A Igreja de Jesus Cristo-Uma Perspectiva Histórico-Profética

A Igreja de Jesus Cristo-Uma Perspectiva Histórico-Profética
Tradução do livro "La Iglesia de Jesucristo, una perspectiva histórico-profética" de Arcadio Sierra Diaz

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

IV - Tiatira ( 2ª Parte )

Capítulo IV
T I A T I R A
(2a. parte)


As fraudes píos e a feudalização do papado
Depois que Carlos Martel conteve a invasão muçulmana à Europa em 732 na batalha de Poitiers, ao sul da França, em 750 o papa Zacarias legitimou o golpe de estado que levou a Pepino o Breve, filho de Carlos Martel, ao trono da França. Este monarca, a pedido do papa Estevão II, arrebatou aos lombardos da Itália um conjunto de terras compreendidas no Exarcado e a Pentápolis, que entregou ao papado (756), recebendo a sua vez do papa o título de Patrício dos romanos, título que refletia uma missão protetora sobre Roma. Esta foi a origem dos chamados Estados Pontifícios, recebendo assim o romano pontífice plenamente o poder temporal de mãos de outro mandatário do mundo. Mas o curioso é que tudo isso ocorre ao tempo em que foi posto em circulação um falso documento relacionado com uma suposta Donação de Constantino o Grande (se pode ler este falso documento no apêndice do presente capítulo) de uma parte de seu Império; que pretende a donação? Que "a cidade de Roma e todas as províncias, distritos e cidades da Itália" foram donados por Constantino ao papa Silvestre I (314-335), e a seus sucessores. Trata-se de uma dessas famosas "fraudes píos", escrito no século VIII, aparentando, claro, que havia sido escrito no século IV, na vida do imperador Constantino, por meio do qual se pretende demonstrar que Constantino, nos começos do século IV, por meio desse documento, havia dado ao bispo de Roma, nesse momento Silvestre I, autoridade suprema sobre todas as províncias imperiais da Europa, ainda por cima dos imperadores. Que motivo aparente houve para essa donação? Uma suposta cura milagrosa da lepra, que imaginariamente sofrera Constantino, "milagre" ocorrido quando Silvestre lhe administrava o batismo. Nesse documento espúrio parece que Constantino confere ao papado o palácio de Letrán em Roma, a tiara e todas as vestimentas e insígnias imperiais. A razão apresentada é que Constantino transladou a capital imperial de Roma à Constantinopla. Isso justificava os chamados Estados Pontifícios. É imperativo ter em conta que durante o reinado de Constantino o Grande não existia o papado romano. Durante séculos este documento serviu aos interesses do papado romano para justificar também suas pretensões e o direito de ingerência nos assuntos das igrejas cristãs e soberanos europeus, e para fortalecer a autoridade do papado em uma época quando esse sistema estava em perigo de desabar pela proliferação de "igrejas" tribais, reais e feudais. Eis ai um espúrio documento circunstancialmente saindo do punho de um imperador que jamais se despojou de sua dignidade de sumo pontífice babilônico, e no qual vemos um vivo retrato da prostituta vestida de púrpura montada encima da besta, que nos descreve o capítulo 17 de Apocalipse. Quando se escreveu este anacrônico documento encaminhado a Constantino, era uma época obscura na qual abundava a ignorância e as pessoas eram facilmente enganadas, e, além disso, carecia de meios para provar as falsificações, de tal maneira que só no Renascimento e na aurora da Reforma, quando Eugênio IV ocupava o cargo de papa, houve clareza de que estes documentos careciam de fundamento, e se provou que eram uma falsificação. O espúrio destes documentos foi demonstrado, entre outros estudiosos, pelo engenho dos eruditos da época, Nicolau de Cusa em 1433 e Laurêncio Valla em 1440. Valla, secretário papal e cônego da Basílica de São João de Letrán em Roma, foi um humanista dotado de suficiente astúcia crítica para revelar o caráter espúrio destes documentos, como também se deleitava em manifestar que o chamado credo dos apóstolos não havia sido relatado pelos doze apóstolos, como se havia difundido. Também alentou o estudo do hebraico e do grego a fim de que se conhecera a Escritura em seus idiomas originais e com ele se propôs debilitar a confiança na Vulgata como versão autorizada por Roma, devido a seus erros implícitos.Outro "fraude pío" de maior influência ainda foi uma série de documentos que se conhecem como os Falsos Decretais de Isidoro, publicadas ao redor do ano 830, professando haver sido compiladas por um tal Isidoro Mercador (Isidoro, bispo de Sevilla, Espanha (560 - 636), é considerado o personagem mais influente durante os reinados dos reis visigodos Liuva II, Witerico, Gundemaro, Sisebuto, Recaredo II, Suintila e Sisenando. As falsas Decretais de Isidoro foram atribuídas deliberadamente a Isidoro, como colecionadas por ele, a sabendas que eram documentos espúrios, a fim de dar-lhes credibilidade devido ao prestígio e genuína autoridade de que gozou Isidoro na Espanha e fora dela. Sobre as Pseudo-Isidorianas se fundamentou a edificação da monarquia papal, edificação que seguiu em pé aumentada, mesmo depois que os homens descobriram que tudo havia sido uma espantosa fraude) e ser decisões adotadas pelos concílios e primitivos bispos de Roma desde os apóstolos (por exemplo, a Anacleto, bispo de Roma em 103-112, se lhe atribui três das falsas decretais), reclamando a suprema autoridade do papa sobre a igreja universal, consolidar a disciplina eclesiástica e a independência da igreja do Estado, entre outras coisas. Os escritos falsos foram habilmente combinados com outros autênticos, como cartas conciliares, cartas papais e outros, mas nada sabia distinguir entre o verdadeiro e o falso. Em uma época cheia de atraso, ignorância e superstição, quando não se fazia exame crítico de documento algum, estes escritos foram, aceitos como genuínos, e foram usados para afirmar as pretensões papais por centos de anos. Julgue o leitor o espúrio destas pseudo-isidorianas, se põe aos primeiros bispos de Roma a citar a Jerônimo, o autor da versão bíblica a Vulgata Latina, muito antes de que este nascera. Essas Decretais fizeram da supremacia romana uma monarquia sacerdotal absoluta, a tal ponto que o papa Nicolau I (858-867) chegou a afirmar que esses escritos espúrios eram iguais às Escrituras em autoridade, e em nome de uma grande mentira, os papas romanos se constituíram em donos e senhores de todos os homens. No século XVI, as Decretais passaram pela peneira da crítica erudita, tanto pelo lado protestante como pelo dos católicos, até que por fim o papa Pío VI reconheceu a fraude em 1789; mas já o mal havia sido semeado e suas funestas conseqüências ainda persistem e persistirão até que a grande prostituta receba seu justo juízo e seja destruída pela besta nos dias finais desta era, conforme o tem disposto o Senhor em Sua Palavra. Registra-se assim mesmo que o papa Leão III é expulso ou foge de Roma a causa de um levantamento, mas se sabe por uma carta do ano 799 de Albino Alcuíno, eclesiástico inglês e conselheiro de Carlos magno (742-814), que este restabelece ao pontífice, quem a sua vez, o 23 de dezembro do ano 800, coroa como imperador dos romanos e com o nome de Carlos Augusto a este filho de Pepino o Breve, "reconstituindo" assim o Santo Império Romano do Ocidente, através de uma ficção de aclamação por parte do povo de Roma. Carlos magno, em sua condição de "protetor da igreja, designado por Deus", e influenciado pelo agostinismo político, tem ingerência nos assuntos eclesiásticos, como presidir sínodos, intervenção em questões teológicas e doutrinais, em assuntos econômicos e administrativos, nomeação de bispos e abades aos que transforma em funcionários imperiais, e lhe da inclusive conselhos espirituais ao papa.Em 962, Otão I, foi coroado pelo papa João XII como imperador do Santo Império Romano Germânico, instituição que havia de persistir até 1806. Levemos em conta que este imperador era descendente de Carlos magno por parte de sua mãe. Os dois, o imperador e o papa, firmaram um acordo, o Privilegium Ottonis, por meio do qual Otão concedeu ao papa a jurisdição temporal sobre umas três quartas partes da Itália, e por sua parte os romanos se comprometeram a não consagrar como papa a nenhum que não jurasse fidelidade ao imperador. Uma das razões desta instituição imperial era que na teoria o cristianismo havia de ter duas cabeças terrenas, ambas "divinamente comissionadas", a uma civil, o imperador, e a outra espiritual, o papa romano.Mas na prática o ideal de reunir o cristianismo em uma só unidade debaixo o duplo domínio do santo império romano germânico e o papado, jamais pode realizar-se; ao contrário, cada monarca europeu aspirava controlar aquela porção eclesiástica que estava dentro de seus domínios, e se ressentia de qualquer interferência do papado, e isto se analisa como uma preparação previa à posterior e conjuntural formação das "igrejas nacionais" a raiz da Reforma. Sobre este assunto voltaremos no capítulo relacionado com Sardes. Todo o anterior deu como resultado a feudalização do pontificado, e se estabeleceu uma espécie de concordata entre o papado e o imperador romano-germânico, no que ao final de contas era difícil determinar quem mandava em quem em um mar de confusões a respeito às relações entre o poder secular e o poder religioso. Bispos recebendo terras dos senhores feudais, caindo na tríplice condição de eclesiásticos-vassalos-pseudo senhores feudais. Conseqüências: Simonia, ou obtenção das dignidades eclesiásticas a troca de dinheiro, e nicolaísmo, ou desfrute de ditos cargos por pessoas sem vocação, como produto das investiduras laicas. Ao ir declinando o poder dos monarcas carlovíngios depois de acontecida a morte de Carlos magno, foi aumentando o do papado romano, e os bispos abades chegaram a ser senhores feudais, e em muito pouco se distinguiam de seus vizinhos laicos de não ser em seus títulos e funções eclesiásticas. espírito desta situação se há perpetuado como uma herança até os tempos contemporâneos.

O cesaropapismo no zênite
Não podemos deixar de registrar a errada interpretação que a teologia medieval deu à obra magistral de Agostinho, a Cidade de Deus. Agostinho enfatiza o enfoque apologético da teologia da história, mas os teólogos da igreja apóstata a interpretam como uma prova da superioridade da autoridade espiritual sobre a autoridade secular, o qual dava um grande respaldo às pretensões papais. Paulatinamente e sem fundamento e respaldo escriturário foi se esboçando e divulgando nessa pacata e ignorante sociedade medieval a idéia de que o papado romano e toda sua montagem temporal dava cumprimento ao profético reino de Deus na terra, mutilando a profecia, claro está, de muitos elementos fundamentais, como o que o verdadeiro Rei é o Senhor Jesus Cristo e não o papa, que o tempo desse reinado se da no marco de Sua segunda vinda, que a capital desse reino não é Roma senão Jerusalém, que nesse tempo não haverá cárceres, nem exército terrenos, nem inquisição, nem violência, nem fome, época em que os homens construirão suas casas e poderão viver nelas, tempo no qual eventualmente os leões e as feras pastarão com o gado, e as crianças brincarão com as serpentes. Ao respeito diz A. Gibert: "Vemos pelas epístolas do Novo Testamento que os primeiros cristãos esperavam constantemente ao Senhor Jesus. Na era das perseguições esta esperança dava força e ânimos às almas. Mas derrepente a Igreja se estabeleceu no mundo e a visão do regresso pessoal de Cristo foi perdida de vista. Se falava do juízo vindouro, isso sim, do gozo dos eleitos, do "fim do mundo", mas todo ele de forma muito vaga, mesclada com muitas superstições e fábulas. Alguns "Pais da Igreja" se ocuparam dos escritos proféticos e sua interpretação, como Clemente e Irineu, no segundo século; mais tarde, Eusébio, Jerônimo e, sobre tudo, Agostinho; mas eles interpretavam como já cumpridos os juízos de Apocalipse, os quais relacionavam com os tempos do Império Romano. (Para eles o Anticristo era dito Império, perseguidor dos fiéis.) Mas uma vez chegado o triunfo da Roma papal consideraram a esta como a Nova Jerusalém e a relacionaram com todas as promessas das profecias. Somente alguns espíritos seletos no curso da Idade Média chegaram a ser conduzidos à idéia de um reino futuro de Cristo sobre a terra. Outros, ante os escândalos de Roma, interpretaram que o Papa era o Anticristo. Os reformadores retiveram a mesma idéia e não investigaram apenas nos detalhes da Revelação. Entretanto, em alguns teólogos, tanto católicos como protestantes, se despertou a convicção de que os acontecimentos relatados simbolicamente no Apocalipse, são dirigidos ao fim da era cristã e o que a segue, e que conduziam a um reino milenar que há de ser estabelecido depois dos juízos divinos, mediante a conversão do mundo". (A. Gibert, em o Prefácio do Estudo sobre o Livro de Apocalipse, de J. N. Darby, op. cit., pág. 11).Mas apesar de todas estas clarezas bíblicas, essas outras enganosas idéias foram infundidas em uma sociedade que não conhecia a Bíblia nem as verdades de Deus, e o cesaropapismo seguiu adiante e teve seu período culminante durante uns cento e cinqüenta anos entre 1073 e 1216, época que se destaca porque o papado romano gozou de um poder quase absoluto, não somente sobre o sistema católico romano, senão sobre as nações da Europa, cujo topo foi alcançado durante o governo de Gregório VII (1023-1085), mais conhecido por Hildebrando, seu nome de família. Parece haver pertencido a uma família aristocrática, pois a mãe fazia parte de uma família de banqueiros; nascido em um povo da Toscana, na Itália; filho de um carpinteiro. Estudou no monastério de Clugni, praticando ali um ascetismo rigoroso. Dali foi chamado por Leão IX (1049-1054) para que lhe servisse de conselheiro, e o fez superior do monastério de São Paulo Extramuros, em Roma, o qual se encontrava moralmente muito degradado. Hildebrando era um homem muito enérgico, de caráter soberbo e veemente. Leão IX não tomava nenhuma determinação de importância sem consultar com Hildebrando, quem se constituiu no poder atrás o trono durante uns vinte anos, e era quem elegia aos papas sucessivos à morte do reinante, pelo qual chegaram a chamar-lhe "fazedor de papas", antes de empregar a tríplice coroa como sucessor de Alexandre II em 1073, até sua morte em 1085. Liberou o sistema católico romano da dominação do Estado, e lhe pôs fim à nomeação dos papas e os bispos e pelos reis e imperadores. Nessa época muitos soberanos, em troca de fidelidade feudal, ofereciam aos clérigos um cajado e anel episcopal. Muitos prelados e clérigos o odiavam porque se propôs reformar o corrompido clero e acabar com a simonia, ou seja, a compra e arrendamento de postos nesse sistema religioso. Também pôs em vigor o celibato clerical, anteriormente aprovado, contrariando a Palavra de Deus que diz expressamente que o bispo tenha sua esposa e seus filhos (cfr. 1 Timóteo 3:1-4; Tito 1:6).Existe um documento de Hildebrando titulado Dictatus Papæ ("No século XI, com Gregório VII, deu lugar a uma volta decisiva dentro da própria estrutura do poder. Em seu Dictatus Papæ (ano 1075), o papa se levantou contra a prepotência do poder secular que havia degenerado em simonia, nicolaísmo e toda classe de sacrilégios, e inaugurou a ideologia do poder absoluto do papado... O papa concebe a si mesmo, misticamente, como o único reflexo do poder divino na ordem da criação. Ele é seu vigário e suplente. Neste sentido há de se entender as proposições formuladas no Dictatus Papæ... O Summus Pontifex assumia, pois, a herança do Império Romano e se instituía como poder absoluto, unindo em sua pessoa o sacerdotium e o regnum. Era a ditadura do papa". José Grau. Catolicismo Romano: Orígenes e Desenvolvimento. EEE, 1990, pág. 1051) no qual define a posição papal mediante vinte e sete afirmações, como:- A igreja romana foi fundada por Deus.- Só o pontífice romano merece o título de "universal".- Somente ele pode depor ou reinstalar aos bispos.- Só ele pode usar a insígnia imperial.- Ele é o único homem a cujos pés devem beijar os príncipes.- Ele pode depor aos imperadores.- Ele pode transladar aos bispos de uma sede a outra.- Pode dividir bispados ricos e unificar os pobres.- Tem a autoridade de ordenar clérigos de qualquer igreja, e quem seja por ele ordenado não pode receber um grau maior da parte de outro bispo.- Nenhum sínodo pode ser chamado geral sem sua autorização.- Uma sentença por ele expedida não pode ser anulada por nada senão por ele mesmo.- O papa romano não pode ser julgado por nada.- A ele devem ser apresentados para sua resolução os casos importantes de todas as igrejas.- A igreja católica nunca errou, nem errará jamais por toda a eternidade.- Aquele que não esta em paz com a igreja romana não será tido por católico.- O pontífice romano pode liberar os súditos da fidelidade à um monarca iniquo, ou ao qual estejam sujeitos a lealdade a homens malvados. (GREGÓRIO VII: Registrum, PATROLOGÍA LATINA, CXLVIII).Como podemos observar, um dos propósitos de Hildebrando foi submeter todos os governos ao papado romano. Alguns governantes europeus como o imperador alemão Henrique IV, ambicionavam dominar a toda Europa, o qual também traficava com os cargos eclesiásticos. Este imperador se desgostou com o pontífice Hildebrando e tratou de depor ao papa mediante um sínodo de bispos alemães que convocou. A reação de Hildebrando foi a de excomungar a Henrique IV, advertindo a seus súditos que não estavam obrigados a guardar lealdade a seu excomungado soberano.A história registra que Hildebrando pôs ao imperador em uma situação de impotência, e em janeiro de 1077, o imperador teve que humilhar-se ao papa ante a porta do castelo em Canosa, onde havia esperado afora durante três dias, descalço, com frio e, segundo ele relato histórico, lhe serviu de estribo para que Hildebrando montasse a seu cavalo. Ele supersticioso e ignorante povo dessa época cria cegamente no "poder das chaves", e a generalizada opinião era que o papa podia mandar às almas ao inferno se ele assim o desejasse; e estas coisas ajudaram a Hildebrando a que, sem necessidade de exércitos pudesse impor seu poder sobre todas as nações da Europa, incluindo os imperadores. O reinado de Hildebrando sentou as bases para que exercessem poder autocrático sucessores deles do cunho de Inocêncio III (1198-1216), quem em opinião de alguns é o verdadeiro representante da maior altura do poder terreno do pontificado romano e sua influência política na Europa Ocidental. O verdadeiro nome deste aristocrático personagem é Lotário de Conti di Segni. Ao ser coroado papa disse: "O sucessor de são Pedro ocupa uma posição intermediária entre Deus e o homem. É inferior a Deus mas superior ao homem. É o juiz de todos, mas não é julgado de nada". Também uma carta oficial sua diz que ao papa "lhe havia sido encomendada não somente toda a igreja, senão todo o mundo, com o direito de dispor finalmente da coroa imperial e de todas as demais coroas", e assim o sustentou durante seu reinado. Inocêncio III era consciente de que aos governantes seculares Deus lhes confiava certas missões, mas que Deus havia ordenado tanto o poder pontifical como o real (secular), e dizia que assim como Deus havia criado o sol e a lua, e da maneira como esta recebe sua luz daquele, assim o poder do príncipe deriva sua dignidade e esplendor do poder papal, e assim a mesma Roma obrigou aos oficiais civis a que reconhecessem a ele como soberano antes que ao imperador, e chegou a substituir aos juizes imperiais pelos que ele nomeou. Para essa época, a quase totalidade dos povos da Europa ocidental havia sido ganhada à fé cristã mas só como uma aceitação objetiva e nominal, pois a grande maioria não tinha senão um vago conceito da "religião" que haviam abraçado, e longe estavam de conhecer "a soberana vocação de Deus em Cristo Jesus", incluindo ainda, com contadas exceções, ao clero, bispos e aos papas.

Alguns paradoxos do papado romano
Ao decair o Império Romano, o papado foi assumindo muitas das funções antes exercidas e executadas pelo Estado. Da Igreja se foi formando uma organização institucionalizada infestada de contradições com relação ao evangelho, sua fonte escrita natural. Chegou um momento em que a Igreja começou a institucionalizar como herdeira das instituições próprias do Império Romano. Entre outras instituições, a Igreja herdou do Império o direito, a centralização burocrática, a organização política em dioceses e paróquias, o titulativo, os cargos (toda a andaimaria da hierarquia, entre os cargos, o primeiro é o de papa, sucessor do César); tudo isso estranho ao modelo neotestamentário deixado pelo Senhor para Sua Igreja. A Palavra de Deus não admite que as duas cidades, a terrena e a celestial, se mesclem e se confundam, e isso foi o que sucedeu em Tiatira, ainda que esta condição se deu em menor escala em outros períodos proféticos, pois se entende que em muitas igrejas houveram também alguma doses de elementos da cidade terrena mesclados com a cidade de Deus. Devido a essa mescla se têm dado muitas contradições nessa instituição, das quais relacionamos algumas. O papa romano pretende deslocar ao Espírito Santo dizendo que é o vigário de Cristo na terra, e ostenta o título de Vicarius Filii Dei (vigário do Filho de Deus), mas a Bíblia diz que o verdadeiro Vigário de Cristo agora na Igreja é o Espírito Santo:" 16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco,. 26 mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito. 7 Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. 13 quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir.14 Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.15 Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar." (João 14:16,26; 16:7,13-15).A figura do papa como suposto vigário de Cristo é herança babilônica, pois, a diferença do faraó egípcio, o rei mesopotâmico não foi divinizado senão excepcionalmente; na Babilônia o verdadeiro soberano era o deus da cidade, do qual o rei era considerado seu vigário ou regente.Os romanos pontífices foram considerados na época de seu maior esplendor como os sucessores dos césares, e o papado como o exponente e protetor da Românitas (civilização greco-romana), edificadores de um império cujo centro era Roma, mas à vez apregoando a pretendida sucessão apostólica do primado e de um fictício trono que Pedro jamais teve nem ostentou. Verdadeira conseqüência? O cristianismo foi substituindo a unidade no amor pela visível unidade de sua estrutura, e entrou a mesclar o poder político do império terreno com o poder da cruz e da ressurreição do Senhor Jesus, pelo qual a expressão deste último poder se foi debilitando nesse matrimônio. Desde Gregório I o Grande, os romanos pontífices começaram a chamarem-se servus servorum Dei (servo dos servos de Deus), como uma interpretação trazida dos cabelos das palavras do Senhor no evangelho quando se referiu aos que desejavam ser os maiores entre os discípulos, dizendo que para alcançá-lo deviam ser servos de todos. Se nos ocorre uma expressão saturada de hipocrisia na boca dos que ocupam o trono papal, pois o romano pontífice vive em um super luxuoso palácio, rodeado de imensas riquezas e serventes, em contraste com o Senhor Jesus, que veio não para ser servido mas para servir, e não teve sequer uma pedra para recostar Sua cabeça.O papado romano é paradoxo, por quanto é um sistema que navega no controvertido e proceloso mar do mundo, a imoralidade, a intriga, fornicação, derramamento de sangue, simonia, enquanto isso proclama ser o representante de Jesus Cristo na terra. O papado romano em seu afã ecumenista, pretende ser o epítome da unidade, constituindo-se, os que pregam e praticam, em uma verdadeira antinomia com os ensinamentos de quem diz representar, mas através da história suas pomposas vaidades, presunções e atuações, o tem constituído em proeminente obstáculo para a unidade dos diferentes sistemas religiosos cristãos, que algumas correntes proclamam. Os papas de Roma dizem ser os mentores da paz, mas por suas ambições de poder a história registra que têm tido poderosos exércitos para subjugar, enfrentar e fazer a guerra às potências européias, para imitar aos reis da terra em uma época em que o mais importante e benéfico era fazer a guerra. As Palavras do Senhor Jesus são: " Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. " (Mt. 22:21). Além disso, disse: " Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. " (João 14:27). As cruzadas representaram um esforço por construir o reino de Deus na terra mediante os mesmos métodos daquele mundo que a Palavra de Deus declara estar em inimizade com o evangelho, e que constitui por si mesmo a antítese do ideal cristão respeito à guerra. Curiosamente, desde a primeira cruzada, empreendida pelo papa Urbano II em 1096 para ir em auxílio do imperador bizantino contra os muçulmanos e resgatar os lugares santos na Palestina, foi prometida a "indulgência plenária" a todos os que tomaram parte nela, e vida eterna a todos os que perdessem a vida na empresa. Diz-se que foram indiscutíveis protagonistas para a ação da civilização dos bárbaros, mas criaram, promoveram e alentaram a triste célebre Inquisição, página negra que começa e empobrece a história da humanidade. Condenaram a tortura, mas mediante a "santa" Inquisição, aprovaram a tortura e a morte contra seus inimigos, chama-se hereges, protestantes, judeus ou feiticeiros e todos os que recusaram as falsas doutrinas do catolicismo romano.

A coroa pontifícia
A coroa papal é um símbolo do poder e de força terrena, usado para recuperar triunfalmente os saqueios das hordas bárbaras e os embates cobiçosos de imperadores europeus do “nível” de Napoleão Bonaparte, e para impor a vontade cesaropapista sobre as nações sobre mil obscuros anos. O papa romano diz ser o vigário de Cristo, mas ostenta uma coroa de três pisos, a tiara, de ouro fino adornada com cerca de umas 200 pedras preciosas, que tem um valor de milhões de dólares, em contraste com o Senhor Jesus, que durante sua vida terrena não teve outra coroa que a de espinhos. O verdadeiro ouro da Igreja é a vida que Deus nos da pela obra de Seu Filho, é Sua presença em nós, e as pedras preciosas são as formas como Deus por Seu Espírito se forja em nós, Sua obra de purificação e aperfeiçoamento no homem, até que cheguemos " à medida da estatura da plenitude de Cristo " (cfr. Efésios 4:13b).A tiara papal tem uma história curiosa. Nicolau I (858-867), o primeiro pontífice que soube tirar proveito às espúrias Decretais Isidorianas, foi o papa que instaurou o costume da coroação dos sumos pontífices romanos, ainda que ao princípio se limitara a uma simples coroa chamada "tiara". Hildebrando adotou uma coroa com a inscrição "Corona Regni de Manu Dei". Bonifácio acrescentou uma segunda coroa com as palavras "Diadema imperii de manu Dei"; e João XXII com sua corte em Avinhão, acrescentou uma terceira coroa, aperfeiçoando assim o símbolo. Três coroas: o poder espiritual, o poder temporal e o poder eclesiástico. Esses três poderes papais com que relacionam a tríplice coroa da tiara papal, para alguns correspondem a sua tríplice pretensão teocrática, isto é, que se diz ser senhor e amo da igreja, senhor do mundo e senhor do além túmulo; recordem que se adotam o direito de vender indulgências para que a gente se salve das chamas do purgatório; além de que proclamam que fora da Igreja Católica Romana não há salvação.Em tempos de Bonifácio VIII (Bento Gaetani), papa romano desde 1294 até 1303, sucessor do octogenário Celestino V, se fez notória a decadência do papado, e, entretanto, este personagem irascível, arrogante, sem tato e amador da magnificência, fez grandes e jamais promulgadas reclamações em favor da autoridade papal, mas com freqüência saia derrotado nesses esforços por impor sua vontade. Bonifácio VIII se pôs a coroa no dia em que fez sua atrevida e falaz declaração: "A igreja tem um corpo e uma cabeça, Cristo e o vigário de Cristo, Pedro e o sucessor de Pedro: em seu poder há duas espadas, uma espiritual e uma temporal; ambas as classes de poder estão nas mãos do romano pontífice". A história assim mesmo registra que este personagem praticou a bruxaria. Mas o mais infame é que professando ser ateu, em um gesto blasfemo apelidou ao Senhor Jesus de mentiroso e hipócrita, quando também disse ter parte com ele (Bonifácio) que era um homicida e um pervertido sexual.

O clero

É bíblico que todos os crentes no Senhor Jesus, os filhos de Deus, são sacerdotes para Deus, mas progressivamente e desde antes de mesclar-se a Igreja com o Estado, esta vinha agrupando em torno do clero guiado e orientado pelos bispos, e constituído preferencialmente por eles. Depois que a começos do século II começara a diferenciar o clero dos laicos, com o tempo se desenvolveu um tipo de sacerdócio copiado conscientemente, o mesmo que atos litúrgicos, vestimentas e outras coisas, do sacerdócio judaico dos tempos pré-cristãos e a influência do sacerdócio pagão, com a diferença de que ofereciam sacrifícios incruentos no altar que também haviam copiado, e se foi perdendo a expressão do sacerdócio de todos os crentes. Mudaram a ordem estabelecida por Deus, dividindo os crentes em duas classes: uma de laicos e outra dotada de vestiduras sacerdotais, mitra e até coroa e vestiduras reais. Ainda antes de que fora decretada a tolerância para o cristianismo por parte do Estado, e submergida ainda a Igreja na negra época das perseguições, não poucos bispos começaram a se interessar por seu prestígio pessoal, as vezes imersos em intrigas e pompas do tipo dos dignitários imperiais, o mesmo poder antagônico que crucificou a Jesus.Se foi introduzindo em muitas partes do Império que nesses imponentes edifícios ou templos erigidos depois de Constantino, houvera um santuário que contivera o altar, o trono do bispo e os assentos do clero, tudo separado por uma divisória para que os laicos não pudessem entrar até lá. Os homens, deixando de lado o estabelecido por Deus de que em cada igreja local se estabelecessem bispos (palavra sinônima de pastor, ancião e presbítero), preferiram que o cargo de bispo fosse o de um ministro de uma grande cidade, que tinha um trono (cátedra) para sentar-se, e um magnífico templo (catedral), desde o qual exercia autoridade sobre as igrejas de uma região. O desenvolvimento hierárquico do clero sem dúvida recebeu a influência da organização militar que distinguiu ao Império Romano. Vindo contra os princípios bíblicos, com o tempo, os bispos das cidades maiores, ou metrópoles, começaram a exercer autoridade sobre os bispos de seus distritos ou províncias e se chamaram arcebispos, metropolitanos. Isto oficialmente foi aprovado no concílio de Antioquía no ano 341. Também se erigiram os patriarcas como os de Jerusalém, Antioquía, Constantinopla, Alexandria e Roma. Por outro lado, o colégio de cardeais também é copiado das instituições do Império Romano. Em Roma aos magistrados sacerdotais chamavam pontífices, ou seja, o que tinha uma ponte entre os homens e os deuses mediante ritos. A palavra pontífice vem das palavras latinas pons, ponte, e facio, facere, fazer; logo seu significado literal é "construtor de pontes". Igual aos pontífices do paganismo, os pontífices (cardeais) da Roma pagã formavam um Colégio presidido pelo Pontifex Maximus, cargo que na ocasião ostentava o imperador de turno. A palavra cardeal procede do latim cardinalis, fundamental; também dizem que do latim cardo, que significa bisagra, quicio ou gozne, e que presumidamente indica a importância axial dos cardeais no apóstata sistema católico romano. Então os cardeais são uma continuação dos sacerdotes pagãos da bisagra da Babilônia através de Roma, sacerdotes que serviam em Roma ao deus Jano, o deus pagão das portas e as bisagras, e que por alguma razão se relaciona com o nome de janeiro (em inglês, january), mês que abre o ano. Ainda que o título de cardeal se remontava a mais de mil anos, só em 1150 se constituiu o Sacro Colégio Cardinalício. Nada disto tem que ver com a Bíblia. Levemos em conta que em Babilônia havia um Concílio de Pontífices.Como seu nome o indica, a cor dos cardeais é o roxo, e o papa Inocêncio IV (1243-1254) aprovou por decreto que o roxo fosse a cor cardinalícia porque mediante esse símbolo, como chefes desse sistema religioso, os cardeais devem mostrar-se dispostos a derramar seu sangue por sua fé. Mas no fundo isso obedece a que são considerados príncipes desse sistema religioso, e o roxo é a cor das vestimentas dos príncipes das nações do mundo. Além disso, longe de ser pelo assunto do sangue, me inclino a crer que é pelo pecado. " 18 Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã. " (Is. 1:18). Em Apocalipse 17, a Bíblia associa e simboliza o sistema cristão apóstata com uma mulher prostituta vestida de púrpura e escarlata, embriagada do sangue dos mártires de Jesus. Se degenerou tanto a moral no catolicismo romano, que na Idade Media, os cargos eclesiásticos, com freqüência eram vendidos ou adjudicados como prebendas ou dotes, e que muitas vezes as pessoas beneficiárias não exerciam pessoalmente, senão que a sua vez os arrendavam a substitutos por uma renda fixa. Com freqüência se dava o caso de que crianças de doze anos já eram bispos, cardeais e até papas. (Aniceto, bispo de Roma ( 175), ordenou aos presbíteros abaixo do seu mandato que se tosquiassem a cabeça em forma de coroa, tomando o costume do sacrifício de Isis, a deusa egípcia. Maurício da Châtre. A História dos Papas e dos Reis. CLIE 1993, tomo I, pág. 113).Abaixo da autoridade episcopal estavam os sacerdotes e foram multiplicadas as paróquias, frente às quais havia pelo menos um sacerdote residente que administrava os sacramentos e tinha o cargo de cura animarum, ou seja, o cuidado das almas em sua paróquia, de onde vem a palavra cura. No começo as oferendas dos fiéis eram voluntárias, mas nas paróquias se terminou por estabelecer tarifas para os diferentes serviços prestados pela cura (missas, batismos, casamentos, funerais e outros). Ainda em nossos tempos persiste o velho conflito entre o Estado e a organização eclesiástica e é que o clero segue constituindo uma classe especial, tem suas próprias cortes de justiça e em muitos países argúi que os governantes seculares não o demande ante tribunais civis, nem lhes cobre impostos.

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