a liberdade religiosa e a igualdade de direitos para os cristãos, a devolução dos bens desapropriados aos cristão e a aparente abolição do culto estatal. Posteriormente, mediante o Edito de Tessalônica, do ano 380, o cristianismo foi estabelecido como a religião oficial do Império. (Ver no apêndice deste capítulo o texto dos editos).

A doutrina de Balaão

“Tenho, todavia, contra ti algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição.” (v.14).O que é a doutrina de Balaão? Por que disse o Senhor que alguns a estavam retendo nessa época? Balaão foi um cobiçoso profeta dos gentios, que conhecia o verdadeiro Deus, e que aparece como protagonista no livro de Números, durante os passo do povo hebreu pelas terras de Moabe, em sua peregrinação pelo deserto em busca da terra prometida. O nome Balaão significa desviador do povo, e nesse propósito firmou seu ministério. No princípio Balaão pode ter sido um profeta de Deus, mas por ganância desonesta e por congraçar-se, se converteu em mercenário e desviou o caminho da verdade. Balaque, na ocasião rei de Moabe, ofereceu dinheiro a Balaão para que amaldiçoasse o povo hebreu, pois temia que o eventual cruzamento do povo de Deus por suas terras lhe ocasionara prejuízos, como havia sucedido com o Amorreu. Diz a Palavra de Deus que quando chegaram os emissários do rei com o pagamento para que Balaão fosse realizar seu nefasto trabalho, Deus havia dito com muita clareza a Balaão: "Então, disse Deus a Balaão: Não irás com eles, nem amaldiçoarás o povo; porque é povo abençoado." (Nm. 22:12). Mas Balaão insistiu e o Senhor o permitiu ir, mas com a condição de que fizesse o que Ele lhe dissesse, constituindo este um dos exemplos bíblicos mais exponentes da vontade permissiva de Deus. Balaão sabia muito bem que não era a vontade perfeita de Deus que atendesse a esse chamado. O Senhor não ia permitir que nada amaldiçoasse a seu povo. Instigado pelo rei Balaque e por seus oferecimentos de paga, por mais que fosse tentado, Balaão não podia maldizer o povo de Deus, pois Deus ia frustrando os esforços de Balaque . Então ocorreu o que a Palavra de Deus chama de doutrina de Balaão; o profeta usa uma astuta estratégia para fazer cair em pecado o povo hebreu diante de Deus, pois aconselhou a Balaque que, seguindo essas instruções, corrompeu ao povo de Israel procurando uni-lo com as mulheres gentias pela atração do desenfreio sexual e logo a adoração de imagens. " Habitando Israel em Sitim, começou o povo a prostituir-se com as filhas dos moabitas. 2 Estas convidaram o povo aos sacrifícios dos seus deuses; e o povo comeu e inclinou-se aos deuses delas. 3 Juntando-se Israel a Baal-Peor, a ira do SENHOR se acendeu contra Israel." (Nm. 25:1-3). Como conseqüência houve uma grande mortandade entre os varões do povo de Israel e matança dos medianitas, incluindo o próprio Balaão, e os israelitas “e mataram todo homem feito. Mataram, além dos que já haviam sido mortos, os reis dos midianitas, Evi, Requém, Zur, Hur e Reba, cinco reis dos midianitas; também Balaão, filho de Beor, mataram à espada. 15 Disse-lhes Moisés: Deixastes viver todas as mulheres?16 Eis que estas, por conselho de Balaão, fizeram prevaricar os filhos de Israel contra o SENHOR, no caso de Peor, pelo que houve a praga entre a congregação do SENHOR” (31:8,15,16).Satanás não podia acabar com a Igreja. Assim como Balaque teve temor deste povo numeroso que havia entrado em seus domínios, Constantino propicia uma fusão, um matrimônio da Igreja com a religião babilônica, incitando ao que a Palavra de Deus chama de "comer coisas sacrificadas aos ídolos", e que finalmente gera confusão entre a sociedade política e religiosa, que, pelos conflitos do perverso coração humano, leva implícito o problema do poder, e não qualquer poder, senão aquele que os imperadores se reservam os "divinos" direitos, e que se destaca a seu devido tempo e se conhece historicamente como o cesaropapismo.Não se chega a compreender a razão pela qual havia existido a opinião de que a incursão e executória de Constantino na vida da Igreja de Jesus, constituiu para ele uma grande vitória, alegando para ele haver decretado por fim às perseguições aos santos e haver-la enchido de rendas eclesiásticas, liberdades e exaltações, e se fala inclusive de que a Igreja tem entrado em crises nos nossos dias devido ao fato que recentemente temos chegado ao fim da era constantiniana. Constantino abriu as portas aos cristãos para ascendê-los aos mais altos cargos da administração imperial, como o de consulado, prefeitura de Roma e prefeitura do Pretório. Assim mesmo concede ao cristianismo um estatuto jurídico especial, por meio dos quais os dirigentes eclesiásticos começam a gozar de privilégios, equiparando-se aos funcionários civis. Constantino foi o principal instrumento inicial de Satanás para introduzir no cristianismo todos os mistérios da religião antiga babilônica, a que se iniciou com Ninrode depois da época do dilúvio e a edificação do zigurate chamado Torre de Babel, que logo se consolidou em Tiatira com a Igreja Católica Romana, dando solidez e continuação ao ministério de iniqüidade com o papado, que com suas sutilezas de raciocínio e sua astúcia chegou a consolidar o culto à antiga rainha do céu babilônica, com todo seu seguimento de abominações. Têm a doutrina de Balaão suas incidências hoje? Objetivamente os luxuosos ensinos religiosos, ensinos terrenos foram apagando a santidade e minguando o testemunho fiel no seio da Igreja, não olhando com bons olhos que os filhos de Deus pratiquem a apropriada fé cristã, separando-se do mundo, não participando de suas empresas sujas nem associando-se a suas organizações; e na "igreja" mundana alguns começaram a ensinar muito desses desvios, até que o povo chegou à executória plena da idolatria. Se não se retém o nome do Senhor, o resultado final é a idolatria e a prostituição. Essa doutrina ensina a distrair os crentes, e como conseqüência caíram na idolatria, apartando-se da pessoa de Cristo, de Sua adoração e pleno gozo. Incitar a comer do sacrificado aos ídolos e a prostituição, se relaciona com o que entre os pagãos era chamado "sagrada prostituição", já que a praticavam em seus próprios templos em honra à seus deuses. Aqui a prostituição tem a conotação de apostasia. Tanto a doutrina dos nicolaítas como a de Balaão ensinam falsidade, sedução, tentação e indução à apostasia. A mistura dos ensinamentos e ritos pagãos com as doutrinas cristãs se chama sincretismo. Comer do sacrificado aos ídolos é também voltar às meras doutrinas, as quais conduzem à prostituição e a idolatria. Nosso alimento verdadeiro é Cristo. Não podemos esquecer que hoje abundam os pregadores por contrato, assalariados, não chamados por Deus. as multidões no cristianismo de hoje correm atrás dessa classe de pregadores, e por isso são desorientados. Isso se consegue mediante a doutrina de Balaão; se desvia os crentes da pessoa de Cristo levando-os a idolatria; qualquer classe de idolatria.


O caminho de Balaão

Além da doutrina de Balaão, a Palavra de Deus registra o caminho de Balaão. Qual é esse caminho de Balaão? Responde-nos Pedro, quando disse: " 15 abandonando o reto caminho, se extraviaram, seguindo pelo caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça. 16 (recebeu, porém, castigo da sua transgressão, a saber, um mudo animal de carga, falando com voz humana, refreou a insensatez do profeta). " (2 Pe. 2:15-16). No contexto Pedro está descrevendo o caráter e conduta dos líderes e profetas enganadores, como conseqüência direta da doutrina; ou seja, quem é como Balaão, despreza o senhorio e a vontade de Deus por andar pelo caminho do prêmio injusto e usando o dom profético e o chamado de Deus para o próprio crescimento e ganância pessoal. Foi se introduzindo na Igreja uns tipos de servos inclinados talvez a servir simultaneamente a Deus e a seus próprios interesses, dentro desse espírito de casamento com mundo de Pérgamo, cedo ou tarde enfrentando-se inevitavelmente à desaprovação e condenação do Senhor. Está na moda, nestes tempos contemporâneos, o pregar por amor ao dinheiro, o buscar a congregação de maiores ingressos, o introduzir na assembléia dos santos os métodos e modo de atuar do mundo, tais como a psicologia de massas, manejo de luzes, controle emocional mediante a música, etc..., que acondicionam emocionalmente à alma.Leva-se em conta que na Mesopotâmia e região da Babilônia, antiga terra habitada pelos sumérios e acadios, e onde originalmente estava o trono de Satanás, cada cidade estava debaixo da proteção de um deus específico, ao qual, junto com seu numeroso séqüito de deuses menores, lhes haviam construído um magnífico templo. Os sacerdotes que serviam ali cumpriam a si mesmo uma função financeira, devido a que as riquezas do templo incluíam grande parte das terras e ganhos da cidade. Diz-se que o comércio religioso dominava a cidade econômica e socialmente. Suas salas de pequenos cultos estavam elevadas sobre uma plataforma por cima das casas do resto do povo. Será todo isto mera casualidade frente ao que aconteceu com a Igreja desde os tempos de Constantino? Muitas das capelas, templos e santuários do paganismo pré-cristão foram transferidos para o serviço cristão, junto com suas dotações monetárias. Mas o curioso e lamentavelmente é o feito de que muitos de seus sacerdotes pagãos e mesmo seus filhos, como algo hereditário, passaram diretamente ao corpo do clero cristão, e alguns foram feitos bispos. Constantino proporcionou à Igreja exatamente o mesmo que Balaque havia feito com Israel. Com o enriquecimento material, a conduziu ao adultério espiritual e à idolatria. Depois de Constantino, as igrejas começaram a receber subsídios oficiais, pelo menos nas grandes cidades. E mais, se criou um patrimônio eclesiástico, graças às oblações e oferendas dos fiéis e o favor econômico dos Imperadores, e tal patrimônio é administrado com completa autonomia pelo bispo, quem desfruta de isenção fiscal, assunto este que se tem perpetuado através dos séculos. Aos eclesiásticos o Império lhes concedeu um estatuto privilegiado, consistente em liberdade para dispor do patrimônio, imunidade fiscal, ou seja, que jamais pagaram impostos, dispensa de cargos curiais, etc... Mas essa igreja mundana se empobreceu espiritualmente, e começaram a receber multidões sem conversão e chegaram à prática do batismo infantil.

O erro de Balaão

O caminho de Balaão está intimamente associado com o erro de Balaão descrito em Judas 11. Ali o apóstolo também descreve as características dos falsos mestres e o destino que lhes espera, trazendo à tona o assunto que quase sempre registra o falso mestre, a ambição e o desejo de ganância pessoal. Ali diz: " Ai deles! Porque prosseguiram pelo caminho de Caim, e, movidos de ganância, se precipitaram no erro de Balaão, e pereceram na revolta de Coré. "As passagens que narram o Antigo Testamento são também arquétipos dos eventos cumpridos no Novo e relacionado com a Igreja. Lamentavelmente vemos que a Igreja foi institucionalizada e integrada ao sistema político de Roma, de tal maneira que aquele aspecto de comunidade espiritual de fiéis (Ecclesia) desafortunadamente passou a um segundo plano. De baixo dessa ameaça decretada por meio dos editos, as "conversões" das multidões se efetuavam em massa, sem o devido arrependimento, quantas vezes sem conhecer quem era o Senhor e sua obra expiatória. Começou a se experimentar um marcado desnível entre a moral cristã do tempo das perseguições e a deste período de Pérgamo; muitos cronistas diziam que homens ambiciosos e inescrupulosos procuravam postos na Igreja para obterem ganhos econômicos e influência social e política. Esse é o caminho de Balaão. Muitos dos cristãos nominais ofereciam somente adoração externa, de lábios, pois seguiam sendo pagãos de coração. Nessas conversões em massa, odres velhos queriam receber um vinho novo e qual foi o resultado? Os odres se romperam e em muitas dessas vidas se perdeu o vinho.

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