A Igreja de Jesus Cristo-Uma Perspectiva Histórico-Profética

A Igreja de Jesus Cristo-Uma Perspectiva Histórico-Profética
Tradução do livro "La Iglesia de Jesucristo, una perspectiva histórico-profética" de Arcadio Sierra Diaz

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Doação de Constantino

APÊNDICE DO CAPÍTULO IV
DOAÇÃO DE CONSTANTINO


(Como se explicou no capítulo IV, Tiatira, este documento não é autêntico; é uma falsificação escrita em meados do século oitavo visando a fortalecer o poder papal em uma época quando o cristianismo ocidental estava à margem de desabar ante o surgimento de pequenas igrejas reais, feudais e tribais, debaixo do domínio de príncipes seculares. De modo que esta criação literária surgiu para dar a entender que havia sido escrita pelo imperador Constantino o Grande nos princípios do século quatro. Levemos em conta que este espúrio documento foi escrito em uma época quando não se fazia exame crítico de documentos, e era fácil que a avassalada comunidade dos fiéis o receberam como autêntico, dado o grau de ignorância que predominava nessa idade obscura. Por fim, durante o reinado do papa Eugênio IV (1431-1447), pelo engenho de dois eruditos da época, Nicolau de Cusa em 1433, e Lorenzo Valla em 1440, foi descoberto que este documento, por tanto tempo considerado como a base em que se fundamentavam as pretensões da soberania civil do papa, foi uma anacrônica falsificação. Mas o espírito de sua falácia tem causado efeitos contraproducentes na historia).Concedemos a nosso santo padre Silvestre, sumo pontífice e papa universal de Roma, e a todos os pontífices sucessores seus que até o fim do mundo reinarão na sede de são Pedro, nosso palácio imperial de Letrán (o primeiro de todos os palácios do mundo). Depois a diadema, isto é, nossa coroa, e ao mesmo tempo o gorro frígio, ou seja, a tiara e o manto que costumam usar os imperadores e, o manto púrpura e a túnica escarlata e todo o vestido imperial, e também a dignidade de cavalheiros imperiais, outorgando-lhes também os cetros imperiais e todas as insígnias e estandartes e diversos ornamentos e todas as prerrogativas da excelência imperial e a glória de nosso poder. Queremos que todos os reverendíssimos sacerdotes que servem à santíssima igreja romana nos distintos graus, tenham a distinção, potestade e preeminência de que gloriosamente se adorna nosso ilustre senado, ou seja, que se convertam em patrícios e cônsules e sejam revestidos de todas as demais dignidades imperiais. Decretamos que o clero da santa igreja romana tenha os mesmos atributos de honra que o exército imperial. E como o poder imperial se rodeia de oficiais, fidalgos, servidores e guardas de todas as classes, queremos que também a santa igreja romana se adorne do mesmo modo. E para que a honra do pontífice brilhe em toda magnificência, decretamos também que o clero da santa igreja romana adorne seus cavalos com arreios e gualdrapas de branquíssimo linho. E do mesmo modo que nossos senadores levam o calçado adornado com linho muito branco (de pêlo de cabra branco), ordenamos que deste mesmo modo os levem também os sacerdotes, a fim de que as coisas terrenas se adornem como as celestiais para glória de Deus. (...)Temos decidido igualmente que nosso venerável padre o sumo pontífice Silvestre e seus sucessores levem o diadema, ou seja, a coroa de ouro puríssimo e preciosas perolas, que a semelhança com a que levamos em nossa cabeça lhe havíamos concedido, diadema que devem levar na cabeça para honra de Deus e da sede de são Pedro. Mas já que ele próprio beatíssimo papa não quer levar uma coroa de ouro sobre a coroa do sacerdócio, que leva para glória de são Pedro, com nossas mãos temos colocado sobre sua santa cabeça uma tiara brilhante de branco fulgor, símbolo da ressurreição do Senhor e por reverencia a são Pedro apoiamos a bridão do cavalo cumprindo assim para ele o ofício de moço de espora: estabelecendo que todos seus sucessores levem em procissão a tiara, como os imperadores, para imitar a dignidade de nosso Império. E para que a dignidade

IV - Tiatira ( 4ª Parte )

TIATIRA
(4a. parte)


A condição de Tiatira não melhorará

"Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita." (v.22).Quando a Igreja decidiu mesclar-se com o paganismo, foi infiel ao Senhor, houve adultério, fornicação, isto é, confusão, então a igreja de Tiatira caiu em uma grave condição espiritual. É prostrada em cama por causa de uma enfermidade incurável, e sobrevêm grande tribulação para os que adulteram com ela, tribulação por certo diferente à que a Igreja têm sofrido ao longo de sua existência desde o dia de Pentecostes, e diferente também à que sobrevirá sobre todos os moradores da terra (cfr. Mateus 24:21). Note que ela não se arrepende; esse sistema seguirá apartado de Deus até os últimos dias, mas o Senhor chama a que se arrependam os que adulteram com ela, a que se arrependam das obras dela. Os que adulteram com esse sistema devem arrepender-se das obras desse sistema. O sistema católico romano não se contaminou só no passado romano; tem seguido contaminando-se ao longo de toda a história, absorvendo e assimilando todos os costumes do paganismo e as coisas relacionadas com a idolatria onde quer que vá. Por exemplo, assimilou o natal e todas as festas pagãs babilônicas e européias e sacramenta todos os rituais indígenas nas terras nas que tem influência. Vemos então que nos tempos de Tiatira se tem perdido a expressão de muitas coisas que o Senhor deixou em Sua Igreja, como o sacerdócio de todos os crentes, a vida no Espírito, a expressão da vida do Corpo e a Igreja como templo vivo de Deus, mudado pela construção de grandes templos materiais; também se havia perdido o de um candeeiro em cada localidade, foi proibido a leitura da Bíblia e se ocultou a doutrina da salvação por graça por meio da fé. Desde a idade do obscurantismo com suas conversões superficiais e batismos em massa, sua carga de superstição e crenças em astrologia, mesmo em nosso tempo se segue empregando certo tipo de cerimônias religiosas, "sacramentos" e símbolos externos associados com o fetichismo como meios mágicos para evitar o desastre e lograr objetivos desejados. Assim mesmo vemos como surgiram homens pagãos que se assenhorearam do culto do Senhor abaixo uma falsa roupagem. Pra ninguém é segredo, e menos para eles, que o papado é uma instituição profana, e os papas, longe de ser vigários de Cristo e sucessores de Pedro, não são senão sucessores diretos de um sacerdócio pagão, muitos deles carregados e convictos de fornicação, sodomia, adultério, assassinato, violação, borracheiras, intrigas, e até satanismo, que com freqüência tem sido de tudo menos os homens santos que têm proclamado ser. Não é o propósito deste livro entrar em detalhes, mas se tem escrito milhares de livros referindo-se a essa instituição e suas imoralidades, com minuciosos detalhes e nomes próprios dos protagonistas, e querer negar esses atos históricos mesmo dos tempos contemporâneos, é como pretender tapar o sol com os dedos, como se diz. Há uma larga e negra lista dessa classe de romanos pontífices da obscura Idade Média. Neste versículo a Bíblia nos diz que na grande tribulação serão achadas pessoas cristãs no estado de Tiatira, ou seja, associadas ou vinculadas com o estado do sistema religioso católico romano e com os sistemas religiosos de tipo denominacional dele derivados, que querem emular o catolicismo romano em seus ritos ou algum aspecto de liturgia, diferença entre clero e crentes laicos, presentes do poder temporal, reverencia excessiva aos pastores, templos feitos com mãos humanas, efeitos de sons e luzes para manejar animicamente as massas, etc....Há neste momento um chamado do Senhor para que as pessoas que estão ali enredadas se arrependam, se desvinculem desse sistema, e se firmem no Senhor, e dentro das quatro que permanecerão até a vinda do Senhor, busquem a igreja que o Senhor não condena, Filadélfia, para que busquem o estado do cristianismo que representa à igreja bíblica.

O juízo da Grande Prostituta

"23 Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obras." (v.23).Na Palavra de Deus está previsto um juízo e uma sentença contra o cristianismo apóstata e infiel, "grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas,
com quem se prostituíram os reis da terra; e, com o vinho de sua devassidão". O sistema católico romano tem continuado exatamente a mesma tática empregada pelo paganismo babilônico de todos os tempos, de dominar aos mesmos sistemas políticos e aos governantes das nações, prática que vem operando desde a Assíria, Egito, Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e o Império Romano. O romanopapismo em toda sua história o tem praticado, e o fará inclusive com o mesmo Anticristo por um pouco de tempo."3 Transportou-me o anjo, em espírito, a um deserto e vi uma mulher montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes de blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres.4 Achava-se a mulher vestida de púrpura e de escarlata, adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas, tendo na mão um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícias da sua prostituição.5 Na sua fronte, achava-se escrito um nome, um mistério: BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E DAS ABOMINAÇÕES DA TERRA.6 Então, vi a mulher embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus; e, quando a vi, admirei-me com grande espanto." (Ap. 17:3-6).A besta representa o sistema de governo das nações sobre o qual se senta, tem dominado, o sistema religioso babilônico, e em particular se refere ao que tem surgido da mescla do paganismo com o cristianismo romano, e à que a Palavra chama a grande prostituta. Se adorna de ouro, pedras preciosas e pérolas; mas isso é uma aparência, não é sua edificação sólida e interior; é só uma fachada superficial e atraente, mas que abaixo dessa roupagem oculta as profundezas de Satanás. Se fez rainha e se tem vestido de vestiduras reais, se fez rica e poderosa, mas tem derramado muito sangue dos santos mártires de Jesus e a Bíblia anuncia seu fim, sua morte. Quando será esse fim da prostituta? Quem destruirá a prostituta? A Palavra de Deus diz que as mesmas nações que dão o poder à besta, sobre as quais tem dominado o papado, estas se encarregarão de destruir a grande sistema católico romano, e parece que isto ocorrerá sem fórmula de juízo. "Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo." (Ap 17:16). Claro que até a última hora, inclusive nos tempos do anticristo, esse sistema religioso estará confiado em seu poder, suas influências e suas riquezas, e jamais espera algo semelhante. Mas Deus tem determinado que esse seja seu fim "5 porque os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou dos atos iníquos que ela praticou.6 Dai-lhe em retribuição como também ela retribuiu, pagai-lhe em dobro segundo as suas obras e, no cálice em que ela misturou bebidas, misturai dobrado para ela.7 O quanto a si mesma se glorificou e viveu em luxúria, dai-lhe em igual medida tormento e pranto, porque diz consigo mesma: Estou sentada como rainha. Viúva, não sou. Pranto, nunca hei de ver!8 Por isso, em um só dia, sobrevirão os seus flagelos: morte, pranto e fome; e será consumida no fogo, porque poderoso é o Senhor Deus, que a julgou." (Ap. 18:5-8). É a prostituta porque no lugar de ter relações espirituais com o Rei dos céus, tem se jogado nos braços dos reis ou governantes da terra. "3 pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição. Com ela se prostituíram os reis da terra. Também os mercadores da terra se enriqueceram à custa da sua luxúria." (Ap. 18:3). Tenha-se em conta que a Igreja de Jesus Cristo não é deste mundo. "14 Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou 15 Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal.16 Eles não são do mundo, como também eu não sou." (Jo. 17:14,16). De maneira que Sua Igreja não deve estabelecer compromissos com o mundo, nem comprometer-se nos interesses políticos e econômicos. Ao falar do falso sistema eclesiástico professo, notemos que o Egito simboliza o mundo de onde saímos e o deserto que passamos, e Deus ainda é clemente com o Egito (Is. 19:22-25), mas a Babilônia representa a religiosidade natural e um sistema espiritual de origem satânica. Tenha-se em conta que um crente pode ser passado do Egito diretamente à Babilônia (At. 7:42-43), sistema que será destruído para sempre (Is. 14:23; Ap. 18:21).Disse Olabarrieta: "Os filhos que teve Jezabel são hierarquias eclesiásticas com o papa na cabeça, e a estes sim lhes dará a morte".*(1) Historicamente se sabe que o sistema católico romano sofreu um duro revés quando muitos de seus seguidores encontraram a morte durante as famosas cruzadas à Terra Santa, e mais tarde durante as guerras que sobrevieram depois de iniciada a Reforma. A raiz desses duros golpes começou uma decadência da qual não pode sobrepor-se, ou pelo menos não tem voltado a ser o que foi antes da Reforma.
*(1) Cristo e Sua Igreja. Santos Olabarrieta. P.O. Box 24472, Fort Lauderdale, Fl. 33307, USA.

O remanescente de Tiatira


" 24 Digo, todavia, a vós outros, os demais de Tiatira, a tantos quantos não têm essa doutrina e que não conheceram, como eles dizem, as coisas profundas de Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós;25 tão-somente conservai o que tendes, até que eu venha. " (vv.24-25).Nos tempos da Jezabel veterotestamentária, depois de haver matado a espada a todos os profetas de Baal, o profeta Elias recebe uma mensagem de Jezabel no sentido de que seria eliminado por ela assim como ele havia feito com os profetas pagãos. Ante semelhante perigo, o profeta de Deus fugiu para salvar a vida, mas por outro lado se sentia abatido e desejava morrer, pelo que pedia a Deus que lhe tirasse a vida, mas havendo-se metido em uma caverna para passar a noite, " 9 Ali, entrou numa caverna, onde passou a noite; e eis que lhe veio a palavra do SENHOR e lhe disse: Que fazes aqui, Elias?10 Ele respondeu: Tenho sido zeloso pelo SENHOR, Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derribaram os teus altares e mataram os teus profetas à espada; e eu fiquei só, e procuram tirar-me a vida. " (1 Re. 19:9-10). Elias se sentia entristecido, assustado, crendo que havia ficado só, e, além do mais, perseguido pela rainha da nação para matá-lo. Mas o Senhor, depois de haver alentado o profeta e de haver 1he dado algumas ordens, lhe disse: " Também conservei em Israel sete mil, todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que o não beijou " (v.18).Semelhante à queixa do profeta Elias referente ao ocorrido em Israel, ocorreu com a Igreja do Senhor Jesus Cristo. Os filhos de Deus em Cristo começaram a deixar sua fé e seus princípios bíblicos. Não contentes em deixar o primeiro amor, também deixaram a comunhão e unidade no Espírito, a vida corporativa da Igreja, a obediência absoluta à vontade de Deus, o gozo na comunhão dos santos, a expressão da unidade da Igreja e um candeeiro em cada localidade, o senhorio de Cristo, a autoridade espiritual, a Bíblia como fonte e princípio reitor e normativo, a justificação pela fé, as reuniões da igreja local nas casas, a mutualidade das reuniões dos santos; como essas palavras de Elias quando disse, têm deixado teu pacto, tem derribado teus altares, pois já havia deixado de considerar que a verdadeira Igreja do Senhor somos nós, e não uma organização terrena e hierárquica com que haviam pretendido substituí-la; nem são os templos e as grandes basílicas e catedrais, herança dos sacrários de origem babilônica.Por meio dessa descarada mescla foram ainda mais longe, também mataram a espada, fogueira, potro, forca e outros meios, aos profetas do Senhor; declararam a Bíblia um livro de leitura proibida pela simples razão de que no Sagrado Livro Deus desmascara todas as suas mentiras e abominações. Trocaram a adoração a Deus pela idolatria, e acendem velas às imagens de Maria, de alguma imaginativa forma de Deus, de santos e mártires mortos e de tudo o que vão canonizando no Vaticano. Contrariando a vontade de Deus, lhes chamaram padres, papas, mestre, doutores e reverendos aos homens, e os que não podem fazer-se chamar sacerdotes, curas, padres ou párocos, se fazem chamar pastores, como se este título designasse a quem exerce o ministério ou função de pastor. Aliás, se colocam como a autoridade máxima de sua respectiva denominação ou organização religiosa, sendo que para a administração e funcionamento da igreja local, os apóstolos nunca designaram pastores assalariados, senão anciãos (bispos) e diáconos, dentro dos irmãos mais maduros espiritualmente da mesma igreja, a fim de que exercessem o governo plural ou colegiado. Na mesma igreja estavam os irmãos que tinham os distintos dons e exerciam os diferentes ministérios. O apóstolo Paulo nunca dirigiu uma carta a um pastor determinado como tal, senão sempre aos santos. Por exemplo, em Filipenses, além dos santos, se dirige aos anciãos (bispos) e diáconos. Jamais uma igreja local foi pastoreada por um pastor enviado da sede da obra. Sendo que a Palavra de Deus diz que a salvação é um presente de Deus, se atreveram a comercializar com a salvação dos homens, e muitas outras coisas. A toda essa mescla de judaísmo e paganismo babilônico, a esse cativeiro levaram os tesouros da casa do Senhor. Os tesouros da casa de Deus não devem ser usados para a fornicação em sistemas religiosos rebeldes. Na Babilônia foram usados mal os tesouros de Jerusalém, e O que aconteceu na historia com Babilônia? Assim como Elias cria ser o único crente em Jeová que havia ficado em Israel, essa mesma situação se apresenta em Tiatira. O Senhor lhe disse que ainda restam sete mil que não tem dobrado seus joelhos a Baal; ainda que Elias não os veja, aí estão em Israel fiéis ao Senhor; assim mesmo muitas vezes tem pensado se realmente há filhos de Deus em um sistema infiel a Deus, mas Deus disse: "Digo, todavia, a vós outros, os demais de Tiatira, a tantos quantos não têm essa doutrina e que não conheceram, como eles dizem, as coisas profundas de Satanás". Isso significa que em Tiatira há filhos de Deus que não tem se contaminado com essas profundidades, essas filosofias dos mistérios satânicos e doutrinas profundas, que são usadas pelo mesmo diabo para corromper à Igreja. Estão ali de boa fé, crendo que estão fazendo o correto, e se não sabem muita coisa do Senhor, se têm recebido pouco, se de pronto desconhecem muito da Palavra de Deus ou tem sido mal orientados pelos sacerdotes católicos e dirigentes religiosos de denominações ou supostos feudos que dividem o Corpo de Cristo e impedem a comunhão entre os santos de uma localidade ou cidade com seus mandamentos de homens, o Senhor, que os conhece intimamente e os ama como são, lhes diz: "Outra carga não jogarei sobre vós;
25 tão-somente conservai o que tendes, até que eu venha.". São suficientes os ensinamentos do evangelho para a salvação. Não é necessário outra carga. Se alguém leva a carga imposta pelos homens, deixa a carga de Deus. A carga imposta pelas organizações eclesiásticas podem entrar facilmente dentro das profundezas de Satanás, com seus profundos mistérios, práticas cerimoniais e rituais, mesmo quando os clérigos as cataloguem de profundezas de santidade. É necessário reter o verdadeiro depósito de Deus, o apostólico, até a vinda de Cristo, sem acrescentar-lhe as invenções que os homens tem criado com o passar do tempo. Desde o momento em que Satanás introduziu na igreja apóstata seu próprio trono e sentou nele o seu sumo pontífice, foi fácil introduzir os ensinamentos babilônicos das profundezas de Satanás.A partir de Tiatira se opera uma troca. Nas três primeiras idades da Igreja: Éfeso, Esmirna e Pérgamo, que compreende a igreja primitiva, a patrística, a das perseguições, a chamada imperial ou constantiniana (católica antiga), o Senhor menciona primeiro o que tem que ouvir o que diz o Espírito, e logo menciona sobre o galardão. Mas a partir de Tiatira há uma troca dessa ordem, e aparece primeiro o galardão. Por quê? Porque a partir de Tiatira se menciona a vinda do Senhor, e isso significa que no cristianismo haverão pessoas que seguirão no estado de Tiatira até que venha o Senhor. Quando vier o Senhor não haverá pessoas no estado de Pérgamo, pois Tiatira saiu de Pérgamo, mas Éfeso passou, Esmirna passou e Pérgamo passou, finalizou, como quando um animal pare um filho e morre. De acordo com o versículo 25, o estado profético de Tiatira, o catolicismo tridentino, o papado romano, toda essa situação não passa, pois seguirá até a vinda do Senhor; e já ao final, o Senhor lhe disse à parte de seu povo que se encontra nesse sistema babilônico: " Ouvi outra voz do céu, dizendo: Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos; " (Ap. 18:4). O catolicismo romano durará até o tempo em que venha Cristo, a grande pedra não cortada por mãos humanas, e rompa e esmiúce toda a construção do poder humano, dos reinos deste mundo, trazendo consigo uma repentina culminação da historia.

O tijolo e a pedra

" 26 Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade sobre as nações,27 e com cetro de ferro as regerá e as reduzirá a pedaços como se fossem objetos de barro " (vv.26-27).Já temos visto a grosso modo que assim como no Antigo Testamento uma mulher pagã se uniu em matrimônio ilegal e proibido por Deus, com um hebreu, o mesmo sucedeu entre a igreja e o mundo, gerando assim uma grande prostituta, mas em meio de uma condição institucional mundana, abaixo a férula de uma organização religiosa dominante, ambiciosa e contemporizada, inclinada ao domínio temporal e que chegou a dominar o mundo e receber a glória dos homens. Individualmente a cada cristão do tempo de Tiatira, prostituta que chegou a sentar-se sobre o lombo da besta, o Senhor lhe mostra outra alternativa: deixar esse caminho de Jezabel, vencer sobre a tentação de fazer-se governante temporal, guardar Suas obras até o fim e ser fiel, não contaminar-se com a idolatria em qualquer de suas expressões, deixar de morar na terra, onde o príncipe é Satanás, e retomar como corpo a condição de Igreja peregrina nesta terra. Em outras palavras, vencer tudo o que se resume nesse sistema católico romano. Que promessas há para o vencedor de Tiatira? Governar, reinar com Cristo no Reino vindouro. Os vencedores de Tiatira, os que vencem ao catolicismo e a todo o sistema religioso denominacional dele derivado, também se relacionam com o "filho varão, que regerá com vara de ferro a todas as nações" de Apocalipse 12:5, e com " Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro. " do Salmo 2:9. Quando estarão os vencedores recebendo essa autoridade de quebrantar as nações como vaso de oleiro? Durante o eventual reino milenar. Por que relaciona o Senhor as nações e o sistema religioso dominante com vasilhas de barro? A resposta a temos desde o Gênesis. O diabo e os homens que seguem sua corrente querem imitar a obra de Deus. Satanás e seus seguidores iniciam a construção da cidade terrena, Babilônia, e seu sistema político religioso, não com pedras, senão com tijolos (barro cozido). " 3 E disseram uns aos outros: Vinde, façamos tijolos e queimemo-los bem. Os tijolos serviram-lhes de pedra, e o betume, de argamassa.4 Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos " (Gn. 11:3-4).O que o homem produz, seus sistemas políticos, religiosos, seus aparatos militares, todo o que se aparta de Deus, é barro, é destrutível; em troca as obras do Senhor Deus se referem à edificação da cidade celestial, a Nova Jerusalém, o edifício de Deus que é a Igreja, com pedras vivas e preciosas. As obras dos homens, por muito que tratem de imitar a obra de Deus, não deixam de ser tijolo. O Senhor convida a vencer guardando as obras de Deus por cima das obras dos homens, e o vencedor receberá a mesma autoridade para governar que recebeu o Senhor Jesus do Pai. As obras da igreja apóstata se realizam debaixo da influência de Satanás. Disse o jesuíta Alfonso Lano Escobar em sua coluna dominical do periódico O Tempo, falando sobre a existência do inferno: "Nunca tem faltado na história da Igreja alguns fundamentalistas, que em vez de interpretar, se apegam à letra dos textos, fazendo dizer não o que quis o escritor sagrado, inspirado pelo Espírito Santo, senão a mera letra. Esquecem que os textos sagrados são mensagens de Deus, expressados em uma cultura distinta da nossa, e com uma linguagem carregada de mitos, símbolos e hipérboles, todos a serviço de uma mensagem que necessita ser lida criticamente e "traduzido" a nossa época. Hoje na Igreja se trabalha em fazer a "tradução" da fé no inferno, a nossa cultura moderna" ( O TEMPO, Santafé de Bogotá, D.C., Agosto 18 de 1996, página 4A).Uma vez mais, e não só é assunto do supersticioso medieval, o catolicismo romano segue manifestando que pretendidamente se tem dotado do direito de interpretar, "traduzir" e fazer sua acomodada exegese das Escrituras. Sempre é sabido que os textos bíblicos simplesmente querem dizer o que ali está escrito, e isto para todos os tempos; e se alguma simbologia encerra alguns textos, a mesma Palavra de Deus se encarrega de interpreta-la e dar-nos sua correta exegese e explicação, pois os textos claros podem esclarecer as passagens obscuras. A perspicuidade das Escrituras faz que sejam entendidas por qualquer pessoa espiritual que queira conhecê-las. Para entender o significado das Escrituras não se necessita que a Igreja as interprete por meio de seu magistério, porque isso seria por à Igreja por cima das Escrituras e negar a ação ou obra do Espírito Santo, que nos ensina todas as coisas. A ordem é à inversa, de conformidade com Efésios 2:20, que diz: " edificados( Igreja) sobre o fundamento dos apóstolos e profetas( Escrituras), sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular".Não é verdade que Deus haja inspirado Sua Palavra para que fora compreendida somente pelas culturas pré-cristãs e apostólica, pois em sua qualidade de eterna, a Palavra de Deus foi revelada igualmente para todos os tempos, com a diferença de que o homem "moderno" não aceita em sua interpretação verdadeira o significado bíblico que não lhe convém, que choca com seus interesses, e é por isso que doutores do cunho de Alfonso Llano Escobar chamem de mitos às verdades eternas que são tão válidas para as tribos hebréias do tempo do César Augusto como para os gênios cibernéticos contemporâneos. Não é de se estranhar que em nossa presente geração haja aparecido em manchete de primeira página dos mais prestigiosos periódicos do mundo, dando a capciosa "notícia" de que o papa romano crê na existência do diabo, como se a existência do diabo dependesse de eventual veredicto papal. Com tudo o que tem sucedido na história, tampouco é de se estranhar que se nos diga que a mater et magistra esta trabalhando para fazê-la contemporizada "tradução" da fé no inferno para a cultura moderna, como se o que Deus tem revelado sobre o inferno em sua Santa Palavra houvesse que se acomodar aos desejos e caprichos do sofisticado e freqüente agnóstico homem contemporâneo. Apesar do aggiornamento*(2) intrínseco do concílio Vaticano II, Tiatira não pode sacudir-se de todo o obstáculos de suas estruturas anacrônicas, produto da caduca civilização medieval com a qual se entreteceu inextricavelmente. Por último, recordemos o que a Escritura diz: " Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas ". É falso atribuir a uma superestrutura universal como a Igreja Romana, os epítetos de "mãe e mestra", partindo da base bíblica que o Espírito Santo é o único Vigário de Cristo na terra (João 14:16), de modo que Sua voz é a que se há de ouvir.
*(2) Aggiornamiento é uma palavra italiana com a conotação de posta ao dia, atualização.

Os vencedores de Tiatira

" dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã 29 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. " (vv.28-29).Neste sistema eclesiástico condenado por Deus também há vencedores, como os que temos mencionado acima e a esses vencedores de Tiatira o Senhor promete dar-lhes a estrela da manhã. Qual é essa estrela da manhã? É o Senhor Jesus mesmo. " Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas. Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante Estrela da manhã. " (Ap. 22:16). O Senhor está falando a todas as igrejas, não somente à de Tiatira, não só o sistema católico romano. Em todo período profético há vencedores. Em Tiatira, ainda que esteja ali Jezabel, e haja fornicação e idólatras e os que tem conhecido as profundezas de Satanás, apesar de tudo isso, ali está o candeeiro de ouro, e há santos de Deus cheios de Sua graça.O estado moral do cristão do medieval havia chegado tão baixo, que alguns opinam que se estava dissipando qualquer progresso aparentemente adquirido, tanto a nível clerical, como monacal e laical, tanto que obras literárias como o Decameron de Boccaccio (1313-1375) e O Príncipe de Maquiavel, foram reflexo da vida desse tempo; e há quem chega a expor a duvida de que se na prática a Europa ocidental realmente havia chegado a ser cristã. Mas apesar das aparências, em muitos vasos de barro se manifestou e esteve trabalhando "a excelsa grandeza de Seu poder". Pessoas piedosas como as místicas Catarina de Sena (1347-1380) e Joana D’Arc (1412-1431), eminentes catedráticos e místicos como Pedro de Ailly (1350-1420), João Gerson (1363-1429), participantes ativos no concílio de Constança, e Nicolau de Cusa (1401-1465), quem obteve sua primeira preparação abaixo a direção dos irmãos da Vida Comum, relacionados a sua vez com a Imitação de Cristo, obra atribuída a Tomás de Kempis. Ainda que já temos tratado algo disto, entretanto, explicamos que há algo curioso e digno de levar-se em conta, e é que nas cartas às igrejas de Éfeso, Esmirna e Pérgamo, as palavras " Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. ", vão presidindo a promessa aos vencedores, mas a partir de Tiatira essa ordem se altera, aparecendo primeiro a promessa aos vencedores, significando com isso que a partir de Tiatira as últimas quatro correspondem a outro tipo de igrejas. As últimas quatro igrejas têm a promessa de que existirão pessoas nessa condição até a vinda do Senhor, não é assim nas primeiras três, que precisam desta indicação, e isso se explica porque a historia de Esmirna se produz depois que termina a época de Éfeso, e o mesmo ocorre com Pérgamo com relação a Esmirna. Tiatira também começa quando se termina o tempo histórico de Pérgamo, mas Sardes começa a existir sem que haja passado o tempo de Tiatira, pois Sardes sai de Tiatira e continuam existindo paralelamente; à sua vez Filadélfia sai de Sardes e Laodicéia de Filadélfia, de tal maneira que as quatro continuam até a eventual segunda vinda do Senhor Jesus Cristo. A mesma historia nos está demonstrando a veracidade e o testemunho profético deste cumprimento.

Os pré-reformadores

Na Idade Média, o cristianismo se identificava mais com uma grande instituição secular ou temporal que com Jesus Cristo, e era mais representativo da cidade terrena que da celestial. Era tão vasta a distância que separava a vida do cristão ordinário das altas demandas impostas por Jesus para o discipulado, que não cabe duvida que urgia um regresso desse cativeiro babilônico em que se encontrava a Igreja, para reiniciar a construção e recuperação de todas as coisas perdidas. Por isso o Senhor levantou a uns quantos santos para que começassem a fazer um labor subterrâneo, preparando a Reforma que se acercava.Na época de Tiatira há vencedores. Em todas as épocas em que a Igreja se desviou dos propósitos de Deus, houve reações, e no período de Tiatira se levantaram muitos santos que reagiram contra o poder pontifício, do enriquecimento da igreja, da corrupção do clero, e em meio de toda aquela confusão, muitos optaram pela vida monástica e proliferou a criação de novas ordens religiosas como uma forma de fugir daquela contemporização eclesiástica; mas quase todos os que intentaram buscar de novo as fontes do evangelho eram persuadidos, reprimidos, perseguidos, encarcerados e até mortos por sua ousadia. A maioria destes irmãos realmente foram precursores de quem mais tarde Deus levantou para que se dera o que na história se conhece como a Reforma.Nos tempos de Inocêncio III, por exemplo, surge na Itália o carismático Francisco de Assis (1182-1226), fundador dos irmãos Menores, uma ordem monástica mendicante, quem se apartou do cristianismo católico reagiu de alguma maneira ante esse sistema, e de tal forma influenciou seus seguidores à ala extrema dos franciscanos, composta pelos mais fiéis aos ideais de Francisco, tendia a criticar amargamente ao sistema católico romano, com o qual alguns chegaram a romper, porque tratavam de manterem-se fiéis à Palavra de Deus. Entre outros dignos de menção e que a princípios do século XII foram tidos por hereges pelo romanismo, temos a:

Pedro de Bruys

Cura de uma pequena paróquia dos Alpes franceses, que quando conheceu mais profundamente as verdades do Novo Testamento, pode entender a simplicidade e segurança da salvação pela fé em Cristo, e por vinte anos de ministério itinerante esteve pregando e trazendo à gente a uma fé simples, pois ele mesmo praticava um sistema de vida ascética; e seus seguidores se batizavam depois de fazer sua profissão de fé. Pedro de Bruys recusava o batismo das crianças, a transubstanciação na eucaristia, os templos, as cerimônias eclesiásticas, as orações pelos mortos e a veneração da cruz. Foi apressado enquanto pregava no povoado de San Gilles, em um motim promovido pelas turbas católicas, e este varão, que foi um dos mais esclarecidos precursores da Reforma, foi queimado vivo.

Henrique de Lausana

Contemporâneo do anterior. Também pregou na França. Condenou ao clero de seu tempo como amantes da riqueza e do poder.

Arnaldo de Brescia.

Este italiano estudou teologia em Paris, chegando a ser sacerdote. Desde jovem praticou a pureza da vida e a pobreza, e ansiava que vivesse o ideal cristianismo. Atacou os bispos por contemporizar com o mundo, por sua voracidade, por suas ganâncias ilegais, e lhes exortava a que renunciassem às propriedades e ao poder político. Atacou ao papado e a instância de Adriano IV foi preso por ordem do Santo Imperador Romano Frederico I (Barba ruiva), e enforcado em 1155 pelas autoridades civis de Roma, sendo seu corpo queimado e suas cinzas jogadas ao rio Tiber.

Os Valdenses

Chamados assim por Pedro Valdo ou Valdes, seu primeiro líder, rico comerciante de Lyon (França), quem em 1176 procedeu conforme o jovem rico do evangelho ao qual o Senhor lhe recomenda vender o que tinha e dar aos pobres, para logo subsistir pedindo sua comida diária. Viveu uma vida piedosa, vestindo-se humildemente, tratando de imitar a Cristo e dedicando-se a pregar, pelo que atraiu muitos discípulos, "Os pobres de Lyon". Tratando de conformar-se ao Novo Testamento, não tiveram do papado senão a excomunhão. Os Valdenses se adiantaram ao movimento reformador e ensinavam que o corrupto papado não era a cabeça da Igreja; que as mulheres e os laicos podiam pregar; que as missas e as orações pelos mortos precisavam de respaldo bíblico; que o purgatório consiste nas tribulações que nos sobrevêm nesta vida. Foram considerados hereges e as autoridades civis procuraram elimina-los. Os que sobreviveram à perseguição se refugiaram nos vales de Piamonte. Mais tarde, já nos tempos da Reforma, entre os anos 1530 e 1540, conheceram as idéias da reforma, as acolheram com entusiasmo e experimentaram um avivamento. A confissão valdense de 1655 era de orientação calvinista.

Os Cátaros.

Também surgiram no século XII no norte da Espanha, sul da França e norte da Itália, os Cathari ("os puros"), grupo anti-romano no princípio não cristão associado com os Albigenses, que se consideravam os próprios, os puros, provenientes da linha novaciana. Os cátaros estavam relacionados com as idéias gnósticas, pois eram dualistas com certa mescla maniquéia. Aparte dos princípios gnósticos e maniqueos que temos esboçado em capítulos anteriores, os cátaros ensinavam que havia duas igrejas, uma boa, (a deles) a de Cristo, e a outra mal, a de Roma. Os Albigenses, chamados assim por Albi, um de seus principais centros, se opunham às doutrinas romanas do purgatório, à adoração das imagens e às pretensões sacerdotais. Em 1179, o terceiro concílio Lateranense proclamou uma cruzada contra eles e outros grupos considerados pelo papado como hereges; cruzada esta que se diz haver sido a primeira vez em que se empregava este método contra quem se chamavam cristão. Tudo isso foi por ordem de Inocêncio III. Estes grupos foram extirpados usando o método de arrasar com toda a povoação da região, assassinando assim tanto a católicos como a cátaros e albigenses. Um concílio eclesiástico reunido em Tolosa em 1229 proibiu aos laicos a possessão de exemplares da Bíblia, com exceção dos salmos e as passagens que falavam no breviário, condenando as traduções vernáculas. Esse mesmo concílio sistematizou e elaborou o processo inquisitorial.

John Wycliffe (1320-1384).

Nasceu em Yorkshire (Inglaterra) o chamado "estrela matutina da Reforma", filho de uma família da aristocracia rural. Desde a idade de 15 anos seus pais o dedicaram à vida eclesial e foi levado a estudar teologia na Universidade de Oxford, desde então a segunda na Europa depois da de Paris, chegando a ser um brilhante mestre da filosofia escolástica e teologia. Em sua formação teológica filosófica foi profundamente influenciado por Agostinho e o platonismo; também recebeu influencia de Tomás de Aquino e Duns Escoto. Em 1372 obteve o grau de doutor em teologia e em 1374 recebeu do rei a paróquia de Lutterworth, cargo que ocupou até sua morte. Nesse mesmo ano fez parte de uma comissão real enviada a Bruxelas (Bélgica) a fim de discutir com delegados papais o relacionado com os abusos pelo envio a Inglaterra de tantos eclesiásticos estrangeiros, assunto que tinha relação com o das provisões ou impostos, grandes somas de dinheiro, que Roma exigia ao povo inglês. Essas conversações fracassaram, mas serviram a Wycliffe para amadurecer seus pensamentos e converter-se em um severo crítico e inimigo acérrimo do sistema eclesiástico estabelecido e em especial da hierarquia romana. Em 1376, em seu tratado De Civili Dominio (O domínio civil) assim como no Determinio quædam de Dominio (sobre o domínio divino), explica que toda propriedade é de Deus e que Deus concede o uso dos bens temporais ao reto e fiel, do contrário se perde. Considerava indigno o sistema eclesiástico de seu tempo, de modo que se um membro do clero tinha por hábito abusar, perdia seus direitos. Assim mesmo sustentava que os romanos pontífices eram falíveis e não os considerava indispensáveis para administrar a igreja, e que um papa mundano era um herege que devia ser tirado do posto. É de se supor a chuva de queixas e acusações contra ele, a tal ponto que em várias ocasiões foi chamado a comparecer ante as autoridades eclesiásticas para responder por seus atos. Em 1377 o arcebispo Sudbury ordenou a Wycliffe comparecer ante o bispo de Londres, mas foi acompanhado por vários protetores com influência na corte, entre os quais se armou uma disputa tal que impediu que se continuasse com o juízo. O ato de que o parlamento inglês se inspirara em seus tratados para corrigir os abusos eclesiásticos e cercearam a arrecadação de rendas papais do avarento pontificado avinhões, que dessangrava as arcas inglesas, foi favorável a Wycliffe ante as pretensões papais . Em 1378 se deu a "grande cisma do ocidente", quando o catolicismo romano se dividiu por mais de quarenta anos. Nesse ano uns cardeais advogavam a favor de Urbano VI como papa e por Roma como sede, e outros por Clemente VII, com residência em Avinhão. Isto acabou de destruir a confiança e credibilidade de Wycliffe no papado romano, chegando a afirmar que o papado era identificável com o anticristo.Em um de seus tratados sobre eclesiologia, abordou a doutrina agostiniana da predestinação, concluindo que a verdadeira igreja é integrada só pelos eleitos de Deus, e em conseqüência nenhuma igreja visível pode negar a entrada nem excluir aos membros. Criticou ao sistema monacal. Ensinou o sacerdócio de todos os eleitos, afirmando que o Novo Testamento não reconhece distinção alguma entre sacerdotes e bispos. Condenou o culto aos santos, as relíquias e as peregrinações. Sua Summa Theologiæ é uma recopilação de seus tratados em latim; e uma série de opúsculos reunidos no Trialogus, onde denuncia a transubstanciação como precedente da doutrina da consubstanciação, de Lutero. Para Wycliffe, o Senhor está no pão somente em um sentido sacramental, espiritual e virtuoso. Repudiou as indulgências e as missas pelos mortos, não obstante creu na existência do purgatório. Vários destes argumentos não encontraram apoio entre a equipe de teólogos de Oxford, e muitos deles se opuseram a Wycliffe, sobre tudo quando a universidade passou as mãos de seus inimigos, e foi quando se viu forçado a retirar-se a sua paróquia de Lutterworth até sua morte. Wycliffe traduziu a Bíblia (Vulgata) ao inglês e insistia em que as Escrituras são a autoridade suprema, devendo ser estudada tanto pelos eclesiásticos como pelos laicos. Despachou "pregadores itinerantes", os quais não levavam denominação uniforme, e pregavam as simples verdades da Bíblia pelos caminhos, nas praças, nos pátios dos templos, coisa inusitada nesse tempo pelos párocos; comiam e se abrigavam com o que se lhes oferecesse. Os escritos de Wycliffe e o fruto de suas pregações produziu um grande número de seguidores, os lolardos. Alguns deles foram queimados vivos na fogueira, mas exerceram grande influência em Bohemia e foi um dos fatores que contribuíram à Reforma. Em 1415, o concílio de Constança condenou a Wycliffe por 260 diferentes cargos, ordenando a queima de seus escritos e que seus ossos fossem exumados e jogados do cemitério. Em 1428, cumprindo uma ordem do papa Martín V, o bispo Fleming se encarregou de desenterrá-los, queimá-los e jogar as cinzas em um rio próximo. Dessa maneira, a prostituta, a suposta representante de Cristo na terra, ébria do sangue dos santos de Jesus, não respeitava nem os despojos mortais de um homem que cria na veracidade da Palavra de Deus.

Jonh Huss (1373-1415).

Havendo sido na Inglaterra fortemente reprimido o movimento dos lolardos, as idéias de Wycliffe foram difundidas e amplamente aceitadas em Bohemia (República Tcheca), em especial pela pregação do sacerdote John Huss, à ocasião reitor da universidade de Praga, quem aceitou moderadamente as idéias reformadoras de Wycliffe, e pregava contra os abusos do clero e o primado romano, em uma época quando o clero católico romano era o maior proprietário de terras da Europa. Huss insistia na Bíblia como regra da vida. De humilde família, ficou órfão de pai ainda muito jovem e sua mãe se esforçou para que estudasse filosofia e teologia na recém fundada Universidade de Praga, chegando a ser professor ali mesmo, ensinando as Sentenças de Pedro Lombardo. Rodeado de um clero mundano e corrompido, Huss, como sacerdote, nem mesmo seus mais desapiedados inimigos puderam falar nada mal em sua vida privada e começou a ser mal visto porque desde seu púlpito na capela de Belém denunciava os males existentes na hierarquia, desde o cura pároco até o papa. Em sua obra Tractatus de Ecclesia afirmava que o cabeça da Igreja não é Pedro, mas só Cristo, que os papas são falíveis e muitos haviam sido hereges.Sua pregação motivou que no ano 1410 condenassem 75 proposições de Wycliffe, e Huss protestou ante uma ordem do papa Alexandre V de queimar esses escritos, e esses atos provocaram o arcebispo Sbinko a o excomungar. Huss apelou ante o antipapa João XXIII*(3) (eleito no concílio de Pisa), mas este também o excomungou pondo à cidade de Praga em interdito, devido a que Huss também se lhe opôs pela bula que expediu outorgando indulgências a todos os que contribuíram e/ou se alistaram na cruzada contra Ladislao rei de Nápoles e protetor de Gregório XII, o papa rival em Roma. Huss deixou a cidade de Praga em 1412, mas seguiu pregando suas idéias. Por petição do imperador Segismundo aceitou apresentar seu caso ante o concilio de Constança, sempre que se lhe proviesse salvo conduto imperial, o qual não foi respeitado, pois ali foi preso e encarcerado. Ali Jonh Huss apelou a Cristo como juiz supremo, mas não quis retratar-se e o concílio condenou 45 proposições de seus escritos e depois de vários anos, o 7 de junho de 1415, foi condenado como herege, queimado vivo na fogueira, sendo suas últimas palavras audíveis: "Kyrie Eleison, Senhor, em tuas mãos encomendo meu espírito".
*(3) Baltasar Cossa, quem como papa romano tomou o nome de João XXIII, figurou na historia do catolicismo romano como um antipapa, e por tal razão, quando em 1958 Angel José Roncalli foi eleito papa, tomou o nome de João XXIII, para continuar com a "legitimidade".

Jerônimo Savonarola (1452-1498).
Nasceu em Ferrara (Itália), filho de pai humilde e de mãe de nobre caráter e neto de um piedoso médico, que vivia a ajudar aos pobres. Pela desilusão de um prematuro amor, esteve apaixonado jovem, passados os vinte anos se uniu aos dominicos em Bolonha, interessando-se pelos escritos de Tomás de Aquino e distinguindo-se por suas qualidades oratórias; mas os seis anos que permaneceu ali exerceram nele a influência necessária para desenvolver sua indignação pela dissipação e frivolidade reinante nos círculos eclesiásticos. Eventualmente foi enviado a Ferrara a pregar, mas entre seus conterrâneos ao aparecer impressionou muito pouco. Uma guerra o obrigou a ir-se à Florência em 1481, mas seu traslado também guarda relação com o fato de que o grande humanista Pico della Mirandola, impressionado por sua pregação, o recomendou ante Lourenço de Médicis, da aristocrata família governante em Florência, e onde se estabeleceu no convento de são Marcos, casa dos dominicos reformados, e onde teve o encargo de instruir aos noviços, a quem de passo contagiou com seu ardente zelo pela justiça de Deus. Sua verdadeira fama como pregador a adquiriu depois de uns dez anos de haver-se feito membro da comunidade de São Marcos, e em 1492, ano em, que morreram Lourenço de Médicis e o papa Inocêncio VIII, foi nomeado prior em São Marcos. Savonarola havia se sublevado contra a corrupção dos papas Sixto IV (Francesco della Rovere) e Inocêncio VIII, os quais eventualmente promoveram a guerra aos Estados italianos em seu afã de conquistar reinos para seus filhos, e o dominico em seus sermões também denunciava que estes pontífices romanos haviam feito da corte papal um lugar de encontro de prostitutas e libertinos. Costumava chamar seus ouvintes ao arrependimento antes de um iminente juízo de Deus sobre a terra como castigo divino pelos pecados e frivolidades dos homens. Tomou parte ativa na formação do novo governo de Florência, uma república democrática, impulsionando um programa de reformas que deu seu fruto sem derramar uma só gota de sangue, pois os Médicis haviam sido expulsos da cidade, chegando a ser Savonarola em seu momento o personagem mais influente de Florencia.Os costumes mundanos da cidade foram mudados por uma simples vida cidadã. As mulheres deixaram suas jóias e luxuosos vestidos; as pessoas deixavam os vícios, e a música mundana deu lugar aos hinos e a leitura da Bíblia; os comerciantes e banqueiros devolveram suas ilícitas ganâncias; os templos se viam repletos naquele avivamento, e na celebração do carnaval de 1497, as pessoas queimaram em praça pública os livros obscenos e quadros indecorosos, as máscaras e disfarces, as perucas e postiços, etc..., e todos afluíam à praça ao canto de hinos piedosos, o que deu em chamar-se a "queima de vaidades". Com freqüência Savonarola dizia que a Igreja seria renovada depois de um período de algozes. Rogava aos florentinos aceitar a Cristo como seu Rei; e a toda Itália, aos príncipes e prelados, que se arrependessem e voltassem a Cristo. Mas tudo isto lhe atraiu inimigos, e muitos se foram a Roma, e o papa Alexandre VI (o espanhol Rodrigo Borgia) quis lhe atrair astutamente oferecendo-lhe a capela cardealícia, e logo com várias convocatórias apresentar-se a Roma, e a resposta sempre foi negativa; em conseqüência o papa o excomungou e ameaçou a Florencia com o interdito se não conseguissem fazer calar a este dominico. Este, os inimigos políticos e o desejo de muitos de voltar a seus antigos costumes, fez que a opinião pública aumentasse contra. Savonarola apelou aos reis da Espanha, França, Inglaterra, Hungria e Alemanha solicitando-lhes que convocassem um concílio geral que declarasse que Alexandre VI não era papa nem verdadeiro cristão, mas muitas dessas cartas caíram em mãos do papa. Um franciscano, Francisco di Puglia, desafiou publicamente a Savonarola a que provasse que não era um herege, nem um falso profeta, nem um cismático; que o provara mediante as antigas ordalias do fogo. Savonarola caiu na armadilha e consentiu. Houve um temporal de disputas em quanto o desafio de desenvolvia, este espetáculo foi suspenso e as inconstantes multidões tiveram o dominico por culpável, quem teve que refugiar-se em seu convento, mas foi encarcerado e submetido a juízo por uns comissionados papais, que traziam a ordem de que o frade de todas as maneiras morresse. Depois de quarenta dias de cárcere e tortura, decidiu-se sua morte junto com dois de seus mais fiéis seguidores, Frei Domenico e Frei Silvestre. Em 23 de maio de 1498 foram enforcados e seus corpos queimados na grande praça de Florencia. No momento da execução, o bispo de Vasona, lhe disse: "Eu te separo da igreja militante e da igreja triunfante", ao qual Savonarola lhe respondeu: "Isso está por cima de vossos poderes".Havendo vivido na época conhecida como o Renascimento e seu implícito humanismo, Savonarola escreveu livros, tratados, poemas e sermões; trata sobre filosofia e teologia, sentando a doutrina da salvação pela fé, não pelas boas obras; da vida cristã segundo o ensinamento da Palavra de Deus melhor que em tradições e costumes. Doutrinalmente não contribuiu nada de novo, mas seu valoroso enfrentamento com a mundanalidade implícita na organização católica romana e seu sistema corrupto, a contribuição literária e denuncia pública dos males morais de seu tempo, o destacam como indiscutível figura dos que prepararam o caminho da Reforma do século XVI.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

IV - Tiatira ( 3ª Parte )

Capítulo IV
TIATIRA
(3a. parte)

A Inquisição
Para erradicar as "heresias", o catolicismo se valeu não somente de cruzadas senão também da inquisição. No princípio, a inquisição não era nova. Levemos em conta que as palavras inquisitio e inquisitor provieram da lei romana e, como muita parte da lei canônica, era tradição do Império Romano. Elias se queixa diante do Senhor que o povo de Israel havia deixado o pacto com Deus. O que aconteceu na Igreja? Repetiu-se a história; se trabalhou por outros interesses e outros princípios impulsionavam o cristianismo, o qual se deslizou por um obscuro túnel, até tal ponto de criar uma verdadeira organização destinada à perseguição e aniquilação dos que ansiavam voltar à verdade de Deus. Jezabel, uma prefiguração bíblica veterotestamentária da igreja apóstata, destruía os profetas do Senhor, os matava, e, ao contrário, introduziu na nação uma enorme quantidade de profetas pagãos (cfr. 1 Reis 18:13,19). Jezabel sabe perfeitamente que eliminando aos autênticos profetas do Senhor, o povo de Deus não recebe a verdadeira orientação divina, ficando assim vulnerável aos falsos profetas, que são experientes em guiar aos crentes à idolatria e ao adultério espiritual.A Sagrada Congregação da Inquisição, criada por Paulo III em 1542 para combater a heresia, vale dizê-los que não estão de acordo com a política e os postulados cesaropapistas, é conhecida ainda como Santo Oficio, apesar de que seu nome foi mudado por ordem papal em 1965 pelo de Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. e já havia antecedentes da Inquisição desde o século XII. Por exemplo, a história registra de Inocêncio III (1194-1216) que em seus largos vinte e dois anos de papado fez assassinar mais de um milhão de supostos "hereges". Por mais de 500 anos foi usada esta infame arma da Inquisição para lograr manter-se no poder. O catolicismo romano se adota do direito de decidir o que é correto, e quem não esta de acordo, deve ser eliminado. É este o método de evangelizar que o Senhor manda em Sua Palavra?Durante os períodos de Éfeso e Esmirna, os cristãos foram perseguidos, encarcerados, torturados e mortos por ordem do Império Romano; mas no período de Tiatira, na obscura Idade Média, sua sorte é pior, ao ser cruelmente perseguidos, encarcerados, seus bens confiscados, torturados com os métodos mais sofisticados e levados à forca ou à fogueira, muitas vezes pelo simples ato de encontrar em seu poder um exemplar da Bíblia, tudo isto por ordem de uma instituição criada por quem ostenta o título de vigário de Cristo, o doce Rabino da Galiléia, o mesmo que disse: " 27Digo-vos, porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam;28 bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam.29 Ao que te bate numa face, oferece-lhe também a outra; e, ao que tirar a tua capa, deixa-o levar também a túnica; " (Lc. 6:27-29). Por alguma razão nem eles mesmos se atrevem a canonizar a rainha Isabel a Católica, a Jimenez de Cisneros e a Thomas de Torquemada, principais protagonistas da Inquisição espanhola, país onde milhares foram levados à fogueira por sua negativa a "converter-se" e batizar-se à força.Os primeiros inquisidores foram eleitos principalmente entre os dominicos e os franciscanos. Na prática a inquisição tinham o acusado por culpável enquanto não se provara inocente, e não gozava do direito de conhecer a seus acusadores. Há quem calcula que durante os séculos de barbárie, a Inquisição foi responsável pela covarde morte de uns cinqüenta milhões de pessoas, e a quem se lhe imputa esses crimes? Pode acaso uma instituição abstrata, a diferença de um indivíduo, ser julgada moralmente? Esses crimes públicos foram cometidos por indivíduos que desempenhavam papéis e funções abrigados em uma poderosa e tirana instituição político-religiosa, constituída por cima de quais ostentavam o poder político, militar e econômico. Até o momento alguém conseguiu levar a esta avassaladora instituição ante algum tribunal internacional? A instituição culpável de tantos males na terra se lhe há aplicado o termo convenientemente vago de "a Igreja", com conotações obvias, e sem que se confunda com a Igreja de Jesus Cristo. Diz-se que a uma instituição não se lhe pode julgar moralmente, Mas se lhe pode julgar desde o ponto de vista da ideologia que a criou e a sustentou. A respeito disto, o mundo deve ter consciência que o cesaropapismo longe está de ter origem cristã, e que chegou um momento histórico de sua formação em que deixou de ser representativo do autêntico cristianismo bíblico. Tanto se afastou essa instituição dos caminhos de Deus, tão infiel tem sido ao Senhor Jesus, que não há feito senão encher as mãos de sangue, precisamente do sangue dos seguidores de Jesus, obedecendo, não os princípios bíblicos, e sim os que tem ditado o príncipe deste mundo desde suas mentiras edênicas, e "regulamentados" no confuso paganismo babilônico. Acaso o cesaropapismo representou alguma vez ao cristianismo bíblico, ortodoxo e verdadeiro? Ao cristianismo de Pedro e de Paulo? De pronto parece ilustrativa, uma vez que um pouco equívoca com respeito à salvação do homem, a seguinte declaração do escritor inglês Aldous Huxley: "A Inquisição queima e tortura com o objetivo de perpetuar um credo, um ritual e uma organização eclesiástico-político-financiera considerada necessária para a salvação do homem". (ALDOUS HUXLEY, "The perennial philosophy", Londres 1946, pág.221).

O Índice
. Estritamente relacionado com a Inquisição ou como uma de suas atividades, o catolicismo romano elaborou um catálogo de livros cuja leitura proibiu e ordenou corrigir, quando eram contrários aos interesses desse sistema religioso. A Congregação do Santo Oficio (Inquisição) redatou em 1557 um documento titulado de Índex Librorum Prohibitorum (Índice dos livros proibidos), com a lista de livros a expurgar-se. Em janeiro de 1599, o papa Paulo IV decretou o Index romano ou "lista de autores e livros em contra dos quais a Inquisição romana e universal ordenava a todos os cristãos se ponham em guarda, debaixo da pena de castigos e degradação". Mas antes dessa data em outros países haviam publicado outros Índices; por exemplo, em 1571 foi publicado outro em Amberes; outro em Madri em 1584; em 1588 outro em Veneza, e em 1607, em Roma se publicou a edição especial do catálogo ou índice oficial de livros de leitura proibida. Por exemplo, o livro Monarquia, escrito por Dante Alighieri nos começos do século XIV, foi colocado no Índice dos livros proibidos pelo fato de declarar que era necessário para a paz e o bem estar da humanidade o estabelecimento de uma monarquia universal, a qual havia sido designada ao povo de Roma, mas que o imperador recebia sua autoridade diretamente de Deus e não por meio do pontífice romano. Também pela mesma época foi condenado e colocado no índice o Defensor Pacis, livro escrito pelo médico italiano Marsiglio Mainardino e o francês João de Jandum, ambos professores da Universidade de Paris. Este livro, adiantando-se à Reforma, rebateu as pretensões papais da supremacia no Estado e na igreja, pois o papado não deve ter jurisdição sobre as nações; repudiou a idéia de um império cristão universal; declarou que Cristo e os apóstolos não reclamaram para si poder temporal senão que se submeteram a si mesmos e seus bens ao Estado; que o clero devia seguir a norma de absoluta pobreza e que a igreja não devia ostentar autoridade temporal; que na Igreja primitiva não havia distinção entre sacerdotes e bispos, e que todos os bispos eram iguais; atacou a idéia da supremacia papal e suas ênfase nos privilégios do clero e sua adoção do domínio sobre o santo império romano. Os livros do humanista Erasmo de Rotterdam foram postos no Índice porque discrepava com aqueles que se opunham que às Sagradas Escrituras fossem lidas pelo povo.

Jesuítas.
Também se considera historicamente relacionada com a Inquisição a ordem religiosa dos Jesuítas, ponta de lança da reforma católica. Esta controvertida ordem religiosa masculina ocupa o lugar mais importante, proeminente e prestigioso do sistema católico romano. Foi fundada em 1540 pelo aristocrata vasco Ignácio de Loyola, com o nome de Sociedade ( Companhia) de Jesus, com o objetivo de deter o avanço e combater o protestantismo durante o processo da Contra reforma. Pra ninguém é segredo que os jesuítas foram os principais agentes para repelir os avanços do protestantismo, e suas atividades fizeram que a sociedade fora temida tanto por católicos romanos como por protestantes. Têm sido olhados com suspeita, receio e crescente antagonismo inclusive pelos círculos romanos como os membros de outras ordens religiosas e muitos do clero secular, e tem sido considerados por muitos estadistas como baluartes do obscurantismo. Desde suas origens, a Sociedade de Jesus tem se preocupado por atrair aos jovens melhor dotados de todas as épocas.Através dos séculos, os jesuítas tem se caracterizado por sua lealde ao papa romano, exceto em nossos dias, em que os vinte e sete mil membros da ordem tem vindo a ser importantes atores de enfrentamento e se tem visto envoltos em soterradas controvérsias relacionadas com o dogma ortodoxo do sistema católico romano, e depois de quatrocentos e cinqüenta anos de história, os jesuítas enfrentam muitos inimigos mesmo dentro do Vaticano. Por muito tempo tem se dedicado aparentemente e de faixada as obras missionárias e educativas, meios desde os quais podem influir poderosamente e manejar o timão dos impulsos neurálgicos da sociedade. Não tem sido nenhuma casualidade que os jesuítas se hajam dado á tarefa de educar personagens do tipo de Moliere, Voltaire, Descartes e James Joice, por mencionar alguns. Muitos de seus membros usaram de intrigas políticas para lograr seus fins. Os jesuítas são expertos em entremeter-se na política dos estados, e apoiar movimentos esquerdistas ou francamente comunistas, no marco da chamada "teologia da liberação", como no caso de Nicarágua, onde apoiaram aos revolucionários socialistas a fazerem-se com o poder, estando estreitamente vinculados a movimentos semelhantes na Guatemala e El Salvador. Pra ninguém é segredo os vínculos que alguns têm tido com a guerrilha colombiana. Em muitos países, incluído Colômbia, os jesuítas os tem expulsado por seu aberto intervencionismo nos assuntos do Estado. Em 1759 foram expulsos dos domínios portugueses; em 1764, da França e suas colônias; em 1767, da Espanha e Nápoles. Em 1773 por quase durante uma geração estiveram suprimidos pelo papa; somente restaurados plenamente em 1814. Nos Estados Unidos de América se opuseram à guerra do Vietnam e jogaram fogo no processamento de Nixon no sonhado caso de Watergate. Eles costumam semear o caos para buscar a desestabilização dos Estados e logo demanda-los ante as organizações internacionais do tipo de Amnistia Internacional, e para levar a cabo seus propósitos costumam participar ativamente em atos de desobediência civil e levar a voz cantante atiçando a caldeira nas pugnas entre os bandos contrários dos partidos políticos. É bem conhecido o feito de que em certos círculos do catolicismo como os jesuítas se têm destacado figuras “abandeiradas” com a "teologia da liberação", um desvio teológico que surge falando de uma chamada "nova igreja", nascida do povo, dotada de novos argumentos, e que centraliza sua atenção na suposta liberação das classes menos favorecidas dos países do terceiro mundo, de seus opressores imperialistas. A teologia da liberação tem seu próprio deus, diferente ao Deus bíblico e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. É um deus panteísta que se inclina a preferir aos pobres, de acordo com os postulados e a concepção teogônico-teológica hegelianos, entre outros, do franciscano peruano Gustavo Gutiérrez. Muitas coisas se podem esperar deste poderoso corpo religioso que, como afirmam alguns, por sua casuística costuma confundir a verdade com a mentira.

Escolasticismo
De 950 a 1350 surgiu na Europa ocidental o escolasticismo, ou teologia escolástica, que se associa com o conhecimento de homens eruditos da época. O escolasticismo foi um movimento de ressurgimento da filosofia grega devido às traduções ao árabe e logo ao latim feitas por judeus e maometanos. Alguns definem a escolástica como um conjunto de sistemas filosóficos cujo espírito está tido de religiosidade, pois tem como tema fundamental a relação da teologia com a filosofia (inclusive proposições metafísicas, teológicas, lógicas, etc.), e na qual se lhe dá a primazia à teologia, mas tendo como fundamento e razão à filosofia, particularmente a aristotélica e a platônica, herdada do mundo greco-romano pré-cristão. Os escolásticos tinham, a finalidade de encontrar a relação entre a fé e a razão. Esse renovado interesse fazia o estudo da filosofia teve alguma relação também com o avivamento do misticismo pietista que surgiu nos princípios do século XII. Mas, terá alguma relação a razão e suas conotações lógica e metafísica com a fé nos propósitos de Deus e o que tem dado no largo processo da revelação que culminou em Cristo? Devemos ter em conta que Aristóteles não mencionava a Deus, e para ele a "primeira causa" era o principio da existência, não um ser pessoal, e descrevia o universo como eterno.Alberto Magno e Tomás de Aquino trataram de reconciliar o conhecimento material aristotélico com a revelação suprema do cristianismo, dando lugar ao chamado movimento escolástico. Que os escolásticos hajam feito alguma contribuição original ao estudo da exegese e da teologia bíblica é muito duvidoso, mas esse afã dos escolásticos de reconciliar o dogma com a razão os levou a estabelecer um sistema ordenado de doutrina, o que em alguns de seus exponentes mais conspícuos se conhece como somas teológicas, como a de Tomás de Aquino. Sua contribuição pode traduzir grandemente a preparar o caminho para os reformadores. Para a maioria dos escolásticos, a fé era primordialmente o sentimento intelectual, mais que a plena confiança em Deus. O escolasticismo e mesmo o neoescolasticismo entrou praticamente na obsolescência nos meios filosóficos e teológicos contemporâneos, mesmo dentro do catolicismo romano. Relacionamos a continuação um superficial perfil das principais figuras do escolasticismo na Idade Media.

Anselmo
(1033-1109). Nasceu em Aosta (Itália). Protagonista do avivamento monástico na Normandia. À idade de 60 anos foi feito arcebispo de Canterbury por Guilherme Rufus em uma época de forte domínio dos laicos sobre os assuntos eclesiásticos, e por estas razões e por apoiar as reformas do papa Hildebrando, como o assunto das investiduras e o celibato clerical, se viu em conflito com Guilherme II da Inglaterra (Rufus) e seu sucessor Henrique I, pelo que ambos chegaram a desterrá-lo. Anselmo foi chamado "um segundo Agostinho", e grande parte de suas obras foram escritas no monastério de Bec, Normandia, e se compõe de: obras sistemáticas, orações e meditações e cartas. Sustentava que os dogmas maiores do cristianismo (crença em Deus, a natureza de Deus, a Trindade, a imortalidade, a encarnação, morte e ressurreição de Cristo) podiam ser alcançados pela razão. De fato foi um precursor do renascimento teológico no ocidente, pondo as bases para o estudo da teologia escolástica. Suas obras teológicas mais proeminentes foram:* Monologium (Um Monólogo), é uma meditação acerca de Deus. Sem apelar à Bíblia, trata de provar e descrever a Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo que procede do Pai e do Filho.* Proslogium (Um discurso), é uma exposição do que com freqüência se chama um argumento ontológico da existência de Deus. Anselmo foi o primeiro em fazê-lo. * Cur Deus Homo (Por que Deus se fez homem), sobre a encarnação e a propiciação. Pela encarnação em Maria, Jesus Cristo, plenamente Deus e plenamente homem e só Ele, pode fazer a necessária satisfação mediante Seus padecimentos e Sua morte, fazer possível que Deus perdoasse ao homem sem fazer violência ao equilíbrio moral do universo. Opôs-se ao antigo ponto de vista sustentado desde os tempos de Orígenes de que Cristo teve que pagar um resgate ao diabo. Ensinou que Cristo morreu para nos salvar mediante um sacrifício expiatório. * A procissão do Espírito Santo (sobre a concepção virginal e o pecado original).* De concordia.Até o final de sua existência lutou Anselmo com a complicada interrogação de como conciliar o livre arbítrio do homem com a onisciente presciência e a predeterminação de Deus.

Pedro Abelardo
(1079-1142).Teólogo e filósofo escolástico, nascido em Pallet, ao norte da França. Este intrépido personagem foi o pensador mais valoroso da Idade Média, em um período de agitação intelectual. Pode considerar-se como o fundador da universidade de Paris. Era um cristão sincero, mas estava convencido que era a função da razão, com o uso da lógica aristotélica, refutar o erro e ensinar a verdade recebida por meio da revelação e aceitada pela fé. Entendia que o Verbo é a sabedoria (sofía), e os filósofos eram os amigos da sabedoria; dizia que os homens lógicos são os homens do Verbo (lógico de logos).São famosos seus amores com Eloísa, a sobrinha de Fulbert, canônico da catedral de Notre Dame em Paris, com quem teve um filho ilegítimo, pelo qual se casaram secretamente, mas o Fulbert, enfurecido pelos acontecimentos, o fez castrar por mãos de uns malfeitores, e devido a toda essa oposição, ambos decidiram fazerem-se monges.Um de seus livros mais famosos foi Sic et Non (Sim e Não), escrito em 1122, no qual pôs de acordo textos aparentemente contraditórios das Sagradas Escrituras. Para Abelardo havia perfeito acordo entre a fé e a razão. Era defensor do livre arbítrio; insistia nas boas obras mais que na obra expiatória de Cristo na cruz; além do mais, se aproximava o monarquismo modalista ou patripasionismo, pois afirmava que «Deus, como poder, é Pai; como sabedoria, é o Filho; como amor, o Espírito», expondo-se em conseqüência à acusação de sabelianismo. Em seus ensinamentos se viam manchas do arianismo e nestorianismo, pois afirmava que «Cristo é o homem assumido pelo Logos», acercando-se demasiado ao conceito das duas personalidades sustentado pelo nestorianismo. Ensinou que o Senhor havia morrido como mártir só para nos dar exemplo. Suas doutrinas teológicas e éticas foram condenadas no concílio de Soissons (1121) e não de Sens (1141).

Hugo de São Victor
(1096-1141). Filho de um conde saxão, passou quase toda sua vida como membro de uma comunidade dos canônicos agostinos de São Victor em Paris, onde se desempenhou como professor. Havendo recebido a influência filosófico teológica de Boécio, escreveu várias obras incluindo comentários exegéticos bíblicos, sobre o sistema de Agostinho, sobre a vida moral, o caminho dos místicos e vários temas de fundo teológico. Seu maior tratado De Sacramentis Fidei Christianæ (Dos sacramentos da fé cristã), é um exame teológico que compendia a criação, Deus e a Trindade, a queda do homem, o pecado original, a encarnação e os sacramentos. Como figura notável do escolasticismo, Hugo dividiu o conhecimento em dois ramos, a teologia e a filosofia e faz suas indagações acerca da razão. Curiosamente disse que o homem dispõe de três canais ou órgãos mediante os quais recebe o conhecimento: O olho físico, o olho da mente, e o olho do espírito, e ao que se percebe pelo olho do espírito ele o chama a contemplação; mas a sua maneira está afirmando as três partes do homem: corpo, alma e espírito.

Pedro Lombarde
(1100-1160). Este contemporâneo de Abelardo, Bernardo de Claraval e Hugo de São Victor, nasceu em Novara (Lombardia), estudou em Bolonha e Reims e ensinou na escola da catedral de Paris, e em seus últimos anos foi nomeado arcebispo de Paris. Foi influenciado por Abelardo e Hugo de São Victor, e profundamente devedor das contribuições de Agostinho, João Damasceno e Graciano o canonista. Foi conhecido como «o pai da teologia sistemática» e como o "mestre das sentenças" devido a suas famosas Sentenças, o livro de texto mais usado nas faculdades de teologia do medieval, cujo título era Quatuor Libro Sententiarum, ou Quatro Livros de Sentenças, saturados de citações dos chamados pais da Igreja, cujo conteúdo é:1º - Deus, Sua natureza, a Trindade, os atributos de Deus, a predestinação.2º - A criação de Deus, os anjos, o homem, o livre arbítrio, a necessidade da redenção.3º - A obra da redenção efetuada por Cristo, a questão de se Cristo era plenamente humano, os frutos do Espírito e as sete virtudes cardeais. Um erro que Lombarde teve consistiu em que em matéria cristológica praticamente nega a humanidade de Cristo, pois afirmava que «o Logos tomou a natureza humana só como uma vestidura para fazer-se visível ante os olhos dos homens».4º - Os sacramentos e a escatologia. Foi um dos primeiros em afirmar que os sacramentos eram sete, sistematizando desta maneira algo que não tem respaldo bíblico, pois de acordo com a Palavra de Deus o Senhor só deixou duas ordenanças: o batismo e a santa ceia. Contribuiu à dogmatização da crença na eficácia dos sacramentos como geradores ou causantes da graça, assunto este sustentado ainda nos círculos católico-romanos.

Boa ventura (João de Fidanza)
(1221-1274), Chamado o doutor seráphicus. Superior e reformador dos franciscanos à morte de Francisco de Assis, converteu essa ordem religiosa em um instrumento ao serviço do papado. Chegou a ser bispo de Albano cardeal, e foi responsável pela eleição de Gregório X em 1271. Há quem o cataloga como um místico influenciado do neoplatonismo através de Agostinho e os escritos atribuídos a Dionísio o Areopagita. Conhecia e fazia uso da dialética escolástica. Outras correntes o tem como um político e homem do mundo, mas suas obras teológicas tem sido consideradas importantes em seu contexto histórico.

Alberto Magno
(1200-1280) Chamado também doutor universal. Nasceu na Alemanha, mas estudou em vários centros culturais, incluindo algumas cidades italianas, chegando a ser um dos engenhos mais universais de seu século, mesmo maior que seu discípulo Tomás de Aquino, pois seus conhecimentos abarcaram a arquitetura, a alquimia, a filosofia, a botânica e a teologia. Com Aquino, se lhes considera os dois mais proeminentes pensadores dominicos. Conhecia o pensamento neoplatônico e aristotélico, e em sua obra Teodicea, ou Tratado de Deus, se mostra influído, alem do mais, pela escola de Agostinho de Hipona e os filósofos judeus e árabes. Diz-se que seu pensamento tem tendências panteístas.

Tomás de Aquino
(1224-1274). Chamado o doutor angélico e doutor communis, e considerado o teólogo mais importante do escolasticismo. Nasceu em Roccasecca, cerca de Monte cassino, filho do conde de Aquino e emparentado com a casa imperial de Hohenstaufem. Este domenico estudou em Paris e Colônia com Alberto Magno. Era tão calado e corpulento quando estudante que lhe chamavam "o boi mudo", mas Alberto dizia: "um dia este boi encherá o mundo com seus mugidos". Ensinou e escreveu em vários países: França, Espanha, Itália, onde foi membro da corte papal. Abaixo da influência da teoria aristotélica e convencido de que a fé e a razão não se contradiziam, senão que se apoiavam mutuamente, intentou sintetizar a teologia e a filosofia, fé e razão, natureza e graça, abaixo da suposição que provinha da mesma fonte, Deus. Mas bem diferia de Agostinho e sua estrutura neoplatônica. Foi um escritor ubérrimo, mas suas duas obras fundamentais e representativas de seu pensamento são sua Summa Contra Gentiles e sua Summa Theologiæ, que deixou incompleta devido a sua prematura morte à idade de 49 anos. A Summa Theologiæ, ou Suma Teológica foi a obra magna da escolástica, considerada por muito tempo por sacerdotes e teólogos católicos, quase de igual valor que as Sagradas Escrituras.Não obstante seu aristotelismo, para Tomás de Aquino nem toda a verdade há de ser alcançada pela razão, também pela revelação de Deus, assimilada pela fé em relação com o sentir e a vontade. Para ele a existência de Deus pode demonstrar-se pelo conhecimento que obtemos por nossos sentidos e nossa razão. Não foi um inovador de doutrina alguma, senão um exponente sistemático da teologia católica oficial de seu tempo. Os discípulos de Aquino se enredaram em vãs indagações dando as vezes mais importância ao mero raciocínio que à revelação divina. Em matéria de cristologia, pode afirmar-se que Tomás de Aquino seguia a linha tradicional mantida através dos concílios, mas concordava com Pedro Lombardo em afirmar que o Logos-pessoa havia tomado para si natureza humana impessoal.

João Duns Escoto
(1264-1308) Chamado o Doctor Súptilis. Este franciscano nasceu ao sul da Escócia e estudou em Paris onde recebeu o doutorado em teologia, e foi catedrático em Oxford. Morreu em Colônia tendo um pouco mais de 40 anos. Crítico e oponente de Aquino entre a fé e a razão, pois para ele é impossível comprovar doutrinas chaves por meio da razão. Afirmava que as maiores crenças cristãs devem ser cridas somente sobre a base da autoridade da igreja ou das Escrituras. Devemos ter em conta que para Aquino a vontade de Deus trabalha de acordo com a razão, mesmo da humana, em contrapartida Duns Escoto se inclina pela liberdade e soberania da vontade de Deus, e não atado à razão, ainda que não pensava em Deus como caprichoso, nem como criador de caos, mas foi Sua vontade perfeita a que criou o universo e não Sua razão nem Sua mente. Sua teologia da justificação descansava na ação arbitrária de Deus, quem decide imputar a justiça aos homens; mas este conceito corre o perigo de considerar à paixão de Cristo como não realmente necessária. Em matéria de Cristologia, Duns Escoto tinha clareza sobre a encarnação do Verbo e a existência das duas naturezas, a divina e a humana, na única Pessoa do Senhor, mas que a natureza humana está subordinada à divina, mas esta não é limitada por sua relação com a natureza humana.

Guilherme de Occam
(1300-1349). Nasceu em Surrey (Inglaterra). Este radical, rebelde e controverso seguidor de Duns Escoto, contribuiu à demolição do escolasticismo, sobrevindo a consumação entre a fé e a razão, argumentando que os dogmas do cristianismo, mesmo os fundamentais como a existência de Deus e a imortalidade da alma, não podem ser provados pela razão e a lógica, senão aceitados pela fé e cridos devido a que estão contidos na Bíblia, pois não se pode conciliar a sabedoria humana com a sabedoria de Deus, entre as quais há um abismo insondável. Já o disse Paulo que para os sábios deste mundo, incluindo os filósofos gregos, a cruz era uma loucura. A fé se baseia na revelação de Deus aparte de toda prova da razão e do intelecto humanos. Occan se distinguiu também por haver liderado um forte ataque contra o poder político papal, trabalhando pela separação e independência entre o Estado e a igreja, declarando a si mesmo que o papa é um homem falível como todos os mortais, e que não tem poder para adicionar novos artigos de fé. Os escolásticos se esforçaram por conciliar à filosofia grega com a cruz e o que ela representa, e ante sua impotência, este movimento não sobreviveu ao medieval, salvo um eventual ressurgimento no princípio do presente século, conhecido como neoescolasticismo, de efêmera existência.

As Indulgências
Surge na época da escolástica o desenvolvimento do relacionado com as indulgências, algo que tinha suas raízes nas anteriores centúrias do cristianismo, particularmente com o papa Gregório I o Grande, associadas com crenças herdadas da religião babilônica e as filosofias gregas. A raiz da dogmatização do "sacramento" da penitência, o sacerdote se encarregava de impor a disciplina pelos pecados perdoados, e essas disciplinas se catalogavam conforme a gravidade da ofensa, e que oscilavam entre o jejum, as peregrinações (ao Vaticano, a Terra Santa ou outros lugares catalogados como santuários), auto-flagelação, mas também incluía as dádivas ao clero, o qual ocasionou o desenvolvimento da teoria e da prática das indulgências, que foram nos tempos de Lutero o floreiro para que se acendesse a chama da Reforma. As indulgências no princípio se limitavam a donativos a monastérios e paróquias. O sistema católico começou a ensinar que se as penas "temporais" não se cumpriam nesta vida, seriam cumpridas ou sofridas depois da morte, em um imaginário lugar chamado "purgatório", acerca do qual havia falado tentativamente Agostinho de Hipona, doutrina que afirmou o papa Gregório Magno e que chegou a ser parte da teologia medieval. Inclusive Agostinho mencionou certo benefício que as almas mortas podiam receber da missa, e isso deu base para que as orações, as missas e as indulgências pelos mortos chegaram a ser práticas comuns na igreja apóstata. Foi assim como no século onze, em pleno apogeu escolástico, começaram a conceder indulgências plenárias, e isso equivalia à remissão de todas as penas temporais pelos pecados, e a pessoa que a recebia já não tinha que sofrer no purgatório, senão que ao morrer ia diretamente ao céu, ou seja, que o pontífice romano pretendia ter e mesmo delegar nos bispos a facultatividade de omitir o castigo temporal pelos pecados. Historicamente o primeiro em conceder as indulgências plenárias foi o papa Urbano II aos que se alistaram na primeira cruzada, e aos que a apoiaram com seus donativos. Mas causa curiosidade que gente pensante da talha de teólogos escolásticos como Alberto Magno, Tomás de Aquino e Alexandre de Hales chegaram a desenvolver o princípio de "a tesouraria da igreja" que, tendo em pouco a obra completa de Cristo na cruz, consistia na peregrina idéia baseada em que os apóstolos, a virgem Maria e os santos mártires haviam feito mais do necessário para assegurar-se a vida do céu, acumulando assim um superávit de merecimento já enriquecido pelo que Cristo havia feito. Era tratado como um tesouro especial da igreja, e que ela repartia por meio dos sacramentos. Estava o Senhor de acordo com tudo isso? Não. Sua Santa Palavra disse que:" 12 Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome;13 os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus."(João. 1:12-13)." 16 Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.17 Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.18 Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. " (João 3:16-18)." 47 Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna. " (Jo. 6:47)." 1 Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; " (Ro. 5:1)." 8 Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus: 9 não de obras, para que ninguém se glorie. " (Ef. 2:8-9)." de graça recebestes, de graça dai. " (Mt. 10:8b)." mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor. " (Ro. 6:23b)." 1 Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. " (Ro. 8:1).Das anteriores citações bíblicas se pode deduzir que uma pessoa não pode salvar-se pelas formas ou observâncias externas, nem pelos méritos pessoais nem próprios nem alheio, senão pela obra redentora do Senhor Jesus, e só por ela, e para que pela fé venha Deus a morar dentro do homem por Seu Espírito. Em sua tese número 62, Lutero diz que "o verdadeiro tesouro da Igreja é o sacro santo evangelho da glória e da graça de Deus". Então, que fazer com semelhante superávit de merecimento que se desperdiçava no céu? Fácil; ao papa romano supostamente lhe havia sido concedido aproveitar e transferir parte de dita riqueza a fim de reduzir e mesmo cancelar a quantidade de boas obras exigidas aos pecadores penitentes, como satisfação por suas ofensas. Só faltava a aprovação oficial do Vaticano, a qual foi dada por Clemente VI em 1343.É necessário levar em conta que foi tão impressionante a estrutura teológica de Agostinho, que desafortunadamente a igreja apóstata só aceitou uma parte de seus conceitos e doutrinas; me atrevo a dizer que aceitou só essa parte que necessariamente não estava sustentada pela Palavra de Deus, ou se estava foi lamentavelmente deturpada. Damos alguns exemplos. Temos mencionado que Agostinho afirmava que tanto os sacramentos como a Palavra de Deus serviam como meios de graça; disso a igreja apóstata pôs a maior ênfase nos sacramentos até o dia de hoje. Agostinho havia feito alguma diferenciação entre a igreja como instituição visível e a igreja como a comunhão dos predestinados, dos que tem o Espírito; a igreja apóstata não chegou a negar a segunda, mas pôs maior ênfase na primeira, e há muitos outros exemplos, até que tudo se foi institucionalizando pelo lado enfatizado.Toda esta montagem e enredo das indulgências foi ignorado pelos cristãos primitivos; e não é difícil imaginar o paralelo tráfico de influências que se geraria por parte de alguns penitentes buscando influentes alavanca entre os eclesiásticos a fim de que intercederam ante as altas esferas da clerezia para que por meio das indulgências se lhes reduzira o período de prova. De tudo isto podemos concluir facilmente que ao instituir as indulgências pagas como válidas também para o mundo invisível, em seu momento era necessário complementa-lo com o do "purgatório", as missas pelos defuntos, e o culto dos santos. Mas Deus suscitou pessoas valentes como Antonio, arcebispo de Florência, que se atreveu a escrever: "Não possuímos nenhum testemunho nas Escrituras ou nos Pais para provar as indulgências, senão somente a autoridade de alguns autores modernos" (SUMMA DE TEOLOGÍA, parte 1ª, título 10, cap. 3, pág. 202, Venecia 1582). João de Wesel, eminente professor e reitor da Universidade de Erfurt, onde anos mais tarde estudou Lutero, no ano 1481 morreu condenado por herege por haver ensinado que as indulgências eram um engano piedoso, que o laicado deveria participar da copa na eucaristia e que a autoridade da Bíblia estava por cima dos papas e concílios. João XXII, quem ocupou o cargo de papa em sua corte em Avinhão, estabeleceu uma constituição relacionada com as taxæ sacræ pænitentiaræ (O nome da Rosa. Umberto Eco. RBA Editores, S.A., Barcelona, 1994. Pág.280), a fim de obter ganâncias com os pecados dos religiosos. Exemplos: Eclesiástico que pecava carnalmente com uma monja, com uma parente ou com uma mulher donzela; pela absolvição devia pagar 67 libras de ouro e 12 soldos. Por atos bestiais devia pagar 200 libras. Por atos com meninos ou animais e não com fêmeas, 100 libras. Uma monja que se houver entregado a vários homens, ao mesmo tempo ou em diferentes ocasiões, dentro ou fora do convento, e que depois aspirara a ser abadesa, devia pagar para obter o perdão papal, 131 libras de ouro e 15 soldos. Quantos papas se enriqueciam neste comércio de indulgências e perdão de pecados?Também existe um livro que escandalizou a Martinho Lutero, titulado Taxa Cameræ (se pode ler todo este documento no apêndice I do capítulo V, Sardes) seu Cancelleriæ Apostolicæ (A autenticidade desta obra é confirmada por Poliodoro Virvil (De Nat. Rer. Libro VIII)e Claude d’Esoence, reitor da Universidade de Paris (Comentário sobre Tito 1:7). Também Audofredo enumera as edições do livro publicadas em Roma, mais de 25, em uma obra dedicada a Pío VI. Gregório XIII auspiciou uma das tantas edições posteriores), onde Leon X, à ocasião pontífice em tempos de Lutero, estipula a tarifa a pagar para obter do papa o perdão por qualquer classe de pecado. Eis aqui alguns pecados com seus correspondentes preços:Impureza..................................................... 27 librasAdultério...................................................... 87 librasHomicídio de um sacerdote com penitência pública...... 27 librasHomicídio de um sacerdote com penitência privada..... 63 librasPor matar um bispo..................................... 131 librasConcubinato de um sacerdote....................... 21 librasUma mulher que bebe uma beberagem para provocar um aborto... 1 ducado e 6 carlinesViolação de um juramento em relação com assuntos civis... 7 librasMatrimônio em primeiro grau de parentesco....... 1.000 librasPor um soldado da causa católica que não aceitou a matar a um herege.. 36 libras.A Reforma lhe pôs fim ao comércio das indulgências? Não; a instituição romano papista a pôs em vigência até os tempos contemporâneos. Na última sessão do concílio de Trento foi aprovado o decreto sobre as indulgências. Então já não só teve aprovação papal senão também aprovação conciliar. Todavia no século XX, o sistema católico romano costuma apresentar certos meios para alcançar a graça de Deus, como os sacramentos, incluindo a confissão e a penitência; as indulgências, ainda que pareça um anacronismo; a mortificação da carne pode ser que a hajam "desdogmatizado", mas a seguem tolerando, e ainda a praticam nos conventos e seminários; todavia fica no ambiente esse fedor de que uma pessoa pelo ato de ingressar em uma ordem religiosa de fato é matriculada em uma privilegiada elite espiritual, de gente especial diante do Senhor.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

IV - Tiatira ( 2ª Parte )

Capítulo IV
T I A T I R A
(2a. parte)


As fraudes píos e a feudalização do papado
Depois que Carlos Martel conteve a invasão muçulmana à Europa em 732 na batalha de Poitiers, ao sul da França, em 750 o papa Zacarias legitimou o golpe de estado que levou a Pepino o Breve, filho de Carlos Martel, ao trono da França. Este monarca, a pedido do papa Estevão II, arrebatou aos lombardos da Itália um conjunto de terras compreendidas no Exarcado e a Pentápolis, que entregou ao papado (756), recebendo a sua vez do papa o título de Patrício dos romanos, título que refletia uma missão protetora sobre Roma. Esta foi a origem dos chamados Estados Pontifícios, recebendo assim o romano pontífice plenamente o poder temporal de mãos de outro mandatário do mundo. Mas o curioso é que tudo isso ocorre ao tempo em que foi posto em circulação um falso documento relacionado com uma suposta Donação de Constantino o Grande (se pode ler este falso documento no apêndice do presente capítulo) de uma parte de seu Império; que pretende a donação? Que "a cidade de Roma e todas as províncias, distritos e cidades da Itália" foram donados por Constantino ao papa Silvestre I (314-335), e a seus sucessores. Trata-se de uma dessas famosas "fraudes píos", escrito no século VIII, aparentando, claro, que havia sido escrito no século IV, na vida do imperador Constantino, por meio do qual se pretende demonstrar que Constantino, nos começos do século IV, por meio desse documento, havia dado ao bispo de Roma, nesse momento Silvestre I, autoridade suprema sobre todas as províncias imperiais da Europa, ainda por cima dos imperadores. Que motivo aparente houve para essa donação? Uma suposta cura milagrosa da lepra, que imaginariamente sofrera Constantino, "milagre" ocorrido quando Silvestre lhe administrava o batismo. Nesse documento espúrio parece que Constantino confere ao papado o palácio de Letrán em Roma, a tiara e todas as vestimentas e insígnias imperiais. A razão apresentada é que Constantino transladou a capital imperial de Roma à Constantinopla. Isso justificava os chamados Estados Pontifícios. É imperativo ter em conta que durante o reinado de Constantino o Grande não existia o papado romano. Durante séculos este documento serviu aos interesses do papado romano para justificar também suas pretensões e o direito de ingerência nos assuntos das igrejas cristãs e soberanos europeus, e para fortalecer a autoridade do papado em uma época quando esse sistema estava em perigo de desabar pela proliferação de "igrejas" tribais, reais e feudais. Eis ai um espúrio documento circunstancialmente saindo do punho de um imperador que jamais se despojou de sua dignidade de sumo pontífice babilônico, e no qual vemos um vivo retrato da prostituta vestida de púrpura montada encima da besta, que nos descreve o capítulo 17 de Apocalipse. Quando se escreveu este anacrônico documento encaminhado a Constantino, era uma época obscura na qual abundava a ignorância e as pessoas eram facilmente enganadas, e, além disso, carecia de meios para provar as falsificações, de tal maneira que só no Renascimento e na aurora da Reforma, quando Eugênio IV ocupava o cargo de papa, houve clareza de que estes documentos careciam de fundamento, e se provou que eram uma falsificação. O espúrio destes documentos foi demonstrado, entre outros estudiosos, pelo engenho dos eruditos da época, Nicolau de Cusa em 1433 e Laurêncio Valla em 1440. Valla, secretário papal e cônego da Basílica de São João de Letrán em Roma, foi um humanista dotado de suficiente astúcia crítica para revelar o caráter espúrio destes documentos, como também se deleitava em manifestar que o chamado credo dos apóstolos não havia sido relatado pelos doze apóstolos, como se havia difundido. Também alentou o estudo do hebraico e do grego a fim de que se conhecera a Escritura em seus idiomas originais e com ele se propôs debilitar a confiança na Vulgata como versão autorizada por Roma, devido a seus erros implícitos.Outro "fraude pío" de maior influência ainda foi uma série de documentos que se conhecem como os Falsos Decretais de Isidoro, publicadas ao redor do ano 830, professando haver sido compiladas por um tal Isidoro Mercador (Isidoro, bispo de Sevilla, Espanha (560 - 636), é considerado o personagem mais influente durante os reinados dos reis visigodos Liuva II, Witerico, Gundemaro, Sisebuto, Recaredo II, Suintila e Sisenando. As falsas Decretais de Isidoro foram atribuídas deliberadamente a Isidoro, como colecionadas por ele, a sabendas que eram documentos espúrios, a fim de dar-lhes credibilidade devido ao prestígio e genuína autoridade de que gozou Isidoro na Espanha e fora dela. Sobre as Pseudo-Isidorianas se fundamentou a edificação da monarquia papal, edificação que seguiu em pé aumentada, mesmo depois que os homens descobriram que tudo havia sido uma espantosa fraude) e ser decisões adotadas pelos concílios e primitivos bispos de Roma desde os apóstolos (por exemplo, a Anacleto, bispo de Roma em 103-112, se lhe atribui três das falsas decretais), reclamando a suprema autoridade do papa sobre a igreja universal, consolidar a disciplina eclesiástica e a independência da igreja do Estado, entre outras coisas. Os escritos falsos foram habilmente combinados com outros autênticos, como cartas conciliares, cartas papais e outros, mas nada sabia distinguir entre o verdadeiro e o falso. Em uma época cheia de atraso, ignorância e superstição, quando não se fazia exame crítico de documento algum, estes escritos foram, aceitos como genuínos, e foram usados para afirmar as pretensões papais por centos de anos. Julgue o leitor o espúrio destas pseudo-isidorianas, se põe aos primeiros bispos de Roma a citar a Jerônimo, o autor da versão bíblica a Vulgata Latina, muito antes de que este nascera. Essas Decretais fizeram da supremacia romana uma monarquia sacerdotal absoluta, a tal ponto que o papa Nicolau I (858-867) chegou a afirmar que esses escritos espúrios eram iguais às Escrituras em autoridade, e em nome de uma grande mentira, os papas romanos se constituíram em donos e senhores de todos os homens. No século XVI, as Decretais passaram pela peneira da crítica erudita, tanto pelo lado protestante como pelo dos católicos, até que por fim o papa Pío VI reconheceu a fraude em 1789; mas já o mal havia sido semeado e suas funestas conseqüências ainda persistem e persistirão até que a grande prostituta receba seu justo juízo e seja destruída pela besta nos dias finais desta era, conforme o tem disposto o Senhor em Sua Palavra. Registra-se assim mesmo que o papa Leão III é expulso ou foge de Roma a causa de um levantamento, mas se sabe por uma carta do ano 799 de Albino Alcuíno, eclesiástico inglês e conselheiro de Carlos magno (742-814), que este restabelece ao pontífice, quem a sua vez, o 23 de dezembro do ano 800, coroa como imperador dos romanos e com o nome de Carlos Augusto a este filho de Pepino o Breve, "reconstituindo" assim o Santo Império Romano do Ocidente, através de uma ficção de aclamação por parte do povo de Roma. Carlos magno, em sua condição de "protetor da igreja, designado por Deus", e influenciado pelo agostinismo político, tem ingerência nos assuntos eclesiásticos, como presidir sínodos, intervenção em questões teológicas e doutrinais, em assuntos econômicos e administrativos, nomeação de bispos e abades aos que transforma em funcionários imperiais, e lhe da inclusive conselhos espirituais ao papa.Em 962, Otão I, foi coroado pelo papa João XII como imperador do Santo Império Romano Germânico, instituição que havia de persistir até 1806. Levemos em conta que este imperador era descendente de Carlos magno por parte de sua mãe. Os dois, o imperador e o papa, firmaram um acordo, o Privilegium Ottonis, por meio do qual Otão concedeu ao papa a jurisdição temporal sobre umas três quartas partes da Itália, e por sua parte os romanos se comprometeram a não consagrar como papa a nenhum que não jurasse fidelidade ao imperador. Uma das razões desta instituição imperial era que na teoria o cristianismo havia de ter duas cabeças terrenas, ambas "divinamente comissionadas", a uma civil, o imperador, e a outra espiritual, o papa romano.Mas na prática o ideal de reunir o cristianismo em uma só unidade debaixo o duplo domínio do santo império romano germânico e o papado, jamais pode realizar-se; ao contrário, cada monarca europeu aspirava controlar aquela porção eclesiástica que estava dentro de seus domínios, e se ressentia de qualquer interferência do papado, e isto se analisa como uma preparação previa à posterior e conjuntural formação das "igrejas nacionais" a raiz da Reforma. Sobre este assunto voltaremos no capítulo relacionado com Sardes. Todo o anterior deu como resultado a feudalização do pontificado, e se estabeleceu uma espécie de concordata entre o papado e o imperador romano-germânico, no que ao final de contas era difícil determinar quem mandava em quem em um mar de confusões a respeito às relações entre o poder secular e o poder religioso. Bispos recebendo terras dos senhores feudais, caindo na tríplice condição de eclesiásticos-vassalos-pseudo senhores feudais. Conseqüências: Simonia, ou obtenção das dignidades eclesiásticas a troca de dinheiro, e nicolaísmo, ou desfrute de ditos cargos por pessoas sem vocação, como produto das investiduras laicas. Ao ir declinando o poder dos monarcas carlovíngios depois de acontecida a morte de Carlos magno, foi aumentando o do papado romano, e os bispos abades chegaram a ser senhores feudais, e em muito pouco se distinguiam de seus vizinhos laicos de não ser em seus títulos e funções eclesiásticas. espírito desta situação se há perpetuado como uma herança até os tempos contemporâneos.

O cesaropapismo no zênite
Não podemos deixar de registrar a errada interpretação que a teologia medieval deu à obra magistral de Agostinho, a Cidade de Deus. Agostinho enfatiza o enfoque apologético da teologia da história, mas os teólogos da igreja apóstata a interpretam como uma prova da superioridade da autoridade espiritual sobre a autoridade secular, o qual dava um grande respaldo às pretensões papais. Paulatinamente e sem fundamento e respaldo escriturário foi se esboçando e divulgando nessa pacata e ignorante sociedade medieval a idéia de que o papado romano e toda sua montagem temporal dava cumprimento ao profético reino de Deus na terra, mutilando a profecia, claro está, de muitos elementos fundamentais, como o que o verdadeiro Rei é o Senhor Jesus Cristo e não o papa, que o tempo desse reinado se da no marco de Sua segunda vinda, que a capital desse reino não é Roma senão Jerusalém, que nesse tempo não haverá cárceres, nem exército terrenos, nem inquisição, nem violência, nem fome, época em que os homens construirão suas casas e poderão viver nelas, tempo no qual eventualmente os leões e as feras pastarão com o gado, e as crianças brincarão com as serpentes. Ao respeito diz A. Gibert: "Vemos pelas epístolas do Novo Testamento que os primeiros cristãos esperavam constantemente ao Senhor Jesus. Na era das perseguições esta esperança dava força e ânimos às almas. Mas derrepente a Igreja se estabeleceu no mundo e a visão do regresso pessoal de Cristo foi perdida de vista. Se falava do juízo vindouro, isso sim, do gozo dos eleitos, do "fim do mundo", mas todo ele de forma muito vaga, mesclada com muitas superstições e fábulas. Alguns "Pais da Igreja" se ocuparam dos escritos proféticos e sua interpretação, como Clemente e Irineu, no segundo século; mais tarde, Eusébio, Jerônimo e, sobre tudo, Agostinho; mas eles interpretavam como já cumpridos os juízos de Apocalipse, os quais relacionavam com os tempos do Império Romano. (Para eles o Anticristo era dito Império, perseguidor dos fiéis.) Mas uma vez chegado o triunfo da Roma papal consideraram a esta como a Nova Jerusalém e a relacionaram com todas as promessas das profecias. Somente alguns espíritos seletos no curso da Idade Média chegaram a ser conduzidos à idéia de um reino futuro de Cristo sobre a terra. Outros, ante os escândalos de Roma, interpretaram que o Papa era o Anticristo. Os reformadores retiveram a mesma idéia e não investigaram apenas nos detalhes da Revelação. Entretanto, em alguns teólogos, tanto católicos como protestantes, se despertou a convicção de que os acontecimentos relatados simbolicamente no Apocalipse, são dirigidos ao fim da era cristã e o que a segue, e que conduziam a um reino milenar que há de ser estabelecido depois dos juízos divinos, mediante a conversão do mundo". (A. Gibert, em o Prefácio do Estudo sobre o Livro de Apocalipse, de J. N. Darby, op. cit., pág. 11).Mas apesar de todas estas clarezas bíblicas, essas outras enganosas idéias foram infundidas em uma sociedade que não conhecia a Bíblia nem as verdades de Deus, e o cesaropapismo seguiu adiante e teve seu período culminante durante uns cento e cinqüenta anos entre 1073 e 1216, época que se destaca porque o papado romano gozou de um poder quase absoluto, não somente sobre o sistema católico romano, senão sobre as nações da Europa, cujo topo foi alcançado durante o governo de Gregório VII (1023-1085), mais conhecido por Hildebrando, seu nome de família. Parece haver pertencido a uma família aristocrática, pois a mãe fazia parte de uma família de banqueiros; nascido em um povo da Toscana, na Itália; filho de um carpinteiro. Estudou no monastério de Clugni, praticando ali um ascetismo rigoroso. Dali foi chamado por Leão IX (1049-1054) para que lhe servisse de conselheiro, e o fez superior do monastério de São Paulo Extramuros, em Roma, o qual se encontrava moralmente muito degradado. Hildebrando era um homem muito enérgico, de caráter soberbo e veemente. Leão IX não tomava nenhuma determinação de importância sem consultar com Hildebrando, quem se constituiu no poder atrás o trono durante uns vinte anos, e era quem elegia aos papas sucessivos à morte do reinante, pelo qual chegaram a chamar-lhe "fazedor de papas", antes de empregar a tríplice coroa como sucessor de Alexandre II em 1073, até sua morte em 1085. Liberou o sistema católico romano da dominação do Estado, e lhe pôs fim à nomeação dos papas e os bispos e pelos reis e imperadores. Nessa época muitos soberanos, em troca de fidelidade feudal, ofereciam aos clérigos um cajado e anel episcopal. Muitos prelados e clérigos o odiavam porque se propôs reformar o corrompido clero e acabar com a simonia, ou seja, a compra e arrendamento de postos nesse sistema religioso. Também pôs em vigor o celibato clerical, anteriormente aprovado, contrariando a Palavra de Deus que diz expressamente que o bispo tenha sua esposa e seus filhos (cfr. 1 Timóteo 3:1-4; Tito 1:6).Existe um documento de Hildebrando titulado Dictatus Papæ ("No século XI, com Gregório VII, deu lugar a uma volta decisiva dentro da própria estrutura do poder. Em seu Dictatus Papæ (ano 1075), o papa se levantou contra a prepotência do poder secular que havia degenerado em simonia, nicolaísmo e toda classe de sacrilégios, e inaugurou a ideologia do poder absoluto do papado... O papa concebe a si mesmo, misticamente, como o único reflexo do poder divino na ordem da criação. Ele é seu vigário e suplente. Neste sentido há de se entender as proposições formuladas no Dictatus Papæ... O Summus Pontifex assumia, pois, a herança do Império Romano e se instituía como poder absoluto, unindo em sua pessoa o sacerdotium e o regnum. Era a ditadura do papa". José Grau. Catolicismo Romano: Orígenes e Desenvolvimento. EEE, 1990, pág. 1051) no qual define a posição papal mediante vinte e sete afirmações, como:- A igreja romana foi fundada por Deus.- Só o pontífice romano merece o título de "universal".- Somente ele pode depor ou reinstalar aos bispos.- Só ele pode usar a insígnia imperial.- Ele é o único homem a cujos pés devem beijar os príncipes.- Ele pode depor aos imperadores.- Ele pode transladar aos bispos de uma sede a outra.- Pode dividir bispados ricos e unificar os pobres.- Tem a autoridade de ordenar clérigos de qualquer igreja, e quem seja por ele ordenado não pode receber um grau maior da parte de outro bispo.- Nenhum sínodo pode ser chamado geral sem sua autorização.- Uma sentença por ele expedida não pode ser anulada por nada senão por ele mesmo.- O papa romano não pode ser julgado por nada.- A ele devem ser apresentados para sua resolução os casos importantes de todas as igrejas.- A igreja católica nunca errou, nem errará jamais por toda a eternidade.- Aquele que não esta em paz com a igreja romana não será tido por católico.- O pontífice romano pode liberar os súditos da fidelidade à um monarca iniquo, ou ao qual estejam sujeitos a lealdade a homens malvados. (GREGÓRIO VII: Registrum, PATROLOGÍA LATINA, CXLVIII).Como podemos observar, um dos propósitos de Hildebrando foi submeter todos os governos ao papado romano. Alguns governantes europeus como o imperador alemão Henrique IV, ambicionavam dominar a toda Europa, o qual também traficava com os cargos eclesiásticos. Este imperador se desgostou com o pontífice Hildebrando e tratou de depor ao papa mediante um sínodo de bispos alemães que convocou. A reação de Hildebrando foi a de excomungar a Henrique IV, advertindo a seus súditos que não estavam obrigados a guardar lealdade a seu excomungado soberano.A história registra que Hildebrando pôs ao imperador em uma situação de impotência, e em janeiro de 1077, o imperador teve que humilhar-se ao papa ante a porta do castelo em Canosa, onde havia esperado afora durante três dias, descalço, com frio e, segundo ele relato histórico, lhe serviu de estribo para que Hildebrando montasse a seu cavalo. Ele supersticioso e ignorante povo dessa época cria cegamente no "poder das chaves", e a generalizada opinião era que o papa podia mandar às almas ao inferno se ele assim o desejasse; e estas coisas ajudaram a Hildebrando a que, sem necessidade de exércitos pudesse impor seu poder sobre todas as nações da Europa, incluindo os imperadores. O reinado de Hildebrando sentou as bases para que exercessem poder autocrático sucessores deles do cunho de Inocêncio III (1198-1216), quem em opinião de alguns é o verdadeiro representante da maior altura do poder terreno do pontificado romano e sua influência política na Europa Ocidental. O verdadeiro nome deste aristocrático personagem é Lotário de Conti di Segni. Ao ser coroado papa disse: "O sucessor de são Pedro ocupa uma posição intermediária entre Deus e o homem. É inferior a Deus mas superior ao homem. É o juiz de todos, mas não é julgado de nada". Também uma carta oficial sua diz que ao papa "lhe havia sido encomendada não somente toda a igreja, senão todo o mundo, com o direito de dispor finalmente da coroa imperial e de todas as demais coroas", e assim o sustentou durante seu reinado. Inocêncio III era consciente de que aos governantes seculares Deus lhes confiava certas missões, mas que Deus havia ordenado tanto o poder pontifical como o real (secular), e dizia que assim como Deus havia criado o sol e a lua, e da maneira como esta recebe sua luz daquele, assim o poder do príncipe deriva sua dignidade e esplendor do poder papal, e assim a mesma Roma obrigou aos oficiais civis a que reconhecessem a ele como soberano antes que ao imperador, e chegou a substituir aos juizes imperiais pelos que ele nomeou. Para essa época, a quase totalidade dos povos da Europa ocidental havia sido ganhada à fé cristã mas só como uma aceitação objetiva e nominal, pois a grande maioria não tinha senão um vago conceito da "religião" que haviam abraçado, e longe estavam de conhecer "a soberana vocação de Deus em Cristo Jesus", incluindo ainda, com contadas exceções, ao clero, bispos e aos papas.

Alguns paradoxos do papado romano
Ao decair o Império Romano, o papado foi assumindo muitas das funções antes exercidas e executadas pelo Estado. Da Igreja se foi formando uma organização institucionalizada infestada de contradições com relação ao evangelho, sua fonte escrita natural. Chegou um momento em que a Igreja começou a institucionalizar como herdeira das instituições próprias do Império Romano. Entre outras instituições, a Igreja herdou do Império o direito, a centralização burocrática, a organização política em dioceses e paróquias, o titulativo, os cargos (toda a andaimaria da hierarquia, entre os cargos, o primeiro é o de papa, sucessor do César); tudo isso estranho ao modelo neotestamentário deixado pelo Senhor para Sua Igreja. A Palavra de Deus não admite que as duas cidades, a terrena e a celestial, se mesclem e se confundam, e isso foi o que sucedeu em Tiatira, ainda que esta condição se deu em menor escala em outros períodos proféticos, pois se entende que em muitas igrejas houveram também alguma doses de elementos da cidade terrena mesclados com a cidade de Deus. Devido a essa mescla se têm dado muitas contradições nessa instituição, das quais relacionamos algumas. O papa romano pretende deslocar ao Espírito Santo dizendo que é o vigário de Cristo na terra, e ostenta o título de Vicarius Filii Dei (vigário do Filho de Deus), mas a Bíblia diz que o verdadeiro Vigário de Cristo agora na Igreja é o Espírito Santo:" 16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco,. 26 mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito. 7 Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. 13 quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir.14 Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.15 Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar." (João 14:16,26; 16:7,13-15).A figura do papa como suposto vigário de Cristo é herança babilônica, pois, a diferença do faraó egípcio, o rei mesopotâmico não foi divinizado senão excepcionalmente; na Babilônia o verdadeiro soberano era o deus da cidade, do qual o rei era considerado seu vigário ou regente.Os romanos pontífices foram considerados na época de seu maior esplendor como os sucessores dos césares, e o papado como o exponente e protetor da Românitas (civilização greco-romana), edificadores de um império cujo centro era Roma, mas à vez apregoando a pretendida sucessão apostólica do primado e de um fictício trono que Pedro jamais teve nem ostentou. Verdadeira conseqüência? O cristianismo foi substituindo a unidade no amor pela visível unidade de sua estrutura, e entrou a mesclar o poder político do império terreno com o poder da cruz e da ressurreição do Senhor Jesus, pelo qual a expressão deste último poder se foi debilitando nesse matrimônio. Desde Gregório I o Grande, os romanos pontífices começaram a chamarem-se servus servorum Dei (servo dos servos de Deus), como uma interpretação trazida dos cabelos das palavras do Senhor no evangelho quando se referiu aos que desejavam ser os maiores entre os discípulos, dizendo que para alcançá-lo deviam ser servos de todos. Se nos ocorre uma expressão saturada de hipocrisia na boca dos que ocupam o trono papal, pois o romano pontífice vive em um super luxuoso palácio, rodeado de imensas riquezas e serventes, em contraste com o Senhor Jesus, que veio não para ser servido mas para servir, e não teve sequer uma pedra para recostar Sua cabeça.O papado romano é paradoxo, por quanto é um sistema que navega no controvertido e proceloso mar do mundo, a imoralidade, a intriga, fornicação, derramamento de sangue, simonia, enquanto isso proclama ser o representante de Jesus Cristo na terra. O papado romano em seu afã ecumenista, pretende ser o epítome da unidade, constituindo-se, os que pregam e praticam, em uma verdadeira antinomia com os ensinamentos de quem diz representar, mas através da história suas pomposas vaidades, presunções e atuações, o tem constituído em proeminente obstáculo para a unidade dos diferentes sistemas religiosos cristãos, que algumas correntes proclamam. Os papas de Roma dizem ser os mentores da paz, mas por suas ambições de poder a história registra que têm tido poderosos exércitos para subjugar, enfrentar e fazer a guerra às potências européias, para imitar aos reis da terra em uma época em que o mais importante e benéfico era fazer a guerra. As Palavras do Senhor Jesus são: " Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. " (Mt. 22:21). Além disso, disse: " Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. " (João 14:27). As cruzadas representaram um esforço por construir o reino de Deus na terra mediante os mesmos métodos daquele mundo que a Palavra de Deus declara estar em inimizade com o evangelho, e que constitui por si mesmo a antítese do ideal cristão respeito à guerra. Curiosamente, desde a primeira cruzada, empreendida pelo papa Urbano II em 1096 para ir em auxílio do imperador bizantino contra os muçulmanos e resgatar os lugares santos na Palestina, foi prometida a "indulgência plenária" a todos os que tomaram parte nela, e vida eterna a todos os que perdessem a vida na empresa. Diz-se que foram indiscutíveis protagonistas para a ação da civilização dos bárbaros, mas criaram, promoveram e alentaram a triste célebre Inquisição, página negra que começa e empobrece a história da humanidade. Condenaram a tortura, mas mediante a "santa" Inquisição, aprovaram a tortura e a morte contra seus inimigos, chama-se hereges, protestantes, judeus ou feiticeiros e todos os que recusaram as falsas doutrinas do catolicismo romano.

A coroa pontifícia
A coroa papal é um símbolo do poder e de força terrena, usado para recuperar triunfalmente os saqueios das hordas bárbaras e os embates cobiçosos de imperadores europeus do “nível” de Napoleão Bonaparte, e para impor a vontade cesaropapista sobre as nações sobre mil obscuros anos. O papa romano diz ser o vigário de Cristo, mas ostenta uma coroa de três pisos, a tiara, de ouro fino adornada com cerca de umas 200 pedras preciosas, que tem um valor de milhões de dólares, em contraste com o Senhor Jesus, que durante sua vida terrena não teve outra coroa que a de espinhos. O verdadeiro ouro da Igreja é a vida que Deus nos da pela obra de Seu Filho, é Sua presença em nós, e as pedras preciosas são as formas como Deus por Seu Espírito se forja em nós, Sua obra de purificação e aperfeiçoamento no homem, até que cheguemos " à medida da estatura da plenitude de Cristo " (cfr. Efésios 4:13b).A tiara papal tem uma história curiosa. Nicolau I (858-867), o primeiro pontífice que soube tirar proveito às espúrias Decretais Isidorianas, foi o papa que instaurou o costume da coroação dos sumos pontífices romanos, ainda que ao princípio se limitara a uma simples coroa chamada "tiara". Hildebrando adotou uma coroa com a inscrição "Corona Regni de Manu Dei". Bonifácio acrescentou uma segunda coroa com as palavras "Diadema imperii de manu Dei"; e João XXII com sua corte em Avinhão, acrescentou uma terceira coroa, aperfeiçoando assim o símbolo. Três coroas: o poder espiritual, o poder temporal e o poder eclesiástico. Esses três poderes papais com que relacionam a tríplice coroa da tiara papal, para alguns correspondem a sua tríplice pretensão teocrática, isto é, que se diz ser senhor e amo da igreja, senhor do mundo e senhor do além túmulo; recordem que se adotam o direito de vender indulgências para que a gente se salve das chamas do purgatório; além de que proclamam que fora da Igreja Católica Romana não há salvação.Em tempos de Bonifácio VIII (Bento Gaetani), papa romano desde 1294 até 1303, sucessor do octogenário Celestino V, se fez notória a decadência do papado, e, entretanto, este personagem irascível, arrogante, sem tato e amador da magnificência, fez grandes e jamais promulgadas reclamações em favor da autoridade papal, mas com freqüência saia derrotado nesses esforços por impor sua vontade. Bonifácio VIII se pôs a coroa no dia em que fez sua atrevida e falaz declaração: "A igreja tem um corpo e uma cabeça, Cristo e o vigário de Cristo, Pedro e o sucessor de Pedro: em seu poder há duas espadas, uma espiritual e uma temporal; ambas as classes de poder estão nas mãos do romano pontífice". A história assim mesmo registra que este personagem praticou a bruxaria. Mas o mais infame é que professando ser ateu, em um gesto blasfemo apelidou ao Senhor Jesus de mentiroso e hipócrita, quando também disse ter parte com ele (Bonifácio) que era um homicida e um pervertido sexual.

O clero

É bíblico que todos os crentes no Senhor Jesus, os filhos de Deus, são sacerdotes para Deus, mas progressivamente e desde antes de mesclar-se a Igreja com o Estado, esta vinha agrupando em torno do clero guiado e orientado pelos bispos, e constituído preferencialmente por eles. Depois que a começos do século II começara a diferenciar o clero dos laicos, com o tempo se desenvolveu um tipo de sacerdócio copiado conscientemente, o mesmo que atos litúrgicos, vestimentas e outras coisas, do sacerdócio judaico dos tempos pré-cristãos e a influência do sacerdócio pagão, com a diferença de que ofereciam sacrifícios incruentos no altar que também haviam copiado, e se foi perdendo a expressão do sacerdócio de todos os crentes. Mudaram a ordem estabelecida por Deus, dividindo os crentes em duas classes: uma de laicos e outra dotada de vestiduras sacerdotais, mitra e até coroa e vestiduras reais. Ainda antes de que fora decretada a tolerância para o cristianismo por parte do Estado, e submergida ainda a Igreja na negra época das perseguições, não poucos bispos começaram a se interessar por seu prestígio pessoal, as vezes imersos em intrigas e pompas do tipo dos dignitários imperiais, o mesmo poder antagônico que crucificou a Jesus.Se foi introduzindo em muitas partes do Império que nesses imponentes edifícios ou templos erigidos depois de Constantino, houvera um santuário que contivera o altar, o trono do bispo e os assentos do clero, tudo separado por uma divisória para que os laicos não pudessem entrar até lá. Os homens, deixando de lado o estabelecido por Deus de que em cada igreja local se estabelecessem bispos (palavra sinônima de pastor, ancião e presbítero), preferiram que o cargo de bispo fosse o de um ministro de uma grande cidade, que tinha um trono (cátedra) para sentar-se, e um magnífico templo (catedral), desde o qual exercia autoridade sobre as igrejas de uma região. O desenvolvimento hierárquico do clero sem dúvida recebeu a influência da organização militar que distinguiu ao Império Romano. Vindo contra os princípios bíblicos, com o tempo, os bispos das cidades maiores, ou metrópoles, começaram a exercer autoridade sobre os bispos de seus distritos ou províncias e se chamaram arcebispos, metropolitanos. Isto oficialmente foi aprovado no concílio de Antioquía no ano 341. Também se erigiram os patriarcas como os de Jerusalém, Antioquía, Constantinopla, Alexandria e Roma. Por outro lado, o colégio de cardeais também é copiado das instituições do Império Romano. Em Roma aos magistrados sacerdotais chamavam pontífices, ou seja, o que tinha uma ponte entre os homens e os deuses mediante ritos. A palavra pontífice vem das palavras latinas pons, ponte, e facio, facere, fazer; logo seu significado literal é "construtor de pontes". Igual aos pontífices do paganismo, os pontífices (cardeais) da Roma pagã formavam um Colégio presidido pelo Pontifex Maximus, cargo que na ocasião ostentava o imperador de turno. A palavra cardeal procede do latim cardinalis, fundamental; também dizem que do latim cardo, que significa bisagra, quicio ou gozne, e que presumidamente indica a importância axial dos cardeais no apóstata sistema católico romano. Então os cardeais são uma continuação dos sacerdotes pagãos da bisagra da Babilônia através de Roma, sacerdotes que serviam em Roma ao deus Jano, o deus pagão das portas e as bisagras, e que por alguma razão se relaciona com o nome de janeiro (em inglês, january), mês que abre o ano. Ainda que o título de cardeal se remontava a mais de mil anos, só em 1150 se constituiu o Sacro Colégio Cardinalício. Nada disto tem que ver com a Bíblia. Levemos em conta que em Babilônia havia um Concílio de Pontífices.Como seu nome o indica, a cor dos cardeais é o roxo, e o papa Inocêncio IV (1243-1254) aprovou por decreto que o roxo fosse a cor cardinalícia porque mediante esse símbolo, como chefes desse sistema religioso, os cardeais devem mostrar-se dispostos a derramar seu sangue por sua fé. Mas no fundo isso obedece a que são considerados príncipes desse sistema religioso, e o roxo é a cor das vestimentas dos príncipes das nações do mundo. Além disso, longe de ser pelo assunto do sangue, me inclino a crer que é pelo pecado. " 18 Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã. " (Is. 1:18). Em Apocalipse 17, a Bíblia associa e simboliza o sistema cristão apóstata com uma mulher prostituta vestida de púrpura e escarlata, embriagada do sangue dos mártires de Jesus. Se degenerou tanto a moral no catolicismo romano, que na Idade Media, os cargos eclesiásticos, com freqüência eram vendidos ou adjudicados como prebendas ou dotes, e que muitas vezes as pessoas beneficiárias não exerciam pessoalmente, senão que a sua vez os arrendavam a substitutos por uma renda fixa. Com freqüência se dava o caso de que crianças de doze anos já eram bispos, cardeais e até papas. (Aniceto, bispo de Roma ( 175), ordenou aos presbíteros abaixo do seu mandato que se tosquiassem a cabeça em forma de coroa, tomando o costume do sacrifício de Isis, a deusa egípcia. Maurício da Châtre. A História dos Papas e dos Reis. CLIE 1993, tomo I, pág. 113).Abaixo da autoridade episcopal estavam os sacerdotes e foram multiplicadas as paróquias, frente às quais havia pelo menos um sacerdote residente que administrava os sacramentos e tinha o cargo de cura animarum, ou seja, o cuidado das almas em sua paróquia, de onde vem a palavra cura. No começo as oferendas dos fiéis eram voluntárias, mas nas paróquias se terminou por estabelecer tarifas para os diferentes serviços prestados pela cura (missas, batismos, casamentos, funerais e outros). Ainda em nossos tempos persiste o velho conflito entre o Estado e a organização eclesiástica e é que o clero segue constituindo uma classe especial, tem suas próprias cortes de justiça e em muitos países argúi que os governantes seculares não o demande ante tribunais civis, nem lhes cobre impostos.